sábado, 28 de março de 2015

OBSERVADOR - MACROSCÓPIO - 27 DE MARÇO DE 2015

Macroscópio – O fim-se-semana em que nos roubam uma hora de sono‏

Macroscópio – O fim-se-semana em que nos roubam uma hora de sono

Para: antoniofonseca40@sapo.pt

Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!

 
 
Não sei o leitor acompanha o Macroscópio neste julgamento, mas esta coisa de um fim-de-semana ter uma hora a menos, para mais um fim-de-semana que se anuncia de bom tempo, é coisa que não lembra a ninguém. Mas é mesmo assim pelo que há seis meses, quando o fim-de-semana teve uma hora a mais, o Observado r andou a tentar perceber esta coisa de haver uma hora de Verão e uma hora de Inverno. É um Especial do Hugo Tavares da Silva que vale a pela ler, ou reler: Sabe porque muda a hora? Esta história tem barbas. Posso desde já dizer-lhe que não se fica muito convencido sobre a necessidade de andar a mudar de hora duas vezes por ano. Na Europa o argumento final é até bastante burocrático: “A Comissão considera que o regime de hora de verão tal como estabelecido na diretiva continua a ser adequado. Nenhum Estado-Membro mostrou vontade de abandonar a hora de verão ou modificar as disposições da atual diretiva. Em contrapartida, importa manter a harmonização do calendário a fim de assegurar o bom funcionamento do mercado intern o, que é o objetivo essencial da diretiva.
 
Mas se quiser saber ainda mais coisas sobre o lado absurdo deste hábito que nasceu há quase 100 anos (em 1916, na Alemanha, por razões que tinham a ver com a guerra que então devastava a Europa), então recomendo-lhe a leitura de dois artigos da Quartz:Time Zone Deviants, Part I: the strangest time zones in the world eTime Zone Deviants, Part II: If you think daylight saving time seems completely arbitrary, you’re right. Deixo-vos com uma breve citação deste segundo texto, onde se mostra como este tema está longe de ser consensual entre as diferentes naç&otild e;es dos cinco continentes:
Only 82 nations wake up earlier in spring en masse in order to enjoy more daylight in the evenings, and most are concentrated in the Americas and Europe. Interestingly, even among these countries, there is little agreement about how or when is best to do make the switch: most European countries wait until Mar. 29 to adjust their clocks, while the US, Canada, Cuba and Bermuda (among others) do it on Mar. 8. Across the southern hemisphere, where summer and winter are reversed, countries that observe daylight saving time (DST) move time in the opposite direction, so as the United States leaps forward, Uruguay falls behind.
 
A compensação, pelo menos durante os meses de hora de Verão, é que num país como Portugal, com uma extensa costa voltada a Poente, se pode jantar à ; beira-mar a ver o Sol desaparecer no horizonte, o que é sempre uma experiência recompensadora. Este domingo, por exemplo, o Sol só desaparecerá pelas 19h58, o que dará, pelo menos, tempo para um aperitivo. Aproveitem, se puderem.
 
Até lá podem ir lendo algumas das sugestões variadas que vos vou deixar hoje, umas mais curiosas, outras sobre temas mais complexos e, até, inquietantes.
 
Começo por um dos habituais ensaios de fim-de-semana do Wall Street Journal relativo a uma figura para que já vos chamei a atenção no Macroscópio, o pai-fundador da Singapura moderna que morreu no passado dia 23: Lee Kuan Yew, the Man Who Remade Asia. É, sem dúvida, um título atrevido se pens armos que Singapura é um Estado minúsculo, mas um título que logo surge suportado por uma fotografia em que ele surge a cumprimentar Deng Xiaoping, o grande reformador chinês que, em muitos aspectos, se inspirou no exemplo de Singapura para transformar a China. Escrito por alguém, Orville Schell, que chegou pela primeira vez a Singapura em 1962, numa altura em que o território ainda era uma colónia britânica e o seu nível de vida baixíssimo, este ensaio ajuda-nos a reflectir sobre o modelo criando por alguém que, ao mesmo tempo que defendia o que designava como “valores asiáticos”, transformava o país num pequeno potentado económico ao mesmo tempo que o dirigia com uma mistura de democracia e paternalismo. Pequeno extracto:
Lee Kuan Yew not only made Singaporeans proud; he also made Chinese and other Asians proud. He was a master builde r, a sophisticated Asian nationalist dedicated not only to the success of his own small nation but to bequeathing the world a new model of governance. Instead of trying to impose Western political models on Asian realities, he sought to make autocracy respectable by leavening it with meritocracy, the rule of law and a strict intolerance for corruption to make it deliver growth.
 
