Político de profissão e vocação, co-fundador do
Partido Socialista, a
19 de abril de
1973, Mário Soares iniciou na juventude o seu percurso político, integrando grupos de oposição ao
Estado Novo, primeiro como militante de base do
Partido Comunista Português e membro de outras estruturas ligadas ao
PCP, o
MUNAF e o
MUD, tendo sido cofundador do MUD Juvenil — e depois na oposição não comunista —
Resistência Republicana e Socialista, que funda com dissidentes do
PCP e através do qual entrará para o
Diretório Democrato-Social. Pela sua atividade oposicionista foi detido 12 vezes pela
PIDE — cumprindo cerca de três anos de cadeia (
Aljube,
Caxias e
Penitenciária) — e, posteriormente, deportado para
São Tomé[1]. Permaneceu nessa ilha até o governo de
Marcello Caetano lhe permitir o regresso a
Portugal, sendo, posteriormente às eleições de
1969 — nas quais Soares foi cabeça-de-lista pela
CEUD em
Lisboa — forçado a abandonar o país, optando pelo exílio em
França[2].
No processo de transição democrática subsequente ao
25 de Abril de 1974Mário Soares afirmou-se como líder partidário no campo democrático, contra o
Partido Comunista, batendo-se pela realização de eleições. Foi ainda Ministro de alguns dos governos provisórios — Ministro dos Negócios Estrangeiros, logo no
I Governo Provisório, ficou associado ao processo de descolonização, defendendo de forma intransigente a independência e autodeterminação das províncias ultramarinas
[3].
Vencedor das primeiras eleições legislativas realizadas em democracia, foi Primeiro-Ministro dos dois primeiros governos constitucionais, o
I e
IIgovernos constitucionais, este último de coligação com o
CDS. A sua governação foi marcada pela instabilidade democrática — nomeadamente, pela tensão entre o
Governo e o
Presidente da República -
Conselho da Revolução — pela crise financeira e pela necessidade de fazer face à paralisação da economia ocorrida após o
25 de Abril, que levou o Governo a negociar um grande empréstimo com os
EUA. Ao mesmo tempo, foi um período em que o Governo, e Soares em particular, se empenhou em desenvolver contactos com outros líderes europeus, tendentes à adesão de
Portugal às
Comunidades Europeias.
Foi, de novo, Primeiro-Ministro do
IX governo, do chamado
Bloco Central, num período marcado por uma nova crise financeira e pela intervenção do
FMI em
Portugal.
Posteriormente, foi
Presidente da República durante dois mandatos, entre
1986 e
1996, vencendo de forma tangente, e à segunda volta, as eleições presidenciais de
1986, e com larga maioria as de
1991, em que contou não só com o apoio do
PS como do
PSD, de
Cavaco Silva. Sendo o primeiro civil a exercer o cargo de
Presidente da República, deixou patente um novo estilo presidencial, promovendo a proximidade com as populações e a projeção de
Portugal no estrangeiro; sendo marcado ao mesmo tempo pela tensão política com os governos de
Cavaco Silva e pelo polémico caso TDM (Teledifusão de Macau)
[4].
Quando nasceu, o pai e a mãe já tinham filhos de relações anteriores — Tertuliano, que já tinha 18 anos quando ele nasceu, filho de
João Lopes Soares e de outra mulher; e Cândido, de 17 anos, que era filho de Elisa Baptista mas de um casamento anterior
[6].
Em virtude das obrigações eclesiásticas de
João Soares, os pais só se casaram a
5 de setembro de
1934, já Mário Soares tinha quase 10 anos. O casamento fez-se na 7.ª conservatória do Registo Civil, em
Lisboa, dado que a situação do marido, antigo sacerdote, e da mulher, que era divorciada, impediam um casamento católico. No entanto, até ao fim da vida e apesar do contencioso com a
Santa Sé para que o desobrigasse do estatuto de clérigo,
João Lopes Soares manteria sempre a sua fé católica
[7].
