Tempo está a esgotar-se na Cidade do Cabo. Maputo segue-lhe os ponteiros
Na capital sul africana ninguém pode gastar mais do 50 litros de água por dia. Os banhos, no máximo, podem durar um minuto e meio. Não há água nos supermercados. E, atenção, o Dia Zero, o dia em que 75% da população deixará de ter água em casa, ainda não chegou. Mas está perto. Já Moçambique, vive uma situação parecida com a diferença de sofrer cheias que têm destruído as suas cidades, o que não resolve o problema, antes pelo contrário. Já pensou como seria a sua vida sem este bem essencial?
© Reuters
MUNDO DIA ZERO
Ficar sem água é, talvez, um dos piores pesadelos do ser humano. Embora nos possa parecer uma hipótese remota e longínqua há quem já esteja a sofrer com a falta deste bem essencial.
Imagine abrir a torneira e a água não correr. Imagine ir ao supermercado e raramente existirem garrafas e garrafões à venda. Imagine ter o seu banho diário reduzido a, no máximo, um minuto e meio. Isto é, exatamente, o que está a acontecer na Cidade do Cabo, África do Sul.
Neste momento, vive-se com a água contada na capital sul-africana, mas poderá mesmo vir a viver-se de todo sem água, que passou de um bem que damos como garantindo a ser visto como ouro.
O consumo de água é controlado ao segundo desde que as barragens (de onde é proveniente 99% da água que abastece a cidade) estão a secar. É mesmo a pior seca do último século.
Quanto mais se aproxima o Dia Zero, menos água existe nas barragens que abastecem a Cidade do Cabo© Reuters
A solução? O Dia Zero. O dia em que a água deixará de correr nas torneiras de 75% da área urbana da Cidade do Cabo. A população vive aterrorizada com a aproximação deste dia que mudará para sempre a história da humanidade. Este medo, no entanto, já permitiu que o Dia Zero fosse adiado por mais do que uma vez. Inicialmente, esteve marcado para dia 16 de abril, foi reagendado para dia 11 de maio e, agora, está marcado para 4 de junho. Os quatro milhões de cidadãos da Cidade do Cabo contribuíram fortemente para este adiamento. Já ninguém rega o jardim ou enche a piscina. Lavar a loiça também é algo que está a ser evitado. Assim como tudo o que envolva o gasto de água. Hoje ninguém pode gastar mais de 50 litros por dia, menos 37 do que no ano anterior, frisa o The New York Times. Se o fizer, pode preparar-se para pagar uma multa.
A Cidade do Cabo diminuiu o consumo de água de 523 milhões de litros diários para cerca de 139 milhões, indica o jornal nova-iorquino que revela ainda que a cidade continua 16% abaixo do seu objetivo de 450 milhões de litros.
A solução pode parecer-lhe óbvia, correr até ao supermercado e comprar o máximo de agua engarrafada possível. O problema é que até nas prateleiras de supermercado esta é a pior 'seca' de sempre, mesmo depois do preço deste, agora, luxuoso bem, ter duplicado. Os garrafões desaparecem cinco minutos, ou nem tanto, após serem colocados à venda. Recorrer a fontes públicas pode também ser uma boa solução? Sim, mas prepare-se para filas sem fim.
Ainda assim, o Dia Zero, que já foi uma certeza, deixou de o ser graças ao racionamento e esforço da população. Contudo, para já, 4 de junho será o dia em que as torneiras deixarão de ter utilidade.
Moçambique luta contra a falta de água... mesmo fustigado pelas cheias
Engana-se quem pensa que tal drama só é vivido na África do Sul. Em Moçambique, mais concretamente, em Maputo, Matola e Vila de Boane, a falta de água também se faz sentir.
Estas três cidades do sul do país enfrentam fortes restrições no fornecimento de água potável. O problema é, basicamente, o mesmo. Secas. A barragem dos Pequenos Limbombos, que fornece a região, está com níveis baixos de armazenamento de água. Foi, por isso, decretado alerta laranja para a bacia hidrográfica do Umbéluzi, com as restrições do fornecimento a serem agravadas de 20 a 40%. Segundo dados apresentados pelo o jornal angolano O Pais, que tem em Maputo uma correspondente, em outubro de 2014 a barragem tinha 81% de armazenamento. Hoje, os níveis de água não passam dos 20%, um problema que afeta diretamente 1 milhão e 300 mil pessoas.
Ao contrário do que está acontecer na África do Sul, Moçambique parece ter uma solução que pode resolver, pelo menos a curto-médio prazo, o problema. Está a ser construída uma conduta de 95 quilómetros com o objetivo de ir buscar água à barragem de Corumana, fortalecendo assim o fornecimento de água nas cidades mais afetadas. Esta obra será concluida, segundo o mesmo jornal, até dezembro de 2018 e custará cerca de 140 milhões de euros financiados pelo Banco Mundial. Até lá, é rezar que chova… nos sítios certos.
Moçambique luta contra a falta de água, mas, curiosamente, sofre regularmente com cheias. Cheias, essas que não têm ajudado porque têm acontecido nos centros urbanos, em vez de nas províncias onde se situam as barragens e albufeiras que abastecem as cidades que as circundam.
Embora tenha pouca água potável, Moçambique está a braços com várias cheias© Notícias ao Minuto
Estas cheias, como apurou o Notícias ao Minuto, que lhe mostra fotos exclusivas, só têm contribuído para a destruição do espaço envolvente.
Os centros urbanos têm sido os princípais afetados pelas chuvas e pela consequente destruição© Notícias ao Minuto
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