sábado, 15 de setembro de 2018

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João Silvestre
JOÃO SILVESTRE
EDITOR DE ECONOMIA
 
A taxa. Qual taxa?
12 de Setembro de 2018
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Bom dia,

Não há nada como um nome ‘orelhudo’ para fazer passar uma ideia política. A colagem do nome de Ricardo Robles à taxa que o Bloco de Esquerda quer lançar sobre a especulação imobiliária nasceu do CDS mas foi rapidamente apropriada pelo PCP e adoptada pela comunicação social que sempre apreciou títulos com poucas palavras.

A chamada taxa Robles foi um dos temas que dominou a agenda política durante o dia de ontem e revelou-se uma espécie de novela com vários sinais contraditórios. A bomba foi lançada na edição de sábado do Expresso numa pequena notícia com o título: “BE quer tributar alta rotatividade na venda de imobiliário”. Na peça podia ler-se que, segundo a direção bloquista, a proposta “foi apresentada em maio ao Governo e as negociações para que possa vir a ser incluída no OE do próximo ano ainda estão a decorrer”. No dia seguinte, o DNfazia manchete com a notícia.

O tema foi ganhando tração e entrou ontem em espiral. De manhã, o DN garantia que o Governo estava disponível para viabilizar a proposta do Bloco. Só que, entretanto, tudo começou a virar. Primeiro, Carlos César, líder parlamentar socialista, rejeitou a ideia. Mais tarde, seria o próprio António Costa a recusar a ideia em declarações às televisões. Catarina Martins, algumas horas depois, insistia que talvez Costa não estivesse devidamente informado por Mário Centeno. Porque é com o ministro das Finanças e com a sua equipa que decorrem as negociações do Orçamento. Pelo meio, a deputada bloquista Mariana Mortágua ainda mostrou surpresa com a reacção do PS num tweet onde dizia: “Do CDS já esperávamos voto contra,do PS não. É errado fechar portas ao princípio sem discutir medida. Mantemos proposta nas negociações.” E também Rui Rio surpreendeu ao dizer que não rejeita liminarmente a ideia que até não é assim tão disparatada. Enquanto o PCP aproveitava para acusar o Bloco de manobra política.

Confuso? É natural, porque isto da política nem sempre é fácil de acompanhar. E a coisa não ficou por aqui. Mais tarde, depois da recusa do PS e do Governo, começou o jogo de contra-informação sobre o real conhecimento que Costa e o seu partido tinham da proposta. Também aqui com dados aparentemente contraditórios ainda que não tenham obrigatoriamente que o ser. O Público escrevia ontem à noite que o PS garante apenas ter tido conhecimento da taxa na passada sexta-feira. O Negócios noticiava que a taxa foi apresentada a Mário Centeno a 19 de Julho.

Embora possa parecer morta, a taxa Robles ainda irá dar certamente que falar. Não só porque é mais um caso em que “o governo volta a puxar o tapete ao Bloco”, dizia ontem o Expresso Diário, mas porque as negociações do Orçamento ainda estão longe de estar fechadas e há muita água para correr debaixo da ponte. Com taxas, impostos, salários, pensões e tudo o mais que possa surgir até ao dia da entrega do documento. Será que vai haver taxa? Qual taxa?
 
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OUTRAS NOTÍCIAS 

Cá dentro 

Num embate inédito, António Costa debateu com Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof, durante vários minutos em direto na televisão. O tema, claro está, foi a recuperação do tempo de congelamento das carreiras. No final, saíram como chegaram: sem se entenderem. Sobre professores e educação, o Jornal de Negócios escreve na edição de hoje que os salários dos professores são dos mais que mais rapidamente crescem na OCDE e que duplicam ao longo da carreira. O mesmo relatório Education at a Glance da OCDE faz manchete na edição de hoje do Corrreio da Manhã que refere que os professores são quem mais ganha entre os trabalhadores licenciados. 

E, já que estamos a falar de escolas e porque é altura de regresso às aulas, saiba o que vai mudar no novo ano letivo que hoje começa oficialmente. E também, se tiver tempo, dê uma saltada ao artigo que o Expresso (link para assinantes) publicou no sábado sobre o debate da idade adequada de entrada na escola primária.

