terça-feira, 30 de outubro de 2018

DIA NACIONAL DA PREVENÇÃO DO CANCRO DA MAMA - 30 DE OUTUBRO DE 2018

Cancro da mama

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Cancro da mama
Câncer de mama
Mamografia de uma mama normal (esquerda) e de uma mama com cancro (direita, setas brancas).
EspecialidadeOncologia
SintomasNódulo numa mama, alterações na forma da mama, retração da pele, líquido no mamilo, pele vermelha e escamosa[1]
Fatores de riscoPertencer ao sexo feminino, estar com obesidade, não praticar exercício físico, consumir álcooltabaco e outras drogasterapia de substituição hormonal durante a menopausaradiação ionizantemenarca em idade precoce, ter tido filhos mais tarde (após os 35), ou não ter tido filhos, ter feito aborto, possuir idade avançada, haver casos de antecedentes familiares e possuir a síndrome de Klinefelter[1][2][3]
Método de diagnósticoBiópsia[1]
TratamentoCirurgiaradioterapiaquimioterapia, terapia hormonal, terapia dirigida[1]
PrognósticoTaxa de sobrevivência a 5 anos: ~85% (EUA, Reino Unido)[4][5]
Frequência2,1 milhões (2015)[6]
Mortes533 600 (2015)[7]
Classificação e recursos externos
CID-10C50
CID-9174-175
OMIM114480
DiseasesDB1598
MedlinePlus000913
eMedicinemed/2808
MeSHD001943
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Cancro da mama (português europeu) ou câncer de mama (português brasileiro) ou carcinoma da mama é o cancro que se desenvolve no tecido mamário.[8] Entre os sinais de cancro da mama estão o aparecimento de um nódulo na mama ou perto da mama na zona da axila; alterações na forma ou na aparência da mama, como retração do mamilo, pele da mama ou aréolamamilo com aparência escamosa, vermelha, inchada ou com saliências e reentrâncias; ou ainda sensibilidade no mamilo e secreção ou perda de líquido pelo mamilo. Em pessoas com a doença disseminada, pode também verificar-se dor ósseagânglios linfáticos inchados, falta de ar e icterícia.[9]
Entre os fatores de risco para o desenvolvimento de cancro da mama estão o sexo feminino, a idade, obesidade, falta de exercício físico, o consumo de álcool, a terapia de reposição hormonal durante a menopausaradiação ionizante, idade precoce da primeira menstruação, ter filhos em idade tardia ou não ter tido filhos.[1][2]Entre 5 e 10% dos casos são causados por genes herdados dos pais da pessoa, entre os quais o BRCA1 e o BRCA2. O cancro da mama geralmente desenvolve-se nas células do revestimento dos canais mamários e dos lóbulos onde é produzido o leite. Os cancros que se desenvolvem nos canais são denominados carcinomas ductais, enquanto que os que se desenvolvem nos lóbulos são denominados carcinomas lobulares.[1] Existem ainda mais 18 sub-tipos de cancro da mama. Alguns cancros desenvolvem-se a partir de condições pré-malignas como o carcinoma ductal in situ.[2] O diagnóstico de cancro da mama é confirmado através de uma biópsia do nódulo em questão. Uma vez realizado o diagnóstico, são realizados mais exames para determinar se o cancro se disseminou para além da mama e a que tratamentos pode responder.[1]
A ponderação entre as vantagens e desvantagens do rastreio do cancro da mama ainda é um tópico controverso. Uma revisão de 2013 da Cochrane afirmou que não é claro que o rastreio mamográfico tenha mais benefícios ou malefícios.[10] Outra revisão de 2009 por um grupo de trabalho dos EUA (US Preventive Services Task Force) encontrou evidências de benefícios em pessoas com 40 a 70 anos de idade,[11]tendo recomendado o rastreio a cada dois anos para as mulheres entre os 50 e 74 anos de idade.[12]
Como medida de prevenção, em pessoas com risco elevado de desenvolver cancro da mama, podem ser usados os fármacos tamoxifeno e raloxifeno. Outra medida de preventiva em mulheres com risco agravado é a remoção cirúrgica de ambas as mamas.[2] Em pessoas a quem foi diagnosticado cancro, estão disponíveis uma série de tratamentos, incluindo cirurgiaradioterapiaterapia hormonal e terapia direcionada.[1] Dependendo do tipo de intervenção necessário, a cirurgia pode conservar a mama (p.e. quadrantectomia) ou ser realizada uma mastectomia. A reconstrução de mama pode ter lugar durante a cirurgia ou numa data posterior. Nas pessoas em que o cancro já se disseminou para outras partes do corpo, os tratamentos destinam-se sobretudo a prolongar a vida, melhorar o conforto e a qualidade de vida.[13]
O prognóstico para o cancro da mama varia em função do tipo de cancro, extensão da doença e idade da pessoa.[13] A taxa de sobrevivência em países desenvolvidos é elevada,[14] sendo mais reduzida nos países em vias de desenvolvimento.[2] Quando se considera todo o mundo, o cancro da mama é a causa mais comum de cancro em mulheres, correspondendo a 25% de todos os casos.[15] Em 2012 foi responsável por 1,68 milhões de casos e 522 000 mortes.[15] É mais comum em países desenvolvidos[2] e é mais de 100 vezes mais comum em mulheres do que em homens.[14][16]

