sexta-feira, 4 de maio de 2018

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Valdemar Cruz
VALDEMAR CRUZ
JORNALISTA
 
Desonra, Vergonha e Traição
4 de Maio de 2018
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Gloriosos dias estes vividos com Shakespeare a inspirar o vocabulário político português. José Sócrates bate com a porta, escreve um artigo de opinião no JN, e entrega o cartão de militante do PS, António Costa fala no Canadá de “desonra para a democracia”, Carlos César ou João Galamba lançam palavras tão agudas como punhais e quem fala é MacbethCoriolano, ou Hamlet. Ou, se não eles, o espetro do seu imaginário traduzido em vocábulos ou sentimentos tão pesados como traição, desonra, vergonha ou até vingança. Ontem, na SIC Notícias, Adolfo Mesquita Nunes, do CDS, perguntava o que se terá passado para de repente o PS ter mudado o discurso em relação a Sócrates. A resposta está aí e ainda não seria conhecida de Manuel Alegre quando dizia, citado pelo Público, que o PS “abriu a caixa de Pandora” ao trazer agora, de “uma forma avulsa”, o nome de José Sócrates para o debate político.

Os próximos tempos não serão exatamente os dos Glory Days cantados por Bruce Springsteen, com o PS a ter de agarrar pelos cornos uma discussão que tentou olhar apenas de esguelha. Serão mais de ajuste de contas e não deixarão de evocar “A Tempestade”, a última peça do bardo inglês, com as suas maquinações, conspirações, juras de amor e atos de oportunismo. Sócrates não suportou a viragem de agulha e esta “espécie de condenação sem julgamento”. Por isso, escreve, “é chegado o momento de pôr fim a este embaraço mútuo”. Logo se verá de quem é maior o embaraço.

E Manuel Pinho? Vai agora passar por entre os pingos da chuva, face ao estrondo do bater de porta de Sócrates? Não se ouve Manuel Pinho, mas escutam-se os clamores pelo seu silêncio face às acusações de se manter como assalariado do BES enquanto Ministro de Sócrates. E, então, tudo se cruza. Lê-se a carta de despedida do antigo Primeiro-ministro, acompanha-se a sua defesa da honra de Pinho e, salvaguardadas as distâncias, o discurso de Marco António na defesa de César.

Neste emaranhado de máscaras não podia faltar Macbeth com o seu imponderável cruzamento entre aparência e substância. Sendo que a aparência é resumir a indignação ao choque face às alegadas avenças e promessas de reformas milionárias de Ricardo Salgado a Pinho a partir dos 55 anos. Apesar de ser Ministro? Ou para ser Ministro, já que por ser Ministro – na verdadeira aceção da palavra – não seria?

A substância será perceber e tentar descodificar o contexto político em que sucedem estes casos. Então, Pinho poderá ser apenas uma peça de algo muito mais vasto, num ambiente de promiscuidade entre poder político e poder económico, com a utilização do Estado em benefício de interesses privados. E aí pode ser crucial o âmbito da Comissão de Inquérito já proposta pelo Bloco de Esquerda, para se perceber, ao longo dos anos, a dimensão do despautério e conhecer as múltiplas responsabilidades em toda a sua dimensão.

Se Macbeth, condicionado pela fraqueza da sua condição humana, navegava num destino cujo desfecho só poderia ser materializado em tragédia, os Pinhos desta vida não passam, afinal de personagens tolhidas pela fraqueza de quem naufraga num arrivismo de perniciosas ambições.

E aí está Shakespeare de novo, agora com o seu Soneto 129, na tradução da poeta Ana Luísa Amaral para a “Relógio d’Água”:

“Desperdiçar o espírito ao esbanjar a vergonha
É luxúria em ação; até lá, a luxúria
É perjura, culpada, assassina, cruel,
Excessiva, selvagem, desleal, traiçoeira…”
 
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OUTRAS NOTÍCIAS

Fernando negrão, líder parlamentar do PSD, enviou uma carta ao seu homólogo do BE, a garantir que o o seu partido concorda com o objetivo da Comissão Parlamentar de Inquérito às rendas de energia proposta pelos bloquistas. O PSD não abdica, porém, de tirar a limpo a "teia de pagamentos privados a decisores políticos em funções", numa alusão às acusações a Manuel Pinho.

Está em curso uma greve de 24 horas de trabalhadores não docentes da rede pública. Exigem o fim da precariedade e a integração de todos os trabalhadores precários, a alteração da nova portaria de rácios, a dotação dos mapas de pessoal com número de trabalhadores efetivamente necessário que garanta a criação da carreira especial e o fim da municipalização.

