VÍTOR MATOS
EDITOR DE POLÍTICA
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Se todas as carreiras políticas acabam mal...
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Bom dia!
Todas as carreiras políticas acabam mal, com uma derrota ou uma saída de cena em baixa. Não é que Angela Merkel possa acabar já assim, tão depressa, mas corre riscos. E nós com ela. Se com a ascensão de Trump nos Estados Unidos e com o Brexit na Europa tinha passado a ser a líder do mundo livre, agora parece mais uma líder em queda livre, como conta o Der Spiegel online num artigo onde dá uma ideia da perda de força da chanceler. Do ponto de vista alemão (mas não só), o mundo está a colapsar e não é apenas por a toda-poderosa Alemanha campeã do mundo ter perdido com o México na estreia do Mundial. Merkel tem cada vez menos poder e influência. E resta a Europa para salvar a Alemanha, ou assim parece. Neste caso, até para salvar o Governo alemão. O problema? Muitos. Mas sobretudo imigrantes e refugiados e uma líder cada vez mais isolada na sua decência.
Angela Merkel, que durante os anos da crise foi o rosto da frieza financeira da Europa da austeridade, agora é a cara do europeísmo de rosto humano, na defesa dos valores europeus contra os populismos e xenofobias. “Estou na expectativa de uma solução europeia. Só pode ser uma solução europeia”, respondeu Merkel ontem a uma jornalista durante uma conferência de imprensa, quase impotente perante o impasse em que está o seu próprio Governo, como escreve a Cristina Peres no Expresso Diário.
A chanceler está em conflito com o seu próprio ministro do do Interior, Horst Seehofer, da CSU, o partido “irmão” da CDU que se coliga com os democratas-cristãos há décadas. Seehofer pretende que os migrantes já registados noutros Estados-membros da União Europeia tenham a entrada recusada na Alemanha.Não só isso colocaria em causa a livre circulação na UE, como poderia ter um efeito dominó que levaria os outros países a restringir ainda mais a entrada de imigrantes e refugiados. Veríamos mais navios à deriva no Mediterrâneo e mais líderes políticos louvados pela falta de escúpulos. A Europa do pós-guerra acabou. A memória é apenas um filme a preto e branco.
Uma líder enfraquecida em casa, em conflito com um ministro aliado, apela à salvação externa na próxima cimeira europeia no fim do mês, para que se encontre uma solução. No contexto atual, não será fácil. Se a Europa não se desintegrou com a crise do Euro, parece para lá caminha a passos mais largos com a crise dos refugiados. O eurodeputado Paulo Rangel explica o contexto alemão num artigo hoje no Público e alerta para os perigos da extrema direita na Alemanha. Está tudo a voltar ao início do fim. Leiam por favor “O Mundo de Ontem” do austríaco Stefan Zweig e está lá tudo. A Europa antes da Grande Guerra parece a Europa de hoje, mas que não se repita. E que a carreira da chanceler não acabe tão mal de modo a acabar connosco também
OUTRAS NOTÍCIAS
Portugal vive noutra dimensão. Somos apanhados por notícias aparentemente longínquas sem notar que estão aqui tão perto. Os problemas da Europa central não parecem nossos. Nem mesmo os de Espanha parecem tão perto. Ou do Mediterrâneo que é ali. Mas tudo cá chegará a seu tempo. Para já, apenas notícias como esta, de que "o SEF deixou escapar mais três marroquinos do aeroporto", como titula o Diário de Notícias.
Na política doméstica, temos António Costa a ignorar a “revolta” da bancada do PS na semana passada por causa do acordo de Concertação Social que altera várias leis laborais e que uma parte dos deputados socialistas não apreciou, como conta aqui no Expresso Diário a Rosa Pedroso Lima. O ministro Vieira da Silva, para justificar a sua posição na polémica que já transbordou dos parceiros de esquerda para o próprio partido, escreve um artigo no Público a explicar as intenções do Governo: “Como é típico de matérias tão sensíveis e decisivas, elas exigem capacidade de diálogo e compromisso de todas as partes envolvidas. Mas tal não impediu um acordo maioritário na Concertação Social. Porque o seu conteúdo corresponde às necessidades e aos anseios da grande maioria dos cidadãos”, alega o ministro do Trabalho, da Solidariedade e da Segurança Social. JáMarcelo Rebelo de Sousa, tem dúvidas dúvidas sobre o período experimental que já foi chumbado pelo Constitucional em 2008, avança o Negócios.