Sinais e sintomas[editar | editar código-fonte]

Sinais iniciais que indicam a possibilidade de um cancro da mama.
Mama com cancro onde são visíveis a retração do mamilo, um nódulo e retração da pele.
O primeiro sintoma percetível de cancro da mama é geralmente o aparecimento de um nódulo na mama ou na zona dos gânglios linfáticos das axilas, cuja sensação durante a palpação é diferente do tecido envolvente. Mais de 80% dos casos de cancro da mama são descobertos quando a mulher sente um nódulo durante a palpação.[17] Para além dos nódulos, entre os sinais de um possível cancro da mama estão um espessamento diferente do restante tecido mamário; alterações na forma, tamanho ou aparência de uma mama; a retração ou alteração de posição ou forma de um mamilo; pele da mama, aréola ou mamilo com aparência escamosa, vermelha, inchada ou com sailiências e reentrâncias; secreção ou perda de líquido pelo mamilo; dor constante em parte da mama ou da axila e inchaço por baixo da axila ou à volta da clavícula.[1][18][19]
carcinoma inflamatório da mama é um tipo particular de cancro da mama cujo diagnóstico é bastante difícil, uma vez que não se manifesta através de um nódulo palpável. Os sintomas podem-se assemelhar a uma inflamação das mamas, incluindo prurido, dor, inchaço, inversão do mamilo, calor, vermelhidão por toda a mama e textura da pele semelhante a uma casaca de laranja.[17] Em alguns casos, o cancro da mama apresenta-se como doença metastática; ou seja, cancro que se disseminou no corpo para além do órgão inicial. Os sintomas causados pelo cancro da mama metastático dependem da localização das metástases. Os locais mais comuns são os ossosfígadopulmões e cérebro.[20]
doença de Paget da mama é uma síndrome maligna que é responsável por 1 a 4,3% de todos os cancros da mama. Manifesta-se através de alterações na pele semelhantes ao eczema, como vermelhidão, descoloração ou escamamento da pele do mamilo. À medida que a doença avança, os sintomas incluem formigueiro, prurido, aumento da sensibilidade e dor, podendo também verificar-se secreções do mamilo. Cerca de metade das mulheres diagnosticadas com doença de Paget da mama também apresentam um nódulo no peito.[21] Em casos raros, aquilo que inicialmente aparenta ser um fibroadenoma (nódulo duro, móvel e não-canceroso) pode na realidade ser um tumor filoide, responsável por 0,5% dos cancros da mama. Estes tumores formam-se no estroma (tecido conjuntivo) da mama e são classificados em benignos, duvidosos ou malignos.[22]
Existem também sintomas não específicos de cancro da mama; isto é, sintomas que também podem ser manifestações de outras doenças. A perda de peso inexplicável pode por vezes ser um sinal de cancro da mama, assim como sintomas de febre e calafrios. As dores nos ossos ou articulações, icterícia e sintomas neurológicos podem por vezes ser manifestações de cancro da mama metastático.[23] A dor nas mamas é uma ferramenta pouco fidedigna para determinar a presença ou ausência de cancro da mama, mas pode ser indicativa de outras doenças mamárias.[17][24][25]
A maior parte dos casos de sintomas de doenças mamárias não implicam um diagnóstico de cancro. Por exemplo, só menos de 20% dos nódulos detectados é que revelam ser cancerígenos.[26] As doenças benignas da mama, como a mastite e o fibroadenoma, são causas muito mais comuns dos sintomas aqui descritos. No entanto, a aparição de qualquer sintoma deve ser levada a sério, uma vez que existe a possibilidade de se tratar de cancro da mama, qualquer que seja a idade da pessoa.[27]