Os benefícios fiscais aos senhorias vão ficar dependentes do valor da renda cobrada. O governo admite que as rendas de longa duração paguem um máximo de 14% de IRS, embora com um valor limitado e o regresso aos cinco anos de pré-aviso para a denúncia de contratos sem termo.

Aqui está uma notícia singular: "Aumento do salário médio da economia deve ser parcialmente compensado por uma forte criação de emprego nos salários abaixo da média", diz a CE. Portugal vai continuar a ser uma economia relativamente barata do ponto de vista da mão-de-obra e com isso, dizem, criará mais empregos e fará descer o desemprego, embora mais devagar.

Em destaque, aqui fica uma sugestão de leitura ancorada numa notícia agradável para todos nós. Raquel Moleiro, jornalista do Expresso, viu o seu trabalho “Escravos do Rio”, com fotos de Luís Barra, publicado na revista E do Expresso no final do ano passado, distinguido na 20ª edição do Prémio AMI – Jornalismo Contra a Indiferença. Fala-nos de uma realidade cruel. “São mais de mil. Todos os dias apanham no Tejo toneladas de ameijoas japonesas, contaminadas mas que geram milhões. Não para eles. Tailandeses e romenos são controlados por redes que começam no estuário e terminam na Galiza. Pelo caminho há agressões, armas, furtos, falsificações, fraude fiscal, atentados á saúde pública, exploração laboral e suspeitas de tráfico humano”.

Primeiras Páginas

Críticas levam Sócrates a abandonar o PS - JN

Regras nos subsídios de viagens dos deputados vão mudar – Público

Habitação Benefícios fiscais a senhorois vão depender do valor da renda – DN

Há 600 mil famílias em risco de perder a habitação” – I

Banca perdoa 94,5 milhões ao Sporting – Correio da Manhã

Todos os países do euro vão ter défice abaixo dos 3% - Negócios

Rui Vitória Convite das Arábias – A Bola

Não vou dar a Meirim a alegria de me castigar outra vez” (Bruno de Carvalho) – Record

“FC Porto é quase uma equipa nossa” (Hugo Sánchez ex-goleador do Real Madrid e da seleção do México) – O Jogo

LÁ FORA

É o fim. A ETA anunciou o seu desmantelamento enquanto organização e o final da sua trajetória e atividade política. Bastou um comunicado, publicado nas publicações bascas Gara Berria para colocar um ponto final no que fora um pesadelo. Ao fim de 59 anos de existência, a ETA, anuncia o El País, “é a última organização terrorista a extinguir-se na Europa”.

Morreu ontem o líder da Renamo, Afonso Dhlakama, vítima de doença. O dirigente do maior partido da oposição moçambicana terá perdido a vida a bordo de um helicóptero quando era transportado da Serra da Gorongosa para tratamento médico urgente. Dhlakama, de 65 anos, sofria de diabetes e vivia na Serra da Gorongosa desde a eclosão do conflito militar em 2014. Entre finais de 2016 e princípios do ano passado o líder da Renamo acordou com o Presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi, uma trégua por tempo indeterminado. De nome completo Afonso Macacho Marceta Dhlakama, o líder da Renamo nasceu a 1 de Janeiro de 1953, em Mangunde, distrito de Chibabava em Sofala. Era filho de um líder tradicional, o régulo Mangunde

Tardou, mas lá chegaram. Só a partir da tarde de ontem o Dicionário Biográfico Electrónico, da espanhola Real Academia de História, qualifica Francisco Franco como ditador. A edição em papel, publicada há sete anos, gerou grande controvérsia por evitar aquela definição e optar por o considerar apenas autoritário, além de assumir um tom geral favorável ao lado franquista. A nova entrada começa assim: "Franco Bahamonde, Francisco. Ferrol (La Coruña), 4.XII.1892—Madrid, 20.XI.1975. Jefe del Estado y dictador. [...] Anticomunista y conservador…”.

Afinal os carros a gasóleo estão para durar. A fazer fé num trabalho do jornal suíço Le Temps, a alemã Bosch tem um programadestinado a salvar aquele tipo de automóveis. Claro que ao mesmo tempo o jornal pergunta se esta será uma solução durável ou apenas uma forma de ganhar tempo após o escândalo da Volkswagen há três anos.

