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PEDRO SANTOS GUERREIRO
DIRETOR
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Os russos estão no seu Facebook?
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O diplomata francês Charles Talleyrand dizia que a opinião pública tem mais sabedoria do que muitos grandes estadistas. Mas o que acontece quando a opinião pública é manipulada em larga escala por Estados? Quando há denúncias de roubo de dados de milhões de perfis nas redes sociais, que alimentam as suspeitas de intervenções russas para manipular as eleições nos Estados Unidos e o referendo no Brexit?
A tensão do “resto do mundo” com a Rússia adensa-se, depois do assassinato do agente duplo Sergei Skripal, em Inglaterra, por envenenamento com novichok, a que poderão ter sido expostas mais de 130 pessoas.
O ocidente entra em ação. Ou em expulsão. Depois da ofensiva musculada do Reino Unido, que a 14 de março anunciou a expulsão de 23 diplomatas russos do território britânico, bem como o congelamento das relações bilaterais, 16 países da União anunciaram idêntica medida:
Alemanha, França e Polónia (cada um expulsando quatro diplomatas), Lituânia e República Checa (três), Dinamarca, Holanda, Itália e Espanha (dois), Croácia, Estónia, Finlândia, Roménia, Hungria e Suécia (um), Letónia (um diplomata expulso e uma empresa russa proibida).
Fora da União Europeia, contam-se nesta ofensiva os EUA (60 diplomatas expulsos e o encerramento do consulado russo em Seattle), Canadá (quatro russos expulsos e recusa de três pedidos de admissão de funcionários para a embaixada), Ucrânia (13), Albânia (dois), Noruega e Macedónia (um).
“Juntos, enviámos a mensagem de que não vamos tolerar as contínuas tentativas da Rússia de ignorar o Direito internacional e de comprometer os nossos valores”, afirmou a primeira-ministra Theresa May. “Trata-se da maior expulsão coletiva de agentes russos dos serviços de informações russos de sempre e vai contribuir para defender a nossa segurança comum”, rejubilou o ministro dos Negócios Estrangeiros Boris Johnson.
“Haverá resposta”, ameaçou Maria Zakharova, porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros russo. Moscovo começara por expulsar também 23 diplomatas britânicos e suspender a atividade do British Council na Rússia. Zakharova diz ainda que Londres deixou bomba com efeito retardador nas relações Rússia-UE. O Kremlin garante que a resposta será “recíproca” e decidida por Putin.
Portugal ainda não tomou posição. O Ministério dos Negócios Estrangeiros diz ter tomado “boa nota” da decisão mas defendeu o “diálogo” como “o instrumento mais eficaz” para responder à gravidade da situação presente”.
“Acho bem que Portugal não alinhe com a onda”, diz Miguel Sousa Tavares na SIC, que sublinha que não está provado que o assassinato tenha sido orquestrado pela Kremlin. E acha surpreendente que os governos “não estejam é preocupados com a intervenção da Rússia em atos eleitorais na Europa, nomeadamente no referendo inglês”, e nas eleições americanas. "É estranho que não estejam pois há suspeitas fundamentadíssimas de que facto os russos intervieram em colaboração com a empresa inglesa Cambridge Analityca e com o Facebook para potenciar o desfecho de eleições, mancomunados com a extrema-direita americana e europeia. Isso sim é que é gravíssimo”, porque “está em causa minar os fundamentos das democracias ocidentais”.
Christopher Wylie, que denunciou o escândalo da Cambridge Analytica, onde trabalhava, diz no El Pais que não só Donald Trump não teria ganho nos Estados Unidos como “o Brexit não teria acontecido” sem a intervenção da empresa, que manipulou milhões de contas na maior rede social do mundo. As práticas de pirataria através do Facebook estão sob investigação. |
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OUTRAS NOTÍCIAS Dois títulos tonitruantes:
1) “Portugal celebra o menor défice da democracia” (só que não)
2) Carga fiscal atinge valor mais alto em pelo menos 22 anos (então mas não ia cair?)
