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João Francisco GomesJornalistaQuarta, 6 mai 2020
Ao fim de um mês e meio confinados nas nossas casas, estamos a voltar, ainda que lentamente, a sair à rua. Fica para trás um período, inédito na história recente, em que o isolamento social e a paralisação da indústria e dos serviços fez cair a pique a poluição atmosférica e as emissões de gases com efeito de estufa — acalentando a esperança de quem viu neste momento a prova definitiva do impacto da atividade humana na destruição do planeta. Agora, com o gradual regresso à normalidade possível, é expectável que estes níveis voltem a subir.
Como é que impedimos que subam novamente para os valores pré-pandemia? Mais ainda: como é que a Humanidade pode aproveitar este momento de pausa para regressar a um mundo mais sustentável?
Muitos acreditam que a resposta está na intervenção dos estados, que nos próximos tempos vão protagonizar os esforços de recuperação de uma das maiores crises económicas de sempre. Podem os fundos públicos destinados a recuperar a economia (especialmente aqueles atribuídos aos setores mais poluentes, como o da aviação, um dos mais afetados por esta pandemia) estar condicionados ao cumprimento de determinadas contrapartidas ambientais?
É o que ambientalistas, políticos e até as Nações Unidas têm sugerido. Na Áustria, por exemplo, o governo já deixou clara essa intenção. Numa entrevista recente à imprensa austríaca, a ministra dos transportes Leonore Gewessler falou sobre o resgate pedido pela Austrian Airlines, no valor de 767 milhões de euros e assegurou que “este dinheiro tem de ser condicional”. No ar, deixou algumas ideias sobre quais as contrapartidas que podem ser exigidas à companhia aérea em troca do apoio: restrições aos voos mais curtos, uso de combustíveis menos poluentes e alterações no enquadramento fiscal.
Há também muito trabalho a ser feito nas cidades grandes, onde vive mais de metade da população mundial e onde a grande densidade populacional levou a uma maior e mais rápida propagação do vírus. Várias cidades europeias, como Milão, Berlim ou Bruxelas, aproveitaram este período para transformar os seus centros históricos, tornando-os mais amigos dos peões e das bicicletas, e menos dos carros.
Quem vive em Lisboa e começa agora a sair à rua poderá notar, já por estes dias, pelo menos uma diferença visual: entre os vários novos sinais de trânsito que entraram em vigor durante o mês de abril, encontra-se o sinal que indica a entrada na zona de emissões reduzidas (ZER). Mas a câmara da capital também já foi desafiada a seguir o exemplo de outras cidades europeias e a aproveitar este período para alargar a rede de ciclovias.
Fake news também são uma ameaça para a biodiversidade
O combate à desinformação tem sido uma das lutas mais difíceis de travar no espaço público durante esta pandemia. O Observador tem feito uma parte desse trabalho, bem como muitos outros meios de comunicação social em Portugal e no resto do mundo. Mas as fake news multiplicam-se diariamente — e o ambiente não é exceção. Já aqui desfizemos vários mitos sobre informações falsas ou, no mínimo, desenquadradas, que davam conta do “regresso” de animais selvagens às cidades agora abandonadas pelos humanos.
Mas essas informações não são só falsas: podem ser perigosas para a biodiversidade do nosso mundo. Várias notícias falsas, enganadoras ou incompletas sobre a ligação entre os animais e a origem do coronavírus responsável pela pandemia da Covid-19 levaram, por exemplo, a que na Índia se repetissem relatos de árvores cortadas para destruir habitats de populações inteiras de morcegos — animais essenciais para a biodiversidade local, uma vez que controlam naturalmente as pragas que afetam a produção agrícola.
Claro que nem todas as notícias sobre as invasões urbanas por parte do mundo animal são falsas. Por exemplo, pode valer a pena verificar cautelosamente o seu carro antes de o voltar a conduzir após este período de paragem: é possível que haja ratos ou ratazanas a viver no motor.
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