Startups
Por Ana Pimentel, Jornalista
“Estou mesmo arrependido que isto tenha acontecido.”
“Se me dissessem, em 2004, quando criei o Facebook, que ia estar preocupado com a defesa da democracia, não ia acreditar.”
“Esta é a minha filosofia agora. No final do dia pergunto-me: Vão as minhas filhas orgulhar-se do que fiz?”
“Se me dissessem, em 2004, quando criei o Facebook, que ia estar preocupado com a defesa da democracia, não ia acreditar.”
“Esta é a minha filosofia agora. No final do dia pergunto-me: Vão as minhas filhas orgulhar-se do que fiz?”
Mark Zuckerberg pediu desculpa — na rede social, em entrevistas e em páginas de jornais –, fartou-se de pedir desculpa, mas não foi suficiente. As ondas de indignação social que rebentaram depois de Christopher Wylie ter revelado que a Cambridge Analytica usou indevidamente dados de 50 milhões de contas do Facebook para ajudar a pôr Donald Trump na Casa Branca não são a única dor de cabeça do norte-americano de 33 anos. As perguntas que continuam sem resposta já fizeram com que o valor da empresa caísse mais de 70 mil milhões de dólares em dez dias, que a Comissão Federal de Comércio norte-americana abrisse uma investigação ao Facebook e que o movimento #deletefacebook ganhasse nomes tão sonantes como o de Elon Musk, que apagou as contas da Tesla e do SpaceX da rede social.
Não sei se Zuckerberg acha que “somos todos idiotas”, mas somos um bocadinho, sim. Não por continuarmos a usar redes sociais ou acreditarmos no seu pedido de desculpas, mas por termos esperado que a análise de dados afetasse desta forma um bem que nos é tão valioso como a democracia para finalmente pormos o tema na agenda pública ou das redes sociais, como quiserem. Tudo o que fazemos na Internet é usado contra ou a favor de nós próprios, não cai no vazio (não há vazio na Internet) e nenhuma destas frases pretende ser catastrófica. É a verdade. Às vezes dá-nos jeito partilhar a nossa vida online, por um motivo ou outro. A estas empresas, dá sempre jeito que o façamos. A discussão sobre o quão necessário é regular estes zeros e uns existe há muito, mas o princípio de liberdade universal que orienta a própria Internet é por si só um obstáculo à concretização deste regulamento. Quem é que decide quem é que regula o quê?
A Marta Leite Ferreira e o Manuel Pestana Machado não pensaram nisso na semana em que andaram a conversar com a Alexa e a Ok Google, mas foi graças a todo o seu comportamento online que conseguiram fazê-lo. No geral, irritaram-se um bocadinho com a quantidade de vezes que ouviram os sistemas de inteligência artificial dizerem “I don’t understand“, o Manuel quis ouvir uma história para adormecer, mas a Alexa deu-lhe uma enorme tampa (#estamoscontigo, Manuel) e a Marta teve de dar outra à Ok Google quando esta se esticou (#quemnunca, Marta).
No final, o Manuel ficou com a Alexa na mesa de cabeceira e a Marta nunca mais cantou da mesma forma (para perceberem melhor isto vão ter mesmo de ler a experiência destes dois no admirável mundo das assistentes digitais). Nós aqui no Observador ficámos a escrever notícias e reportagens sem ajuda de nenhuma inteligência artificial, só da música. E nem foi preciso trazermos o velhinho walkman.
Tenham uma ótima semana. Até terça!
PS: A Frames é um projeto que nasceu dentro do Observador, com talento da casa (estão a ver aqueles gráficos nos nossos artigos?), mas que entretanto ganhou vida e nome próprio. E está entre os 16 semifinalistas do prémio Startups for News, da Global Editors Network. Quem quiser ajudá-la a chegar aos oito finalistas, pode fazê-lo aqui.
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