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Por Valdemar Cruz
Jornalista
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9 de Setembro de 2015 |
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Grécia, meu amor
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Hoje
temos muita Grécia, mas já lá iremos, porque não posso deixar de
recordar o meu último Expresso Curto. Foi tirado há um mês e dois dias.
Nessa mesma sexta-feira, dia 7 de agosto, fui de férias. Escolhi então,
para destaque, o drama dos refugiados. Regresso e o
tema, longe de estar amenizado, ganhou novas proporções numa Europa
demasiado tempo titubeante e incapaz de encontrar uma resposta global e
inequivocamente solidária. Só no passado fim de semana, mais de 10 mil
emigrantes e refugiados entraram na Europa através da Hungria. Várias
organizações humanitárias e ativistas de direitos humanos estão já a
avisar que o movimento não vai abrandar tão cedo. Para lá das guerras,
do terror e da pobreza no Médio Oriente, há um fator adicional, ao qual
não tem sido prestada grande atenção, e que, diz a Time ao citar vários
cientistas, poderá tornar tudo ainda pior: as mudanças climáticas. Entre 2006 e 2001, largas regiões da Síria, por exemplo, sofreram uma seca extrema, exacerbada pelas mudanças do clima.
As consequências estão à vista, com aumento da pobreza e migrações para
áreas urbanas. É um dado novo que foge do óbvio e terá de ser colocado
em qualquer equação que pretenda encontrar uma solução para este drama
humanitário. Por cá, falamos de debates, mas não temos debates. A afirmação é arriscada, eu sei. Tanto mais que hoje António Costa terá como opositor Passos Coelho num frente a frente transmitido em simultâneo pelos três canais de televisão.
O problema é ficar por aí o que pode ser acompanhado em em sinal
aberto. Ao remeterem todos os outros debates para os canais por cabo, as
televisões retiram a milhões de portugueses a oportunidade de avaliar,
em confronto direto, as propostas dos diferentes partidos. Há um
afunilamento democrático bem patente num trabalho publicado há dias pelo
Expresso, no qual se constata que o debate no cabo tirou quase 800 mil espetadores ao BE e à CDU.
O texto refere-se ao frente a frente entre Catarina Martins e Jerónimo
de Sousa no passado dia 1, na RTP Informação. Uma recente entrevista ao
secretário-geral do PCP na TVI teve mais de um milhão de espetadores. O
debate com Catarina no cabo ficou-se pelos 115 mil espetadores.
Ontem voltou Catarina, agora na SIC Notícias e com Paulo Portas como
opositor. Quem ainda não tivesse percebido, ficou esclarecido em
definitivo. A Grécia e o modo como ali evoluiu a situação política,
transformou-se numa bênção para o Governo português. A
propósito ou a despropósito havia um fantasma a ser convocado: Grécia,
Grécia, Grécia, Grécia. As vezes que forem necessárias até não haver
dúvidas: a Grécia terá hoje, para a direita portuguesa, o mesmo valor
simbólico contido na propalada imagem dos comunistas a comerem
criancinhas ao pequeno almoço de outros tempos. Ou, numa variante
cinematográfica tão ao gosto de Portas, vai transformar-se no
equivalente a um "Vêm aí os Russos", de Norman Jewison, travestido agora em "Vem aí a Grécia", ontem aplicado ao BE, mas que não deixará de ser arremessado contra o PS ou o PCP.
Um dos momentos mais interessantes do debate, muito centrado por Portas
nas consequências de uma hipotética saída do euro, terá ocorrido a propósito das pensões,
tema para o qual o vice-primeiro ministro quase teve de ser arrastado.
BE e CDS apresentam abordagens diferentes, com Portas a tentar explicar
as vantagens do plafonamento tal como o concebe, e a
garantir que só se aplicará a novos contratos. Muito acutilante neste
tema, Catarina Martins não conseguiu evitar o desabafo que resumia muito
do ocorrido no frente a frente: "é complicado fazer um debate para o
futuro com alguém que não apresenta contas".
