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POR MIGUEL CADETE
Diretor-Adjunto
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13 de Janeiro de 2017 |
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A política e a politiquice: a TSU, o salário mínimo, Mário Soares e o Tosão de Ouro
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Ouve-se aqui e acolá, numa gritaria infernal ou num sussurrar reconfortante que por estes dias assistimos “ao regresso da política”. Será?
Na concertação social houve certamente habilidade política senão mesmo diplomacia para, ao fim de tanta negociação se chegar a um resultado que aparentemente agradava a gregos e troianos: o salário mínimo subia para €557 e, em troca, os patrões pagavam menos TSU (taxa social única). Todos concordavam. Isto é política.
Todos não? O Bloco de Esquerda, que faz parte do tripé que sustenta o atual Governo (nalguns meios também conhecido por “geringonça”, ver aqui o estudo de Henrique Monteiro sobre a palavra) prepara-se para levar esse decreto-lei a votação no Parlamento e diz estar contra a diminuição de 1,25% da TSU. Isto é política no seio da “geringonça”?
O PSD sabe bem o que valem as descidas da TSU. No governo da troika, o povo saiu à rua quando esta foi prometida e as sondagens foram impenitentes para o executivo e para aquela ideia do ministro Vítor Gaspar. Se à época a proposta era boa, ficou provado que não tinha pés para andar. Mas hoje o PSD está na oposição e também ao lado do Bloco de Esquerda: já prometeu que também não vota favoravelmente pois está “frontalmente contra” nas palavras do seu líder parlamentar, Luís Montenegro. Isto é política?
Os patrões estão com o PSD e pedem que a “geringonça” se organize. Lamentam que o acordo seja posto em causa devido a “rivalidades político-partidárias”. Mas, meus caros amigos, isso é política. Mas também o PSD entra na contradança e não está para ajudar o Governo, pois a verdade é que está na oposição. “Nós não seremos uma muleta do Governo, dando ao Governo o apoio que não consegue entre os seus parceiros”, disse Luís Montenegro.
Ora, tudo isto é muito bonito mas os votos dos deputados do PS, que são 86, não chegam para os dos PSD e BE juntos, que são 108. Nesse sentido, para que o acordo da concertação social passe, seria necessário que o CDS e o PCP votassem ao lado do PS. Mas o PCP já disse que a descida da TSU era uma chantagem dos patrões e que não ia nisso. Ora, isto é uma jigajoga e pode também ser o primeiro revés da história da geringonça.
Cenas dos próximos capítulos: caso o acordo aprovado na concertação social não passar devido à aliança do PSD com a esquerda, o Governo pode de per se aprovar o aumento do salário mínimo nacional. Mas nesse caso, os patrões podem ficar furiosos e prometer retaliar pois ficam sem descida da TSU. Será possível então um novo acordo na concertação social? E em que condições será ele negociado? Não esquecer que António Costa, primeiro-ministro de Portugal, chegou esta madrugada da Índia, onde se emocionou, abriu portas a novos mercados , teve banhos de multidão e ainda convidou a super-estrela Modi para vir a Portugal.
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OUTRAS NOTÍCIAS
Caso dos Comandos. O tenente-general Faria Menezes escreveu ao DIAP a dizer que mandou suspender as atividades físicas no âmbito do 127º curso dos Comandos mas que as suas ordens, afinal, não foram respeitadas. A sua ordem veio na sequência da primeira de duas mortes, a do instruendo Hugo Abreu: “cancelei toda a instrução prevista em horário do dia seguinte”, soube o Expresso, numa notícia que hoje é manchete no “Público”. Ainda assim, tiveram lugar mais duas provas, ginástica educativa e técnicas de Combate I, e sucedeu outra fatalidade. O militar faz parte da entidade que comanda o Regimento de Comandos e supervisiona o desempenho destas tropas especiais do Exército.
