Macroscópio – Já estamos em tempo de campanha eleitoral. Vai ser longa
Macroscópio – Já estamos em tempo de campanha eleitoral. Vai ser longa
Esperou-se, esperou-se, esperou-se, e foi ontem: o PS começou a mostrar alguma coisa do que virá a ser o seu programa eleitoral. Chamou-lhe “Uma década para Portugal” e não foi bem apenas um cenário macro-económico, também incluiu muitas propostas que podem (ou não) ser integradas no programa do partido. O Observador deu-lhe uma cobertura bastante exaustiva, com mais de uma dezena de textos onde se explicaram as medidas e, também, se começou a dar conta das reacções. Se quiser começar por algum deles, talvez por este: PS mexe no IRS, IVA, IMT, IMI. E tributa heranças.
Esta apresentação ocorreu poucos dias depois da actual maioria ter apresentado o seu Programa de Estabilidade para 2015-2019, um documento que será amanhã discutido na Assembleia da República. Não sendo textos equivalentes, podem, de alguma forma, ser comparados: os programas do PSD e do CDS não deverão contradizer o Plano de Estabilidade; o do PS terá de se enquadrar neste “Uma década para Portugal”. Por isso aqui ficam ligações directas para quem quiser descarregar esses documentos na íntegra.
- Pelo lado do Governo:Programa de estabilidade 2015-2019(associado há também um Programa Nacional de Reformas 2015);
- Pelo lado do PS: Uma década para Portugal.
É natural que nos próximos dias – logo a começar amanhã mesmo, no Parlamento – a discussão ganhe novas dimensões. Para já deixo-lhe um texto que já antecipava a actual clivagem, no Jornal de Negócios, três primeiras reacções no Observador e uma no Expresso Diário:
- Helena Garrido, em Sim, PS e PSD são diferentes, defendeu que “Existem de facto duas estratégias para a prosperidade de Portugal, duas grandes alternativas que poderemos escolher nas eleições no Outono. Na Conferência Anual do Negócios "Caminhos do Crescimento" Pedro Passos Coelho e António Costa propuseram duas vias bem distintas. Para nós cidadãos uma escolha racional significa saber alguma coisa de economia e do que pode ser a Europa do euro.”
- Paulo Ferreira constatou isso mesmo já depois da apresentação de hoje, em Os gatos e os ratos: “A maior diferença entre PS e PSD/CDS não está na estratégia orçamental. Está na visão para o desenvolvimento do país e no papel do Estado. É aí que encontramos a maior e mais ideol&oacut e;gica clivagem.”
- Inês Domingos, a economista da Macrometria, fez uma análise mais técnica das propostas hoje conhecidas emPrograma do PS: despesas atuais e receitas futuras: “Globalmente, com algumas exceções, este programa é parco em detalhes sobre as receitas que podem ser geradas para compensar os aumentos da despesa. Num contexto em que as incertezas sobre o futuro da zona euro são elevadas, aumentar em Portugal a despesa com poucas garantias de compensação do lado da receita poderiam facilmente tornar Portugal um dos elos mais fracos da união monetária”.
- Finalmente, eu próprio fiz um texto mais crítico, em O Rossio não cabe na rua da Betesga. Nele critico o optimismo das previsões de crescimento, sobretudo quando muitas das medidas anunciadas não são amigas das empresas. Eis um dos pontos em que divirjo da estratégia anunciada: “Estimular o consumo privado num país como Portugal tem como consequência imediata estimular as importações, pois somos uma pequena economia aberta. O equilíbrio das contas externas, um dos maiores sucessos do nosso processo de ajustamento, poderá assim ser facilmente revertido. Nessa altura, a nossa dívida esquecida – a dívida externa, que é bem maior do que a dívida pública – voltaria a agravar-se.”
- Henrique Monteiro, no Expresso Diário (link para assinantes), em O otimismo do PS e o seu corte com a esquerda, manifesta também algumas dúvidas sobre o optimismo das previsões, não sem se interrogar: “O cenário macroeconómico do PS tem o mérito de ser um estudo sério e conter ideias verdadeiramente importantes e até urgentes. Mas contém um risco que já vivemos no último Governo socialista, que aliás teve dois bons ministros das Finanças, Luís Campos e Cunha e Teixeira dos Santos. O risco pode resumir-se assim: conseguirá o PS manter o caminho traçado se a realidade contrariar as suas previsões?”
Começo pelo Financial Times, de que escolho dois artigos, um sobre o que se está a passar no Mediterrâneo, outro sobre a Grécia (de novo). Gideon Rachman, em The cold reality of Europe’s migrant crisis, refere muitos dos problemas concretos que os líderes europeus terão de enfrentar na próxima quinta-feira, quando se encontrarem para um Conselho Europeu extraordinário:
There will now be calls for greater burden-sharing and a more equitable distribution of refugees across the EU, with all 28 nations taking their share. However, even agreement on this is no certainty. Since politicians do not know the numbers of potential refugees involved, they cannot know what agreeing to take a “fair sh are” might ultimately involve. Free movement of people within the EU means that, even if refugees are settled in Bulgaria or Poland, there is nothing to stop them getting on the bus to Germany or France.
Sobre a Grécia o meu destaque vai para um trabalho realizado no terreno, em Atenas, por Kerin Hope and Tony Barber, onde se faz o retrato de algumas figuras proeminentes no governo do Syriza e que são menos conhecidas fora do país. Em Faces behind Greece’s radical government os repórteres debruçam-se sobre as vidas e as ideias de três ministros com grande peso político: Panayotis Lafazanis, Nikos Voutsis e Aristides Baltas. Este último, ministro da Educação, já está a inquietar, e muito, as instituiç&otil de;es do Ensino Superior gregas:
The 72-year-old minister of culture and education and emeritus professor at the prestigious Athens Polytechnic (…) shocked teachers by declaring immediately after his appointment that education in Greece “should not be governed by the principle of excellence . . . it is a warped ambition.” Now his ministry is drafting a new law that will again allow undergraduates to take as many years as they want to complete their first degree, with university entrance exams also being abolished. According to one former colleague, the plans of the Syriza co-founder will “restore an unhealthy system of deeply politicised universities run by students not professors”.
A minha última sugestão de hoje vai para um texto de Dominique Moisi, um especialista em relações internacionais, no Project Syndicate e com um título surpreendente: Why We Need “Game of Thrones”. Revelando estar muito à vontade nas várias séries de grande sucesso do momento (reparem neste parágrafo: “Such tools can be used to comprehend, for example, the difference between Israeli Prime Minister Binyamin Netanyahu and US President Barack Obama. Netanyahu is still stuck in the third season of “Homeland” – that is, obsessed with Iran – whereas Obama, having begun to include the renewed Russian threat in his strategic calculus, has already moved into the third season of “House of Cards.”), acaba a elogiar a Guerra dos Tronos, cuja quinta série está agora a passar nas nossas televisões:
On a more philosophical level, the show’s universe – a combination of ancient my thology and the Middle Ages – seems to capture the mixture of fascination and fear that many people nowadays feel. It is a fantastic, unpredictable, and devastatingly painful world – one that is so complex that even the show’s most loyal viewers often are confused. In this sense, it is much like the world in which we live.
Despeço-me por hoje. Muitos dos meus leitores estarão, por certo, muito concentrados no jogo de Munique desta noite, mas mesmo assim, bom descanso e boas leituras. Corram as coisas bem ou mal.
Até amanhã.
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ANTÓNIO FONSECA