Até agora, segundo o Público de hoje, as misericórdias apenas entraram com 90 mil euros no capital da Caixa Económica Montepio Geral. Para quem não está recordado, a ideia inicial rondava 200 milhões de euros – com destaque para a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa – e foi depois perdendo gás até se tornar numa participação simbólica no capital do banco.

Já o Novo Banco, avança o Negócios, vai colocar à venda de uma carteira de 9000 imóveis por um valor que começa em 700 milhões de euros.

A juíza Fátima Galante foi suspensa por 120 dias pelo Conselho Superior de Magistratura por causa do envolvimento no caso Lex onde é também arguido o juiz Rui Rangel.

TAP continua na ordem do dia, com troca de argumentos entre a companhia, o governo regional e o governo por causa dos ventos na Madeira. Sábado passado, em entrevista ao Expresso (link para assinantes), Antonoaldo Neves garantia que a discussão sobre os ventos da Madeira e as limitações a aterragens e descolagens são técnicas e não políticas. Miguel Albuquerque não gostou e reagiu logosegunda feira. Ontem, foi a vez do governo que preferiu ficar à margem. Já agora, se puder, espreite os vídeos (aquiaquiaqui e aqui) da entrevista.

Confederação da Indústria Portuguesa(CIP) apresentou ontem 50 medidas para o Orçamento do Estado de 2019. As propostas passam, entre outras coisas, por menos impostos, horários mais flexíveis e apoios ao financiamento das empresas.

Benfica, Braga e Paços de Ferreira foram punidos com um jogo à porta fechada por causa de desacatos nas bancadas.

Em Lisboa, a autarquia prepara medidas excecionais, como a entrada de mais funcionários, para lidar com o excesso de lixo nas ruas. Os dois incêndios que deflagraram ontem à tarde em Santarém, que levaram ao corte da auto-estrada A15, foram controlados e há três bombeiros feridos.

Manchetes dos jornais: ”Misericórdias ainda só puseram 90 mil euros no Montepio” (Público); “Todos os dias há cinco queixas de crimes sexuais contra professores”(JN); “Professores com salário acima da média” (Correio da Manhã); “Carrilho ataca Manuel Salgado”(i); “Novo Banco inicia venda de 700 milhões em imóveis” (Jornal de Negócios); “Inferno na Luz”(Record); “Torres Pereira conta tudo”(A Bola); “Adeptos debaixo de fogo”(Jogo)

Lá fora 

Atenção, atenção: Nouriel Roubini, o famoso Dr. Doom, anunciou ontem que a próxima crise financeira pode acontecer já em 2020. Fê-lo num artigo publicado no Financial Times, em co-autoria com Brunello Rosa, onde avisa que é dentro de dois anos que irão materializar vários riscos que pairam sobre a economia mundial. Roubini é conhecido por ter sido um dos economistas que antecipou a crise financeira. O artigo de Roubini foi publicado a propósito dos 10 anos do estouro do Lehman Brothersque se cumpre no próximo sábado. A este propósito, o Expresso tem publicado desde Julho uma série de trabalhos semanais (links para assinantes) sobre esta década de crise sobre temas como a recomposição geopolítica e a ascensão da China; a evolução histórica da economia portuguesa ou os problemas da bancae do setor financeiro.

Terminou a carreira do motociclista italiano Romano Fenati de Moto 2 que ficou sem licença de competição depois de ter travado um adversário numa prova a 200 quilómetros/hora.

Já todos lemos, vimos e ouvimos centenas de histórias sobre os atentados de 11 de Setembro de 2001. Mas há sempre alguma coisa que vale a pena ler mais. Como o testemunho de Joe Quinn, veterano de guerra, no New York Times de ontem. Um artigo onde contava a sua experiencia pessoal, que passou por duas comissões no Iraque e uma no Afeganistão, onde tentava vingar a morte do irmão de 23 anos que no dia 11 de Setembro estava no 102º andar da torre norte do World Trade Center.

E nada como regressar à entrevista que Donald Trump, na época uma figura relevante de Nova Iorque, deu ao telefone à televisão WWOR e onde, entre outras coisas, refere que o seu edifício passou a ser o mais alto da cidade. O episódio passou relativamente despercebido naquele dia e foi agora recuperado pelo Washington Post. E fala também do que teria feito se fosse presidente dos EUA.