Fatores de risco[editar | editar código-fonte]

Os fatores de risco para o cancro da mama podem ser divididos em duas categorias: modificáveis e não modificáveis. Os modificáveis são comportamentos que as próprias pessoas podem alterar, como o consumo de bebidas alcoólicas, enquanto que os não modificáveis são fatores que não podem ser alterados, como a idade ou o sexo da pessoa.[28] Os principais fatores de risco para o cancro da mama são o sexo feminino e progressão da idade.[29] Entre outros potenciais fatores de risco estão fatores genéticos, não ter tido filhos ou não ter amamentado,[30] a maior quantidade de determinadas hormonas,[31] e a obesidade, principalmente após a menopausa.[32]

Estilo de vida[editar | editar código-fonte]

Vários comportamentos modificáveis ligados ao estilo de vida aumentam o risco de cancro da mama. Entre eles estão o fumar, que aumenta o risco entre 35% e 50%, a ausência de atividade física, uma dieta rica em gorduras, a obesidade, a ingestão de bebidas alcoólicas e a exposição a radiação e vários produtos químicos.
Fumar aparenta aumentar o risco de cancro de mama. O risco aumenta de forma proporcional à quantidade fumada e a quanto mais cedo na vida se começou a fumar. Em fumadores veteranos, o risco é entre 35% e 50% maior do que em não fumadores.[33] Cerca de 10% dos casos da doença estão relacionados com a ausência de atividade física.[34] Permanecer sentado regularmente e por longos períodos de tempo está associado a uma maior mortalidade do cancro da mama. Este risco não desaparece com o exercício regular, embora haja uma diminuição.[35]
Existe uma relação entre a dieta e o cancro da mama. O risco da doença é maior com uma dieta rica em gorduras,[36] com a ingestão de álcool,[37] e com a obesidade relacionada com níveis excessivos de colesterol.[38] A insuficiência de iodo na dieta pode também influenciar o risco.[39]
Entre outros fatores de risco estão a radiação,[40] e o trabalho por turnos.[41] Estão também associados ao aumento do risco alguns produtos químicos, como o bifenilpolicloradohidrocarbonetos aromáticos policíclicossolventes orgânicos[42] e determinados pesticidas.[43] Embora a radiação recebida durante uma mamografia seja em doses muito baixas, estima-se que o rastreio anual entre os 40 e os 80 anos de idade seja a causa de aproximadamente 225 casos fatais de cancro da mama por cada milhão de mulheres rastreadas.[44]
Existe uma associação entre a contraceção hormonal e o desenvolvimento de cancro da mama durante a pré-menopausa,[28][45]embora esteja ainda a ser debatido se o uso de contracetivos orais causa de facto a doença. No entanto, mesmo que haja alguma relação, o efeito global será pouco significativo.[46] Além disso, não é claro se essa associação ainda continua a existir com os contracetivos orais de última geração.[46] Em pessoas com mutações genéticas que causam predisposição para cancro da mama (genes BRCA1 ou BRCA2) ou que têm antecedentes familiares de cancro da mama, o uso de contracetivos orais de última geração não aparenta ter qualquer influência no risco de cancro da mama.[47][48] As mutações que podem causar cancro da mama têm sido associadas experimentalmente à exposição ao estrogénio.[49]
A associação entre amamentação e o cancro da mama ainda não está inequivocamente demonstrada. Alguns estudos apontam a existência de uma associação enquanto outros não.[50] No início da década de 1980, foi levantada a hipótese de que o aborto induzido aumentava o risco de vir a desenvolver cancro da mama.[51] No entanto, esta hipótese foi alvo de investigação extensa nas décadas seguintes, tendo a comunidade científica concluido que nem o aborto induzido nem o aborto espontâneo estão associados a qualquer aumento do risco de cancro da mama.[52]

