quarta-feira, 9 de setembro de 2015

OBSERVADOR - MACROSCÓPIO - 9 DE SETEMBRO DE 2015


Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!


Hoje à noite não haverá muita forma de escapar. Sobretudo se se sentar no sofá em frente a um televisor. Pedro Passos Coelho e António Costa vão realizar o seu único debate televisivo nesta campanha, e as três televisões generalistas – RTP1, SIC e TVI – vão transmiti-lo em directo e em simultâneo. Por isso, se ainda tiver tempo, vou deixar-lhe uma parte do que hoje se escreveu para o ajudar a compreender o que está em causa e, depois, fazer a sua própria avaliação da prestação dos líderes, até por comparação com os vaticínios dos especialistas.

Antes devo contudo passar pela sondagem da Aximage para o Correio da Manhã e Jornal de Negócios, hoje divulgada, com títulos fortes: PS afunda cinco pontos e é ultrapassado pela coligação. O Observador também deu a notícia, mas o mais importante é tentar perceber o significado deste estudo de opinião. É assim tão grande a reviravolta? Está mesmo a coligação mais de cinco pontos à frente do PS? Pedro Magalhães, um dos nossos maiores especialistas em sondagens políticas, recomenda que tenhamos prudência no seu blogue Margens de Erro, em De Maio a Setembro. Aí faz uma análise tanto desta sondagem como da divulgada a passada semana pelo Expresso, compara-as e demonstra que, apesar de os números serem bem diferentes, ambas ainda configuram uma situação de “empate técnico” entre PS e coligação. Mas não só:
Pegando na informação em conjunto, hoje não é possível dizer que uma lista tem vantagem sobre outra. Já do ponto de vista das tendências, ambas as empresas indicam uma subida da coligação e uma descida do PS. Só os timings dessa mudança variam.

Esta evolução das sondagens motivou já dois editoriais: um no Jornal de Negócios, de Helena Garrido, O improvável acontece, onde se escreve que “A confirmarem-se as sondagens, assistiremos a um caso único na curta história da democracia portuguesa. O primeiro e o segundo plano de estabilização do FMI custaram ao PS anos fora da governação. (...) Este programa de ajustamento financeiro foi bastante mais violento do que os anteriores (…) e pode levar à recondução do Governo que o aplicou. Como encontrar uma explicação?”, e o do Público, 90 Minutos, onde se fala também do debate de hoje e, depois de aconselhar prudência, se procura mitigar o efeito estas sondagens, lembrando que “os últimos estudos foram feitos a uma distância considerável do acto eleitoral, há factores mais ou menos racionais que levam os eleitores a esconder as suas verdadeiras intenções e podem a todo o momento acontecer imponderáveis, susceptíveis de mudar o sentido de voto.”

Há ainda uma outra leitura importante sobre este tema: O que vale um empate nas sondagens eleitorais?, um trabalho de fundo de Miguel Santos no Observador onde se recorda o que previram as sondagens em 2005, 2009 e 2011, e o que depois aconteceu de facto. Nem sempre as sondagens a algumas semanas das eleições acertaram, nem sempre as da véspera de aproximaram da verdadeira distância entre o primeiro e o segundo. Quererá isso dizer que não devemos confiar neste tipo de estudos? O que se escreve no nosso Especial vai além de um “sim” ou um “não”:
A afirmação merece alguma cautela. Pedro Magalhães, professor universitário e investigador no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, diz que há três fatores que podem ajudar a explicar uma eventual discrepância entre sondagens e resultados finais. Primeiro, o que medem as sondagens são as “intenções de voto hoje”, o que pode ser muito diferente do “comportamento dos eleitores no dia das eleições”. Depois, é impossível saber com precisão se os eleitores que dizem que vão votar, o vão fazer de facto. “É uma incógnita”, sublinha. E, em terceiro lugar, os indecisos auscultados são também um fator a ter em conta – vão votar? Como vão votar? É difícil prever.

Seja lá como for, o quadro actual das sondagens coloca mais pressão sobre António Costa, se bem que a pressão sobre Passos Coelho também seja muito grande: em 2005 e 2011 os debates tiveram mesmo influência no evoluir da campanha (e das sondagens). Passemos pois ao que foi escrito sobre a forma como poderá decorrer o confronte de hoje.

