quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

OBSERVADOR - 6 DE FEVEREIRO DE 2020

Observador 360º

360º

Fotografia de Filomena MartinsFilomena Martins
Diretora Adjunta
Quinta-feira, 6 fevereiro 2020
Enquanto dormia…
… morreu uma das grandes lendas do cinema: Kirk Douglas, uma das estrelas da era dourada de Hollywood, tinha 103 anos e a notícia da sua morte foi dada pelo filho, Michael Douglas.
Por cá, o Parlamento voltou a fazer uma maratona para aprovar as últimas medidas do Orçamento que hoje é votado na especialidade, com um verdadeiro esticar de corda à volta da descida do IVA da electricidade, que incluiu até ameaças veladas de uma crise política. No final nada ficou resolvido e só hoje haverá decisão final.
Foi também um dia preenchido para a Justiça, com a Procuradora-geral da República a ser contestada pelos magistrados e o Ministério Público a ter de analisar se António Costa violou o segredo de Justiça ao tornar públicas as 100 respostas sobre Tancos.
Isto enquanto nos EUA Donald Trump foi, sem surpresa (ou melhor, com apenas uma), ilibado do processo de impeachment pelos republicanos; e a Turquia viveu um dia terrível: duas avalanchas fizeram 38 mortos (a segunda apanhou as equipas de resgate da primeira) e um avião derrapou na pista partindo-se em vários partes (fazendo três morto e 157 feridos).
Já está bem acordado? Vamos a isto:

Esticar de corda, muito xadrez, bluff, um erro de raccord do Governo e prolongamento: o IVA da electricidade só se decide esta manhã

O Orçamento do Estado vai ser votado na especialidade esta tarde. Mas antes há um grande nó para desatar: o do IVA da electricidade. Depois de um dia que se fosse um jogo de futebol tinha estado entre os mind games de Mourinho e as batalhas campais de certas partidas na lama, vai haver prolongamento. O PSD não desiste de baixar o imposto da luz e quer condicionar o PCP que deu a mão ao Governo e travou a descida da luz. Os social-democratas retiraram a terceira parte da sua proposta para ver as duas outras, que ontem foram chumbadas, serem votadas de novo esta manhã. Contamos-lhe o que aconteceu nos bastidores ao longo do dia, onde o púlpito foi para Rio, Mortágua esteve a ver pela tv e houve um erro de raccord do Governo, entre telefonemas discretos, contas a cada ponto, muito xadrez e bluff. O suspense mantém-se assim até à última hora do capítulo final da saga.
Das restantes medidas, entre vitórias de uns e derrotas de outros, fica aqui o resumo possível:
  • O IVA dos bilhetes das touradas subiu mesmo para 23%, desta vez sem nenhuma faena de deputados socialistas.
  • A proposta do Chega para apoiar os meios de comunicação social não passou.
  • As vítimas de violência doméstica têm garantido apoio jurídico e judiciário, como propôs o Livre.
  • Acabam já este ano as taxas moderadoras nas consultas dos cuidados de saúde primários, uma proposta bloquista.
  • As propinas vão mesmo baixar 20%, como também queria o Bloco.
  • Foi aprovada a proposta do PAN para os serviços de assistência domiciliária e teleassistência passarem a ter IVA reduzido.
  • Os idosos deixam de perder isenção do IMI quando mudam para casa dos filhos: o PS mudou o seu voto e apoiou o CDS.
  • A mudança de sexo passa a ser gratuita no registo civil, outra das medidas propostas pelo Bloco.
  • O imposto especial sobre jogos online sobe de 15% para 25%, como já propunha o PS no OE.
  • Foi chumbada a reposição do pagamento das horas extra proposta pelo PCP.
  • O CDS conseguiu o alargamento das prestações do IMI a unidos de facto.
  • Mas os centristas não conseguiram acabar com a isenção do IMI para os edifícios dos partidos.
  • O Bloco juntou-se à direita e o agravamento do imposto de selo não se aplicará a contratos já existentes.
  • Houve volte face no Novo Banco e a proposta do PSD que obrigava o governo a pedir autorização para injeções acima de 850 milhões foi chumbada.

Trump ilibado: nada que não se esperasse (até o voto contra de Roomney), mas o que ganhou e perdeu ele no processo?