Após terminar a licenciatura em Histórico-Filosóficas, não lhe sendo permitido seguir a carreira docente, nem no ensino público nem no particular, juntou-se aos pais na gerência do
Colégio Moderno, atividade em que seria depois sucedido pela sua mulher,
Maria de Jesus Barroso e, posteriormente, pela sua filha, Isabel Barroso Soares (
Lisboa,
9 de Janeiro de
1951), igualmente professora do colégio.
Em finais dos anos
1950 conseguiria finalmente obter licença para exercer a função de professor do ensino particular, licença essa que lhe foi concedida pelo Ministro
Francisco de Paula Leite Pinto[9].
“Sou republicano, socialista e laico.”
Mário Soares despertou para a política no seio familiar, de tradição republicana e oposicionista.
O pai,
João Lopes Soares, era republicano convicto e ocupou vários cargos depois da implantação da
República — foi governador civil da
Guarda,
Braga e
Santarém, e deputado à
Assembleia da Repúblicadurante dez anos, entre
1916 e
1926, ano em que triunfa o golpe militar que dá origem à ditadura. Antes, em
1919, tinha sido brevemente Ministro das Colónias
[14]. Em
agosto de
1930, tinha Soares cinco anos, o pai foi deportado para os
Açores[15].
Em
1949 foi secretário da Comissão Central da candidatura do general
Norton de Matos à Presidência da República. Obrigado pela direção do
PCP a confessar ao velho general (oposicionista ao
Estado Novo mas anticomunista), que estava a colaborar na Comissão Central da candidatura em representação dos comunistas
[17],
Norton de Matos quis afastá-lo totalmente de qualquer atividade na campanha. Por causa da interferência de
Mário de Azevedo Gomes, acabou por aceder a mantê-lo na estrutura, mas sem responsabilidades de facto
[18].
Em princípios dos anos
1950 Soares acaba por romper com o
MUD e em definitivo com o
PCP, por não se rever nem na linguagem, nem na metodologia. Mais tarde dirá que o
PC o tentara obrigar a passar à clandestinidade e que «
ficara imunizado»
[19]. A versão oficial dos comunistas é que Soares foi expulso por «
ter abdicado da luta»
[20].
Afastado do
PCP, Soares fundou em
1955 a
Resistência Republicana e Socialista, reunindo outros elementos vindos daquele partido (caso de
Fernando Piteira Santos, expulso do
PCP em
1949); da União Socialista (como Manuel Mendes, antigo militante do MUD Juvenil), Gustavo Soromenho, Ramos da Costa, José Ribeiro dos Santos,
Teófilo Carvalho Santos,
José Magalhães Godinho, entre outros
[21]. Foi em nome da Resistência Republicana e Socialista que Soares entrou em
1956 para o
Directório Democrato-Social, a convite de
Armando Adão e Silva, juntando-se nessa estrutura a
António Sérgio,
Jaime Cortesão e
Azevedo Gomes[21].
Preso 12 vezes, cumprindo um total de cerca de três anos de cadeia, Mário Soares foi deportado sem julgamento para a
ilha de São Tomé, em
1968, após divulgar a um jornalista do
Sunday Telegraph um caso de prostituição que envolvia membros do Governo e homens de negócios próximos do regime de
Salazar, conhecido como
Ballet Rose. Esta deportação desperta a atenção da comunicação social internacional.
[25].
No período subsequente, acentua a sua oposição contra o socialismo totalitário que representava o comunismo e chega a ser acusado de denunciar comunistas à
PIDE[27].
Em
julho do mesmo ano Soares é chamado à
PIDE, onde lhe é feito um ultimato, para abandonar o país ou então será preso. É então que resolve partir para o exílio em
França[30].
A sua intervenção política em
França era realizada através da imprensa estrangeira e da captação de apoios internacionais
[32]. . Estando ainda nesse país, em
1972, foi à loja maçónica parisiense "Les Compagnons Ardents", da "
Grande Loge de France", pedir apoio para a luta política contra o
Estado Novo e ingressou na
maçonaria, segundo ele próprio
[33], optando depois por ficar "
adormecido"
[34].
