Macroscópio – Um longo fim-de-semana
Macroscópio – Um longo fim-de-semana
Três dias de descanso. Mesmo para os que não dispensarem as comemorações do 1 de Maio. Mas, infelizmente, três dias que não trarão aquele bom tempo porque tantos anseiam. Por isso, e também porque esse tem sido um hábito recorrente do Observador, vou propor-vos uma conjunto de leituras próprias de quem tem mais tempo para a leitura – ou para aquilo que o online pode oferecer, formatos multimédia.
Regressemos então, de novo, à Constituição – ou, para ser mais preciso, à Assembleia Constituinte eleita a 25 de Abril de 1975. E para não dizerem que prometo sem c umprir, começo precisamente por uma produção multimédia do Expresso:Retratos da Constituinte: Eles mudaram o rosto do país. O semanário da Impresa reuniu algumas dezenas de deputados constituintes numa espécie de romagem da saudade ao hemiciclo onde trabalharam, batalharam e, em muitos casos, fizeram amizades. A reportagem desse encontro foi publicada no sábado passado, online e aberto a todos, onde temos seis vídeos que procuram fazer “o retrato de um ano de debates apaixonados e tensos, das ruas que viviam a revolução e de uma época que iria mudar a vida do país.”. São eles:
- Este r&aac ute;dio tem uma história que ajudou a mudar o país – a televisão não tinha então a importância de hoje, a rádio contava muito mais;
- Ventos de mudança – nunca nenhum deles for a deputado, agora contaram como aprenderam a sê-lo;
- A paixão dos argumentos – os grandes debates, a grande retórica;
- A força das ruas – a tensão entre a legitimidade dos eleitos e a legitimidade da rua, sempre prenhes de manifestações;
- Um novo tempo – o dia em que a Constituição foi votada;
- Ontem e hoje – os deputados de ontem falam dos tempos de hoje.
No Observador, para além de continuarmos a discutir a nossa Constituição, a de hoje e a de 1976 – não deixem de ler o texto de Gonçalo Almeida Ribeiro O bloqueio constitucional –, também continuamos a contar histórias da Constituinte. Miguel Pinheiro tem-nos recordado prestações inesquecíveis de alguns dos deputados de então:
- O deputado que queria destruir a Constituinte, Américo Duarte, da UDP;
- Os deputados do Frou Frou, Marcelo Rebelo de Sousa, do PSD;
- O discurso que enfureceu fascistas e comunistas, Miller Guerra, do PS
- Sophia contra o “supermercado de slogans”, Sophia Mello Breyner, do PS;
- O dia em que os comunistas pediram desculpa, Octávio Pato, do PCP;
- As provocações do “bandalho fascista”, Galvão de Melo, do CDS;
- Com 71 anos e pronto para a revolução, Henrique de Barros, do PS;
- ou ainda As bocas da Constituinte: “Cala-te, ó florista!”, a propósito de uma discussão que envolveu Adelino Amaro da Costa, do CDS e A moda dos deputados que viravam as costas, sobre alguns episódios onde os deputados de uma bancada se levantavam em massa e saiam do hemiciclo.
A partir daqui salto para a imprensa internacional, debicando aqui e além, mas começando por uma entrevista de Michel Houellebecq ao El Pais que já tinha aqui guardada há uma semana: “La élite está asesinando a Francia”. É uma conversa em que o escritor não deixa em mãos alheias os seus créditos de provocador, nomeadamente quando se refere aos líderes políticos:
El caso más impresionante que conocí fue el referéndum de 2005 sobre la Constitución europea. Los franceses votaron claramente por el no. Y semanas más tarde el Gobierno lo hizo aprobar por vía parlamentaria. Es un desprecio muy claro a la democracia. Así que la hostilidad de la gente contra los dirigentes es muy fuerte, y eso en un momento de crisis económica y desempleo alto. Y tenga en cuenta que el paro en Francia es desempleo de verdad: no hay trabajo en negro, como en España o América Latina, y tampoco hay solidaridad familiar, eso desapareció. La gente está totalmente desvalida.
Na Europa, parece, há muita gente com medo do regresso dos animais selvagens, isto é, de espécies que há muito tinham desaparecido de territórios sobre-explorados pela agricultura (ou devastados por caçadores). Enquanto nós por cá nos preocupamos com o destino de alguns linces devolvidos à Natureza na região de Mértola, na alem&ati lde; Spiegel titula-se assim: Who's Afraid of the Big Bad Wolf? Fears As Predator Returns To Europe. Trata-se de uma entrevista com o biólogo italiano Luigi Boitani onde este defende que o regresso de alguns grandes mamíferos, como o lobo, não deve gerar medos, pois são os lobos que têm mais razões para recear os humanos. E explica porquê:
Wolves are curious, and it's quite possible that a wolf will occasionally approach a human settlement. It doesn't happen often, but it isn't unnatural behavior, either. A situation like that can certainly become critical, and it's perfectly justifiable to intervene and show the animal that people can be dangerous. Perhaps one reason the wolf is so fearless is that human beings have taught it to acquire such behav ior.
(A propósito, recupero um Especial do Observador, da Vera Novais, sobre o mesmo tema e bem interessante: Nos montes, há lobos e homens a lutar pela sobrevivência. Para além de que o cenário da reportagem é Montalegre, um belo lugar para nos perdermos num longo fim-de-semana como este.)
O Politico, um site que revolucionou a informação política nos Estados Unidos, sobretudo a forma como a actualidade de Washington passou a ser noticiada, acaba de se instalar na Europa para seguir a actualidade da União Europeia. Mas o seu trabalho não se fica pelos bastidores de Bruxelas, também mergulha na realidade dos diferentes países, por vezes com ângulos surpreendentes. É o caso desta reportagem, Italy’s rural villages are dying out. Aí se relata como “Emigration and natural calamities have left 6,000 villages abandoned, with another 15,000 on the brink.” O número impressiona, mas esta é uma realidade que também conhecemos em Portugal e em Espanha, onde até é possível encontrar aldeias inteiras à venda. Pelo preço de um T1 em Londres.
Agora uma boa notícia (julgo eu): não acredite nos que lhe garantem que fazer exercício não tem qualquer influência na perda de peso (o tempo de matar a barriguinha antes de descer ao areal estão à por ta…): The dodgy science behind the claim that exercise doesn’t help you lose weight. É um trabalho da Spectator que desanca no trabalho de três médicos ingleses aparentemente interessados em vender muitos livros e dar muitas consultas. E onde também se ataca a cobertura acrítica dada às suas ideias por boa parte da comunicação social. Até porque não é preciso ser cientista para perceber que o nosso modo de vida exige que demos alguma atenção ao exercício físico:
At work, we are less physically active than ever. Jobs in agriculture declined from 11 per cent to two per cent of employment in the 20th century while manufacturing jobs declined from 28 to 14 per cent. Less than one in five adults report doing any mo derate or vigorous physical activity at work. Outside of work, 53 per cent of us take part in no sports or exercise at all. You don’t need to be a social historian to see that Britons are leading increasingly sedentary lifestyles. Only a minority of households owned a car in 1965. Today, only a quarter do not.
Calma. Não é preciso ir a correr para o ginásio ou começar a treinar para a próxima meia-maratona cá da terra. Basta passar a andar um pouco mais a pé e subir mais uns lances de escada. Ou se não basta, ajuda muito. Meia hora por dia. Ainda lhe fica muito tempo para descansar e ler, como é sempre meu desejo.
Segunda-feira estarei de volta.
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ANTÓNIO FONSECA
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