sábado, 12 de dezembro de 2015

EXPRESSO CURTO - 12 DE DEZEMBRO DE 2015


Portugal 2015: a nova tanga

 
 
11-12-2015
 
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Para: antoniofonseca1940@hotmail.com


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Expresso
Bom dia, já leu o Expresso CurtoBom dia, este é o seu Expresso Curto 
Miguel Cadete
POR MIGUEL CADETE
Diretor-Adjunto
 
11 de Dezembro de 2015
 
Portugal 2015: a nova tanga
 
Já é um clássico. “O país está de tanga!”. Há registo, pelo menos desde o Governo de Durão Barroso, de um vislumbre apocalíptico das finanças lusas logo que cada executivo toma posse. Foi o que se passou com José Sócrates, com Passos Coelho e - porque não havia de suceder agora? - com António Costa.

Depois das promessas prometidas durante a campanha eleitoral vem sempre o espanto espantado de que, afinal, não é possível cumpri-las. Quem não relembra, até com um gostinho especial, o “desvio co-lo-ssal” de Vítor Gaspar e o seu inevitável corolário “não há dinheiro”? Agora é a hora de Mário Centeno. Passemos a citá-loaprés cenário macroeconómico: “Houve um conjunto de desvios na execução orçamental disseminados do lado da despesa e da receita”.

Por outras palavras: a tanga. E aqui, não tão provavelmente a tanga de Tarzan, nem trusse ou cueca de homem. Nem tampouco a tanga da campanha eleitoral e a desculpa para não se cumprir o que se havia prometido. Estas constantes visões do apocalipse por sucessivos Governos à chegada podem ser apenas uma afirmação de poder, como quem dá a partida.

À semelhança do que se passa com os grandes líderes do mundoque anunciam a sua entrada em funções decisões tonitruantes. Quando Jacques Chirac tomou posse como Presidente da França, em 1995, uma das suas primeiras decisões foi a de iniciar uma campanha de testes nucleares. O mundo ficou boquiaberto. Mas soubemos com pompa que havia chegado um novo Presidente.

É uma forma pouco ardilosa de dizer “cheguei!”. No Expresso online, João Silvestre explica que estas três semaninhas de austeridade propostas pelo novo executivo têm como objetivo manter o deficit abaixo dos 3% e com isso retirar Portugal do Procedimento por Défice Excessivo. Mostra também que a meta dos 2,7% de défice propalada pelo anterior Governo não era senão uma falácia que agora foi posta a descoberto. Tudo agora muda e vamos finalmente entrar nos eixos.

A austeridadezinha implica medidas sobre o Estado – e só sobre o Estado, que consistem “no congelamento de descativações de despesa e de utilização de saldos de gerência dos serviços, pela redução dos fundos disponíveis nas entidades públicas e pela não assunção de novos compromissos”. Mesmo que Centeno não tenha quantificado o montante desta derrapagem (que o “Diário Económico” quantifica num corte de 0.1%), Bruxelas tomou nota e gostou do que ouviu.

De fora deste congelamento ficaram as empresas e as famílias. Na Concertação Social pode não haver um entendimento para os quatro anos da legislatura deste Governo mas o aumento do salário mínimo em 2016 para 535 euros parece que já ninguém nos tira. A meta do Governo é chegar aos 600 euros ao fim e quatro anos.

Pelo meio não se sabe, ainda que se conheça a posição descontente de algumas confederações de patrões ou, em sentido inverso, doPCP que queria já os 600 euros no ano que vem, tendo aproveitado por dar uma bicada ao Bloco de Esquerda por alegadamente ter desistido dessa luta.

Na terça-feira, 15 de dezembro, tudo se poderá decidirHoje, o salário mínimo é de 505 euros (ou €589 se considerarmos 12 meses de remunerações) e Portugal encontra-se a meio da tabela europeia. No dia 1 de janeiro, se o salário mínimo subir realmente para os 530 euros ficaremos no mesmo 11º lugar que atualmente ocupamos entre os 28 países da União Europeia. O “Público” fez as contas e diz em manchete que este aumento não custará mais do que 0,16% às empresas. Não se conhecem as reações de Bruxelas.