Durante o período revolucionário que ficou conhecido como
PREC, em que se agudiza o conflito entre os comunistas e democratas não revolucionários, Soares afirma-se como o principal líder civil do campo democrático, tendo conduzido o
Partido Socialista à vitória nas eleições para a
Assembleia Constituinte de
1975.
Mário Soares com o então presidente brasileiro
José Sarney (à direita), em
1988
Foi ministro dos Negócios Estrangeiros, de Maio de 1974 a Março de 1975, e um dos impulsionadores da independência das
colónias portuguesas, tendo sido responsável por parte desse processo.
Presidente da República entre
1986 e
1996 (1.º mandato de 9 de Março de 1986 a 9 de Março de 1991; 2.º mandato de 9 de Março de 1991 a 9 de Março de 1996).
O percurso político de Mário Soares depois dos dez anos de
Presidência da Repúblicaforam orientados para a intervenção a nível internacional.
Essa derrota na corrida à presidência do
Parlamento Europeu acabou por retirar expetativa à ambição de Soares em desempenhar um cargo importante na política internacional.
Longe da política ativa, sem deixar de assumir como figura de maior referência do
PS, Soares surpreendeu o país ao aceitar, em
2005, um regresso à disputa pelo cargo de
Presidente da República. Foi assim, aos 81 anos, o segundo candidato anunciado — após
Jerónimo de Sousa, candidato apoiado pelo
PCP — o que seria um inédito terceiro mandato.
O motivo da sua entrada na corrida era nem mais nem menos do que impedir que
José Sócrates, então secretário-geral do
PStivesse de apoiar o candidato
Manuel Alegre, após algumas crispações deste histórico do
PS com as hostes do seu próprio partido — de resto, Alegre havia sido adversário de Sócrates nas eleições internas do PS em
2004, representando uma corrente ideológica completamente oposta à de
Sócrates.
Na eleição presidencial, realizada a
22 de Fevereiro de
2006, Soares obteve apenas o terceiro lugar, com 14% dos votos, ficando inclusive atrás da candidatura (que acabou por não ter apoio partidário) de
Manuel Alegre.
As eleições foram vencidas com maioria absoluta (e, portanto, à primeira volta) por
Aníbal Cavaco Silva.
Em 2007 foi nomeado presidente da Comissão de Liberdade Religiosa. Também presidia ao Júri do Prémio Félix Houphouët-Boigny, da
UNESCO, desde 2010, e era patrono do International Ocean Institute, desde 2009 e até à sua morte.
Com 89 anos foi eleito a personalidade do ano 2013 pela imprensa estrangeira, radicada em Portugal.
[41]
Em 25 de abril de 2016, recebeu a chave da cidade de Lisboa, do presidente da CML,
Fernando Medina, a mais alta distinção atribuída pelo município a personalidades com relevância nacional e internacional.
[42]
Faleceu às 15h28m de 7 de janeiro de 2017, aos 92 anos de idade, no Hospital da Cruz Vermelha, em
São Domingos de Benfica, Lisboa, onde estava internado, em coma profundo, desde 13 de dezembro de 2016, após um longo período de doença, que se agudizou após a morte da mulher,
Maria Barroso.
[43]
O Governo decretou 3 dias de luto nacional e um funeral de Estado.
26 de Janeiro de 1986
16 de Fevereiro de 1986
13 de Janeiro de 1991
- As Ideias Políticas e Sociais de Teófilo Braga, com prefácio de Vitorino Magalhães Godinho, Centro Bibliográfico, Lisboa, 1950.
- A Justificação Jurídica da Restauração e a Teoria da Origem Popular do Poder Político, Jornal do Foro, Lisboa, 1954.
- Escritos Políticos, 4 edições do Autor, Lisboa, 1969.