1) Os exercícios interpretativos com o défice orçamental são tão habituais como o próprio défice. Mas a história é relativamente simples. Portugal conseguiu uma vitória em Bruxelas quando persuadiu a Comissão Europeia de que a injeção de capital na Caixa Geral de Depósitos não era uma ajuda de Estado, o que faria com que não contasse para o cálculo do défice em termos de Procedimento de Défices Excessivos. Essa foi uma vitória política. Mas, em termos técnicos, o órgão oficial Eurostat incluiu essa injeção de capital no défice, o que já se perspetivava há quase um ano. Por isso, Mário Centeno foi usando as cativações para conseguiu um défice inferior ao previsto pelo próprio governo, fixando-o nos 0,9%... sem a injeção da Caixa. Ao conseguir um défice tão baixo, acomodou a inclusão da injeção da Caixa, apesar de contestá-la com veemência: mesmo assim o défice não supera os 3%. Segue-se o debate político sobre se o défice é 0,9% ou 3% (oficialmente na União Europeia, o que conta é o valor do Eurostat, 3%). Mas ficou garantido que Portugal não regressa ao “castigo” do Procedimento de Défices Excessivos.
Ah: as ajudas à banca já custaram 17 mil milhões a contribuintes (conta no DN).
2) Ao contrário do que previa o Governo, a carga fiscal subiu em 2017 para o valor mais elevado desde, pelo menos, 1995: 37% do PIB, explica o Diário de Notícias. Em 2016 havia sido de 36,6%. Nos dois anos o governo disse que desceria. Nos dois anos subiu. Em valor, não há dúvidas: nunca pagámos tantos impostos como hoje.
O Público escreve que distritais do PSD “querem ver Rio nas ruas”. (Também há quem o queira ver na rua, como escrevia o Expresso no sábado). O presidente do partido já começou, debutando ontem “no país real” em Arganil, para ouvir as queixas dos bombeiros e das associações das vítimas os incêndios, e para dizer que “quem quiser ser governo tem de ganhar o combate na floresta”.
O ministro da Saúde, Adalberto Campos Fernandes, garante que a ideia de criar uma estrutura de missão através da qual as Finanças vão controlar a despesa do Serviço Nacional de Saúde foi sua. E que não é, portanto, uma sujeição a Mário Centeno.
Os funcionários do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) iniciam hoje uma greve de três dias, contra "situação caótica" que denunciam naquela entidade.
A rixa deste sábado à tarde no Prior Velho, em Lisboa, entre fações de motards de extrema-direita está a ser investigado pelas autoridades. Os agressores contra o grupo Bandidos serão cerca de 20 elementos dos Hell’s Angels, que invadiram um restaurante de cara tapada e munidos de facas, paus e barras de ferro. Os Hell’s Angels procurados pela Unidade Nacional de Contra-Terrorismo da PJ são de cinco países do norte da Europa.
Portugal já não está em seca extrema nem severa, explica a SIC. Depois das chuvadas das últimas semanas, só o Algarve, Baixo Alentejo e uma faixa do litoral norte se mantêm em situação de seca, mas fraca. A Páscoa trará chuva, vento e queda de neve. Mas os hotéis do Algarve estimam uma ocupação de 80%.
Os CTT vão aumentar na próxima segunda feira os preços dos serviços de correios, em média 4,5%. A atualização em 2017 foi de 2,4%.
A Guarda quer atrair investimentos chineses. Para isso, a Câmara Municipal celebrou um protocolo de cooperação com a Câmara de Comércio e Indústria Luso-Chinesa.
Lá fora, a questão da Catalunha. O tribunal alemão de primeira instância de Neumünster decidiu manter Carles Puigdemont em prisão preventiva, podendo o processo de extradição para Espanha demorar até 60 dias, prorrogáveis por mais 30. O antigo presidente da La Generalitat foi detido no domingo de manhã na fronteira com a Dinamarca, quando pretendia regressar à Bélgica, onde esteve cinco meses fugido à justiça espanhola.
Pergunta Daniel Oliveira: “Rajoy vai prender metade dos catalães?” O colunista do Expresso desafia não o primado da lei, mas o “equívoco” de que a lei antecede a política: “Ela é política. É feita por políticos em determinados contextos políticos. E se a lei cria um beco sem saída ela torna-se num problema político.” O caminho de Rajoy, que ao caminho da negociação para um “ponto de equilíbrio comum” prefere o caminho da “criminalização da dissidência e da judicialização da política” está a levar Espanha “a atravessar fronteiras bastante perigosas”.
A Polícia Marítima em missão na Grécia detetou um embarcação com 33 migrantes a bordo, um bote sobrelotado que navegava em direção ao Farol de Molivos.
Foi ontem apresentado o Frente Europeia de Desobediência Realista (MERA25), o novo partido de Yanis Varoufakis. O antigo ministro das Finanças no governo do Syriza tornou-se crítico do movimento esquerdista que continua no poder, a braços com as contínuas crises da dívida pública e de refugiados e migrantes.
