segunda-feira, 16 de outubro de 2017

OBSERVADOR

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360º

Por Miguel Pinheiro, Diretor Executivo
Bom dia!
Enquanto dormia...... morreram pelo menos mais dez pessoas em fogos; houve milhares de pessoas encurraladas em estradas; soube-se de centenas de pessoas à espera de ajuda em estações de serviço. Perante isto, o primeiro-ministro disse que demitir a ministra seria "infantil". Há muita informação, uma deixa-nos sombrios, outra perplexos, por isso vamos por partes.

Ao longo do dia de ontem e da madrugada houve 523 incêndios no país, muitos deles que a dada altura ficaram incontroláveis e provocaram pelo menos dez mortos em Penacova, Sertã, Oliveira do Hospital, Nelas, Santa Comba Dão e Vouzela. O Expresso fala em 11 mortos e o CM em 20, mas esses números não foram confirmados oficialmente. Houve um incendiário detido em flagrante delito, em Vale de Cambra. Tudo o que sabemos neste momento sobre o que se passou está contado de forma sucinta aqui, num artigo que está em constante atualização.

Entre os mortos encontra-se uma jovem de 19 anos que estava grávida e tentava fugir do fogo em contramão na A25, e dois irmãos que queriam salvar a lenha do pai. As informações conhecidas sobre as várias vítimas está aqui.

As imagens são brutais: mostram chamas assustadoras, carros calcinados, casas destruídas, pessoas impotentes, bombeiros exaustos.

E há uma foto que se está a tornar o símbolo destes dias. Foi tirada por Hélio Medeiros, um membro das Forças Especiais de Bombeiros, a partir da torre dos Bombeiros Voluntários de Vieira de Leiria, e mostra colunas de fumo por cima da cidade e o fogo a consumir o Pinhal de Leiria. Veja-a aqui. (Há 101 anos, outro grande incêndio consumiu o Pinhal de Leiria - nós lembramos os relatos e as fotos.)

Perante tudo isto, como se comportaram os políticos?
  • António Costa foi de madrugada à Proteção Civil e tratou os portugueses como se fossem crianças sem a devida noção de que a vida é mesmo assim. Primeiro: disse que o Governo não tem uma "solução mágica", como se alguém estivesse, de forma tonta, a exigir magias a alguém. Segundo: afirmou que “o país tem de estar consciente que a situação que estamos a viver vai seguramente prolongar-se para os próximos anos”, como se a repetição de mortes fosse um acontecimento normal. Terceiro: avisou que, para resolver o problema, vai ser precisa "a próxima década", como se até lá todos tivessem de ficar anos e anos em silêncio, a assistir a mortes. Quarto: insistiu que demitir a ministra seria "um bocado infantil", como se os governantes não tivessem que sair quando tudo corre mal. E ainda respondeu a uma pergunta de uma jornalista da seguinte forma: "Minha senhora, não me faça rir a esta hora". Não se percebe porque é que lhe passaria pela cabeça rir, de facto.
  • Marcelo Rebelo de Sousa aprendeu a lição que lhe foi dada pelo relatório da comissão independente sobre Pedrógão: ficou em Belém, em vez de ir para o terreno perturbar os operacionais. Insistiu novamente que “tudo terá de ser analisado”, mas deve perceber que quando um Presidente pede repetidamente responsabilidades políticas e elas não são assumidas, é o Presidente quem fica fragilizado, porque isso é sinal de que o Governo não o ouve, ou não o considera, ou não o teme;
  • Jorge Gomes, secretário de Estado da Administração Interna, aproveitou uma noite de medo, confusão e mortes para anunciar aos portugueses que “não podemos ficar todos à espera que apareçam os nossos bombeiros e aviões para nos resolver o problema”. Mais: "Temos de nos autoproteger". Repito: isto não foi dito num período de acalmia, enquadrado numa qualquer campanha de esclarecimento das populações - foi dito num momento crítico, em que milhares de pessoas tentavam, justamente, salvar o que é seu e salvarem-se a si próprios. António Costa achou as declarações do secretário de Estado apropriadas.

O Observador tem um liveblog aberto, onde está a acompanhar todos os acontecimentos ao minuto.


Mais informação importante
Rui Rio deu ontem a sua primeira entrevista como candidato a líder do PSD. A ideia que fica: disse que se o PSD estivesse no Governo (com ele ou com Passos Coelho), o país já teria um défice zero. Criticou ainda Marcelo, por ter almoçado com Santana Lopes; anunciou que não gosta do Bloco Central; e marcou diferenças com o seu adversário, Santana Lopes, de quem o separa "ui, tanta coisa".

