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21 de Novembro de 2016 | ||
O país que perdeu quase tudo sem dar por isso
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Bom dia. Este é o seu Expresso Curto, cada vez mais
de olhos em bico, seja por causa de um banco, de umas eleições, de umas
revelações, das pensões ou do diabo, que não arreda pé da política
nacional. O país amanhece hoje com mais um banco controlado por capitais chineses. O grupo privado Fosun passa a deter 16.7% do capital do BCP, tornando-se o maior acionista individual, através de uma operação de aumento de capital, pelo qual paga 175 milhões de euros. Fica aberto o caminho para chegar aos 30% e conta já com a luz verde do BCE para esse efeito. Também os direitos de voto vão subir do atual limite de 20% para 30%. A entrada dos chineses mereceu o acordo dos outros principais investidores, nomeadamente os angolanos da Sonangol e os espanhóis do Sabadell. A Fosun já controla a companhia de seguros Fidelidade e a Luz Saúde. Mas a entrada no BCP far-se-à através de uma entidade chamada Chiado. O negócio é excelente para o banco, que precisava de estabilidade acionista e de aumentar capital, até porque ainda deve 700 milhões ao Estado da ajuda que recebeu durante o período da troika. Mas… o BCP é o maior banco privado português. A EDP é a maior empresa elétrica do país. A REN – Redes Elétricas Nacionais gere as principais infraestruturas de transporte de eletricidade e de gás natural. A ANA controla todos os aeroportos nacionais. A TAP é fundamental na captação de turistas para o país. Todos foram vendidos ou estão concessionados a investidores estrangeiros, assim como o porto de Sines (detido pela PSA de Singapura) e todos os outros (Lisboa, Setúbal, Leixões, Aveiro e Figueira da Foz, controlados pela empresa turca Yilport). Ora um país que não controla os seus portos, os seus aeroportos, a sua energia (quer a produção quer a distribuição) nem o seu sistema financeiro na quase totalidade (escapa a CGD) é seguramente um país que terá no futuro cada vez mais dificuldades em definir uma estratégia nacional de desenvolvimento. Provas? A TAP quer comprar oito aeronaves para fazer face à procura crescente resultante das rotas que abriu para os Estados Unidos mas a ANA responde-lhe que não tem espaço para o seu estacionamento no aeroporto Humberto Delgado. Na verdade, os franceses da Vinci, que controlam a ANA, deveriam ter já arrancado com a construção de um novo aeroporto porque o número de passageiros na Portela está muito próximo do limite definido no acordo para que esse passo seja desencadeado. Mas preferem a solução Portela mais Montijo, que lhes sai mais barata e que só deverá estar pronta dentro de três anos, a construir um novo aeroporto, uma decisão obviamente de importância estratégica para o país. Mais provas? Como se disse, o porto de Sines foi concessionado à PSA de Singapura. Ora, os chineses estão interessados em Sines, onde se propõem aumentar os cais e as plataformas de apoio, mais uma plataforma industrial para montarem os produtos cá e obterem o “made in Portugal”, podendo assim entrar sem problemas no mercado europeu. Só que a PSA de Singapura opõe-se e faz valer a sua opinião por ser dona da concessão. E as autoridades portuguesas pouco podem fazer porque infraestruturas deste tipo são únicas: não se podem construir outras ao lado. É este o Estado que temos: sem poder para mandar naquilo que é verdadeiramente essencial para definir uma estratégia de desenvolvimento. E o que é espantoso é que quase tudo tenha acontecido em tão pouco tempo (entre 2011 e 2015, pouco mais de quatro anos) e que estivéssemos tão anestesiados que o não conseguíssemos evitar. |
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OUTRAS NOTÍCIAS Grande surpresa nas eleições primárias da direita em França: François Fillon venceu com mais de 44,1% dos votos, seguido por Alain Juppé, com 28,2%%. Na terceira posição ficou o ex-presidente Nicolas Sarkozy, com 21% e que reconheceu a derrota, revelando que irá votar em Fillon na segunda volta. Fillon foi primeiro-ministro de França de Maio de 2007 a Maio de 2012, sob a presidência de Sarkozy. Segundo o meu camarada Ricardo Costa, Fillon é muito conservador nos costumes e muito radical na abordagem ao mercado. O seu programa é herdeiro das ideias de Margareth Thatcher e aponta para um choque frontal com os sindicatos. Como nenhum dos candidatos conseguiu 50% dos votos haverá uma segunda volta entre os dois mais votados no próximo domingo. Entretanto, no plano geral, Marine Le Pen, líder da Frente Nacional de extrema-direita, lidera com 29% das intenções de voto a corrida ao Eliseu. Na Alemanha, a chanceler Angela Merkel anunciou