Genética[editar | editar código-fonte]

As mutações nos genes BRCA são herdadas de forma dominante, a partir de qualquer um dos progenitores.
Acredita-se que a predisposição genética seja a principal causa de 5 a 10% de todos os casos de cancro da mama[53] e que possa ter um papel menor na maioria dos restantes casos.[54] Em menos de 5% dos casos, a genética tem um papel mais ativo ao causar síndrome de cancro hereditário da mama e ovário em pessoas com mutações nos genes BRCA1 e BRCA2.[54] Estas mutações correspondem a 90% do total de influência genética, com um risco de cancro da mama de 60 a 80% em pessoas afetadas.[53] Entre outros genes com mutações significativas estão o p53 (síndrome de Li-Fraumeni), PTEN(síndrome de Cowden), STK11 (síndrome de Peutz–Jeghers), CHEK2ATMBRIP1 e PALB2.[53]
Em pessoas com nenhum, um ou dois parentes afetados, o risco de cancro da mama antes dos 80 anos de idade é de 7,8%, 13,3% e 21,1%, respetivamente, sendo a mortalidade da doença de 2,3%, 4,2% e 7,6%, também respetivamente.[55] Em pessoas com um parente em primeiro grau com a doença, o risco de vir a ter cancro da mama entre os 40 e 50 anos de idade é o dobro em relação à generalidade da população.[56]
O gene GATA3 controla diretamente a expressão dos recetores de estrogénio e de outros genes associados com a diferenciação epitelial. A perda do GATA3 provoca a perda de diferenciação e um diagnóstico menos favorável devido à invasão celular e metástase.[57]

Condições médicas[editar | editar código-fonte]

Algumas alterações nas mamas, como a hiperplasia ductal atípica e o carcinoma lobular in situ, que ocorrem em doenças benignas, estão relacionadas com o aumento do risco de cancro da mama. A diabetes pode também aumentar o risco da doença.[58][59]

Fisiopatologia[editar | editar código-fonte]