Sobre o Orçamento, depois de tudo o que viu no fim de semana, ainda vale a pena ler estes textos:
  • A Rita Tavares conta os bastidores das negociações, com guerras mediáticas, muletas e noites em claro;
  • José Manuel Fernandes, Luís Aguiar-Conraria, Inês Domingos, Pedro Pita Barros e Jorge Costa escrevem cinco opiniões rápidas sobre o documento e mostram o que está por trás dos números.
  • Quem quer informação mais detalhada sobre o Orçamento só precisa de vir aqui: temos a análise dos números, as 20 medidas que vão mexer com o seu bolso, 46 simulações de IRS, a análise aos outros impostos que vão mudar, a polémica dos recibos verdes e tudo o mais.

O caso Sócrates continua com muitas novidades:

O dia de hoje é fundamental para o conflito na Catalunha. O líder do governo regional já respondeu a Madrid, mas não esclareceu se a Catalunha fez ou não uma declaração unilateral de independência. Está assim dado mais um passo para a aplicação do artigo 155 da Constituição, que prevê uma suspensão da autonomia.


Os nossos Especiais

“A luta contra a pedofilia não é uma coisa que interesse ao Papa Francisco”. A frase é de Emiliano Fittipaldi, julgado pelo Vaticano por roubo de documentos, que agora publica "Luxúria", onde mostra documentos inéditossobre escândalos de pedofilia na Igreja. O autor dá uma entrevista ao João Francisco Gomes.


A nossa Opinião

Alexandre Homem Cristo escreve sobre a responsabilidade política dos fogos: "O PS não sabe, não lê, não vê. Uns dirão que a táctica é de génio – e, pelas sondagens, funciona. Mas o que é mesmo é uma vergonha. Com 65 vidas em causa e o país em chamas, até onde irá o calculismo?"

Helena Matos escreve "Os instrumentalizados": "Eles agarram-se agora à caricatura de um Sócrates super-vilão. Eles são os instrumentalizados. Apoiaram Sócrates, muitos estiveram nos seus governos e agora fazem de conta que foram enganados".

João Carlos Espada escreve "Carta de Praga (2)":"Tratar a conferência de Praga como 'da direita' faz lembrar os idos de 1974-1986, quando Mário Soares era acusado pelos extremistas de esquerda e de direita de 'lacaio dos americanos e do capitalismo'".

Ruth Manus escreve sobre empreendedorismo: "Quase ninguém sabe o peso da cabeça de um empreendedor. Quantas preocupações cabem lá dentro, quantas dúvidas surgem e o quão necessário é tomar decisões difíceis".

João Marques de Almeida escreve "Santana e… Sócrates": "Sócrates não chegou ao poder nem o exerceu sozinho. Foi eleito primeiro-ministro como líder do PS. Nenhum dirigente do PS sente um pouco mais do que um mero “incómodo” com o que se passa com o ex-PM?"

Alberto Gonçalves escreve Sócrates & Companhia Ilimitada: "Em tempos, faltava pouco para que o fervor dos devotos por Sócrates suscitasse imolações pelo fogo. Hoje assobiam para o lado e preferem que o indivíduo se imole sozinho. Nem a lepra assustava assim".

Gonçalo Portocarrero de Almada escreve "O milagre do sol que não dançou…": "Alguns crentes ficarão decepcionados com esta explicação mas, se o milagre supusesse uma impossibilidade física, não seria possível a sua explicação científica".


Notícias surpreendentes

Dan Brown esteve em Portugal a lançar o seu novo livro, "Origem". Perante cerca de 1500 pessoas no CCB, em Lisboa, falou da influência dos pais e deixou uma possibilidade no ar: talvez um dos seus próximos romances se possa vir a passar em Portugal. Até já há título: The Sintra Cifra.

Pode ler os dois primeiros capítulos do mais recente livro de Dan Brown aqui. O Observador fez a pré-publicação.

O caso Harvey Weinstein passou dos Estados Unidos para Inglaterra: a Scotland Yard confirmou que está a analisar queixas por assédio sexual contra o produtor de cinema, que foi expulso da Academia de Hollywood.

Surgiu agora um vídeo que mostra a cultura de complacência para com Harvey Weinstein. Em 2005 (atenção: 2005), uma jornalista numa passadeira vermelha perguntou a Courtney Love que conselho daria a jovens que estivessem a chegar a Hollywood. Resposta da actriz: "Vou ser processada por difamação por dizer isto... Se Harvey Weinstein te convidar para uma festa privada no Four Seasons, não vás".

Vai ser um dia terrível por causa dos fogos. Pode ir sabendo o que se passa aqui.
Até já
Mais pessoas vão gostar da 360º. Partilhe:

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