Ao fim de duas semanas de julgamento, os senadores votaram esta quarta-feira o processo de impeachment de Donald Trump, absolvendo-o das duas acusações de que era alvo. Surpresa? Não. Era mais do que esperado. Até mesmo o voto de Mitt Romney, o único republicano contra o presidente americano, que vai falar hoje ao país (12h00 nos EUA, 17h00 em Portugal) sobre mais este seu ‘grande feito’. Já o fez ontem, aliás, através do Twitter claro, com um vídeo de uma capa da Time em que se perpetua por muito tempo no poder. Mas será mesmo assim? O João Francisco Gomes, que tem andado a fazer madrugadas para acompanhar todo este debate, fez as contas ao que Donald Trump perdeu e ganhou com o caso.
A análises dos jornais internacionais vão maioritariamente no mesmo sentido. O New York Times escreve que Trump “não foi condenado, mas foi exposto”; o Washington Post centra-se no discurso e na raridade do voto contra de Mitt Romney; a CNN lembra que o “julgamento acabou, mas a sua política não” e o The Guardian diz que que absolvição de Trump é um “vislumbre da implosão do império dos EUA”.

PGR obriga magistrados a obedecer? E Costa pode ter violado segredo de Justiça?

Vamos lá então ao dia agitado na Justiça. E digo agitado porque já lá iam uns bons anos em que um PGR não era contestado tão violentamente. E não me lembro de alguma vez o Ministério Público ter de analisar se um primeiro-ministro violou o segredo de Justiça.
  1. Comecemos pelo primeiro caso. A contestação contra Lucília Gago deve-se a um parecer do Conselho Consultivo da Procuradoria-geral da República que, em resumo, diz que os superiores hierárquicos têm o direito de emitir “diretivas, ordens e instruções” concretas sobre as diligências processuais aos procuradores titulares dos inquéritos e que estes não podem desobedecer sob pena de sanções disciplinares. O parecer (que surge depois da decisão de não chamar Marcelo e Costa a depor sobre Tancos) incendiou o Ministério Público, os magistrados dizem que vai limitar a sua autonomia e o líder sindical dos procuradores fala mesmo em “regresso à opacidade do tempo do dr. Pinto Monteiro.” O Luís Rosa explica toda a polémica, sendo que, por mera coincidência seguramente, hoje será apresentado um estudo que aponta para o reforço da autonomia dos procuradores face à hierarquia graças ao novo Estatuto do Ministério Público.
  2. Passemos a António Costa. O primeiro-ministro respondeu ontem por escrito às 100 questões (29 respostas são apenas “Não”) sobre o achamento das armas de Tancos, dizendo que não soube da encenação, nem por Azeredo Lopes nem por qualquer outra pessoa, mas estranhou envolvimento da GNR de Loulé. O problema é que colocou o documento no site do Governo e como o processo tem ainda segredo de justiça o juiz Carlos Alexandre comunicou ao Ministério Público uma eventual violação que agora o MP vai ter de ser analisar.
  3. Mas também houve decisões judiciais sem polémica. O Supremo manteve os castigos disciplinares aos juízes Neto de Moura (advertência por expressões impróprias), Rui Rangel (pena de demissão) e Fátima Galante (aposentação compulsiva).
Nota final: se vem pela A1 (ou está parado): a auto-estrada está cortada em Albergaria-a-Velha devido ao despiste de um camião e a circulação está a ser feita pela A29 e EN1.

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A NOSSA OPINIÃO

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A máquina do Estado facilmente se apoia numa infracção menor para intimidar, para abalar carreiras e para derrotar aqueles que, contra as regras do sistema, conseguem resultados extraordinários.
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A História não é feita para julgar, mas para compreender. É essa a boa norma. O que não é de boa norma é a esta sanha persecutória e o esforço de demolição de algumas figuras maiores da nossa cultura.
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Educar pela positiva é, assim, sabermos tirar o melhor de nós e o dos outros, assentando naquilo que realmente nos une e a todos engrandece: o humanismo e a vontade de sermos realmente felizes.
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Em 2023 o rácio entre o salário mínimo e o salário médio deverá ser de 75%, de longe o mais elevado da OCDE, enquanto que nos países da Europa de Leste este rácio é de apenas de 40% ou 50%.
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Paradoxalmente, morreu jul­gando ter assistido à morte da civilização — a ocidental — de que tanto gostava, três dias depois do Reino Unido deixar a Europa da União. Coinci­dências tristes da história

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RÁDIO OBSERVADOR

RTP - O ESSENCIAL - 6 DE FEVEREIRO DE 2020


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Bom dia!