Ver também: Carcinogénese
O cancro da mama, tal como qualquer outro cancro, ocorre devido a uma interação entre fatores ambientais e um hospedeiro geneticamente predisposto. O cancro da mama é uma disfunção celular em que as células epiteliais crescem e se multiplicam de forma desordenada.[60] Enquanto que as células normais são capazes de controlar a sua multiplicação, de se unir a outras células e de permanecer no devido local nos tecidos, as células cancerígenas não têm mecanismos que impeçam a sua multiplicação, não precisam de de se unir a outras células para sobreviver e invadem os tecidos próximos. As células normais suicidam-se quando já não são necessárias. Até chegar o momento certo, esta morte programada é impedida por vários tipos de proteínas e vias metabólicas. Ocasionalmente, os genes que codificam as proteínas destas vias protetoras podem sofrer mutações, o que faz com que estas proteínas alteradas tornem a célula resistente aos estímulos para cometer suicídio. Estas mutações podem levar ao cancro. Por exemplo, numa situação normal a proteína PTEN desliga a via PI3K/AKT quando a célula está pronta para se suicidar. Em alguns cancros da mama, o gene da proteína PTEN encontra-se mutado, pelo que a via PI3K/AKT encontra-se permanentemente ligada, aumentado a resistência ao suicídio celular (morte celular programada).[61]
O perfil genómico é importante para caracterizar os subtipos de cancro da mama invasivo. O estrogénio é uma hormona produzida principalmente pelos ovários e placenta. Estão identificados vários mecanismos pelos quais esta hormona pode causar cancro da mama, incluindo a ligação do estradiol (E2) aos recetores de estrogénio (ER). O E2 regula o crescimento, a diferenciação celular e vários processos fisiológicos, mas estes efeitos são mediados pelos recetores de estrogénio presentes no tecido mamário nas isoformas RE-α e RE-β. Cerca de 70% dos cancros da mama apresenta níveis elevados de RE-α e níveis baixos de RE-β, o que sugere que o RE-α está associado à carcinogénese, enquanto o RE-β parece ter um efeito protetor.[60][62][63] A progesterona atua nos recetores de progesterona, cuja expressão é estimulada pelos recetores de estrogénio.[60][64] O oncogene HER2/neu produz a proteína HER2 e codifica a glicoproteína transmembranar 185KDa. Quando é produzida em baixos níveis, a proteína HER2 regula o crescimento celular normal. Em 15-30% dos carcinomas invasivos da mama observa-se sobre-expressão ou amplificação do gene HER2.[60][65] Eventuais anomalias na sinalização dos fatores de crescimento entre as células estromais e as células epiteliais podem facilitar o crescimento celular maligno.[66][67] No tecido adiposo da mama, a sobre-expressão da leptina leva ao aumento da proliferação celular e ao aparecimento de cancro.[68]
Nos Estados Unidos, 10 a 20% das pessoas com cancro da mama e cancro dos ovários têm um parente em primeiro ou segundo grau com uma destas doenças. A tendência familiar para desenvolver estes tipos de cancro é denominada síndrome hereditário de cancro da mama e ovário. O caso melhor estudado é o da mutação do gene BRCA1 que confere risco de cancro da mama ao longo da vida de 60 a 85% e risco de cancro dos ovários de 15 a 40%. Algumas mutações genéticas associadas com o cancro, como é o caso dos genes p53BRCA1 e BRCA2, ocorrem em proteínas que têm como função corrigir erros na codificação do ADN. Estas mutações são hereditárias ou adquiridas após o nascimento. Presumivelmente, permitem o acumular de mutações posteriores, o que pode provocar divisão celular descontrolada e ulteriormente cancro.[40][69] No entanto, há fortes evidências de variação do risco individual para cancro da mama que vão muito para além das mutações dos genes BRCA entre famílias de portadores. Isto é causado por fatores de risco não observáveis,[70] o que implica que o cancro da mama é despoletado por fatores ambientais e outras causas. A mutação hereditária dos gentes BRCA1 ou BRCA2 pode interferir com a reparação de crosslinks (ligações cruzadas) do ADN e de quebras na cadeia dupla de ADN.[71] Certos carcinogénios provocam danos no ADN, como crosslinks e quebras na cadeia dupla, que frequentemente necessitam de ser reparados por vias que contêm os genes BRCA1 e BRCA2.[72][73] No entanto, as mutações nos genes BRCA são responsáveis por apenas 2-3% de todos os cancros da mama.[74]

Diagnóstico[editar | editar código-fonte]

A consulta de um profissional de saúde e o início dos exames tem geralmente início quando é descoberta uma massa ou calcificações anormais numa mamografia de rastreio, ao notar um nódulo na mama ou debaixo do braço durante o auto-exame ou exame clínico ou ainda ao notar uma mama vermelha e inchada. Os exames de diagnóstico permitem detectar e distinguir o cancro da mama de outro tipo de lesões benignas, como simples quistos, conhecer com precisão o estádio do cancro, saber se existem metástases em outras partes do corpo fora da mama e dos gânglios linfáticos axilares e ajudar a determinar o tratamento mais eficaz.[75][76] Os exames de diagnóstico mais comuns são as mamografias e as biópsias. As mamografias são capazes de detetar um cancro da mama, mesmo nas fases iniciais.[24] Uma biópsia consiste na recolha de uma pequena quantidade de tecido ou de células para ser observada ao microscópio e é a única forma de confirmar o diagnóstico de muitos tipos de cancro. Para além da biópsia, ou quando não é possível realizar uma biópsia, estão disponíveis uma série de exames de diagnóstico complementares.[75] A combinação do exame físico, mamografia e biópsia por agulha permite diagnosticar cancro da mama com elevado nível de precisão.[77]

Imagiologia[editar | editar código-fonte]

