domingo, 29 de novembro de 2020

PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO e COROA DO ADVENTO - 29 DE NOVEMBRO DE 2020

 


Advento

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
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Advento
Um acólito a acender velas do advento.
TipoCristão
DataQuarto ou (nos Ritos Ambrosianos e Mozarabicos) sexto domingo antes do Natal
SignificadoPreparação para a comemoração do nascimento de Jesus e expectativa para a Segunda vinda de Cristo
TradiçõesCompletar um calendário ou uma coroa do Advento, montar a árvore de Natal, troca de presentes
FrequênciaAnual
Relacionado(s)Quadra NatalíciaVéspera de NatalAnunciaçãoEpifania do SenhorNascimento de Jesus

Advento (do latim Adventus: "chegada", do verbo Advenire: "chegar a")[1] é o primeiro tempo do Ano litúrgico, o qual antecede o Natal. Para os cristãos, é um tempo de preparação e alegria, de expectativa, onde os fiéis, esperando o Nascimento de Jesus Cristo , vivem o arrependimento e promovem a fraternidade e a Paz. No calendário religioso este tempo corresponde às quatro semanas que antecedem o Natal.

Origem

Arcanjo Gabriel anuncia à Santa Maria que ela conceberá e dará luz a Jesus de NazaréFilho do Altíssimo. Arte sacra cristãPintura em madeira por Robert Campin, c. 1420-1440Bruxelas.
Ficheiro:HK Advents-Labyrinth 14122013 100sec.ogv
Cretan style Labirinto do advento feito com 2.500 tealights queimando-se no centro para a meditação cristã ea espiritualidade da diocese de Limburg na igreja da cruz santamente em Frankfurt am Main-Bornheim principal

A primeira referência ao "Tempo do Advento" é encontrada na Península Ibérica, quando no ano 380, o Sínodo de Saragoça prescreveu uma preparação de três semanas para a Epifania, data em que, antigamente, também se celebrava o Natal. Na Gália, Perpétuo, bispo de Tours, instituiu setenta semanas de preparação para o Natal e, em Roma, o Sacramentário Gelasiano cita o Advento no fim do século V.

Há relatos de que o Advento começou a ser observado entre os séculos IV e VII em vários lugares do mundo, como preparação para a festa do Natal.

No final do século IV, na Gália (atual França) e na Península Ibérica (atualmente Portugal e Espanha), tinha caráter ascético com jejum, abstinência e duração de 6 semanas como na Quaresma (quaresma de S. Martinho). Este caráter ascético para a preparação do Natal se devia à preparação dos catecumenos para o batismo na festa da Epifania.

Somente no final do século VII, em Roma, é acrescentado o aspecto escatológico do Advento, recordando a segunda vinda do Senhor, passando a ser celebrado durante 5 domingos.

Surgido na Igreja Católica, este tempo passou também para as igrejas reformadas, em particular a Anglicana, a LuteranaMetodista e a Batista dentre várias outras. A igreja Ortodoxa tem um período de quarenta dias de jejum como preparação para o Natal.

O tempo do advento e suas características

O tempo do Advento é para toda a Igreja, momento de forte mergulho na liturgia e na mística cristã. É tempo de espera e esperança, de estarmos atentos e vigilantes, preparando-nos alegremente para a vinda do Senhor, como uma noiva que se enfeita, se prepara para a chegada de seu noivo, seu amado.

O Advento começa exatamente quatro domingos antes do Natal e vai até as primeiras vésperas do Natal de Jesus.

Esse tempo possui duas características: Nas duas primeiras semanas, a nossa expectativa se volta para a segunda vinda definitiva e gloriosa de Jesus Cristo, Salvador e Senhor da história, no final dos tempos. As duas últimas semanas, dos dias 17 a 24 de Dezembro, visam em especial, a preparação para a celebração do Natal, a primeira vinda de Jesus entre nós. Por isto, o Tempo do Advento é um tempo de piedosa e alegre expectativa. Uma das expressões desta alegria é o canto das chamadas "Antífonas do Ó".

O início do advento é conhecido tradicionalmente como o dia "certo" para montar a árvore de natal.

Teologia do advento

O Advento recorda a dimensão histórica da salvação, evidencia a dimensão escatológica do mistério cristão e nos insere no caráter missionário da vinda de Cristo.

Ao serem aprofundados os textos litúrgicos desse tempo, constata-se na história da humanidade o mistério da vinda do Senhor, Jesus, que de fato se encarna e se torna presença salvífica na história, confirmando a promessa e a aliança feita ao povo de Israel. Deus que, ao se fazer carne, plenifica o tempo (Gl 4,4) e torna próximo o Reino (Mc 1,15).

O Advento recorda também o Deus da Revelação. Aquele que é, que era e que vem (Ap 1, 4-8), que está sempre realizando a salvação mas cuja consumação se cumprirá no "dia do Senhor", no final dos tempos.