Quem as tem feito, e com regularidade, é o economista Eugénio Rosa. No
último dos seus estudos, publicado há dias, apresenta os dados todos
sobre uma previsível evolução das pensões à luz das propostas eleitorais
da coligação PSD/CDS e do PS para concluir que em ambos está previsto o congelamento das pensões como forma de reduzir o défice orçamental. É um tema delicado a seguir à lupa nos próximos tempos. OUTRAS NOTÍCIAS Miguel Macedo, o ex-ministro da administração interna foi constituído arguido
no caso dos vistos gold. Suspeito de prevaricação e de tráfico de
influência, Macedo, começara a ser ouvido na tarde de ontem. O
interrogatório foi interropido às 21h20 e continuará em data a anunciar. O desafio colocado pela Uber
está a transformar-se numa questão cada vez mais quente, com alguma
violência à mistura. A discussão está aí para durar, com os tribunais a pronunciarem-se e a aceitarem uma providência cautelar que proibe a aplicação de atuar em Portugal. Faz manchete no Público e é mais um passo em frente proporcionado pelo Papa Francisco. A nulidade dos casamentos católicos vai ser mais rápida e gratuíta. É a maior reforma dos últimos 300 anos e permitirá aos fiéis voltarem a casar pela igreja. Nuno Crato volta às primeiras páginas. O Díário de Notícias titula que o ministro "deixa milhares de alunos sem ensino musical". Segundo o jornal,cortes drásticos no financiamento. apanharam desprevenidas famílias dos alunos de 97 conservatórios privados. O Negócios destaca os custos com as PPP para assegurar que dispararam 30%. Pelas contas do jornal, até junho, estas parcerias custaram ao Estado 620 milhões de euros.
A Grécia, agora sem Portas, prossegue uma caminhada com sentido
indefinido. O Syriza corre sérios riscos de se tornar vítima das hesitações e contradições
de Tsipras. Ao contrário do habitual, os gregos estão a demonstrar
pouco interesse pelo debate político e parecem ter entrado numa fase de
desilusão que conduz à negação da política. Na revista francesa
"Marianne", um trabalho intitulado "Mau tempo (para toda) a esquerda", dá conta de como para muitos gregos "foi toda a esquerda que traiu", sem distinguir "entre a casta dirigente do Syriza,
os Lafazanistas e os outros". Panagiotis Lafazanis é o ex-ministro da
energia e do ambiente que saiu em rutura com Tsipras e criou um novo
partido de esquerda, a Unidade Popular. NÚMEROS 2,9 mil milhões de cristãos no mundo contra os atuais 2,7 mil milhões é o número previsto para 2050 pelo Pew Research Centre no seu estudo The Future of World Religions,
que revela um Ocidente cada vez menos crente num mundo marcado pela
explosão da fé, com mais 73% de muçulmanos, mais 35% de cristãos ou mais
31% de hindus 2,7 mil milhões de muçulmanos, face aos atuais 1,6 mil milhões para o mesmo período, o que significa que esta será a única grande religião a crescer mais rapidamente
que a população mundial como um todo.Isso fará com que, segundo as
previsões, em 2050 haja quase tantos muçulmanos como cristãos 1.2 mil milhões de arteus, agnósticos ou sem religião, por oposição aos atuais 1,1 mil milhões FRASES "A poupança de 600 milhões não será feita com cortes em pensões em pagamento". Paulo Portas na SIC Notícias "Este Governo destruiu a contratação coletiva. Todas as relações de trabalho ficaram mais precárias". Catarina Martins na SIC Notícias "O
problema da Grécia é um problema Grécia-Europa, e por isso não se trata
de considerar o problema á luz da relação entre credores e devedores". Adriano Moreira no DN "Os últimos cinco anos de políticas económicas da eurozona constituem uma notável comédia de enganos". Yanis Varoufakis no artigo "Democratizing the Eurozone" publicado em Social Europe O QUE ANDO A LER
Parte das férias foi ocupada com uma leitura eletrizante, no mínimo. As
histórias de espiões sempre me fascinaram, mas uma arrebata-me mais que
todas as outras. Quando se trata de Kim Philby,
nunca me canso de tentar entender o homem que ao longo de mais de
trinta anos conseguiu iludir os serviços secretos ingleses e americanos,
ao ponto de ter chegado a lugares de topo do MI6 e ter sido apontado como possível chefe máximo dos serviços secretos ingleses.