O episódio do 60 Minutes com a entrevista da atriz porno Stormy Daniels (cujo nome verdadeiro é Stephanie Clifford) foi visto por mais de 22 milhões de pessoas, um recorde de audiência daquele programa em dez anos. Stormy Daniels reiterou que passou uma noite com Donald Trump e que concordou em receber 130 mil dólares para manter silêncio. Mas revelou que o fez depois de ser ameaçada num parque de estacionamento, quando um homem se aproximou e, segundo a atriz porno, lhe disse: “Deixa Trump em paz. Esquece a história.” Depois, ainda segundo o mesmo relato, o homem olhou para a sua filha e disse “É uma bonita rapariga, seria uma pena se alguma coisa acontecesse à sua mãe”.
A Casa Branca atacou imediatamente a credibilidade de Stormy Daniels. Stephanie Clifford processou o advogado de Trump por difamação, avança o Financial Times. O advogado sugerira que a atriz mentira, quando disse que lhe pagou (do seu bolso) para não falar sobre a sua relação com o agora Presidente dos Estados Unidos, ainda o que o que ela teria para contar não fosse verdade.
Emma González tornou-se um rosto nos Estados Unidos pela luta contra a facilidade com que armas. Sobreviveu ao tiroteio no liceu em Parkland, onde 17 alunos foram mortos em pouco mais de seis minutos.
Talíria Petrone, apontada como sucessora de Marielle Franco, vereadora morta no Rio de Janeiro, diz ao Expresso que “É impossível não ter medo. Mas o medo não nos paralisa. Não vamos recuar um milímetro”. A entrevista pode ser lida ou ouvida aqui.
José Filomeno dos Santos, filho do ex-Presidente angolano José Eduardo dos Santos, foi constituído arguido e está impedido de sair do país. Em causa uma alegada transferência irregular de 500 milhões de dólares para um banco britânico.
Manuel Reis, proprietário do Lux-Frágil e figura emblemática da noite que morreu este fim de semana, está hoje na primeira página de vários jornais. E ontem na do Expresso Diário, onde pode ler o artigo sobre “o construtor que desenhou várias cidades dentro de Lisboa”.
Portugal perdeu 3-0 frente à Holanda, no último teste antes da convocatória final para o Mundial. Este é o resultado mais pesado na era Fernando Santos. Foi uma “laranja mecânica com demasiado sumo para Portugal à deriva”, escreve a Tribuna Expresso.
A cunha caiu. Segundo o Jornal de Notícias, a contratação, pelo Benfica, de um sobrinho do oficial de justiça suspeito de ser “toupeira” no sistema de justiça foi travada com a operação da Polícia Judiciária. Já segundo o Correio da Manhã, o assessor jurídico do Benfica, Paulo Gonçalves, perdeu o recurso no caso dos e-mails, em que é arguido.
FRASES “É evidente que existe má gestão na saúde”. Adalberto Campos Fernandes, ministro da Saúde, no DN.
“O Estado gasta com a manutenção de dois submarinos de utilidade duvidosa mais de metade do que investe nos concursos de apoio à criação artística”. Mariana Mortágua, no Jornal de Notícias.
O QUE EU ANDO A LER “Lá Fora”, uma antologia de crónicas de Pedro Mexia, incluindo várias publicadas no Expresso, acaba de ser editada pela Tinta da China. Para ler ou reler. Mas onde eu andei foi na Feira do Livro da Poesia em Campo de Ourique, Lisboa, que decorreu até ao fim de semana passado.
Entre outros, comprei três livros de João Luís Barreto Guimarães: “Luz Última”, “Você Está Aqui” e “Mediterrâneo”, uma viagem poética por vários territórios. O poeta portuense, médico de profissão, explica:
“Procuro o inefável na espessura da tarde – se eu não guardar num poema esta hora atravessada nem ela nem esta tarde alguma vez existirão.”
João Luís Barreto Guimarães esteve há dias (ou há noites) na livraria Lello, no Porto, numa tertúlia com Pedro Abrunhosa com o mote “Poesia da Música ou Música da Poesia?”. O Valdemar Cruz escreveu uma excelente prosa sobre essa “redenção da Lello”, que procura reencontrar-se como “livraria” depois de singrar como Disneylândia para turistas.
É de “Meditterâneo” que colho um excerto final, que remeto para o início deste Expresso Curto, que remete para os nossos dias:
“A verdade (é sabido) sempre foi subjetiva e eu queria mais da vida (mais do que este espesso nada) exatamente o quê não sei explicar não sei. Deves recusar a mágoa quando acaba a inocência – e eu nada mais tenho a dizer: a história (como é sabido) escrevem-na os vencedores.”
Tenha um excelente dia. |
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