Mamografia normal (à esquerda) e com presença de um tumor (à direita).
Os exames imagiológicos mais comuns são a mamografiaecografia e ressonância magnética. A mamografia é o primeiro exame de diagnóstico quando uma mulher nota sintomas de um possível cancro da mama, como o aparecimento de uma massa na mama ou descargas mamilares, ou quando uma mamografia de rastreio indica qualquer elemento suspeito. A mamografia de diagnóstico usa raios X para produzir várias imagens (mamogramas) que permitem detectar e observar tumores e outras irregularidades na mama que não são detectáveis apenas por palpação. A ecografia usa ondas sonoras de elevada frequência para produzir imagens do tecido mamário e permite distinguir uma massa sólida, que pode ser cancro, de um quisto com fluido, que geralmente não é cancro. Uma ressonância magnética usa campos magnéticos para produzir imagens do corpo de elevado detalhe, podendo ser usada para medir o tamanho do tumor e avaliar a extensão da doença para além da mama. A obtenção de imagens pode ser melhorada com a injeção de um meio de contraste.[75]
Para além destes exames estão disponíveis exames complementares como a cintigrafia óssea, a tomografia computadorizada e a tomografia por emissão de positrões. No entanto, estes exames só estão recomendados para doentes em estádios avançados. Em casos com baixo risco de metástase, os riscos associados com estes exames são superiores aos possíveis benefícios, uma vez que estes procedimentos expõem o paciente a uma quantidade significativa de radiação ionizante.[78] A cintigrafia óssea permite detectar matástases no interior dos ossos mediante a injeção no doente de um agente radioativo que depois é fotografado com câmaras especiais. O agente aglomera-se nas zonas que se encontram em cicatrização como resposta a células cancerosas, resultando em áreas mais escuras na imagem. No entanto, este exame não detecta todos os cancros e a artrite avançada ou a cicatrização de uma fractura podem gerar falsos positivos. A tomografia computadorizada permite detectar tumores nos órgãos fora da mama. A tomografia combina várias imagens de raio X para produzir uma imagem tridimensional e bastante detalhada do corpo, permitindo também medir o tumor e confirmar se se encontra em regressão com o tratamento. A tomografia por emissão de positrões permite também detectar metástases em órgãos para além da mama, mediante a injeção de uma substância açucarada na corrente sanguínea do doente. Como as células cancerosas consomem mais energia, as áreas de maior atividade aparecem na imagem como pontos brilhantes.[75]

Biópsia[editar | editar código-fonte]

biópsia consiste na recolha de uma amostra de tecido ou células do tumor e é o único exame que confirma o diagnóstico de cancro.
Uma biópsia consiste na recolha de uma pequena quantidade de tecido ou de células da área suspeita que é depois analisada ao microscópio por um patologista. A biópsia é o único exame que permite confirmar um diagnóstico definitivo de cancro. Os restantes exames apenas sugerem a possibilidade do cancro estar presente. A maior parte dos tipos de cancro da mama são facilmente diagnosticáveis por biópsia, embora alguns tipos raros possam necessitar de exames de laboratório especializados. Há vários tipos de biopsias, classificados de acordo com a técnica ou tamanho da agulha usada. Na biópsia de diagnóstico, a técnica geralmente usada é a biópsia por agulha grossa, em que é inserida uma agulha para recolher uma amostra de tecido da massa suspeita. Pode também ser usada a técnica de biópsia por agulha fina, em que o diâmetro da agulha é menor e é recolhida apenas uma amostra de células ou de líquido. A presença de líquido transparente geralmente indica que o nódulo não é cancerígeno. Por outro lado, se o líquido contiver sangue, pode ser analisado ao microscópio para detetar a presença de células cancerígenas.[75][77]
Pode ainda ser usada a técnica de biópsia a vácuo, que remove grandes quantidades de tecido. Quando o nódulo suspeito não é acessível à palpação e só é visível numa mamografia, a biópsia pode ser guiada por mamografia, ecografia ou ressonância magnética.[75] Uma biópsia cirúrgica permite remover uma grande quantidade de tecido. A biópsia cirúrgica pode ser incisional, em que se remove apenas parte do tumor, ou excisional, em que o tumor é removido por completo. No entanto, este tipo de biópsia não é recomendada para o diagnóstico, sendo usada quando já existe um diagnóstico de cancro confirmado.[75][77]
A análise laboratorial da amostra recolhida pela biópsia permite conhecer as características do cancro e ajuda a definir a melhor opção de tratamento. Entre as características, a análise determina se o tumor é invasivo ou in situ, ductal ou lobular e se o cancro se espalhou para os gânglios linfáticos ou não. A análise permite também avaliar se o cancro é positivo ao receptores hormonais (ER+ e PR+), de modo a determinar o risco de recorrência da doença e qual o tratamento com melhor probabilidade de diminuir esse risco, e se é positivo ao gene do receptor-2 do factor de crescimento epidérmico humano (HER2+), o que permite saber se o tratamento com anticorpos é eficaz. É também a partir da biópsia que se determina o grau do tumor; ou seja, quão diferentes são as células cencerosas das células normais e se elas apararentam crescer lantamente ou rapidamente.[75]

