quinta-feira, 16 de abril de 2015

OBSERVADOR - MACROSCÓPIO - 13 DE ABRIL DE 2015

Macroscópio – Se não quer estragar o seu serão de hoje, não continue a ler‏

Macroscópio – Se não quer estragar o seu serão de hoje, não continue a ler

Para: antoniofonseca40@sapo.pt



Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!

 
Morreu Günter Grass e este Macroscópio podia ser sobre ele. Apareceu mais um proto-candidato às Presidenciais, e podíamos a trocar umas ideias sobre o assunto. Entrámos em mais uma semana em que se esgota mais um prazo para a Grécia, e esse também seria um bom tema. E, claro, podíamos ainda começar a abordar o delicado tema do genocídio arménio, que o Papa Francisco ontem recordou, levando a Turquia a protestar de imediato. Mas não. De um forma ou outra, são temas a que daremos a devida atenção, mas hoje o Macroscópio tem uma componente de spoiler: se não quiser saber como começa a quinta temporada da Guerra dos Tronos, pare aqui. Se isso lhe for indiferente, continue. É que também vamos falar de Shakespeare.
 
A expectativa relativamente à quinta temporada era, e é, enorme – até porque se anunciam novos personagens –, de tal forma que ontem, ainda não tinha o primeiro episódio ido para o ar nos países em que a estreia foi simultânea, e já os quatro primeiros episódios tinham sido pirateados e colocados na internet. Na verdade nem o produtor ficou surpreendido, pois a série já tinha sido a mais pirateada de 2014. Em Portugal a estreia é só hoje à noite, no canal de cabo Syfy, mas mesmo assim vou referir-vos as reacções ao primeiro episódio. Antes disso, um pouco de enquadramento.
 
Imagino que muitos dos leitores do Macroscópio des valorizem uma série que mistura elementos fantásticos, como dragões, mesmo que inspirada em eventos históricos bem reais, como a Guerra das Rosas que opôs as casa de Tudor e Lancaster na Inglaterra medieval. Ou que desvalorize um autor como George R. R. Martin. Mas verdade é que há mais em comum entre esta saga interminável – literalmente, pois o autor ainda não a escreveu toda… – e a herança de um dos maiores génios da literatura de todos os tempos, Shakespeare. De tal forma que, como nos contou o The Independent, já se tira partido da popularidade da série para chamar a atenção para Shakespeare, o que nem será mau: “At least it might bring the TV audience to the theatre”.
 
Mas talvez mais curioso seja responder a este quiz do TelegraphGame of Thrones or a Shakespeare play? Se viu todas as anteriores temporadas da série, ou se conhece bem a obra de grande mestre inglês, experimente responder. Suspeito que vai descobrir que não é tão fácil como isso.

Se ainda não é fã e ainda continua desconfiado sobre a qualidade da história e da série, então experimente ler este texto de Margaret Atwood, a grande romancista canadiana, que no Guardian acertou no ponto: ‘Real people, every murderous one’. Como se escreve na entrada desse texto, “acclaimed novelist explains why she finds the show – inspired by literature and the real monarchs of our blood-soaked medieval history – so compelling, while five other famous fans share their devotion to Westeros”.
 
Antes de entrarmos nas reações ao primeiro episódio da quinta temporada, deixem-me dar uma ajuda a quem nunca seguiu a série. Primeiro, fique a saber que nela se morre imenso: Valar Morghulis (“todos os homens devem morrer”, na língua criada por George R. R. Martin para um dos territórios do seu planeta fictício, é uma extraordinária infografia do Washington Post onde se reco rdam todas as 456 mortes a que já assistimos desde o início da série. Nela morrem bons e vilões, homens e mulheres, até alguns animais tiveram protagonismo suficiente para serem incluídos nesta contabilidade. Mesmo assim, não se assuste: A Guerra dos Tronos retrata tempos violentos, nela não se cultiva a violência pela violência.


 
Continuando com recomendações que ajudam a enquadrar a série, salto agora para a New Yorker, onde num texto já com um ano Rachel Syme se interroga sobre se estamos a ver aparecer A New Kind of Woman on “Game of Thrones&r dquo;? Como ela escreve, “The world of “Game of Thrones” is now populated by two kinds of women: those who are actualized to make their own destinies, like Ygritte, Daenerys, Melisandre, Arya, and those who still rely on their male counterparts to dictate their happiness (with characters like Brienne caught somewhere in the middle).” Interessante, não acham?
 
Mas passemos a aspetos mais práticos, nomeadamente a algumas introduções que podem ajudar a entrar no enredo da quinta temporada. É o que se faz no Radio Times no artigo 11 things to remember before watching Game of Thrones series 5. Trata-se, no essencial, de “an essential guide to where we are in the wild world of Westeros”. Para os fãs que ainda não viram o episódio de hoje à noite, é um texto sem spoilers e uma boa forma de refrescar a memória. (O site Vulture fez algo de semelhante em Your Game of Thrones Study Guide: What You Need to Remember for Season 5).
 
O Washington Post, para além da infografia que já referimos, recuperou alguns textos interessantes: “‘Game of Thrones’ leaves George R.R. Martin — and old ideas of power — behind”, “a (spoiler-free) preview of the season that alludes to the events of “A Feast For Crows” and upcoming plot developments on “Game of Thrones” in extremely vague ter ms.”; um complemento à infografia sobre as 456 mortes já registadas, mas seleccionando “The 10 most shocking deaths (so far) in ‘Game of Thrones’”; e dois textos em que se imagina como seria hoje uma história como aquela - “If ‘Game of Thrones’ were in the Middle East” e o mais surpreendente “If ‘Game of Thrones’ took place in Washington, D.C., it would look like this” (não, não é uma versão medieval de House of Cards, é apenas uma pequena par&oac ute;dia com o genérico da série como se Westeros se concentrasse em Washington, uma paródia a que chamaram “District of Columbia”).