Enquanto a “geringonça” começa a discutir o último Orçamento da legislatura, ao mais alto nível e a olhar para as legislativas (artigo do Observador), Marcelo Rebelo de Sousa volta a insistir no bom senso dos partidos de esquerda para aprovarem o Orçamento do Estado. No aniversário da Confederação das Câmaras de Comércio e Indústria (CCIP), segundo o Público, e com o argumento da instabilidade internacional, o Presidente continua a pedir estabilidade na frente interna: “Que até às eleições europeias da Primavera e legislativas do Outono haja estabilidade política, ainda que pontuada pelo confronto pré-eleitoral que já começou e que, como aliás é uso, se poderá intensificar a partir de Setembro e sobretudo de Janeiro de 2019. Assim esse confronto não crie situações imprevisíveis ou mesmo inexequíveis para a trajectória orçamental em curso”, disse Marcelo.
Enquanto os professores estão em guerra com o Governo e em greve como protesto pela contagem de tempo das carreiras, o PSD realiza na Guarda as suas jornadas parlamentares (com apenas metade dos deputados) e começa a moderar as críticas ao Executivo nesta matéria. Embora o líder parlamentar, Fernando Negrão, continue a dizer que o Governo deve manter-se fiel à sua palavra, admite votar ao lado do Governo no caso de haver iniciativas parlamentares a exigir o pagamento integral do tempo de carreiras congelado, como conta aqui o Diário de Notícias. O Expresso tinha noticiado este sábado que Marcelo rebelo de Sousa estava preocupado com a posição do PSD nesta matéria, porque os sociais-democratas poderiam causar uma crise orçamental ou ajudar a abrir um precedente jurídico que acautelasse todas as situações idênticas no futuro.
Foi uma noite de contestação na Câmara Municipal do Porto. Lá fora, uma manifestação organizada pelo Movimento Direito à Cidade protestava contra o aumento de despejos, sobretudo no centro histórico da cidade, por causa da pressão imobiliária e do aumento das rendas. Lá dentro, e por iniciativa do Bloco de Esquerda, decorreu uma sessão extraordinária da Assembleia Municipal, sobre o tema. As acusações políticas subiram de tom, com o presidente da Câmara a analisar as razões desta pressão imobiliária, a criticar a comunicação social pela forma como tem noticiado o assunto e a responsabilizar PS, CDU e BE por não aprovarem as leis consideradas indispensáveis para a resolução desta questão. A crítica passou depois para o Facebook. “O que fizeram BE e CDU na Assembleia da República sobre a lei do arrendamento? O que fizeram em Lisboa?”, questionou Rui Moreira na rede social. “Nada. Pois essa é uma responsabilidade do Parlamento e do Governo que suportam”.
“Ó Evaristo, tens cá Visto?”, pergunta Mariana Mortágua em título, num artigo de opinião publicado no JN, que dá os vistos Gold como uma das razões da “espiral especulativa em curso nos mercados imobiliários de Lisboa e Porto”: os vistos gold “não atraíram investimento produtivo, não criaram emprego, não acrescentaram nada ao país a não ser um mercado de luxo que está a contribuir para deixar milhares de pessoas sem casa que possam pagar.” Mas o problema, prossegue, “não está apenas naquilo para que os vistos gold não servem. O problema está no verdadeiro propósito deste regime, que é vender a cidadania europeia a milionários.”
Miguel Cadilhe desafia PSD a deixar de “assobiar para o lado” na causa do interior. Para o economista e coordenador das políticas fiscais do Movimento pelo Interior, a defesa do território deve ser uma das principais causas da social-democracia, incluindo neste conceito também uma parte do PS. "Não há uma causa tão difícil, tão nobre e tão exigente e tão esquecida e, por isso, o PSD fará muito bem se finalmente pegar na causa do interior e fizer disto uma matéria de grande reformismo", afirmou.
O Programa Nacional para Coesão Territorial vai sofrer “uma revisão”, revela o ministro Adjunto Pedro Siza Vieira. O Governo vai fazer uma reprogramação do Portugal 2020 para que uma parte das verbas destinadas aos incentivos ao investimento empresarial sejam “exclusivamente dedicadas aos territórios do interior”
Portugal não sabe quantos profissionais de saúde estão a trabalhar, noticia a Rádio Renascença. "Qualquer definição política de prioridades de recursos humanos está desde logo ameaçada", afirma um dos coordenadores do Relatório de Primavera 2018 do Observatório Português dos Sistemas de Saúde.