Análises ao sangue[editar | editar código-fonte]

As análises ao sangue permitem a realização de vários exames. Um hemograma permite contabilizar o número de diferentes células no sangue, como eritrócitos e leucócitos, garantindo que a medula óssea funciona corretamente. A análise bioquímica permite avaliar se os minerais no corpo, como cálcio e potássio, ou as enzimas têm valores anormais, o que pode significar que o cancro apresenta metástases. No entanto, há numerosas condições não cancerosas que podem interferir com estes exames. A presença da enzima fosfatase alcalina está associada à disseminação da doença para o fígado, ossos ou ductos biliares. Níveis elevados de cálciono sangue podem significar que o cancro se disseminou para os ossos. Níveis elevados de bilirrubina e das enzimas alanina aminotransferase (ALT) e aspartato aminotransferase (AST) podem ser um sinal de que o cancro se disseminou para o fígado. Os exames de hepatite permitem avaliar se a pessoa esteve exposta anteriormente a hepatite B ou C, podendo assim necessitar de medicação especial em caso de quimioterapia para evitar lesões no fígado. Os exames aos marcadores tumorais detectam a presença de proteínas do tumor no sangue.[75]

Classificação[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: Classificação do cancro da mama
Existem vários sistemas para classificar os diferentes tipos de cancro da mama. A classificação dentro de cada um destes sistemas influencia a escolha do tratamento e o prognóstico da doença. A descrição de um cancro da mama deverá preferencialmente incluir todos os aspetos. Uma classificação completa engloba o tipo histopatológicograuestádioestado dos recetores hormonais e a presença ou ausência de determinados genes.[79]

Tipos histopatológicos[editar | editar código-fonte]

A maior parte dos tumores malignosda mama tem origem em carcinomas no tecido epitelial. O carcinoma ductal invasivo, aqui ampliado 400x, é o carcinoma invasivo mais comum no cancro da mama.
O cancro da mama pode ser classificado de acordo com a sua aparência histológica. A maior parte dos tumores malignos da mama tem origem em carcinomas no tecido epitelial. Os carcinomas da mama, embora muitas vezes discutidos na qualidade de uma única doença, são na realidade um grupo diversificado de lesões que diferem entre si na aparência ao microscópio e no comportamento biológico. A sua classificação depende das características citológicas das lesões, do tipo de recetores que as células apresentam e da sua velocidade de proliferação, e não da localização no sistema ductal-lobular mamário.[80] Quando o crescimento das células pré-malignas é restrito a um determinado compartimento, sem invadir o tecido envolvente, denomina-se "carcinoma in situ". Pelo contrário, quando o carcinoma não se restringe ao compartimento inicial denomina-se "carcinoma invasivo".[81]
Os dois tipos de carcinomas da mama mais comuns são os carcinomas ductais e os carcinomas lobulares. Os carcinomas ductais são a causa mais comum da doença, responsáveis por 76% dos diagnósticos, enquanto que os lobulares são a segunda causa mais comum com 8%.[80] Os carcinomas ductais têm origem nas células que revestem os ductos mamários e dividem-se em carcinomas ductais in situ, um tumor pré-maligno situado apenas no ducto, e carcinomas ductais invasivos, um cancro invasivo que já se disseminou para o exterior do ducto. Os carcinomas lobulares têm origem nos lobos mamários e dividem-se em carcinomas lobulares in situ, uma lesão pré-maligna situada apenas nos lobos, e carcinomas lobulares invasivos, um cancro invasivo que já se disseminou para fora dos lobos. Embora o carcinoma lobular in situ não seja considerado cancro, a sua presença é um fator de risco para desenvolver cancro da mama maligno.[82]
carcinoma inflamatório da mama é um tipo de cancro agressivo e de crescimento rápido responsável por 1-5% de todos os cancros da mama. A doença de Paget da mama é um tipo de cancro que tem origem nos ductos do mamilo. Embora geralmente in situ, pode também ser invasivo. Entre os tipos menos comuns ou raros de carcinomas da mama estão o carcinoma medular da mamacarcinoma mucinosocarcinoma tubularcarcinoma metaplásico e carcinoma papilar.[80][82]