que se vai recandidatar a um quarto mandato pelo seu partido, a CDU, nas eleições de setembro de 2017. “Pensei sobre isto durante muito tempo. A decisão para um quarto mandato, após 11 anos no cargo, é tudo menos banal”, assegurou a chanceler. Se vencer ficará à frente do seu país tanto tempo como Helmut Kohl. O presidente turco, Recep Erdogan, criticou a União Europeia por manter o seu país à espera de entrar para o clube há 53 anos. Agora, Erdogan diz que só espera até ao final do ano. “Caso contrário, fechamos este arquivo e a readmissão de refugiados”. E como já percebeu o que vai acontecer, vá de deixar uma grande farpa: “Na minha opinião, o 'Brexit' foi um bom jogo. E coisas semelhantes podem acontecer noutros países europeus e a Turquia deve sentir-se confortável”. E quer saber o que Barack Obama disse às filhas depois da eleição de Donald Trump para a Casa Branca? Não, não é nada do que está a pensar. Segundo a New Yorker, foi isto: “As pessoas são complicadas. As sociedades e culturas são complicadas... isto não é matemática: é biologia e química. O vosso trabalho, enquanto ser humano decente, é constantemente afirmar, incentivar e lutar por tratar as pessoas com bondade, respeito e compreensão”. Olha o que o Obama insinua: que o Trump é uma pessoa complicada! Também é preciso ter má vontade contra o homem… Por cá, Marques Mendes, o oráculo da República, revelou que vai haver fumo branco na Caixa Geral de Depósitos. Assim, no seu habitual espaço televisivo de domingo à noite na SIC, o comentador disse ter apurado que os administradores da Caixa Geral de Depósitos já decidiram e vão entregar ao Tribunal Constitucional as suas declarações de rendimentos e património, pedido que estas não sejam divulgadas à opinião pública. A decisão já terá sido comunicada ao Ministério das Finanças, referiu. Se Carlos César, líder parlamentar do PS, e Pedro Passos Coelho, presidente do PSD, soubessem o que sabe Mendes bem podiam ter poupado no latim que ontem voltaram a gastar sobre este caso. Por seu turno, Cavaco Silva mantém o recato que prometeu (e que o bom povo agradece) desde que deixou a Presidência da República. Um jantar e um almoço em sua homenagem, três reuniões do Conselho de Estado, uma ida oficial à Madeira e uma presença na celebração da Bolsa do Voluntariado. Resumem-se a estes sete eventos as saídas públicas do ex-Presidente da República, nos oito meses que decorreram desde que deixou Belém, revela o Diário de Notícias. Quanto ao atual Presidente da República, recebeu das mãos da rainha de Inglaterra, Isabel II, uma moldura da foto com o neto William. Na “entourage” de Marcelo especula-se sobre o que tal presente quererá dizer: se uma simples manifestação de afeto de uma avó pelo neto ou se uma indicação para o antigo comentador político decifrar e anunciar ao mundo: a de que o sucessor de Isabel II no trono será William, duque de Cambridge, e não o seu pai, o príncipe Carlos, que espera que a senhora abdique ou morra há um ror de anos… O presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, desafiou ontem o Governo a aumentar as pensões no início do próximo ano, em vez de o fazer em agosto, próximo da realização das eleições autárquicas de 2017. “Porque é que é em Agosto? Daqui até Agosto não há dinheiro para pagar? O Estado só vai ter dinheiro para pagar em Agosto?”, perguntou. Claro que com tanta maneira de fazer a mesma pergunta, o dr. Passos queria alertar para a malandrice do Governo se preparar para dar um brinde aos pensionistas pouco tempo antes das eleições autárquicas. Ao dr. Passos é que o dr. Costa não engana. São muitos anos nisto da política. Sobre este tema, o PCP reclama os devidos louros. Com efeito, o secretário-geral do PCP. Jerónimo de Sousa, sublinhou ontem que o aumento das pensões e reformas no âmbito do Orçamento do Estado para 2017 acontecerá por iniciativa dos comunistas, que persistiram, começando por estar sozinhos nessa proposta para 2016. Entretanto, as crianças até 12 anos vão ter direito a passe gratuito nos transportes na região em Lisboa, nomeadamente na Carris e no Metro. A esta medida soma-se ainda a redução do preço do passe dos idosos com mais de 65 anos, que baixa mais de 40%, de 26,75 euros para 15 euros. É lançada amanhã em Lisboa no Pavilhão do Conhecimento uma rede que localiza os cientistas portugueses espalhados pelo mundo. Chama-se GPS (Global Portuguese Scientist) e já está online. Mesmo que não seja cientista pode inscrever-se e acompanhar a ciência que se vai fazendo pela mão dos portugueses no estrangeiro. As acções da TAP só vão poder ser vendidas em bolsa quando a companhia valer 1,2 mil milhões de euros. Este é um dos pontos mais importantes do acordo selado entre