Um jovem de 18 anos morreu ontem na sequência do tiroteio numa rua da zona central de Malmö. Um homem disparou vários tirossobre um grupo de pessoas na cidade sueca que celebravam a vitória da seleção da Suécia sobre a Coreia do Sul, por 1-0, provocando cinco feridos.
Os EUA rejeitam pedir desculpa por crianças separadas das famílias na fronteira com o México. As autoridades norte-americanas confirmam que cerca de 2000 migrantes menores foram separados das famílias na fronteira nas últimas seis semanas, no âmbito da política “tolerância zero” aos imigrantes ilegais. A ONU diz aos EUA que unidade familiar deve ser preservada perante caso de crianças separadas.
O número de refugiados no mundo continua a aumentar. Segundo o El Pais, no final de 2017 havia 25,4 milhões de pessoas beneficiárias de proteção internacional, contra 22,5 milhões no na anterior. Os dados são do Alto Comissariado da ONU para os refugiados.
Foi já desativado “o plano de emergência territorial que tinha sido posto em marcha pela Generalitat de Valência na passada semana para receber os migrantes resgatados pelo navio Aquarius. Chegaram 630 pessoas - já contando com um bebé que nasceu a bordo do navio humanitário”. A Agência de Segurança e Resposta a Emergências faz um balanço positivo da “Operação Esperança do Mediterrâneo”, que envolveu mais de 2.300 pessoas, escreve a Rádio Renascença.
Donald Trump ordenou o Pentágono a criar uma força armada do espaço. O chefe de Estado norte-americano não forneceu pormenores sobre a missão que terá a nova divisão militar, mas disse: “Não queremos que a China e a Rússia e outros países nos ultrapassem”.
Pequim retaliou e o Presidente dos EUA não gostou: Trump ameaça com novas taxas sobre produtos chineses e abre nova trincheira na guerra comercial. Em causa estão 200 mil milhões de dólares, valor que se junta à imposição de taxas de 25% sobre produtos chineses na ordem dos 50 mil milhões de dólares.
Quase dois anos depois do referendo que aprovou o Brexit, a Câmara dos Lordes anunciou querer maior poder do Parlamento na saída da União Europeia.
Os festivais de música “valem” quase 100 milhões para os patrocinadores, noticia o Negócios, citando dados da Cision. Trata-se de um cálculo sobre a exposição mediática das marcas associadas a estes eventos durante o ano de 2017.
A Organização Mundial de Saúde classifica desde ontem os distúrbios de videojogos como doença mental. Como explica o Público, a entidade diz que o problema provoca uma “falta de controlo crescente que impede a realização de atividades normais num período superior a um ano”.
À terceira não foi de vez. Como escreve o Negócios, desde que a espanhola Prisa comprou a Media Capital, em 2005, já “tentou vendê-la três vezes e três vezes falhou. Duas à mercê dos reguladores, uma por força política.”
Mas vamos ao que interessa realmente. O Mundial ontem (quase) não teve surpresas: a Inglaterra ganhou à Tunísia no último minuto por 2-1, a Bélgica cilindrou o Panamá por 3-0 e a Suécia venceu a República da Coreia por um golo. Mais do que os jogos de hoje, começamos a pensar em amanhã, no jogo de Portugal com Marrocos. Carlos Queirós, treinador do Irão, diz ao “i” que Cristiano Ronaldo ganha jogos sozinho. Que assim seja, amanhã também.
MANCHETES
Público: “Cuidados continuados em casa perdem 10% de vagas em três anos”
Diário de Notícias: “SEF deixou escapar mais três marroqunos no aeroporto"
Jornal de Notícias: “Semana de 35 horas já absorveu três mil enfermeiros”
i: “Greve de professores. Serviços mínimos incendeiam mais os ânimos”
Correio da Manhã: “Menor esfaqueado em fantasia sexual”
Jornal de Negócios: “Crédito está a voltar às empresas”
O QUE ANDO A LER
NÃO FICÇÃO
Não há como um repórter para nos contar histórias. Victor Sebestyen, jornalista e historiador britânico nascido húngaro - trabalhou toda a vida em jornais ingleses - conta-nos a vida de Vladimir Iliich Ulianov em“Lenine, o Ditador” (Objectiva). O título dá-nos o posicionamento do autor distanciado do objecto e a narrativa agarra-nos como só um bom jornalista ou um romancista conseguem fazer. Mas o subtítulo da obra é o que mais diferencia esta biografia de outras: “Um retrato íntimo”.
