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Por Pedro Santos Guerreiro
Diretor
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26 de Setembro de 2016 |
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Cem milhões de pessoas (e nós também)
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Bom dia! Tem a ver connosco porque tem a ver com o mundo e o mundo pode mudar depois destas eleições em novembro. Os Estados Unidos
têm instituições tão fortes que nenhum presidente mau consegue ser tão
mau e nenhum presidente bom consegue ser tão bom como seriam se
deixassem um ou outro fazer tudo o que querem. Esta tese é defendida no
livro “Porque Falham as Nações” (Daron Acemoglu e James A. Robinson,
2012) e poderíamos pensar no que desejaram contra o que fizeram George
W. Bush e Barack Obama. Ou no que desejam contra o que farão Donald Trump ou Hillary Clinton.
Depois de meses de uma campanha como nunca houve, o duelo entre o
republicano e a democrata tem esta noite (quando já fo madrugada de
terça feira em Portugal) o primeiro debate televisivo. 90 minutos sem intervalos para publicidade, para uma audiência estimada em 100 milhões de espectadores. Será “uma batalha olímpica de inteligências”, prenuncia a CNN,
num título que tememos estar errado. Porque pode ser nada olímpico o
espírito do que vai acontecer. Trump não joga as regras da verdade, como
tem sido analisado em diversos órgãos de informação (como a The Economist) e, espantosamente, isso não o tem penalizado. Neste momento, a maioria das sondagens ainda é favorável a Hillary mas a margem é cada vez mais curta. “Donald Trump é um homem que vive na intolerância, arrogância e falsas promessas”, escreve o New York Times,
que apoia Hillary. Ele lidera uma "campanha em roda livre marcada por
rajadas de alegações falsas e ultrajantes, insultos pessoais,
nacionalismo xenófobo, sexismo sem remorso e posições que mudam de
acordo com o seu público e seus caprichos”. Como se debate
contra um homem assim e que, sendo assim, arrebanha popularidade
crescente? É Trump demasiado bom em ser demasiado mau? É Hillary
insuficientemente boa em ser suficientemente boa? Ou estão muitos órgãos
de informação a favor dela apenas porque estão contra ele? Ou estamos
todos enganados no medo dele, que começou por ser desdém e passou a
incredulidade? “Trump conseguiu chegar aos homens comuns, em guerra com as elites, que os abandonaram”, analisa Jaime Nogueira Pinto no Diário de Notícias.
“A política exterior de Hillary será uma política de continuidade, na
linha do internacionalismo liberal: business as usual (...). Mas terá
Trump uma política externa além das invectivas anti-islâmicas e
antilatinas? Será Trump apenas um retórico básico, que ameaça tudo e
todos com muros e fronteiras, que combate o livre comércio e proíbe os
muçulmanos de entrarem nos Estados Unidos?” Televisão é
retórica e este debate será mais facilmente uma selvajaria de ataques do
que um esclarecimento coletivo. Mas, no que toca a política externa,
temos interesse além de assistir ao “freak show”. O interesse de saber o
que defende o próximo Presidente dos Estados Unidos em relação ao Médio
Oriente, em relação à Rússia, em relação ao auto-denominado Estado
Islâmico, em relação à Europa, em relação ao que o super-potente país é e
pode ser no mundo de que somos parte. Estas eleições dizem-nos
respeito e esta campanha é muito mais importante do que um desfile
folclórico de um candidato que adora “show” contra uma candidata da
elite politica americana. Nenhum deles é inócuo. Um deles é
perigosamente imprevisível. A outra é desinspiradamente previsível. Se
Obama ganhou com o discurso de “Mudar”, o que quererão agora os
americanos “mudar”? É às duas da manhã em Portugal. Cem milhões a ver. E nós também.
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OUTRAS NOTÍCIAS É manchete de três diários hoje: a Uber será legalizada. O Público, o DN e o Negócios explicam como.