Se estivesse fisicamente vivoKarl Marxcelebraria amanhã, sábado, 200 anos. O jornal mexicano La Jornada assegura que o filósofo continua cada vez mais presente, como se vê pela quantidade de congressos internacionais, exposições debates, mesas redondas, conferências à volta do pensamento de Marx que se realizarão um pouco por todo o mundo ao longo dos próximos dias. Segundo o jornal, Marx está vivo graças aos jovens, que têm vindo a recuperar o pensamento do autor do Manifesto do Partido Comunista na sequência da crise que afetou inclusive as economias mais fortes do planeta.

FRASES

“A injustiça que agora a direção do PS comete comigo, juntando-se à Direita política na tentativa de criminalizar uma governação, ultrapassa os limites do que é aceitável no convívio pessoal e político”. José Sócrates, ex-Primeiro-minsitro no JN

“Estes acordos são muito comuns entre celebridades e pessoas ricas”. Donald Trump, presidente dos EUA ao reconhecer que pagou para silenciar a atriz de filmes Porno Stormy Davis

O QUE ANDO A LER E A VER

Dois livros grandes livros povoaram o meu quotidiano nos últimos tempos. Ambos tomam como referência, ou ponto de partida, o mundo literário. Se sobre eles apenas poderei escrever de uma forma muito breve, isso em nada diminui a grandeza de cada um deles.

Começo por “Alma de Viajante – 25 autores que conheci”, de Mário Cláudio no exato momento em que aparece nas bancas o seu novo romance, “Memórias Secretas”. Num país de rara prosa de escritores sobre outros escritores, esta investida de Cláudio, através de crónicas marcadas por uma ironia certeira na composição de retratos de encontros, às vezes breves, outras apenas percebidos, resulta na composição de duas personagens inexistentes uma sem a outra: a do observador e a do observado. Nisso, Mário Cláudio não tem par nas letras portuguesas. A serenidade do olhar esconde a construção cáustica de pequenas narrativas sobre o contacto com escritores famosos, como Ferreira de Castro, que vagamente conheceu no Hotel das Caldas das Taipas no final da adolescência, Jorge de Sena, que o apoiou em início de carreira, a acidez de Virgílio Ferreira, Ilse Losa, Pedro Homem de Melo, David Mourão Ferreira, Vasco Graça Moura, Urbano Tavares Rodrigues, ou José Saramago, a quem arrebatou o Grande Prémio de Romance e Novela com “Amadeo” no mesmo ano em que o depois Nobel concorria com “O Ano da Morte de Ricardo Reis”. Só o relato das peripécias e dos ciúmes gerados pela vitória, a que Saramago era alheio, vale a incursão neste mundo complexo. O autor, nada brando nos seus juízos se a isso a realidade o obriga, tem consciência dos perigos que corre, como assinala ao falar de Natália Correia, porque, diz, “implicará enfrentar o olhar de soslaio da corte que a tinha por imperatriz, a qual se compunha de uma maioria de irrelevantes mentais”.

Outro romance imperdível é “A Febre das almas sensíveis”, de Isabel Rio Novo. É uma descida aos infernos da tuberculose no século XIX português proporcionada por uma das personagens do livro que coleciona histórias de poetas e escritores de vida breve, ceifada pela tísica pulmonar. A tuberculose foi uma doença muito presente na obra de inúmeros artistas românticos e chegou a ser, até as primeiras décadas do século XX, uma das principais causas de morte em Portugal.Uma das miragens de cura passava pelos bons ares da serra, como acontece em “A Montanha Mágica”, que Thomas Mann situa num sanatório dos Alpes suíços. Por cá, ganhou fama o sanatório construído na serra do Caramulo, para onde Isabel transporta este retrato sociológico de um país vítima da sua própria miséria. A par de contactos breves com Cesário Verde, Júlio Dinis, Soares dos Passos, António Nobre e outros, temos, sobretudo, um fresco construído à volta de uma tragédia familiar com tuberculose em fundo.

Se está a Norte do país e puder deslocar-se ao Porto, não perca o festival Dias da Dança, com o que há de melhor na dança contemporânea, nacional e internacional. Se está a Sul, e puder passar pelo Centro Cultural de Cascais, vá lá descobrir e espantar-se com a obra nunca antes apresentada em Portugal de Lita Cabellut, uma artista que enquanto criança viveu nas ruas de Barcelona, foi adotada, descobriu o Prado, tornou-se pintora e agora, com estúdio em haia, na Holanda, é muito cotada internacionalmente.

Tenha um bom fim de semana.
 

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