Se
Anabela Rodrigues foi o que foi (um erro de
casting), o país ficou ontem a conhecer o que poderia ser, não fosse estar a prazo (?), o
novo ministro da Administração Interna (que já deu ordens à GNR e PSP para que lhe preparem a tradicional cerimónia de boas vindas).
Calvão da Silva esteve em Albufeira e
falou. E o povo ouviu-o a invocar
Deus – “nem sempre é amigo” - e o
Demónio – “fúria demoníaca da Natureza” - para explicar a “fúria da Natureza que se revoltou em Albufeira”. Estas declarações (caricatas e fora do guião para dizer o mínimo) fizeram as delícias das redes sociais (até foi criada a hashtag
#calvao) onde se multiplicaram os comentários pouco simpáticos sobre o ministro. Calvão da Silva ficou a saber que, nos tempos que correm, tudo é esmiuçado ao pormenor, palavra por palavra.
E não há Deus que lhe valha.
Sobre o que se passou na baixa da cidade algarvia, uma coisa é certa:
a culpa não foi só da chuva. Aliás as razões são sempre as mesmas.
Há betão a mais (e em leito de cheia)
e planeamento a menos – um clássico que nós por cá tanto repetimos. Os estragos são muitos e os “danos elevados”, como explicou o presidente da câmara, que já veio pedir que fosse decretado o
estado de calamidade públicapara o concelho. Mas o Governo só decidirá – “não é uma lei que se faz por qualquer coisinha”, ajuizou Calvão - depois de feito o levantamento dos prejuízos e se estiverem preenchidos os requisitos necessários. Conta o
i que os lojistas da cidade ainda não receberam pelos estragos de 2008. O
Correio da Manhã refere as críticas à Proteção Civil por não ter alterado o ‘Estado de Alerta’ para o Algarve. E escreve o
DN que a falta de seguros agravou a situação. Além da destruição, as cheias provocaram um morto que estava a 3 dias de fazer 80 anos.
E o que diz Calvão da Silva? “Entregou-se a Deus e Deus com certeza que lhe reserva um lugar adequado a seu lado”…De Albufeira damos um salto para
Francisco Assis. A outra “corrente” que nas últimas horas também tomou conta das nossas conversas.
O eurodeputado socialista, e opositor da “esquerdização” do partido, avança com
“a corrente interna crítica e alternativa”, que anunciou em primeira mão ao Expresso, no próximo sábado na Mealhada. Será num almoço (com leitão incluído) e que já tem mais de cem inscritos (veja os nomes
aqui) onde se vai discutir o futuro do país, mas sobretudo o do PS. O encontro juntará militantes que não concordam com a solução de esquerda que está a ser negociada por António Costa com BE e PCP. Entretanto alguns dos socialistas mais próximos do eurodeputado já vieram esclarecer que desta reunião
não sairão apelos a divisões na bancada nem para ruturas na hora de votar as 3 moções de rejeição anunciadas (do PS, do BE e do PCP).
Mais do que o presente, a ideia é começar a preparar o futuro. Há um congresso do PS previsto para depois das presidenciais e Assis assume-se cada vez mais como uma
reserva para a liderança. Vera Jardim
disse ontem aos microfones da Renascença que
prefere a “solução Assis” a um acordo sem “contas que batam certas”.
Mas antes, muita água ainda vai correr debaixo da ponte. Das negociações à esquerda chegam
notícias contraditórias. Ou melhor, discursos contraditórios. Neste artigo, a Cristina Figueiredo deixa a pergunta: “
No peito dos desafinados bate uma coligação?” (
grande título, diga-se). E tem toda a razão. É que PS – “onde o acordo não foi minimamente discutido”, diz José Junqueiro ao i - e BE já falam de uma negociação fechada ou “ultimada”, mas no PCP a conversa faz-se com todos os cuidados.
O que sabemos é que, a confirmar-se o entendimento, está previsto o
descongelamento de todas as pensões ao longo da legislatura e as mais baixas já em 2016 (que terão mesmo aumentos reais). No
Expresso Diário, o João Silvestre fez as contas e concluiu que se as pensões forem aumentadas à taxa de inflação poder haver um
ganho a rondar os 5%. Mas não chega para recuperar o valor perdido nos últimos anos.
Entretanto Passos Coelho pediu aos ministros que
lessem os programas do PS, BE e PCP e que propusessem medidas que vão
ao encontro dos partidos de esquerda. A coligação está a acabar o seu programa de Governo que será aprovado no conselho de ministros de quinta-feira. Ontem, o ministro dos Assuntos Parlamentares,
Carlos Costa Neves, veio dizer que está
“profundamente convencido” de que é possível o diálogo com os socialistas e que as
“divergências não são assim tantas”. Tenho dúvidas que estes apelos ainda vinguem, mas como se costuma dizer
“até ao lavar dos cestos é vindima”. E vá lá, ao contrário do seu colega Calvão da Silva, Costa Neves não se lembrou de invocar Deus nem o Demónio.
Antes de passar ao resto da atualidade deixe-me ainda dizer-lhe que, depois de Vila Velha de Ródão, Sócrates
volta a discursar no próximo sábado, desta vez em Vila Real (terra de Passos).
E será o ex-PM a escolher o tema. Não será um dia fácil para António Costa:
Assis na Bairrada e Sócrates em Trás-os-montes.
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