- Destruir o sistema, construir uma nova vida – relatório do Secretário Geral do PS aprovado no Congresso de Maio de 1973, Roma, 1973.
- Portugal Amordaçado, Lisboa, 1974; tradução francesa condensada (Le Portugal bailloné) publicada em Paris pela Calman-Levy em 1972; e depois traduzida em inglês com o título Portugal’s struggle for Liberty, em 1973; em alemão, 1973; em espanhol, com um prólogo de Raul Morodo, em 1974; na Venezuela em 1973; em grego, em 1974; e em chinês, em 1993.
- Caminho Difícil: do salazarismo ao caetanismo, Rio de Janeiro, 1973
- Escritos do Exílio, Livraria Bertrand, Lisboa, 1975
- Democratização e Descolonização, publicações D. Quixote, Lisboa, 1975
- Portugal: quelle révolution? Entretiens avec Dominique Pouchin, Calman-Lévy, Paris, 1976; traduzido em português em 1976 ; em alemão, 1976; em italiano, 1976 e em espanhol, Caracas, 1976.
- PS, fronteira da Liberdade – do Gonçalvismo às eleições intercalares, prefácio e selecção de Alfredo Barroso, Lisboa, 1974
- Entre Militantes PS (1975)
- Escritos do Exílio (1975)
- A Europa Connosco (1976)
- Crise e Clarificação (1977)
- O Futuro Será o Socialismo Democrático (1979)
- A árvore e a floresta , Lisboa, 1985
- Intervenções, dez volumes: textos do Presidente da República, Março de 1986 a Março de 1996, Lisboa, Imprensa Nacional.
- Mário Soares e Fernando Henrique Cardoso: o mundo em português - um diálogo, publicado em Lisboa e em São Paulo em 1998 e traduzido em espanhol, México, e em romeno, 2000.
- Português e Europeu , Círculo de Leitores, Temas e Debates, Lisboa 2000
- Porto Alegre e Nova Iorque: um mundo dividido?, Lisboa, 2002
- Mémoire Vivante - Mário Soares - Entretien, Flammarion, 2002
- Mário Soares - Memória Viva, com prefácio e anexos inéditos exclusivos para a edição portuguesa, Edições Quasi, Janeiro 2003
- Incursões Literárias, Temas e Debates, 2003
- Um Mundo Inquietante, Temas e Debates, 2003
- Um Mundo Inquietante, Círculo de Leitores, 2003
- Mário Soares e Sérgio Sousa Pinto - Diálogo de Gerações , Temas e Debates, 2004
- Poemas da Minha Vida, Público, 2004
- A Crise. E agora?, Temas e Debates, 2005
- Mário Soares: Um Político Assume-se: Ensaio Autobiográfico, Político e Ideológico. Lisboa: Temas e Debates, 2011. ISBN 978-989-644-146-3
- Victor Cunha Rego e Friedhelm Merz, Liberdade para Portugal Com a colaboração de Mário Soares, Willy Brandt e Bruno Kreisky, Livraria Bertrand, 1976. Edição original alemã: Freiheit für den Sieger, Zurique, 1976
- Soares: Portugal e a Liberdade, depoimentos diversos, Morais Editores, 1984
- Hans Janitschek, Mário Soares, with a foreword by Edward Kennedy – Weidenfeld and Nicolson, London, 1985
- Teresa de Sousa, Mário Soares, Nova Cultural, 1988
- Maria Fernanda Rollo e J. M. Brandão de Brito, Mário Soares - uma fotobiografia, Bertrand Editora, 1995
- Maria João Avilez, Soares, 3 volumes: I: Ditadura e Revolução; II: Democracia; III: O Presidente, Círculo de Leitores, 1996
- Entrevistas com Mário Bettencourt Resendes: I-Moderador e Árbitro, 1995, II-Dois anos depois, 1998, III-A Incerteza dos Tempos, 2003, Editorial Notícias.
Referências