Os veículos desta rede não poderão ter mais de sete anos, terão dístico
obrigatório e um seguro igual aos dos táxis. É o que resulta da proposta de regulamentação preparada pelo governo,
que define este tipo de plataformas como fornecedores de serviços de
tecnologia e não como empresas de transportes. Estes operadores (além da
Uber, existe em Portugal também o Cabify) terão de ter sede e
representante em Portugal e, ao contrário dos táxis, não terão
benefícios fiscais. “É uma proposta que acaba com a concorrência desleal e defende muito os consumidores”, defende o ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes. O regime dos táxis não é alterado. “Porrada não vai faltar”, promete Florêncio Almeida, presidente da Antral, ao DN. Estes negócios na Internet são negócios no domínio dos algoritmos, explica Pedro Oliveira, na Exame Informática,
num excelente texto que dá bem conta de como as nossas pisadas deixam
pegadas, que levam a que nos mostrem publicidade e propostas de venda à
nossa medida, isto é, à medida de quem anuncia. Somos “os escravos dos
algorimos”: “O(s) da Google, que estão a acompanhar o que pesquisamos,
visitamos, para onde conduzimos, o que comemos, a música que ouvimos, os
vídeos que vemos; o(s) do Facebook, que estão de olhos bem abertos ao
que partilhamos naquela rede, no Instagram ou no WhatsApp. Estes são os
principais olheiros. Mas há outros. A Apple, a Microsoft, a Amazon…
tantos a tentar traçar padrões de comportamento e de consumo.” Outras manchetes do dia: - “Polícias processados por likes no Facebook contra comissária”, Jornal de Notícias. - “Oficial da GNR pago com sexo e vinho”, Correio da Manhã. - “Vou voltar a ser eletricista”, entrevista de Arménio Carlos, i. E nos desportivos: - “Júlio César avança para Nápoles”, Record. - “Tudo pela Champions”, A Bola. - “O FC Porto vai sentir-se grande em Leicester”, declarações José Mourinho, O Jogo. Se já houve o enorme aumento de impostos, agora há “o enorme tiro no pé”. Di-lo Marques Mendes na SIC, repetindo que o imposto sobre o património imobiliário está para este governo como o aumento da TSU esteve para o anterior.
Enfim, ao contrário do que aconteceu em 2012, não estamos a ver
centenas de milhares de pessoas a prepararem-se para se manifestar na
rua, mas Marques Mendes lá saberá o que diz: “foi um grande choque”;
“António Costa "vai ter desgaste politico, perder eleitores e
investidores". Não é pequeno o pessimismo de Marques Mendes. Sobre o levantamento do sigilo bancário para
saldos bancários acima de 50 mil euros, o comendador comentador
proclama: “Pode ser o criador de um problema sério, de uma fuga aos
depósitos que, em vez de estarem em Portugal, vão para fora do país. É
um risco de dar cabo da nossa banca.” A 20 dias da apresentação da proposta de Orçamento do Estado para 2017, o governo continua a fazer contas. Como o Expresso revelou no sábado, em cima da mesa está um cenário de défice orçamental de 1,8% a 2,2% no próximo ano. O que não haverá: uma reforma do sistema de pensões. A Comissão Europeia anunciou que sim, o ministro Vieira da Silva desmentiu
e disse que não. Mas também disse: vai reavaliar o fator de
sustentabilidade e as regras de reforma antecipada “que são atualmente
excessivamente penalizadoras para carreiras contributivas muito longas.