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OUTRAS NOTÍCIAS

O Sporting juntou-se ontem ao FC Porto e ao Braga nos 16 avos de final da Liga Europa. Depois de uma primeira parte inofensiva e já depois de se ver a perder frente ao Besiktas por um golo oferecido por Quaresma a Gomez, a equipa de Alvalade virou o jogo e em 14 minutos marcou três golos. Slimani, Bryan Ruiz e Teo Gutiérrez faturaram para o Sporting. Este último celebrou o golo de forma inusitada, roubando o spray que o árbitro usa para fazer marcações para ele próprio colocar a sua marca no relvado de Alvalade.



Os jogos do Benfica vão mesmo para a NOS, foi ontem anunciado no Estádio da Luz. Há um acordo para as próximas três épocas, que se pode estender até dez anos, recebendo o Benfica uma média de 40 milhões de euros por ano.

Outras novidades resultaram ontem da conferência de imprensa: em que estiveram presentes o CEO da NOS, Miguel Almeida, e o Presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira. A NOS pretende estabelecer contratos semelhantes com todos os outros clubes, logo que termine a ligação que ainda mantêm com a Olivedesportos e que, regra geral, dura até 2018.

Isso inclui Sporting e FC Porto. A proposta da NOS prevê um aumento até 50% do valor que os clubes por ora recebem, pretendendo com esse aumento evitar que algumas das agremiações cedam os seus direitos à MEO. Boavista, Belenenses e Vitória de Guimarães já estarão em conversações com este outro operador. Terá sido este tipo de abordagem da MEO, que chegou a sondar o Benfica, que motivou este contra-ataque bem sucedido da NOS.

Porém, muito ficou ainda por esclarecerNão se sabe se os jogos do Benfica regressam à Sport TV, mesmo que tenha sido dito que estarão disponíveis para os outros operadores. Não se sabe se será criado um novo canal de desporto. Nem se conhece se aVodafone está com a NOS neste processo.

Sabe-que que esta é uma mudança grande no panorama dos media em Portugal pois os conteúdos passam a ser adquiridos pelas plataformas de TV e não pelos próprios canais.



O jornal Público anunciou ontem ter em curso um processo de rescisões com os seus trabalhadores que vai até 6 de janeiro. As condições apresentadas aos jornalistas são melhores do que as legais mas podem não ser suficientes para as poupanças consideradas necessárias. Nesse caso, agitou-se a hipótese de despedimento coletivo.

Na mesma ocasião foi anunciada a passagem do caderno 2 do Público para uma publicação digital, deixando de sair em papel a partir do início de janeiro. A notícia surge numa altura em que não é claro o futuro de jornais como o “Sol”“i” e “Diário Económico”, pelo menos.



O proprietário da empresa Fosun foi ontem detido, anunciou a agência chinesa Caixin. A Fosun é dona da Fidelidade, a maior seguradora portuguesa, e da Luz Saúde, o segundo maior grupo de saúde em Portugal. Guo Guangchang foi levado pelas autoridades do aeroporto de Xangai. Em agosto, um tribunal provou que Guangcheng, considerado o Warren Buffett chinês pelo “Guardian”, mantinha relações “inapropriadas” com Wang Zongnan, condenado a 18 anos de cadeia por desvio de fundos das empresas que geria e que eram apoiadas pelo estado chinês. Este desaparecimento sucede poucos meses depois de Sam Pa, outro grande empresário chinês, ter sido detido.



Venda do Banif já começou, diz o “Jornal de Negócios” em manchete. Investidores europeus e americanos foram convidados pela gestão a adquirir os 60% que são propriedade do Estado português. O papel do banco fechou ontem a valer 0,0009 euros. Hoje estava a valorizar 11% após subir para 0,001 euros o valor de cada ação.



A partir da meia-noite, o Expresso publica no seu site o ranking das escolas. Os estabelecimentos de ensino, público e privados, são alinhados, como já é costume, de acordo com os resultados que os seus alunos obtiveram nas avaliações. As escolas públicas, voltam, este ano, a perder terreno relativamente ao ensino privado.



O Expresso começa a publicar, ainda hoje, os resultados de uma nova sondagem que dá conta da intenção de voto dos portugueses. Na edição em papel, amanhã, serão também conhecidos as figuras e os acontecimentos do ano tal como votados pela redação e pelos utilizadores do online.