Caso Octapharma. Paulo Lalanda e Castro, o principal responsável da empresa que tinha o monopólio do mercado do sangue, ficou ontem em prisão domiciliária depois de ouvido por um juiz de instrução criminal. O gestor foi considerado arguido no âmbito da Operação “O Negativo”, e suspeito de “crimes de corrupção ativa e passiva, recebimento indevido de vantagens e branqueamento de capitais”. Cunha Ribeiro, ex-presidente do INEM e membro do júri que decidia os concursos do sangue, está detido há cerca de um mês. A representante da Associação Portuguesa de Hemofilia nesse mesmo júri, também foi constituída arguida.
Caso dos argelino que fogem no aeroporto de Lisboa. Dois argelinos fugiram e outros três foram detidos, ontem à tarde, quando iam a embarcar, saltando pelo gradeamento do Terminal 2 do aeroporto de Lisboa, pelo lado que dá acesso à Segunda Circular, disse o Expresso Online. Passa a seis o número de cidadãos magrebino que escaparam do aeroporto de Lisboa enquanto esperavam voos de escala. ÚLTIMA HORA: foram apanhados na Gare do Oriente durante esta madrugada, noticia o “DN”.
Caso Trump. Depois do dossiê controverso compilado por um ex-espião britânico, Donald Trump já está metido noutra. “Arrisca uma guerra caso bloqueie o acesso dos chineses ao sul do Mar da China”, noticia hoje o “Guardian”, depois de alertas publicados no “China Daily”, o jornal estatal da República da China. As ameaças de Rex Tillerson, o putativo secretário de Estado da administração Trump, no sentido de impedir o acesso às ilhas do sul do Mar da China podem conduzir a uma guerra entre os dois países, de acordo com as afirmações de Tillerson que preveem o impedimento dos chineses às fortificações e às ilhas artificiais montadas numa área que é reclamada também por Taiwan e cinco outros países do sudeste asiático. Tillerson considerou a posição chinesa similar “à ocupação da Crimeia por parte da Rússia”.
Entretanto, Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente de Portugal, esteve ontem ao telefone com Trump durante 12 minutos numa conversa em que abordaram o “bom relacionamento” entre os dois países. Por sua vez, Marine Le Pen, a líder da extrema-direita francesa que vai disputar a eleição presidencial, foi vista, também ontem, na Trump Tower, em Nova Iorque.
Caso da dívida. A misteriosa agência de rating canadiana DBRS disse ontem à SIC, através de Adriana Alvarado, sua analista em Portugal, que a nacionalização do Novo Banco pode ser prejudicial para a notação da República de Portugal. A medida tem sido defendida pela esquerda e também por alguns nomes do PSD como Rui Rio ou Paulo Rangel, depois de levantada pelo ministro das Finanças Mário Centeno na semana passada.
“Não seria um processo sem dificuldades já que iria necessitar de aprovação da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu”, disse a representante da única agência que coloca Portugal acima de lixo permitindo a compra de dívida por parte do BCE. No último leilão de Obrigações do Tesouro a 10 anos, Portugal pagou mais de 4,2% de juros, onde se inclui um spread que é o segundo mais elevado dos últimos sete anos.
Caso Snowden. Não, ele não vai estar cá. Sim, tudo indica que estará através de vídeo-conferência nas Conferências do Estoril que terão lugar a 29, 30 e 31 de maio. À prédica de um dos mais famosos whistle-blowers do mundo juntar-se-ão as de juízes também famosos como Baltasar Gárzon, Sérgio Moro, Antonio di Pietro e o “nosso” Carlos Alexandre. Nigel Farage, que liderou a campanha do Brexit, e o realizador Oliver Stone também confirmaram a sua presença.
Caso da dívida do Benfica. O clube da Luz aparece no segundo lugar de uma tabela sobre os clubes mais endividados do mundo. O Manchester United segue na dianteira com €536 milhões.
