Alguns analistas acreditam que, ao apresentar a sua possível sucessora, o líder norte-coreano quer mostrar ao mundo que a presença da sua família no poder da Coreia do Norte está longe de terminar.

No passado sábado os meios de comunicação norte-coreanos divulgaram fotografias do líder do país perto de um míssil balístico intercontinental de mão dada com uma criança, que se acredita que seja sua filha. Os analistas dividem-se agora sobre o verdadeiro significado desta presença da criança no lançamento.
No passado sábado os meios de comunicação norte-coreanos divulgaram fotografias do líder do país perto de um míssil balístico intercontinental de mão dada com uma criança, que se acredita que seja sua filha. Os analistas dividem-se agora sobre o verdadeiro significado desta presença da criança no lançamento.© Reuters

Contudo, há quem tenha dúvidas sobre as perspetivas de liderança da filha de Kim Jong-Un.

A autora sul-coreana Chun Su-jin afirma que as elites norte-coreanas não estão, de todo, “preparadas para acolher uma líder de outro género”, sendo que esta ascensão de uma mulher ao poder não tem precedentes numa “dinastia” dominada exclusivamente por homens.

O diretor da North Korea Leadership Watch, Michael Madden, argumenta, por sua vez, que Kim Jong-Un tem apenas 38 anos e por isso, caso não sofra nenhum problema de saúde que leve à sua incapacidade ou morte, “há tempo suficiente para a cultura política da Coreia do Norte mudar e criar as condições para uma sucessora feminina”.

Michael Madden observa ainda que Kim Jong-un parece mais recetivo à mudança do que os seus antepassados, tendo contribuído para a ascensão ao poder de várias mulheres, nomeadamente a sua irmã, Yo Jong, e Choe Son Hui, a primeira mulher a ser ministra dos Negócios Estrangeiros no país.

Darcie Draudt, da Escola de Princeton de Assuntos Públicos e Internacionais, acredita que se, durante a próxima década, a filha do atual líder, se associar ao desenvolvimento económico e aos programas de mísseis e armas nucleares, então poderá assumir o cargo do pai. A analista acredita que, no país, o interesse pela defesa do desenvolvimento militar e económico importa mais do que o género.

Há ainda peritos que defendem que Kim Jong-Un apenas quer mostrar que as armas nucleares protegem as crianças e que são “monumentos a serem transmitidos aos descendentes durante gerações”, mensagem frequentemente difundida pelos meios de comunicação estatais.

Chun Su-jin garante que o líder está apenas a “encenar um espetáculo de que é um pai amoroso, e não apenas um ditador brutal que dispara mísseis”.

Também Yang Moo-jin, presidente da Universidade de Estudos da Coreia do Norte de Seul, afirmou que a presença da criança deveria ser vista através de uma “lente doméstica”. O analista acredita que o líder aproveitou o lançamento bem-sucedido do míssil - “motivo de celebração nacional” para os norte-coreanos – para ser visto a passar algum tempo de qualidade com a filha, humanizando a sua imagem. 

“Ao mostrar a sua família como boa e estável, mostra-se como um líder para as pessoas normais", afirmou Yang Moo-jin.