FRASES

“Gostaria que o Podemos conseguisse um grande êxito”Lula da Silva, ex-Presidente do Brasil, a propósito das eleições em Espanha, no “El País”

“Somos a única alternativa credível”Nicolas Sarkozy, ex-Presidente de França, a propósito das eleições regionais, no “Le Figaro”

“O que ele anda para aí a dizer não é apenas vergonhoso e errado – é perigoso”Hillary Clinton, sobre as declarações anti-muçulmanas de Donald Trump, durante o programa “Late Night” da NBC

“É importante que o Sporting comece a ter identidade fora de Portugal”Jorge Jesus, treinador da equipa de Alvalade depois da vitória frente ao Besiktas, no “Record”

“O jornalismo de qualidade é um antídoto contra o abuso de poder”Filipe VI, Rei de Espanha, durante a entrega dos Prémios Cavia, no “ABC”



O QUE EU ANDO A VER

Está patente, por estes dias, na Cinemateca de França uma bela exposição sobre Martin Scorsese que não sendo grandiosa merece ser vista por quem aprecia este realizador, mas não só. A exposição foi criada pela Cinemateca alemã e contou com os préstimos do próprio Scorsese pelo que ali se encontram inúmeros documentos, alguns de carácter pessoal, que ajudam a contextualizar os seus filmes e a perceber por que razão a sua obra resulta de um choque frontal entre a cultura católica italiana com o urbanismo aparentemente moderno de Nova Iorque.

A exposição começa aliás por apresentar os pais de Scorsese e todo o ambiente em que o realizador viveu antes de se tornar estudante de cinema. Isso inclui pormenores sedutoramente voyeuristas mas também deliciosos qb, que vão desde a televisão que existia em sua casa – e onde visionou pela primeira vez grande parte dos clássicos do cinema americanos – até aos storyboards por si desenhados, as notas dos seus cadernos, a sua agenda pessoal, os óculos que usou para a montagem de “Hugo”, o filme em 3D, ou as cartas que enviou a outros distintos cinéfilos tendo em conta a preservação de fitas originais mais as suas respostas.

Os seus atores e colaboradores diletos, os realizadores que o influenciaram e excertos dos seus filmes, desde os primeiros passos até aos musicais mais recentes, passam em vários ecrãs mas não serão certamente o que ali há de mais inesperado. Até porque os DVD, em caixas ou isoladamente, podem ser comprados à saída.

O que dali fica são as anotações, a lápis ou caneta, nos argumentos, nas cartas ou na agenda pessoal. Lá está o pecaminoso diálogo entre Robert de Niro e Juliette Lewis em “O Cabo do Medo”devidamente anotado. Ou, sobre “A Última Tentação de Cristo”, os muitos papéis avulsos, carregados de notas. É numa dessas folhas que se pode ler, escrevinhado à mão, sempre em maiúsculas: “E se não é Deus? E se é o Diabo? Não posso ter a certeza. Como posso ter? Se é o Diabo, posso expulsá-lo. Mas se é realmente Deus… Não se pode expulsar Deus, pois não?”

Entrei nessa exposição quase por acaso, depois de ter levantado os bilhetes para um concerto mesmo ali ao lado. Os portões que davam acesso à Arena de Bercy são quase paredes meias com o edifício desenhado pelo arquiteto Frank Gehry que alberga a Cinemateca francesa. Outros assombrados por Deus e pelo Diabo fariam poucas horas depois uma das atuações que ficará para a história da música popular destes dias. Nas t-shirts que vendiam à entrada do espectáculo escreveram, à frente, “nous n’avons pas peur”. Na parte de trás, duas datas: 6 e 7 de dezembro. E numa manga mais dois caracteres: U2. Isto anda tudo ligado.

Tenha um excelente dia. Acompanhe toda a atualidade no site do Expresso e não perca o Diário lá pelas 18 horas. Porque amanhã é sábado, há edição em papel do Expresso. Na Revista encontrará um especial sobre o filme “Star Wars” que inclui uma entrevista ao realizador J.J. Abrams. Na segunda-feira estará por aqui Valdemar Cruz para tirar mais um curto. Até já.
 
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