FRASES
“Seria um sonho jogar no Benfica”. Raphael Guerreiro, defesa da Seleção, atualmente a jogar na Bundesliga, em “A Bola”
“Quem diz que Soares não se aliaria ao PCP trai a sua memória”. João Galamba, deputado do PS, ao jornal “i”
“Sem bom jornalismo, os cidadãos nunca terão a informação de que precisam para tomar decisões na vida pública” Michael Rezendes, jornalista vencedor do Prémio Pulitzer, no Congresso dos Jornalistas
“Foram enviadas 130 mil cartas para cobrar três milhões em taxas moderadoras” Henrique Martins, dos Serviços Partilhados do Ministério da Saúde
“Portugal vai solicitar a intervenção de Bruxelas neste caso. Havendo um diferendo, ele tem de ser resolvido pelas instâncias europeias” João Matos Fernandes, ministro do Ambiente, após a reunião sobre Almaraz
O QUE EU ANDO A LER
Isto era política. Hoje é mais difícil aceitar que o casamento é uma decisão tomada por um interesse maioritariamente político. Mesmo que seja sempre um acordo comercial entre as partes.
Mas aqui há uns tempos não era tanto assim. “Casamentos da Família Real Portuguesa”, que acaba de ser publicado pelo Círculo de Leitores, com coordenação de Ana Maria Rodrigues, Manuela Santos Silva e Ana Leal de Faria, não deixa muitas dúvidas. Mas questiona, e bem, se naquele tempo – refiro-me agora ao final da Idade Média – não existia amor.
“Não terei outra” foi a divisa instituída por Filipe, o Bom quando em 1429 casou com Isabel de Portugal. Mentiu descaradamente, pois entretanto os historiadores contaram dezenas de amantes. Mas isso não impediu o papel determinante da Duquesa Isabel de Portugal na gestão da política europeia, numa época muito difícil em que Filipe mantinha o sonho de reinar entre o Mar do Norte e o Mar Mediterrâneo.
Nem sequer o sonho de Dom João I, seu pai, de se lançar na Expansão. Antes pelo contrário. D. João, que se tinha casado com a filha de João de Gante, um dos reis mais poderosos da época, casou a filha com o Príncipe que reinava nas artes (Jan van Eyck esteve em Portugal para pintar o retrato da Infanta) e que lhe garantia apoio para outras façanhas.
É verdade que gastou um dinheirão: no orçamento do Reino de Portugal, só a conquista de Ceuta saiu mais cara que o casamento de Isabel mas certamente que a festa valeu a pena. Melhor dizendo, as festas.
Depois do banquete na Ribeira, a comitiva de dois mil convidados partiu para Bruges (hoje na Bélgica) onde investiram uma semana inteira em folias que incluíam um leão em pedra que jorrava vinho tinto – presume-se que da Borgonha – para o povo saciar a sede. Um unicórnio era a fonte de onde brotava água de rosas para os comensais lavarem a boca, e as danças iam pela noite dentro, dando lugar às justas no dia seguinte e, não há bela sem senão, a intermináveis missas.
Por esses dias foi também fundada a Ordem do Tosão de Ouro, baseada em uma lenda antiga e pagã da Grécia, de Jasão, que juntava os cavaleiros mais distintos da Europa, ainda encantados com histórias do tempo do Rei Artur. O seu último e atual Grão Mestre esteve esta semana em Portugal. É Filipe de Espanha e não quis deixar de estar presente no funeral de Mário Soares. Isto sim, é política.
Por hoje é tudo. Tenha um bom dia.
Toda a informação será atualizada ao longo do dia no Expresso Online e isso inclui uma sondagem sobre a intenção de voto dos portugueses. Mais logo, lá pelas 18 horas, será publicado o Expresso Diário. Amanhã é dia de semanário e a Revista do Expresso é toda ela dedicada a Mário Soares. Nunca deixe de lutar. |
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