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A linha de alta velocidade Porto-Lisboa pode criar uma nova área metropolitana em Portugal com oito milhões de habitantes. O professor emérito do Instituto Superior Técnico (IST) José Manuel Viegas entende que a nova linha pode transformar a dinâmica económica do país e tem de estar ligada ao novo aeroporto da capital. O especialista em Transportes lamenta que Portugal tenha perdido a oportunidade par criar uma linha de alta velocidade para Madrid que consiga tirar pessoas do avião e do carro.

“Para que Portugal possa aumentar a sua produtividade e a sua capacidade para responder de forma mais arrojada aos desafios de exportações de bens e serviços é fundamental coser bem o território. Temos a possibilidade de criar uma grande área metropolitana de Braga a Setúbal tirando partido do investimento previsto para a alta velocidade ferroviária. É o projeto ferroviário com maior potencial de contributo para a economia do país e a sua competitividade“, afirmou José Manuel Viegas numa sessão remota da associação de transportes Adfersit sobre ligações ferroviárias à Europa.

O especialista em Transportes considera que esta nova área metropolitana pode “tirar partido da diversidade de setores económicos ao longo do território”, da “concentração de população” – são oito milhões de habitantes – e ainda por contar com as regiões com “maior sofisticação”. Com a previsão de uma viagem (sem paragens) em 1 hora e 19 minutos entre Lisboa e Porto para 2030, o especialista acredita que se possa fazer Braga-Setúbal no tempo máximo de duas horas e 15 minutos.

Também participou nesta sessão António Ramalho, apresentado como ex-presidente executivo do Novo O também antigo presidente da Infraestruturas de Portugal e da CP defende que a nova linha Porto-Lisboa só pode ser rentável se tiver entre 12 e 15 milhões de passageiros – atualmente, este eixo tem seis milhões de clientes. “A alta velocidade exige precisão das cadências, para destruir a competitividade do avião”, sinalizou o gestor.

Novo aeroporto de Lisboa tem de estar incluído

A nova linha Porto-Lisboa inclui a construção de um troço entre Campanhã e o aeroporto Francisco Sá Carneiro até 2030. Para a capital, a indefinição sobre o futuro aeroporto da região dificulta os planosJosé Manuel Viegas considera “inaceitável se a nova linha não passar também pelo aeroporto de Lisboa”, seja em Alcochete ou em Santarém – a opção pelo Montijo foi excluída neste debate. O especialista emérito do IST entende que “com relativa facilidade” é possível encontrar traçados entre Leiria e Alcochete e entre Leiria e Santarém, passando pela serra dos Candeeiros.

Para o comboio de alta velocidade chegar a Lisboa “pode ser preciso entrar pela margem esquerda do Tejo, pela zona de Samora Correia” porque “há problemas complicadíssimos na no troço entre Carregado e Lisboa, com túneis muito compridos e expropriações”, avalia José Manuel Viegas. No projeto da alta velocidade, a construção da ligação Carregado-Lisboa é atirada para depois de 2030.

Sobre a ligação entre a alta velocidade e os aeroportos, o especialista defende como ideal se “as pessoas das cidades de Lisboa, Leiria, Santarém, Coimbra e Aveiro tivessem acessíveis os aeroportos internacionais” de Lisboa e do Porto, conforme fosse o destino final. “O que é importante é pôr oito milhões de pessoas com uma excelente acessibilidade doméstica e internacional. José Manuel Viegas sustenta ainda que “os aeroportos têm de estar integradas numa das grandes linhas nacionais” e têm de ter um comboio com partidas pelo menos “a cada 20 ou 25 minutos”.

Oportunidade perdida para Lisboa-Madrid

Com mais de oito milhões de habitantes, a nova área metropolitana Braga-Setúbal dá condições para Portugal “olhar para o mercado internacional com uma economia mais robusta” e competir com a área metropolitana de Madrid, com 5,5 milhões de habitantes. No final de 2023 deverá estar concluída a construção do troço Évora-Elvas, que permitirá comboios de alta velocidade, a 250 km/h. Com esta ligação, segundo o Governo, será possível pôr Lisboa a 5 horas de comboio da capital espanhola. José Manuel Viegas não concorda.

A linha prevista para Madrid é muito pouco competitiva para passageiros. São 5h30 de viagem, que é o mesmo tempo do carro – onde vamos à hora que queremos e pagamos menos se tivermos duas ou três pessoas connosco – e mais tempo do que o avião, já contando com o tempo dentro do aeroporto. Tenho pena que tenhamos sido pouco ousados com as velocidades do lado português Podia ter sido feito em 2 horas e 45 minutos”, indica o especialista.

Para que a ligação entre as duas capitais ibéricas demore menos tempo, será preciso construir a terceira ponte sobre o rio Tejo em Lisboa e ainda que Espanha ponha em funcionamento os troços Madrid-Oropesa e Oropesa-Plasencia, que só devem ser totalmente postos ao serviço em 2030. Por agora, apenas está pronto um troço de 150 quilómetros entre Badajoz e Plasencia – embora sem eletrificação.

“Se calhar daqui a 20 anos vai ser melhor. Pelo menos assim Portugal arruma a casa no eixo Braga-Setúbal e depois de ter isso pode ter uma melhor ligação a Madrid”, sentencia o professor emérito do IST.

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