Mais uma Crónica do "Dê Moníaco"
REFLEXÕES DE UM PORTUGUÊS NORMAL
- Das 14 comissões de inquérito levadas a cabo na Assembleia da República nos últimos dez anos, e bem assim dos processos-crime que delas nasceram, algum cidadão sabe o resultado? (Para além, claro, da descoberta de deputados e deputadas “autênticos génios”!)
- A Ministra das Finanças gaba-se de ter os cofres cheios com 24.000 milhões de euros. Diz que são “a almofada” para eventuais necessidades. Depois os portugueses souberam que esse dinheiro não vinha de poupanças mas de um empréstimo com juros de 480 milhões de euros por ano. E a pergunta é: porque não pedir o dinheiro somente se e quando fosse necessário? Sempre se evitariam os juros, não?
- Nos últimos anos houve, em Portugal, 136 magistrados investigados por crimes. Sete foram julgados. Dois foram condenados. Quantos destes magistrados concordarão com a ideia de termos os melhores investigadores do mundo?
- A agência Fitch anunciou que mantém Portugal no “lixo”. Passos Coelho veio, de imediato, dizer que era por haver eleições brevemente. A agência estará a admitir a hipótese de o Primeiro-Ministro vir a ser reeleito?
-A acta das últimas eleições para a direcção da Associação Sindical dos Juízes Portugueses mostra que, pelo menos, 18 magistrados tentaram votar duas vezes: presencialmente e por correspondência. A situação foi “detectada” e os votos invalidados pela comissão eleitoral que referiu não ter havido “má fé” mas apenas receio de que os votos por correspondência não chegassem a tempo. Pode ser que a culpa, em Portugal, vá deixar de ser do electricista e passar para o carteiro?
- Os Inspectores de Finanças deslocaram-se a um restaurante para cobrarem uma dívida de 92.000 euros. Como o dono não tinha aquele dinheiro à mão… penhoraram quatro bolos no valor de 30 cêntimos cada. Se os Inspectores tivessem ido pelas 13 horas optariam por penhorar duas doses de arroz à valenciana ou uma dose reforçada de favas com chouriço?
- Dizem que o genro de Cavaco Silva conseguiu o Pavilhão “Meo Arena” por ter casado com a filha do Presidente. A dúvida é: foi dote ou indemnização?
- A Igreja Universal do Reino de Deus colocou à venda escrituras de sociedade com Deus. Com a compra do papel, os fiéis terão direito a um terreno celestial. Não foi divulgado o valor do “terreno”, nem o preço das escrituras, mas a compra foi um sucesso entre os fiéis de mais de 70 igrejas da Universal. A questão: como é que será calculado o valor do IMI?
- Um homem de 46 anos foi condenado a pagar uma indemnização a um vereador da Câmara Municipal de Aveiro que, em 2011, tinha a seu cargo o Pelouro do Urbanismo. O vereador foi insultado por e-mail onde constavam palavras como "covarde" e corrupto". O Tribunal da Relação de Coimbra condenou o referido homem, por crime de injúria, a uma indemnização no valor de 2500€. O Juiz de Primeira Instância tinha-o condenado a uma indemnização de 4.000€. Consta que, no fim da leitura da Sentença, o juiz terá perguntado ao arguido se ele tinha mais alguma coisa a acrescentar e que o homem terá respondido: “Lá isso tinha, Meritíssimo. Mas por esse preço… nem pense nisso!”. Será verdade?
- O Senado francês rejeitou, recentemente, a punição dos clientes das prostitutas e restabelecer o delito de solicitação, contrariando uma proposta de lei socialista para reforçar a luta contra a prostituição. Fiquei feliz por saber que não é só em Portugal que os políticos protegem os familiares.
- Luís Montez ficou com o Pavilhão Meo Arena. Há quem garanta que o conseguiu por ter casado com a filha do Presidente Cavaco Silva. A dúvida é se terá sido um dote ou uma indemnização.
- A Procuradora-Geral da República reuniu a sua “task force” para debater o combate às “fugas de informação”. Deliberaram que tudo o que fosse dito entre aquelas quatro paredes passaria a ser absolutamente sigiloso. Será que os leitores do “Correio da Manhã”, que puderam ler esta deliberação, no dia seguinte, na primeira página do jornal, acreditaram que ela tinha viabilidade?
- O PSD anunciou que vai promover, "nos próximos dois meses", um debate sobre as bases do seu programa eleitoral, adiantando que tenciona comprometer-se com uma “redução faseada da carga fiscal”, através de um "contrato fiscal". Mas estão a fotocopiar o programa das últimas eleições? E vão repetir o discurso do não aumento dos impostos? Onde andará a miúda a quem o Passos Coelho pediu para garantir ao pai que não ia aumentar-lhe os impostos? Terá emigrado?
- Estas reflexões deixam-me arrasado. Vou ter de repousar uns dias num país um pouco mais evoluído do que este nosso “sítio”. Será que é necessário pedir “Visto” para ir até ao Burkina Faso?