 
Chegamos finalmente aos verdadeiros spoilers. Muitos e variados, mas aviso já que, de uma forma geral, a receção ao primeiro episódio foi muito positiva:
  • O El Pais pediu a nada menos que cinco dos seus jornalistas que vissem a estreia e depois partilhassem as suas impressões. O resultado é 'Juego de tronos': los Siete Reinos vuelven a vibrar, de que retirei esta passagem: “El primero de los diez cap&iacut e;tulos de su quinta temporada no defrauda. La serie suele volver lenta y toma forma según avanzan las tramas de cada entrega. En esta ocasión, el episodio de regreso ha tenido un poco de todo, con esos ingredientes que hacen de Juego de tronos lo que es. La serie ha vuelto a colocar las piezas en el tablero. Casi todos los personajes (solo se ha echado de menos a Arya) han tenido su momento para que los espectadores puedan recomponer el nuevo punto de partida. Pero antes, la historia ha arrancado con unflashback con una joven Cersei que ya apuntaba maneras. Un curioso encuentro con una bruja que anticipa la muerte de sus hijos: De oro serán sus coronas y de oro sus mortajas".
  • Na The Atlantic três críticos discutem o arranque da quinta temporada, sendo que o título anuncia que foi uma Slow but Promising Season 5 Premiere. Assim começa a sua discussão: “Game of Thrones season premieres have a sacred obligation: look back, look ahead, and remind viewers of just how brutal Westeros can be. Tonight’s episode did those things—but Tyrion Lannister did them more efficiently. “Our future is shit,” the scruffy and stinking fugitive tells Varys. “Just like the past.” Then he pukes.”
  • Ainda na The Atlantic, um aviso para quem já leu as novelas e pensa que, assim, pode antecipar o que aí vem: em With Season Five, Game of Thrones Transcends the Failings of the Books defende-se que “The fifth season gracefully side-steps the novels' confused fourth and fifth installments by taking creative license with deaths, romance, and Tyrion Lannister.” É uma conclusão a que o crítico chegou depois de ver os quatro primeiros episódios, os tais que, entretanto, foram pirateados.
  • Passo agora ao New York Times – Stannis Emerging, Tyrion Unboxed –, onde se deixa a seguinte pergunta: “Are we ready for a “Thrones” in which Stannis Baratheon is playing a major role? I enjoyed him in small doses, when he was stranded out in miserable Dragonstone, positioned awkwardly between his wife and his smokebaby-mama. But I wonder if his one-note severity will start to get tiresome. By the way, did you catch that nutty smile on Mrs. Stannis’s face as Mance burned? In a place that’s chock-full o’ craz y, she still manages to stick out.”
  • Sem sair de Nova Iorque passo para a New Yorker e o seu texto “Game of Thrones” Returns: Decisions, Decisions, de Sarah Larson, onde esta nota que “One of the appeals of this show, and of dramas such as “The Sopranos,” “The Wire,” and “Breaking Bad,” is that they let us imagine living in a society on the edge of lawlessness, in which people play by different rules, obeying a code enforced by violence, with peace eked out by carefully negotiated trust. There’s a wild vicarious freedom that comes from watching a character on one of these shows deliciously break a rule we couldn’t break. And there’s comfort in knowing that in our own, more humdrum world, weddings and bloodbaths don’t usually happen at the same time.
  • Ainda na mesma cidade, o Wall Street Journal, em ‘The Wars to Come’, pede-nos para votarmos nas personagens que preferimos entre algumas das que se enfrentam no ecrã. No momento em que escrevo a vantagem vai para Daenerys Targaryen, a “mãe dos dragões”. Será ela que vai acabar por triunfar? Ninguém sabe, pois já vimos muitos dos protagonistas mais populares desaparecerem abruptamente.
  • Volto à Europa e ao Telegraph, onde se considera que esta temporada se anuncia ‘sharper than ever’. Eis porquê: “This wasn’t the most dramatic episode s o far, but the acting and writing were sharper than ever. And with a toe dipped into almost every ongoing thread of storyline, the stage was set for even more power play, betrayal and brutal shufflings off this mortal coil.”
     


Mas talvez o mais extraordinário desenvolvimento da estreia desta nova temporada tenha sido a utilização que dela fez o Governo francês, que elaborou uma carta “às famílias nobres dos 7 reinos” - Lettre aux familles nobles des 7 royaumes – que não é mais do que uma apresentação ao povo francês das reformas que a eq uipa de François Holland e Manuel Valls têm em curso: “Parce que la France se réforme au quotidien, le gouvernement a souhaité partager son expérience avec les familles nobles des 7 royaumes. En cliquant sur chaque article, elles peuvent découvrir le détail et la méthode des réformes que nous avons engagées.” O marketing político parece, de facto, não conhecer limites.
 
Depois disto tudo, vejam (se ainda não viram…) o primeiro episódio da quinta temporada da Guerra dos Tronos. Talvez por isso mesmo hoje não lhes desejo nem tanto descanso, nem tantas leituras.
 
E despeço-me até amanhã.

 
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