E num retrato íntimo de uma das figuras históricas mais estudadas do século XX, queremos saber o quê? Não só os episódios mais inacessíveis, mas também a essência do homem. É o mais difícil de captar numa biografia: o reduto mais escondido do espírito do personagem. Uma biografia pode descrever uma sucessão de acontecimentos ou de factos, pode ser fiável e empolgante, mas se falhar na tentativa de revelar o âmago do biografado é apenas uma cronologia bem escrita. E Sebestyesn esforça-se por nos dar esse relato interior de uma figura tão complexa, num exercício arriscado como biógrafo.
Nada como fazer uma comparação. Vou quase a meio de “Lenine, o Ditador” e não cheguei tão longe nas duas primeiras biografias de Lenine que comecei a ler. Por exemplo, Dmitiri Volkogonov escreveu “Lenine: Uma nova biografia” (Edições 70), com a mais valia de acrescentar as informações da documentação secreta que do KGB classificada como “guardar para sempre”. A propósito de uma tentativa de atentado contra Lenine, Volkogonov escreve que “nunca ninguém viu Lenine assustado, deprimido ou confuso. Furioso, irritado, excitado ou surpreendido, com certeza, mas, em geral, conseguia controlar as suas emoções, mesmo quando sentia que tudo estava por um fio”.
Victor Sebestyen, no entanto, faz um retrato menos heróico: é certo que apresenta Lenine como tendo uma convicção pessoal e autoconfiança “inabaláveis” que são o segredo do seu sucesso e da própria revolução. Mas também descreve um homem diferente do da biografia de de Volkogonov. Um líder ciclotímico, com períodos frenéticos que alternavam com fases quase depressivas, por exemplo, nesta passagem: “As fúrias de Lenine, a cadência e a intensidade frenética com que trabalhava e as crises políticas regulares a minaram-lhe a saúde. Ao longo de toda a sua vida, quando estava sob tensão, sofreu de enxaquecas debilitantes, cãimbras abdominais e insónias que o deixavam prostrado deesgotamento nervoso. Estava à beira do colapso, como sabia Nadia”, a sua mulher. Nesta fase da vida, depois das revoltas de 1905 em São Petersburgo, quando estava em Genebra, soube que sofria de hipertensão e que um dia poderia vir a morrer de enfarte. Os seus outros problemas não eram gástricos, mas nervosos, disse-lhe um médico: “Foi-lhe dito que o seu verdadeiro problema não estava no aparelho digestivo, ‘é o cérebro’ - um diagnóstico que nenhum outro especialista formulou quase até ao fim da vida dele”. Nunca mais um médico voltou a dizer-lhe isto e o próprio Lenine terá escondido esta opinião médica de Nadia.
Se quiser saber mais sobre Lenine, tem ainda uma terceira biografia muito factual, de outro especialista: “Lenine”, de Robert Service(Edições Europa-América) - que tem também uma excelente biografia de Trotski (Aletheia), melhor que a do líder da revolução russa.
FICÇÃO
Ou talvez não seja tanto ficção, uma vez que o autor já revelou que só às vezes as personagens são inventadas. José Riço Direitinho escreveu “O Escuro que te Ilumina”, um livro pornográfico, mas que não se esgota na linguagem explícita nem nas descrições cruas de cenas de sexo. É também um romance sobre a solidão urbana e acerca de um platonismo obsessivo que conduz o narrador a comportamentos para lá dos limites. É sobre o desequlíbrio de uma ausência de amor. Escrito em forma de diário, começa a 1 de janeiro, a dizer: “A minha mais ousada fantasia sexual és tu”. Sabemos que os escritores tendem a mentir-nos e Riço Direitinho não é exceção. A fantasia sexual assumida pelo personagem dissoluto e libertino é afinal um amor adolescente e platónico por uma vizinha em relação à qual nunca descreve o mesmo tipo de situações dissolutas. É um livro sobre a libertinagem que se pode viver num certo submundo de Lisboa, mas não é um romance sobre o mal, como os livros do Marquês de Sade, apesar da linguagem semelhante com 300 anos de diferença. É um texto sobre um imenso vazio. |
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