Philby era, porém, um agente duplo, ao serviço da União Soviética desde
1934, altura em que fora recrutado através da primeira das suas quatro
mulheres, uma austríaca militante do Partido Comunista. Ao escrever "A Spy Among Friends"
, Ben Macintyre proporciona uma aproximação de tipo diferente ao
percurso daquele que porventura terá sido o mais famoso e produtivo
espião do século XX, por cujas mãos passaram todos os grandes segredos
da diplomacia do chamado mundo ocidental, em particular durante a II
Guerra Mundial e no período pós -guerra. Também disponível em castelhano ("Un Espia entre amigos"),
o livro tem um arranque poderoso. Em janeiro de 1963, dois ingleses de
meia-idade tomam chá na zona cristã de Beirute. O encontro, de alguma
forma antecipado e desejado por ambos, ia colocar um ponto final numa
sólida e aparentemente inexpugnável amizade de mais de 30 anos. Há muito
acossado e cada vez mais encurralado, Philby acede por fim a deixar-se
conduzir pelas perguntas do seu maior e mais íntimo amigo, também ele
espião do MI6, Nicholas Elliot, e confessa o que Elliot
sempre se recusara a admitir: estava há décadas ao serviço da URSS. É
uma narrativa carregada de tensão, atravessada pelas relações de amizade
construídas em universidades de elite entre vários dos protagonistas, o
que explicaria a cegueira que terá permitido a Kim Philby chegar onde
chegou, defende Macintyre. Naquele mesmo mês de janeiro de
1963, Philby desaparece de Beirute - várias teses sustentam que a sua
fuga foi estimulada e constituiu um alívio para as autoridades
britânicas, para quem seria politicamente insustentável aguentar com
possíveis e comprometedoras revelações durante o julgamento - e aparece
em Moscovo, onde faleceu, num hospital, a 11 de maio de 1988. Philby sempre manteve que atuou como atuou por pura convicção ideológica. Teve um funeral sumptuoso, com uma guarda de honra do KGB.
O serviço de correios soviético imprimiu um selo em sua honra, e em
2011 os serviços secretos russos inauguraram uma placa em que figuram
dois rostos de Philby a olharem-se de perfil. O The Guardian publicou uma extensa e bem docomentada crítica
a um livro que, quando terminei a leitura, me deixou perplexo face à
dúvida sobre se teria lido um romance de aventuras ou um sólido e bem
documentado ensaio histórico. A realidade é sempre mais espantosa que a
ficção. Se quiser manter-se no tema, procure a série de televisão "The Americans",
sobre um convencional casal norte-americano de classe média,
proprietário de uma agência de viagens, com dois filhos e a viver nos
arredores de Washington. Na verdade são dois membros do
KGB, de nacionalidade soviética, participantes de um programa especial
que os colocou muito novos nos EUA. Apesar de emitida pela FOX, é uma
série muito equilibrada na demonstração de que não há só bons de um lado
e só maus do outro. Há espiões a fazer o seu trabalho. Para completar, uma outra abordagem. "La Cia y la guerra fria cultural", da britânica Frances Saunders
é um volumoso ensaio onde se demonstra como a CIA gastou milhões de
dólares em programas destinados a afastar os intelectuais de qualquer
simpatia ideológica pelos ventos soprados da URSS, com o patrocínio de
exposições, organização de conferências, criação de revistas,
dinamização de movimentos na pintura, pagamentos diretos a escritores,
filósofos ou pintores e, até, o fomento de um lóbi para que não fosse
atribuído o Prémio Nobel a Pablo Neruda. Como estamos a viver
um tempo de fervilhante produção noticiosa, interna e externamente,
manteneha-se atento ao Expresso Online e ao fim da tarde não perca o
Expresso Diário. Amanhã de manhã terá um Expresso Curto seguramente com
outro sabor, tirado pelo sempre acutilante Pedro Santos Guerreiro.
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