Para já, tudo na mesma. O IVA da eletricidade vai manter-se nos 23%. O PSD acabou por retirar a proposta de redução do imposto para os 6%, depois de terem sido chumbadas as condições que o partido tinha colocado para avançar com a medida. As propostas apresentadas pelo PCP e pelo Bloco de Esquerda sobre esta matéria também não tiveram luz verde. O tema mais controverso da discussão dos últimos dias volta hoje ao Parlamento, no dia em que acontece a votação final global do Orçamento do Estado para 2020. As maratonas para votar as mais de 1300 propostas de alteração na especialidade prolongaram-se por três dias.
Helicópteros parados. A falta de formação dos pilotos está a deixar algumas aeronaves do INEM em terra. O Jornal de Notícias conta hoje que a Autoridade Nacional de Aviação Civil proibiu vários profissionais de voarem porque não cumpriram treinos e formações que são obrigatórios. Assim sendo, há períodos em que a capacidade de socorro fica comprometida. Os helicópteros de Macedo de Cavaleiros e de Viseu têm sido os mais afetados. Estes aparelhos da empresa britânica Babcock foram contratadas pelo Estado por quase 39 milhões de euros.
Mutilação Genital Feminina. Nos últimos cinco anos, as autoridades portuguesas registaram quase 400 casos. Destes, 129 foram detetados no ano passado. Em entrevista à Antena 1, a secretária de Estado para a Cidadania e Igualdade não tem dúvidas de que o projeto “Práticas Saudáveis”, lançado no final de 2018 para ajudar profissionais da saúde e da educação a lidar com este fenómeno, já está a dar frutos. Hoje, Dia Internacional de Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina, Rosa Monteiro vai apresentar a segunda fase deste projeto, que vai ser alargado a mais centros de saúde, em territórios com maior prevalência de mulheres submetidas a esta prática, em Portugal e no estrangeiro.
Coronavírus. Os números mais recentes das autoridade de saúde apontam para 560 mortos na China. São já mais de 28 mil pessoas infetadas. Em Portugal, continuam em isolamento os cidadãos que regressaram da cidade chinesa de Wuhan no fim-de-semana. A diretora-geral da Saúde, Graça Freitas, garante que, até ao momentos, eles não apresentam quaisquer sintomas de doença.
No impeachment. O presidente dos Estados Unidos foi absolvido no processo de destituição. O Senado considerou que não houve abuso de poder nem obstrução ao Congresso. Este foi o terceiro impeachment na historia dos EUA. Donald Trump prometeu uma reação para hoje. O chefe de Estado norte-americano tem, agora, o caminho aberto para tentar a reeleição em novembro.
A melhor barbeira em Portugal. Chama-se Halyna Dyakun, veio da Ucrânia há 16 anos e é em Viseu que faz aquilo que gosta: cortar cabelos. Venceu o Concurso Nacional de Barbeiros e prepara-se para representar Portugal no Campeonato do Mundo. Esta manhã, visitamos a Barbearia Osvaldo, na cidade de Viriato, e conversamos com Halyna, que confessa que prefere trabalhar com homens porque, diz, “são mais simpáticos”.
O mundo fantástico de Tim Burton em Portugal. A Monstra – Festival de Animação de Lisboa celebra, este ano, duas décadas e nada melhor do que celebrar com a exposição “Tim Burton – As Marionetas de Animação”. A partir de hoje, pode descobrir, no Museu da Marioneta, desenhos originais do realizador norte-americano, bem como armaduras, maquetes, adereços ou pesquisas gráficas. Também é possível encontrar elementos invulgares que fizeram parte dos processos de produção de Tim Burton, autor de obras como “Eduardo Mãos de Tesoura” ou a “A Noiva Cadáver”.
Uma lenda. Morreu Kirk Douglas. O ator norte-americano tinha 103 anos. Popularizou-se com o papel no clássico “Spartacus”, há 60 anos. O pai do também ator Michael Douglas foi nomeado três vezes para o Óscar de Melhor Ator, mas nunca venceu. Conquistou apenas uma estatueta dourada da Academia de Hollywood: em 1996 foi-lhe atribuído um Óscar honorário pela longa carreira na Sétima Arte.
Benfica out. As águias foram eliminadas da Taça da Europa de Basquetebol, depois de uma derrota por 88-75, frente ao Bakken Bears, da Dinamarca. A equipa portuguesa falha, assim, os quartos de final da competição.
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OBSERVADOR - AMBIENTE - 6 DE FEVEREIRO DE 2020