Por exemplo, uma reforma aos 60 anos com 45 anos de carreira
contributiva resulta numa penalização de 27% no valor final da pensão. As propinas pagas por estudantes do ensino superior aumentaram 65% numa década, revela o estudo “Estado da Educação 2015”, do Conselho Nacional de Educação. No Jornal de Notícias. Quatro em cada dez jovens mulheres esquecem-se de tomar a pílula, noticia o Público. Dylan Silva, um dos dois militares que morreram num exercício dos comandos, dissera aos pais que “murros e pontapés eram normais”, relatam os próprios ao Jornal de Notícias. Os vogais da ERC estão divididos quanto a despesas com viagens realizadas em 2015, que têm “justificação incipiente” e sobre as quais há “fortes dúvidas sobre a transparência”, conta o Negócios. 36 mil euros no total, em viagens à Alemanha, Cabo Verde, Croácia e Espanha. Os trabalhadores da Renault Cacia e a administração da fábrica de Aveiro assinaram um novo acordo de empresa, que prevê um investimento de 150 milhões que, segundo o JN, garante a sobrevivência da fábrica durante 15 a 20 anos. Será a quinta e última votação informal (antes, portanto, da decisão formal) sobre os candidatos à liderança da ONU. António Guterres ganhou as quatro anteriores mas, como explica o Diário de Notícias, o eslovaco Miroslav Lajcak e o sérvio Vuk Jeremic são os adversários mais sérios do português. A votação é hoje. Síria: “Durante quanto tempo mais vão permitir que tal crueldade continue?”, pergunta Ban Ki-moon,
o (ainda) secretário-geral das Nações Unidas. Os ataques dos últimos
dias provocaram pelo menos 150 mortos, em particular em Alepo, na zona
controlada pelos rebeldes, onde os bombardeamentos russos e sírios se intensificaram depois de mais um cessar-fogo desrespeitado. Mais de 100 pessoas foram mortas no aeroporto de Kananga, na República Democrática do Congo. Os confrontos ocorreram entre as forças de segurança e partidários de um chefe tribal morto em agosto. Em Espanha, as eleições regionais da Galiza e do País Basco deste domingo eram vistas como essenciais tendo em vista o desbloqueio da situação política no governo, que está num impasse, tiveram resultados sem grandes sobressaltos. Como analisa o El Pais, o PP “reafirma o seu domínio absoluto na Galiza e o seu candidato, Alberto Núnez Feijóo,
converte-se na figura mais relevante do futuro deste partido”. O
presidente do governo galego reforçou “o seu perfil de mais sólido
aspirante à sucessão de Mariano Rajoy”, escreve o correspondente do
Expresso, Angel Luis de la Calle. Já no País Basco, a vitória pertenceu como se esperava a Íñigo Urkullu, do Partido Nacionalista Basco. A Suíça vai dar poderes aos serviços secretos para vigiarem comunicações de cidadãos. A proposta teve aprovação em referendo de quase dois terços dos suíços. FRASES “Sócrates quer ser candidato a Presidente da República daqui a quatro anos”, Marques Mendes, na SIC. “O
PS comporta-se hoje como (…) aqueles tipos que passaram a vida enfiados
num fato e numa gravata e, chegados aos 40-50 anos, começam a vestir
t-shirts malucas e a comportarem-se como se fossem ‘bué jovens’.” Luciano Amaral, no Correio da Manhã, comentanto os aplausos de militantes do PS a declarações de Mariana Mortágua. “É
preciso garantir que os ex-presidentes da Comissão Europeia não
oferecem os seus serviços de lobistas a grandes bancos de investimento
dos EUA, como acaba de acontecer com José Manuel Durão Barroso e o
Goldman Sachs”. Wofgang Munchau, no DN. “Os portista precisam de paciência com o Nuno para voltarem a ganhar”, José Mourinho, n’O Jogo. "Dimensão do Benfica é igual à soma dos outros dois clubes". Domingos Soares de Oliveira, no Negócios. O QUE EU ANDO A LER “Levanta-te e caminha, hesitante palavra”. Assim começa “Boca Bilingue”, de 1966, que a Assírio & Alvim se prepara para reeditar. Estamos a falar de quem estamos a ler: Ruy Belo. E estamos a ler de quem vamos falar. O próximo sábado será o dia Ruy Belo no Folio, Festival Literário Internacional de Óbidos,
e eu estarei lá como moderador. Aí será lançada a nova edição de “Boca
Bilingue”, por Gastão Cruz, que lhe assina o prefácio. Haverá leitura de
poemas e uma leitura da poesia, por António Feijó. Será exibido o filme
documentário “Ruy Belo, era uma vez”, de Nuno Costa Santos e Fernando
Centeio, seguido de um debate com Teresa Belo. Será ainda exibido o
filme do casamento de Teresa e Ruy. O programa completo do Folio está aqui. É ir. Ou é ler. Ou é ler e ir. “O meu país é o que o mar não quer”. Ou então é ler o que anda a ler o Pedro Cordeiro, sobre eleições americanas: “Whistlestop”,
do jornalista John Dickerson, que relata “as minhas histórias
preferidas da história das campanhas presidenciais”. Depois do debate
deste noite, outras histórias poderá a história contar. Tenha um excelente dia!
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