Como leitura complementar recomendo Why Singapore became an economic success, na secção The Economist explains que, como o nome indica, é publicada no site da revista The Economist. Não deixem de clicar em cima da infografia que, além de nos deixar um pouco deprimidos com a comparação, também conduz a um outro artigo da mesma revista, Lee Kuan Yew's Singapore: An astonishing record. O gráfico é o que reproduzo abaixo:


 
Salto agora de região, para uma outra onde, infelizmente, as coisas estão a correr muito pior: o Médio Oriente. O Financial Times publica um texto bastante pessimista - Decades of deadly conflict will spread across the Middle East – mas escrito por alguém com enorme autoridade: Richard Haass, presidente do Council on Foreign Relations dos Estados Unidos. Ele faz uma comparação com a devastadora Guerra dos 30 Anos que destruiu boa parte da Europa (e sobretudo o que hoje é a Alemanha) no século XVII – “The modern Middle East is like 17th-century Europe, enmeshed in violent and costly, political and religious struggles within and across borders that could well last for three decades longer.” – e concluiu com aquilo a que os médicos chamariam um prognóstico muito reservado:
All of which brings us back to Europe’s 30 Years War. Civil wars fuelled by outsiders with religious and political agendas tend to end for one of several reasons: order is imposed by one side or a third party, or the sides settle, usually out of exhaustion. Alas for the Middle East, no such scenario seems imminent.
 
Como imaginarão os leitores, o pretexto próximo deste artigo é a intervenção da Arábia Saudita no Iémen mas tem como pano de fundo a turbulência que continua a marcar o mundo islâmico (assim como muitas comunidades islâmicas radicadas na Europa). Isso obriga-me a recuperar um outro ensaio do Wall Street Journal, este publicado há uma semana, onde Ayaan Hirsi Ali procura explicar Why Islam Needs a Reformation. O texto é uma pré-publicação do livro com o mesmo nome da activista que teve de deixar a Holanda depois das ameaças que recebia. A forma como arranca é forte:
“Islam’s borders are bloody,” wrote the late political scientistSamuel Huntington in 1996, “and so are its innards.” Nearly 20 years later, Huntington looks more right than ever= before. According to the International Institute for Strategic Studies, at least 70% of all the fatalities in armed conflicts around the world last year were in wars involving Muslims. In 2013, there were nearly 12,000 terrorist attacks world-wide. The lion’s share were in Muslim-majority countries, and many of the others were carried out by Muslims. By far the most numerous victims of Muslim violence—including executions and lynchings not captured in these statistics—are Muslims themselves.
 
Para terminar, duas coisas mais leves. A primeira é um interessante artigo de ciência do El Pais sobre uma experiência genética levado a cabo na Islândia e que o diário espanhol descreve como un experimento genético de un milenio. Trata-se do maior estudo jamais r ealizado ao genoma de uma população e que revelou que “el 8% de la humanidad tiene mutaciones graves”. Só que “Aparte de lo chocante que resulta, la alta prevalencia de mutaciones graves (nulas, en la jerga, o que inactivan por completo un gen) supone una oportunidad valiosa de investigar a fondo la genética y la bioquímica humana, en la salud y en la enfermedad.” Sendo que dificilmente se poderá realizar um estudo semelhantes noutra região que não aquele isolado país no meio do Atlântico:
Puesto que esas personas están vivas, es evidente que la función de esos genes no es esencial para la viabilidad del embrión, del feto ni del individuo, pero es probable que esas personas muestren alguna variación fisiológica más sutil, lo sepan o no. Ahí hay campo para investigar durante años o d écadas por venir. Un largo recorrido para el millar de vikingos que desembarcó en Islandia hace un milenio. No habrá muchos experimentos como este, al menos mientras no colonicemos el planeta Marte.
 
A última sugestão já a tinha aqui guardada há algum tempo: A Guide to Not Retiring. Pode parecer surpreendente, mas não é: não há apenas pessoas a quererem reformar-se mais novas, há também quem gostasse de nunca ter de se reformar. É a esses que esse artigo se destina. Trata-se de uma reportagem muito interessante que, mesmo centrada na realidade dos Estados Unidos, decorre de uma evidência: se vivemos cada vez mais anos, e cada vez mais anos com saúde, porque não poderemos também prolonga r as nossas carreiras? A mim, pessoalmente, o tema diz-me muito. Espera que também a pelo menos uma parte dos leitores do Macroscópio.
 
E por aqui termino, com desejos de um bom fim-de-semana (mesmo mais curto) recheado de leituras. Até segunda-feira.
 
 
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ANTONIO FONSECA


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