Grau[editar | editar código-fonte]

A avaliação do grau histológico compara a aparência das células cancerígenas com a aparência do tecido mamário normal. Quando mais as células cancerosas se aproximarem do normal, menor será o seu crescimento e melhor será o seu prognóstico. Se as células não forem bem diferenciadas, são imaturas, dividem-se mais rapidamente e tendem a disseminar-se. As células normais de um órgão como a mama tornam-se diferenciadas, o que significa que assumem determinadas formas de acordo com a sua função nesse órgão. No entanto, as células cancerígenas perdem esta diferenciação e, em vez de se alinharem de forma organizada para formar os canais mamários, começam a dividir-se de forma descontrolada e o seu núcleo deixa de ser uniforme. O sistema mais amplamente usado para classificar o grau histológico é a escala de Nottingham. Os tumores são classificados em bem diferenciados (grau 1), moderadamente diferenciados (grau 2) e pouco diferenciados (grau3). Os cancros com menor diferenciação têm sido associados a um prognóstico menos favorável.[83]

Estado dos recetores hormonais e HER2[editar | editar código-fonte]

As células possuem recetores hormonais na superfície, no citoplasma e no núcleo. Os mensageiros químicos, como as hormonas, ligam-se a estes recetores para controlar as funções celulares. No caso das células de cancro da mama, durante a biópsia avalia-se se as células possuem dois recetores específicos, os recetores de estrogéneo (ER) e de progesterona (PR), assim como se as células têm ou não proteína HER2 em excesso ou cópias extra do gene HER2. Conforme as células possuam ou não estes biomarcadores, o cancro é denominado ER positivo (ER+), ER negativo (ER-), PR positivo (PR+), PR negativo (PR-), HER2 positivo (HER2+) ou HER2 negativo (HER2-). Esta classificação é fundamental para determinar o tipo de tratamento, já que cada tipo responde a tratamentos diferentes.[79]
Quando a biópsia detecta recetores hormonais de estrogéneo ou progesterona nas células cancerosas, o tumor é classificado como "sensível a hormonas" (RE+ ou RP+). Estes cancros podem ser tratados com terapia hormonal, a qual diminui os níveis de estrogéneo ou bloqueia os recetores de estrogéneo. Este tipo de cancro é mais comum após a menopausa, tende a crescer mais lentamente que os restantes tipos e apresenta melhor prognóstico a curto prazo, embora haja maior probabilidade de regressar a longo prazo. Quando não são detetados recetores hormonais, o cancro é classificado como "não sensível a hormonas" (RE-, RP-) e não pode ser tratado com terapia hormonal.[79][84]
Os cancros cujas células apresentam excesso de HER2 ou cópias extra do gene HER2 são denominados "HER positivos" (HER+). Este tipo de cancros e tende a ser mais agressivo, mas pode ser tratado com fármacos que têm por alvo a HER2, como o anticorpo monoclonal trastuzumab. Quando as células não possuem nem recetores hormonais nem excesso de HER2 (ER-, PR-, HER2-), o cancro é classificado como "basaloide" ou "triplo negativo". Este tipo de cancro tende a crescer mais rapidamente que os restantes e, como não tem recetores hormonais, a terapia hormonal é ineficaz. Quando o cancro é simultaneamente sensível a hormonas e apresenta HER2 em excesso, denomina-se "triplo positivo" e pode ser tratado com fármacos hormonais e fármacos que têm por alvo a HER2.[79][85]

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