Enquanto a guerra está em curso no seu país, o Presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy deverá deslocar-se à Casa Branca esta quinta-feira.
Vai encontrar-se com o homólogo americano para conversações, depois de uma visita à sede da ONU em Nova Iorque.
Mas o que é que a Ucrânia quer - e precisa - dos EUA neste momento? E, mais importante, estará Washington em condições de responder?
1. Ajuda segura
O Presidente dos EUA, Joe Biden, está a tentar dar à Ucrânia mais 24 mil milhões de dólares em ajuda humanitária e de segurança para ajudar a expulsar a Rússia do seu território.
No entanto, apesar de prometer ajudar Kiev "o tempo que for preciso", a sua tentativa é profundamente incerta por causa do impasse político crescente no Congresso sobre a despesa federal.
Os legisladores republicanos estão a insistir em grandes cortes orçamentais e a paralisação do governo está eminente no final do mês.
"Há muitas divisões no ambiente interno dos Estados Unidos, particularmente a nível governamental", diz Georgian Taylor, que está a investigar a guerra na Ucrânia na Universidade de Leeds. "Zelenskyy vai fazer um último esforço para tentar obter essa ajuda."
2. Reforçar o apoio dos EUA
Por trás do impasse em Washington está uma crescente divisão partidária, com alguns republicanos "America First" a quererem suspender totalmente a ajuda à Ucrânia.
O primeiro-ministro ucraniano deverá tentar resolver esta questão, encontrando-se com legisladores americanos de ambos os lados da divisão política durante a sua viagem.
Taylor afirma que Zelenskyy quererá reforçar o apoio antes das eleições presidenciais de 2024 nos EUA, que poderão ditar o regresso ao poder de Donald Trump.
O antigo presidente, que enfrenta atualmente várias acusações criminais, não se comprometeu a apoiar a Ucrânia na guerra contra a Rússia, tendo afirmado em março que queria que "toda a gente deixasse de morrer."
No mês passado, uma sondagem da CNN revelou que a maioria dos americanos se opõe a dar mais dinheiro à Ucrânia, com 55% a dizer que o Congresso dos EUA não deve autorizar mais financiamento.
3. Inspirar confiança na contraofensiva
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O progresso da Ucrânia na contraofensiva será definitivamente abordado quando os dois líderes se encontrarem, diz Georgian Taylor, da Universidade de Leeds.
"É um tema muito difícil de discutir, porque há muitos factores, mas penso que os EUA gostariam de ver mais progressos", diz à Euronews.
“Não creio que haja necessariamente uma pressão forte no sentido de que Kiev precisa de obter ganhos no campo de batalha porque essa é uma afirmação muito ousada, especialmente quando não se está diretamente envolvido nos combates."
Equipada com milhares de milhões de dólares em armas ocidentais, Kiev lançou a sua contraofensiva contra as forças russas em junho. Os progressos têm sido lentos, com Moscovo a opor uma forte resistência.
Zelenskyy pode transmitir a Biden uma "visão mais estratégica" da guerra, acrescenta a Jade McGlynn, investigadora do King's College, apontando para "diferenças notáveis" entre a compreensão ocidental do conflito e a da Ucrânia.
O líder ucraniano vai querer defender a razão pela qual a Ucrânia deve obter uma vitória total, que é enquadrada como a expulsão total das forças russas do seu território.
"Do ponto de vista de algumas pessoas no Ocidente, a guerra é cada vez mais enquadrada como uma questão de paz, e a paz implica um compromisso", sugere McGlynn, aludindo aos argumentos segundo os quais Kiev deveria ceder a Moscovo as terras capturadas em troca do fim das hostilidades.
No entanto, o investigador afirma que a Ucrânia tem tido "provas muito recentes de que o apaziguamento não funciona", citando a guerra por procuração da Rússia no leste da Ucrânia, que começou em 2014.
"A grande maioria dos ucranianos não quer comprometer o território por causa da ameaça que isso representaria para o futuro da Ucrânia e dos seus filhos."
"Eles avaliam a guerra em termos muito mais sombrios do que alguns observadores ocidentais podem pensar."
4. Mais armas
Outro ponto da agenda será provavelmente o armamento, com a Ucrânia a precisar de mais armas e munições no âmbito da sua ofensiva no sul e no leste.
"Os ucranianos não estarão necessariamente à procura de novas armas. A questão principal é obtê-las a tempo", diz McGlynn. "Esse tem sido o principal ponto de discórdia porque uma grande parte do que foi prometido foi adiado ou demorou demasiado tempo a chegar."
Zelenskyy avisou os líderes mundiais em abril que os atrasos no fornecimento de mais armas ao seu país estavam a custar vidas.
A necessidade de armamento de Kiev é mais premente porque as autoridades - incluindo o próprio Presidente ucraniano - afirmaram que a contraofensiva do país não vai parar este inverno, apesar de o clima dificultar o combate.
Alguns consideram que uma pausa de meses no ano passado deu à Rússia tempo suficiente para preparar as suas defesas, tornando a campanha da Ucrânia muito mais difícil.
5. Impulsionar a adesão à NATO
Após a invasão russa em fevereiro de 2022, a Ucrânia renovou os seus esforços para aderir à NATO.
No entanto, a sua ambiciosa candidatura foi frustrada, uma vez que a aliança militar liderada pelos EUA rejeitou o pedido de adesão acelerada de Kiev em setembro de 2022.
"Zelenskyy está constantemente a insistir no reconhecimento da NATO", diz Taylor, acreditando que o tema será provavelmente um ponto de discussão na Casa Branca.
A aproximação entre a Rússia e a Coreia do Norte - com os líderes de ambos os países reunidos na semana passada - poderá tornar estas "conversas sobre a NATO mais abrangentes."
"Não sabemos se o conflito se estenderá para fora das fronteiras da Ucrânia. Esse risco está sempre presente", diz Taylor à Euronews, acrescentando, no entanto, que: "há coisas muito mais imediatas em que nos devemos concentrar" quando Biden e Zelenskyy se encontrarem.
Alguns observadores olham para a adesão da Ucrânia à NATO como a melhor forma de garantir a paz futura no país e no Europa, com o seu guarda-chuva de segurança a dissuadir uma possível agressão russa.
No entanto, os especialistas disseram à Euronews que existem várias razões para Kiev não poder aderir à aliança, incluindo o risco de uma guerra mais alargada, a falta de preparação de Kiev e a potencial vitória propagandística do presidente russo Vladimir Putin.