o Estado e a Atlantic Gateway e que passará a vigorar assim que a estrutura accionista da empresa for reconfigurada, com a passagem de 50% do capital para a esfera pública, revela o PÚBLICO. O Diário de Notícias muda hoje de casa. Sai do emblemático edifício no topo da Avenida da Liberdade, onde se encontrava instalado desde 1940, e vai para as torres de Lisboa. É mais um jornal que abandona o centro da cidade. Sinais dos tempos… FRASES [Passos Coelho] “parece tomado pelo diabo e não há exorcista, ou candidato a exorcista, seja ele Luís Montenegro, Santana Lopes ou Rui Rio, que lhe explique que não pode atacar toda a gente, o Governo, o Presidente da República, as estatísticas ou a Assembleia da República, só porque o país está melhor do que ele queria”. Carlos César, líder parlamentar do PS, entrando no debate mefistofélico que nos últimos tempos tomou conta da política portuguesa. “O quarto trimestre pode pôr o PIB de Portugal a crescer 1,4% em 2016”. Miguel Frasquilho, presidente da AICEP, mostrando que os otimistas não estão todos no Governo nem são todos do PS. Diário de Notícias. “O terminal do Barreiro está mais para o lado de avançar”. Ana Paula Vitorino, ministra do Mar, demonstrando que o atual Governo se prepara para concretizar o disparate que o anterior iniciou. Antena 1/Jornal de Negócios “Trump, de certa maneira, é um revolucionário”. José Pacheco Pereira, sempre a ver mais que todos os outros, jornal O QUE AINDA NÃO LI E VOU LER. E O QUE JÁ LI. “A Vida e a Morte dos Nossos Bancos, Como os banqueiros usaram o nosso dinheiro e ele desapareceu” é o título do livro que a Helena Garrido, uma grande senhora do jornalismo económico português, lançou na semana passada. Ainda não li, mas sabendo da competência da Helena e da precisão e cuidado com que faz o seu trabalho não tenho dúvidas que é um documento que traz seguramente mais alguma luz a muitos aspetos sombrios da derrocada da banca nacional. A Helena tem uma longa e brilhante carreira profissional, que a levou a passar por pelo menos duas direções editoriais (Diário de Notícias e Jornal de Negócios) e várias redações. Sempre dispôs de uma invejável carteira de contactos no mundo económico. Foi a ela que em 2011 o então ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, entendeu dar a informação de que Portugal tinha pedido ajuda internacional. Por tudo isso, este livro é de leitura obrigatória. Hoje, às 18.30, na Bucholz em Lisboa, é lançado um livro de duas outras fantásticas jornalistas. Anabela Campos e Isabel Vicente, minhas camaradas de redação no Expresso, assinam “Negócios da China”, que tive o privilégio de ler ainda no prelo porque me pediram para fazer o prefácio, uma distinção que seguramente não mereço. A Anabela e a Isabel são duas das mais corajosas jornalistas que conheço. Os cidadãos comuns podem não ter essa ideia, mas o mundo económico pode ser muito violento para os jornalistas. É preciso ter coragem para insistir nas perguntas, para querer saber a verdade, para não recuar perante as dificuldades, para manter a persistência quando seria mais fácil desistir. A Anabela e a Isabel são isso tudo e muito mais. Nunca quiseram transformar a profissão de jornalista numa carreira burocrática. Vão para a frente dos touros, olham-nos nos olhos e pegam-nos de caras. Em “Negócios da China” estão muitas das investigações que as duas conduziram nos últimos anos ao serviço do Expresso, mas também factos novos relacionados com a economia chinesa e a estratégia dos seus dirigentes para Portugal. O ajustamento entre 2011 e 2015 conduziu à venda de quase todas as grandes empresas portuguesas e ao controlo da banca nacional por capitais estrangeiros. O investimento chinês foi quem levou a parte de leão nestas vendas a saldo que foram as privatizações durante aquele período. Mas também há espaço para os pormenores indecorosos que levaram ao desmantelamento do BES, da PT e da Cimpor, bem como ao caso BPN. Ou seja, este é outro livro imperdível para quem se interessa por temas económicos – ou por quem quer perceber como chegámos ao ponto onde nos encontramos, e cada vez mais de olhos em bico. E pronto, este foi o seu primeiro Expresso Curto desta semana. Beba-o na companhia destes dois livros, enquanto o Belzebú não vem. Porque, já se sabe, quando ele vier, vamos ter muito que penar (e os juros a dez anos da dívida pública já estão próximos dos 4% e subiram 20% num mês). Até lá, vá-se informando pelo Expresso online e pelo Expresso Diário, que estará disponível a partir das 18 horas. E amanhã tem um novo Expresso Curto à sua disposição, tirado na perfeição pelo João Silvestre. Tenha um bom dia e uma excelente semana. |
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