O caráter missionário do Advento manifesta-se na Igreja pelo anúncio do Reino e a sua acolhida pelo coração do homem até a manifestação gloriosa de Cristo. As figuras de João Batista e Maria são exemplos concretos da vida missionária de cada cristão, quer preparando o caminho do Senhor, quer levando o Cristo ao irmão para o santificar. Não se pode esquecer que toda a humanidade e a criação vivem em clima de advento, de ansiosa espera da manifestação cada vez mais visível do Reino de Deus.

A celebração do Advento é, portanto, um meio precioso e indispensável para nos ensinar sobre o mistério da salvação e assim termos a Jesus como referência e fundamento, dispondo-nos a "perder" a vida em favor do anúncio e instalação do Reino.

Espiritualidade do advento

A liturgia do Advento nos impulsiona a reviver alguns dos valores essenciais cristãos, como a alegria expectante e vigilante, a esperança, a pobreza, a conversão. Deus é fiel a suas promessas: o Salvador virá; daí a alegre expectativa, que deve nesse tempo, não só ser lembrada, mas vivida, pois aquilo que se espera acontecerá com certeza. Portanto, não se está diante de algo irreal, fictício, passado, mas diante de uma realidade concreta e atual. A esperança da Igreja é a esperança de Israel já realizada em Cristo mas que só se consumará definitivamente na parusia (volta) do Senhor. Por isso, o brado da Igreja característico nesse tempo é "Marana tha"! Vem Senhor Jesus!

O tempo do Advento é tempo de esperança porque Cristo é a nossa esperança (I Tm 1, 1); esperança na renovação de todas as coisas, na libertação das nossas misérias, pecados, fraquezas, na vida eterna, esperança que nos forma na paciência diante das dificuldades e tribulações da vida, diante das perseguições, etc.

O Advento também é tempo propício à conversão. Sem um retorno de todo o ser a Cristo, não há como viver a alegria e a esperança na expectativa da Sua vinda. É necessário que "preparemos o caminho do Senhor" nas nossas próprias vidas, lutando incessantemente contra o pecado, através de uma maior disposição para a oração e mergulho na Palavra.

No Advento, precisamos nos questionar e aprofundar a vivência da pobreza. Não pobreza econômica, mas principalmente aquela que leva a confiar, se abandonar e depender inteiramente de Deus e não dos bens terrenos. Pobreza que tem n'Ele a única riqueza, a única esperança e que conduz à verdadeira humildade, mansidão e posse do Reino.

As figuras do advento

Isaías

Isaías é o profeta que, durante os tempos difíceis do exílio do povo eleito, levava a consolação e a esperança. Na segunda parte do seu livro, dos capítulos 40 - 55 (Livro da Consolação), anuncia a libertação, fala de um novo e glorioso êxodo e da criação de uma nova Jerusalém, reanimando assim os exilados.

As principais passagens deste livro são proclamadas durante o tempo do Advento num anúncio perene de esperança para os homens de todos os tempos. Ele que no capítulo 7 do seu livro já anuncia a vinda do Senhor

João Batista

É o último dos profetas e segundo o próprio Jesus, "mais que um profeta", "o maior entre os que nasceram de mulher", o mensageiro que veio diante d'Ele a fim de lhe preparar o caminho, anunciando a sua vinda (Lc 7, 26 - 28), pregando aos povos a conversão, pelo conhecimento da salvação e perdão dos pecados (Lc 1, 76s).

A figura de João Batista ao ser o precursor do Senhor e aponta como presença já estabelecida no meio do povo, encarna todo o espírito do Advento. Por isso ele ocupa um grande espaço na liturgia desse tempo, em especial no segundo e no terceiro domingo.

João Batista é o modelo dos que são consagrados a Deus e que, no mundo de hoje, são chamados a também ser profetas e profetisas do reino, vozes no deserto e caminho que sinaliza para o Senhor, permitindo, na própria vida, o crescimento de Jesus e a diminuição de si mesmo, levando, por sua vez os homens a despertar do torpor do pecado.

São José

São José com Jesus Cristo nos seus braços.

Nos textos bíblicos do Advento, se destaca São José, esposo da Virgem Maria, como o homem justo e humilde que aceita a missão de ser o pai adotivo de Jesus. Ao ser da descendência de Davi e pai legal de Jesus, José tem um lugar especial na encarnação, permitindo que se cumpra em Jesus o título messiânico de "Filho de Davi".

São José foi um homem justo por causa de sua fé, e assim se tornou modelo de fé dos que querem entrar em perfeito diálogo e comunhão com Deus.

A celebração do advento

O Advento deve ser celebrado com sobriedade e com discreta alegria. Não se canta o Glória, para que na festa do Natal, nos unamos aos anjos e entoemos este hino como algo novo, dando glória a Deus pela salvação que realiza no meio de nós. Pelo mesmo motivo, o diretório litúrgico da CNBB orienta que flores e instrumentos sejam usados com moderação, para que não seja antecipada a plena alegria do Natal de Jesus.