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Esta é a newsletter do Observador dedicada ao ambiente. Todos os meses traz-lhe reportagens, o que se escreve sobre o tema no mundo e o que já se faz em Portugal.
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Fotografia de João Francisco GomesJoão Francisco Gomes
Jornalista
Quarta-feira, 5 fevereiro 2020
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Bem vindo à nova newsletter do Observador sobre assuntos ambientais! A partir de hoje, na primeira quarta-feira de cada mês, vou trazer-lhe sugestões de leitura sobre a profunda crise ambiental que o mundo atravessa. Se é verdade que é cada vez mais difícil negar ou contornar os efeitos das alterações climáticas e do aquecimento global no nosso planeta, também é certo que nunca como hoje o ambiente esteve presente na agenda política nacional e internacional.
Nesta newsletter, procurarei trazer-lhe um reflexo dessa discussão. Haverá um grande tema em destaque todos os meses, mas também um conjunto de leituras nacionais e internacionais sobre os problemas do planeta, as soluções que podem ajudar a resolvê-los e as ideias erradas que, muitas vezes, contaminam o debate. E olharemos também para o que de melhor se faz em Portugal no campo da sustentabilidade.
Se tiver comentários ou sugestões, quero muito ouvi-los. O meu e-mail é jfgomes@observador.pt.
Já agora: esta semana também estreámos o programa Som Ambiente, na rádio Observador, com Catarina Grilo, Henrique Pereira dos Santos e Sofia Guedes Vaz. O primeiro tema foi o plano de Fernando Medina para tirar carros da baixa de Lisboa. Capital verde ou ditadura verde? Pode ouvir de novo aqui.
***
A primeira vez que li sobre a verdadeira dimensão do que se passou no final do verão passado no Tejo internacional foi neste artigo do jornal espanhol El Confidencial. O título dava conta de um verdadeiro drama ambiental, mas essencialmente humano: “Espanha deixa sem água a região mais pobre de Portugal”.
O assunto já corria nas páginas dos jornais portugueses desde o final de setembro, sobretudo por causa das imagens dramáticas que mostravam a barragem de Cedillo praticamente sem água e o rio Pônsul, um importante afluente do Tejo na zona de Castelo Branco, totalmente seco. As fotografias impressionavam: nas margens, onde ainda era possível ver a marca da altura habitual do rio, uma série de barcos de pesca estavam pendurados vários metros acima da água.
Durante algumas semanas, o assunto dominou a agenda mediática e colocou em causa a historicamente amigável relação entre Portugal e Espanha a propósito dos vários rios ibéricos que os dois países partilham.
Paradoxalmente, o cumprimento de uma legislação desenhada para evitar uma tragédia ambiental acabaria por levar a um desastre que afetou o rio, os ecossistemas locais, as populações ribeirinhas e as atividades económicas da região, causando graves prejuízos a quem, na Beira Baixa e no norte do Alentejo, vive do Tejo.
Foi isso mesmo que percebemos quando nos sentámos dentro de um minúsculo barco, aportado em Malpica do Tejo, com Conceição Rosa. Pescadora há 30 anos naquela zona, Conceição contou-nos como ficou perto de três meses sem apanhar um peixe no Tejo devido à falta de água e que, por isso, teve de pedir dinheiro aos filhos para pagar as contas. Ou quando conversámos, na outra margem, com o espanhol Robert Ramallete, que teve de cancelar centenas de reservas do barco turístico com que navega todos os dias o Tejo internacional e que só em março deste ano prevê retomar o negócio.
Várias vezes ao longo de dois meses — incluindo na entrevista que o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, nos deu para esta reportagem —, o Governo português anunciou que se estava a entender com Espanha e que, em dezembro, tudo estaria resolvido.
Com efeito, o nível da água voltou ao normal em meados de dezembro. Porém, o assunto está longe de estar resolvido. Depois das imagens chocantes, das promessas de retorno à normalidade e do regresso da água ao leito do Tejo internacional, ficaram por responder as perguntas mais importantes. Quais foram as reais consequências desta tragédia? Porque é que isto aconteceu? E como garantir que não se repete?
Entre outubro do ano passado e janeiro deste ano, fomos duas vezes à região de Cedillo. Entrevistámos ambientalistas, autarcas e residentes, que nos contaram o que aconteceu e como os afetou. Analisámos mapas e documentos para perceber a raiz do problema. Recolhemos horas de imagens em diversos locais críticos do Tejo internacional, que cruzámos com imagens feitas pelos ambientalistas no pico da crise.
O resultado final é um trabalho multimédia em que contamos a história completa da intrincada relação ibérica no que toca aos rios — e explicamos como foi possível que um acordo destinado a evitar crises tenha deixado dezenas de pessoas, como Conceição e Robert, durante meses à espera do rio, depois do dia em que o Tejo desapareceu.
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O dia em que o Tejo desapareceu

Em setembro, portugueses e espanhóis viram o rio Tejo reduzido a uma ribeira. Só depois perceberam que a culpa era do acordo entre Portugal e Espanha. E que o desastre pode voltar a acontecer.

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Greta Thunberg nomeada para o Nobel da Paz

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A Gulbenkian afirma que a iniciativa assinala o compromisso com "a urgência da ação climática". A instituição vai premiar a originalidade das contribuições para a adaptação às alterações climáticas.
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Foram contabilizados “cerca de 600 mil toneladas de plástico nos resíduos urbanos”, mas “apenas 72 mil foram recicladas”. Zero alerta para "quadro negro", que pode começar a mudar esta terça-feira.
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