Pronto, é oficial: a campanha eleitoral está mesmo na rua (mas há muito que por lá andava) e daqui até 4 de Outubro, excluindo essa bizarria que é o “dia de reflexão”, não se falará de outra coisa. O Macroscópio procurou por isso organizar o melhor possível o que pode encontrar na informação online para ir seguindo a campanha e ir procurando os esclarecimentos de que necessita. Vamos fazê-lo por partes.
Sondagens
Depois do interregno de Agosto, as sondagens repetem-se a um ritmo mais do que diário, desta feita com uma novidade: vamos ter três “tracking pool”, isto é, três sondagens diárias seguindo a metodologia de acrescentar todos os dias novos entrevistados e deixar cair os mais antigos. Duas já começaram – a da RTP/Universidade Católica e a do Correio da Manhã/Aximage – e uma outra começa hoje – a TVI/Público/Intercampus. Para além disso teremos o Expresso com a Eurosondagem e as suas projeções do número de deputados, que já alimentaram uma das polémicas do fim-de-semana.
Para seguir as sondagens e ir interpretando com a serenidade possível o seu significado é indispensável acompanhar o blogue de Pedro Magalhãos, Margens de Erro (ainda hoje, por exemplo, escreveu sobre “empates técnicos”, procurando também perceber o que se passou com as sondagens da Grécia).
Uma das bases de trabalho de trabalho de Pedro Magalhães é o site Popstar, onde podemos ver a evolução da média ponderada de todas as sondagens que vão sendo conhecidas. O Observador referenciou e sintetixou este trabalho hoje, em Afinal, o que nos dizem as sondagens?
Programas eleitorais
Imagino que a maioria dos leitores não se dê ao trabalho de ler os programas eleitorais dos partidos (que às vezes até parece que foram feitos para não serem lidos...).
Por isso, como já lhe referi há umas semanas, o Observador sistematizou propostas dos diferentes partidos, elaborando um Guia Eleitoral sobre o que cada partido defende. Esse trabalho está organizado em 16 temáticas, que pode ser acedidas de forma interactiva: Prioridades; Emprego; Contas Públicas; Impostos; Segurança Social; Função Pública; Educação; Investimento Público; Saúde; Empresas; Justiça; Família; Transportes; Europa; Emigração e Imigração; Ambiente.
O Público fez agora um trabalho na mesma linha, mas um pouco menos exaustivo. Chama-se Isso está no programa? e aborda as seguintes temáticas (10): Jovens, Desempregados, Empresários, Famílias, Contribuintes, Doentes, Reformados, Endividados, Funcionários Públicos e Precários.
Problemas do país
Destaque, de novo, para o Público e o Observador. O primeiro realizou um conjunto de reportagens a que chamou 12 ideias para Portugal. Já foram todas publicadas e baseiam-se em experiências de outros países que podem inspirar reformas em Portugal. Os temas vão da Reindustrialização ao Sucesso escolar, passando pelo Endividamento privado ou pelo Sistema Fiscal.
Já aqui no Observador iniciámos uma série que designámos por 15 Questões Eleitorais que tem vindo a ser publicada desde o início do mês de Setembro. Hoje falámos-lhe de Escolas. Temos de lhes dar mais autonomia?, antes interrogámo-nos sobre Fazer mais bebés. Os políticos podem ajudar-nos? Já tratámos temas como as privatizações, as pensões, o ser funcionário público, o SNS, a dívida pública e as possibilidades de crescimento dentro do euro.
Há naturalmente mais trabalhos (e alguns bons) publicados noutros órgãos de informação, mas sem uma estruturação tão exaustiva e tão organizada online.
Páginas especiais
A campanha eleitoral mereceu a criação de páginas especiais em vários sites de informação, páginas onde se agrega o essencial da informação da campanha, alguns blogues e textos de opinião e os trabalhos mais centrados nos problemas do país. Aqui ficam os respectivos links:
- Observador (destaque para o liveblog diário, onde se agrega, ao minuto, toda a informação, tal como para os factcheck e os Explique isso melhor)
- Expresso (o semanário da Impresa prefere ir publicando as notícias de campanha uma a uma)
- Público (o fio do dia surge numa zona chamada “diário de campanha”, mas organizado em artigos separados)
- RTP (com peças da RTP e sons da Antena 1)
- SIC (onde destaco a área de bastidores, com a hashtag #SICnaCampanha)
- TVI24 (aqui a novidade é um liveblog baseado em pequenos vídeos carregados via Instagram)
Referência ainda para um site que agrega informação de várias fontes: http://www.legislativas2015.pt/. Não tem produção própria nem trabalhos especiais, mas vai dando conta (um pouco incompleta, é certo) do que se passa. Cito-o por representar um esforço fora dos principais órgãos de informação.
Opinião
Por fim há opinião para todos os gostos, nuns casos envolvendo candidatos ou representantes dos partidos, noutros com base nos colunistas ou colaboradores habituais ou em convidados especiais. Pequeno apanhado dos últimos dias (começando aqui pela casa):
- Não deixa de ser Syriza quem quer, Rui Ramos, Observador: “O PS pode não querer ser o Syriza, mas ninguém deixa de ser o Syriza só porque quer. Todos os caminhos de António Costa vão dar a Atenas.”