Modéstia à parte, julgo que o texto mais original foi um dos preparados pelo Observador que, em vez de ir ouvir politólogos e especialistas em comunicação, foi falar com alguém que já “treinou” líderes políticos para debates tanto com Costa como com Passos. Esse alguém é Luís Bernardo, que preparou José Sócrates para o debate que este teve em 2011 com Pedro Passos Coelho, e em 2014 aconselhou António José Seguro nos três debates que o então secretário-geral do PS teve com António Costa. O resultado está em Duelo na TV: Prognóstico antes do fim do jogo, um título algo atrevido, mesmo sabendo que Luís Bernardo conhece bem, porque os estudou, quer os melhores trunfos, quer as piores fragilidades de ambos os líderes. Mesmo assim do texto de Rita Dinis resulta apenas um meio veredicto: “Poder-se-á dizer que Passos parte em vantagem para o duelo desta quarta-feira. É o atual detentor do título – e há uma certa tendência natural para preferir o conhecido ao desconhecido. Vai caber-lhe a ele dar o tiro de partida, sendo o primeiro a falar. A Costa – o desafiador que deseja o título – caberá o encerramento. Diz-se que quem ri por último ri melhor, mas nada está garantido”. De resto, “Com o empate nas sondagens a ressoar na cabeça de todos os intervenientes, Luís Bernardo acredita mesmo que este duelo televisivo pode ser “de uma relevância quase trágica”.”

Outros textos que merecem uma referência:
  • Passos e Costa num frente-a-frente sem vencedor antecipado, da TSF, que foi ouvir Estrela Serrano, ex-jornalista que assessorou Mário Soares durante 10 anos, José Palmeira, professor de ciência política na Universidade do Minho, e André Azevedo Alves, professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica (e colunista do Observador).
  • Passos vs Costa: “Será um dos debates mais bem preparados dos últimos tempos”, um trabalho da Rádio Renascença baseado na análise do director do mestrado em Marketing do IPAM, Ricardo Mena.
  • Sócrates e austeridade: as fraquezas de Costa e de Passos, no Diário de Notícias, onde a preferência foi para ouvir figuras que já tiveram lugares de relevo na política (sendo que alguns têm ainda um pé na política), como Marcelo Rebelo de Sousa, António Capucho, Vitalino Canas e José Ribeiro e Castro.
  • As forças e fraquezas de Pedro Passos Coelho e António Costa, do Jornal de Negócios, que, seguindo uma abordagem mais típica da gestão empresarial, “pediu a dois analistas políticos que analisassem Passos Coelho e António Costa através de uma matriz SWOT (no acrónimo em português, FFOA - Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças)”. Esses analistas foram José Leite Viegas, que tratou de esmiuçar António Costa, e Jorge Fernandes, que se debruçou sobre Passos Coelho.

Mas há mais, pois além de se analisar o que poderá ser a prestação de cada um dos líderes no debate, também se escreveu sobre os temas que o podem, ou devem, marcar. Aqui faço dois destaques:
  • As perguntas de que eles vão fugir, um texto de Helena Pereira no Observador onde se colocam cinco questões para Passos Coelho e outras cinco para António Costa, precisamente aquelas de que mais têm fugido nestas semanas - e que mais dúvidas levantam. Há uma pergunta que é comum: o que farão se, ganhando, não tiverem a maioria absoluta que pedem aos eleitores?
  • Os 10 temas que devem marcar o debate desta noite, um levantamento feito pelo Diário Económico que inclui questões como: Quem vai garantir a estabilidade política? Como garantir a sustentabilidade da segurança social? Como se resolve o problema do desemprego? Quais são as propostas em matéria de impostos? Ou Qual o efeito das eleições gregas?

Mas para que não nos fiquemos apenas pelo debate, e pelas possíveis promessas que de lá possam sair, sobretudo para que continuemos a seguir esta campanha eleitoral com os pés bem assentes na terra, há um texto de João César das Neves no Diário de Notícias que é de leitura mais do que recomendável: O que não nos dizem. E, no essencial, o que não nos dizem é que as coisas vão continuar difíceis:
A nossa economia está numa situação muito pouco conveniente para slogans políticos de qualquer lado. Não é o desastre que tantos pretendem nem o sucesso sólido alegado por outros; não tem perspectivas cor-de-rosa, negras, laranja ou vermelhas. Este não é tempo para alívios. Aquilo que nenhuma das forças eleitorais se atreve a dizer é que a única forma de evitar um novo período de austeridade brutal é continuar a austeridade nos próximos anos até a situação ser equilibrada. Isso traduz-se no facto evidente de uma força que apresenta diagnósticos realistas de a conjuntura ser aquela que todos os partidos concorrentes, sem excepção, repudiam fortemente, o FMI. Que, aliás, será a instituição que o futuro governo, qualquer que seja, deverá seguir, embora não o diga.

Com a esperança de ainda ter sido de alguma utilidade para o ajudar a assistir ao debate (também por isso este Macroscópio foi enviado mais cedo do que o habitual), despeço-me por hoje. O início da noite, como já referi, é das televisões. Mas no pós-debate, noite adentro, pode voltar ao Observador, onde um painel alargado de oito analistas dará o seu primeiro veredicto.

Nessa altura talvez já alguém possa dizer, mais feliz ou mais infeliz: Alea iacta est (A sorte está lançada).

 
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ANTÓNIO FONSECA

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