Expresso compilou 17 números marcantes sobre aquele dia que ajudam a enquadrar e a relembrar a dimensão da tragédia.

Ontem foi lançado o novo de livro de Bob Woodward que provocou compridas filas e longas esperas em muitas livrarias americanas. “Fear: Trump in the White House” é mais uma obra a revelar o interior da Casa Branca de Trump que mostra, entre outras coisas, a forma como o presidente decide de forma errática e como a administração acaba por bloquear muitas vezes as opções mais periogosas do presidente. Não é o primeiro livro sobre o tema mas é o primeiro de Woodward e isso faz toda a diferença, por mais que Trump tente descredibilizar a obra. (Da parte que me toca, aguardo com ansiedade que me chegue uma cópia às mãos.)

Ainda nos EUA, prepara-se a chegada do furacão Florence que deverá atingir a costa americana amanhã à noite e que motivou já inúmeras medidas de segurança, entre as quais a evacuação de 1,5 milhões de pessoas. Carolina do Norte, Carolina do Sul e Virginia deverão ser os estados mais afetados.

Mark Carney, o canadiano que preside ao Banco de Inglaterra desde 2013, estendeu o mandato até Janeiro de 2020 para dar maior estabilidade à economia durante o Brexit. O mandato terminava oficialmente em junho de 2019.

Em Espanha, há mais um caso de políticos com currículos mais ou menos maquilhados. A ministra da Saúde Carmen Montóndemitiu-se por alegadas irregularidades na obtenção de um mestrado no Instituto de Direito Público da Universidad Rey Juan Carlos (URJC)

Na Alemanha, claro está, celebra-se o facto de a dívida publica estar em vias de voltar a baixar a fasquia dos 60% do PIB já este ano ou, o mais tardar, em 2019. Sim, porque a austeridade germânica e as apertadas regras orçamentais europeias não impediram que o endividamento do estado alemão estivesse acima da linha vermelha de Maastricht desde 2002.

Parlamento Europeu decide hoje se vai solicitar ao Conselho Europeu o início de um procedimento contra a Hungria pela violação dos valores europeus com base num relatório da comissão de Liberdades Cívicas, da Justiça e dos Assuntos Internos. Num discurso em Bruxelas, o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orban, diz que não cederá a “chantagem”.

No futebol, a vice-campeã mundial Croácia perdeu 6-0 em Espanha num jogo a contar para a Liga das Nações. Ainda no desporto-rei, ficou ontem a saber-se que a UEFA se prepara para voltar a ter uma terceira competição europeia que se juntará à Liga dos Campeões e à Liga Europa.

FRASES 

“As pessoas depositaram neste Governo grandes expectativas... não é justo”, Mário Nogueira, secretário geral da Fenprof

“Não somos só o Governo dos professores. Somos das forças armadas, dos portugueses em geral...”, António Costa, Primeiro-ministro, em resposta a Mário Nogueira

O QUE ANDO A LER 

“Conspiração contra a América” de Phillip Roth é um livro que se lê bem em qualquer altura. Não é novo, saiu em 2004, e encontrei-o por acaso em tempo de férias. Mas o tema, sendo antigo, é tão moderno que até assusta. É uma distopia vivida na América dos tempos da 2ªa Guerra Mundial em que a Casa Branca é tomada pelo herói da aviação Charles Lindbergh, um simpatizante nazi, que mantém os EUA fora do conflito mas alimenta um clima anti-semita. Um clima que hostiliza grande parte da comunidade judaica americana, onde se inclui a família Roth através da qual (e do seu famoso filho Phillip desaparecido há pouco tempo) a história é contada.

Não será, porventura, a maior e melhor obra do eterno nobelizável americano mas é um livro que vale a pena ler numa altura em que muitos receiam pela saúde da democracia dos EUA. Não há um partido nazi a liderar a Alemanha nem um alemão de bigode a querer conquistar a Europa e o Mundo. Mas há um presidente com ligações muito suspeitas à Rússia e a Putin com uma visão muito particular sobre muitas das liberdades fundamentais. Só não é um herói da aviação.

Continue por aqui connosco que vamos continuar a trazer-lhe tudo que se passa no mundo em tempo real no Expresso Online. E às 18 horas, como sempre, terá servido o seu Expresso Diário com os principais temas do dia. Tenha uma excelente quarta-feira.








 
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