- Costa pode ganhar mas merece perder, Alexandre Homem Cristo, Obervador: “O PS não percebeu a opção suicidária de negar a recuperação económica. Nem entendeu a importância de se afirmar como factor de estabilidade política. Até pode ganhar. Mas, só por isso, merece perder”.
- O Centeno tem razão. O PS terá coragem?, David Dinis, Observador: “Curiosamente, é quando batem mais no PS que eu acho que o PS tem mais razão. Melhor dizendo, quando Centeno tem mais razão. Mas terá o PS coragem para o dizer?”
- Notas sobre a campanha, João Marques de Almeida, Observador: “Depois de tantos sacrifícios e de tanto sofrimento, quando a situação começava a melhorar lentamente, os tempos podem voltar a piorar. Então os portugueses ainda vão ter saudades da actual maioria.”
- Abecedário de uma eleição, Sérgio Figueiredo, Diário de Notícias: “O candidato socialista está pronto para a corrida mas estará preparado para a vitória? Não domina a economia que é do que depende tudo o que anda a prometer. Só com um crescimento do PIB que o país não conhece há década e meia deixará de ser mais um primeiro-ministro a fazer o contrário do programa que o poderá eleger.”
- Um dia teremos saudade da troika, Alberto Gonçalves, Diário de Notícias: “A questão, insisto, não é condenar quem chamou ou apoiou a chegada da troika, mas quem a deixou partir. Sozinhos, ou soberanos de mão estendida, não vamos longe. E, com o PS mortinho por anular o pouco que a troika remendou, nem iremos perto.”
- Pobres de nós, Vasco Pulido Valente, Público: “Desde a I República que não aparecia um cacique da envergadura do dr. Costa na cena política portuguesa, pronto a meter o país no fundo por vaidade pessoal ou conveniências partidárias. Apareceu anteontem. Pobres de nós.”
- O que vai decidir as eleições é o Portugal que cada um vê. Mais nada, Pacheco Pereira, Público: “Não são os indecisos que vão formar opinião com os debates, são, quando muito, os abstencionistas por zanga, e zanga é a palavra exacta. Se o PS ou o PAF conseguirem mobilizar um número significativo destes abstencionistas zangados, desatam o nó do empate, mesmo que isso não seja suficiente para a existência de uma maioria absoluta.”
- Costa perde por não ser liberal, Martim Avillez Figueiredo, Expresso (para assinantes): “O desafio de António Costa não é desconhecer como se poupam mil milhões em contribuições sociais: o problema é que ele não acredita no programa dos seus economistas.”
- Guia da política banal, Henrique Monteiro, Expresso (assinantes): “A acreditar nos cartazes, todos os partidos podiam ser fações da velha União Nacional, o partido único que Salazar impôs ao país...”
- Quem vai decidir isto, Ricardo Costa, Expresso (assinantes): “Entre os 50% de 2011 e o que as sondagens hoje atribuem, há uma enorme massa a tentar convencer. São pessoas que castigaram violentamente o resgate, que são especialmente sensíveis a mensagens de segurança e que se habituaram à austeridade. Todo o discurso de Passos e Portas é dirigido a elas.”
- Malhanço, João Taborda da Gama, Rádio Renascença: “Na semana em que Catarina Martins ficou na moda, e o PS, irritado, falou da moda de malhar, a Coligação vai dando a face e agradecendo os tabefes. (…) O malhanço socialista adoça o sorriso cada vez mais angélico de Pedro e de Paulo, porque sabem bem que quanto mais o PS malhar na campanha, mais aumenta a probabilidade de, no dia 4, malhar nas urnas.”
- [Precisamos de] um choque de empreendedorismo!, Francisco Veloso, Jornal de Negócios: “Uma bandeira política centrada no consumo não me parece a melhor para fomentar as bases para este choque empreendedor que tanto necessitamos. Neste capítulo, é condição necessária ter o investimento e a competitividade como base. Mas é fundamental ir mais longe. Este investimento deverá ter as novas empresas e a promoção das condições para que estas sejam criadas e possam crescer como prioridade e bandeira política.”
- Votar ou não votar?, Joaquim Jorge, Diário Económico: “Não votar é tão legítimo como votar. Todavia o sistema está feito para que mesmo que só votem os cidadãos das listas, a família e os amigos são na mesma eleitos e têm legitimidade para cumprirem o seu mandato.”
E pronto. Haverá por certo mais novidades nos próximos dias, até porque nós próprios as estamos a preparar no Observador, para além de que deixei de fora algumas reportagens originais, assim como outras novas formas curiosas de abordar estas eleições – e de, por exemplo, ajudar os indecisos a decidirem.
Despeço-me por hoje, com votos de boas leituras e que não deixe toda a reflexão para o último sábado…
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ANTÓNIO FONSECA
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