Os paramentos litúrgicos(casulaestoladalmáticapluvialcíngulo, etc) são de cor roxa, bem como o véu que recobre o ambão, a bolsa do corporal e o véu do cálice; como sinal de recolhimento e conversão em preparação para a festa do Natal. A única exceção é o terceiro domingo do Advento, Domingo Gaudete ou da Alegria, cuja cor tradicionalmente usada é a rósea, em substituição ao roxo, para revelar a alegria da vinda do Salvador que está bem próxima. Também os altares são ornados com rosas cor-de-rosa. O nome de Domingo Gaudete refere-se à primeira palavra do intróito deste dia, que é tirado da segunda leitura que diz: "Alegrai-vos sempre no Senhor. Repito, alegrai-vos, pois o Senhor está perto"(Fl 4, 4). Também é chamado "Domingo mediano", por marcar a metade do Tempo do Advento, tendo analogia com o quarto domingo do Tempo da Quaresma, chamado Laetare.

No dia do início do Advento são montados o Presépio, a Árvore de Natal e a Coroa do Advento. Tradicionalmente este é o dia correto para montagem do Presépio e da Árvore de Natal,[2][3] apesar de o dia de montar as decorações natalinas variar em alguns países.[4]

Símbolos do Advento

Vários símbolos do Advento nos ajudam a mergulhar no mistério da encarnação e a vivenciar melhor este tempo. Entre eles há a coroa ou grinalda do Advento. Ela é feita de galhos sempre verdes entrelaçados, formando um círculo, no qual são colocadas 4 grandes velas representando as 4 semanas do Advento. A coroa pode ser, colocada ao lado do altar ou em qualquer outro lugar visível. A cada domingo uma vela é acesa; no 1° domingo uma, no segundo duas e assim por diante até serem acesas as 4 velas no 4° domingo. A luz nascente indica a proximidade do Natal, quando Cristo Salvador e Luz do Mundo, brilhará para toda a humanidade, e representa também, nossa fé e nossa alegria pelo Deus que vem. A cor roxa das velas nos convida a purificar nossos corações em preparação para acolher o Cristo que vem. A vela de cor rosa, nos chama a alegria, pois o Senhor está próximo. Os detalhes dourados prefiguram a glória do Reino que virá.

A coroa de advento

Ver artigo principal: Coroa do Advento
A tradicional Coroa do Advento.
Coroa do Advento é decorada em função da devoção de cada pessoa.

A coroa está formada por uma grande quantidade de símbolos:

forma circular

círculo não tem princípio, nem fim. É sinal do amor de Deus que é eterno, sem princípio e nem fim, e também do nosso amor a Deus e ao próximo que nunca deve terminar. Além disso, o círculo dá uma ideia de “elo”, de união entre Deus e as pessoas, como uma grande “Aliança”.

As ramas verdes

Verde é a cor da esperança e da vida. Deus quer que esperemos a sua graça, o seu perdão misericordioso e a glória da vida eterna no final de nossa vida. Bênçãos que nos foram derramadas pelo Senhor Jesus, em sua primeira vinda entre nós, e que agora, com esperança renovada, aguardamos a sua consumação, na sua segunda e definitiva volta. O ramos dos pinheiros permanecem verdes apesar dos rigorosos invernos, assim como os cristãos devem manter fé e a esperança apesar das tribulações da vida.

A fita vermelha

A fita e o laço vermelho que envolvem a grinalda simbolizam o Amor de Deus ou o próprio Espírito Santo a embalar toda criação que é remida com a chegada de Jesus.

As bolas

As bolas simbolizam os frutos do Espírito Santo que brotam no coração de cada cristão.

As quatro velas

As quatro velas da coroa simbolizam, cada uma delas, uma das quatro semanas do Advento[5]. No início, vemos nossa coroa sem luz e sem brilho. Nos recorda a experiência de escuridão do pecado. A medida em que se vai aproximando o Natal, vamos ao passo das semanas do Advento, acendendo uma a uma as quatro velas representando assim a chegada, em meio de nós, do Senhor Jesus, luz do mundo, quem dissipa toda escuridão, trazendo aos nossos corações a reconciliação tão esperada. A primeira vela lembra o perdão concedido a Adão e Eva. A segunda simboliza a fé de Abraão e dos outros Patriarcas, a quem foi anunciada a Terra Prometida. A terceira lembra a alegria do rei Davi que recebeu de Deus a promessa de uma aliança eterna. A quarta recorda os Profetas que anunciaram a chegada do Salvador. O mais adequado é que todas as velas da coroa do Advento sejam roxas, com exceção de uma que pode ser rosa para lembrar o Domingo Gaudete.

Neste ponto, temos que fazer uma cuidadosa distinção: as velas roxas são usadas na coroa do Advento, mas não fazem parte das velas para celebração do Santo Sacrifício da Missa, uma vez que a coroa do Advento surgiu da piedade popular. O segundo ponto é que as velas para a celebração da Missa não seguem a cor usada pelo celebrante. Portanto, é errado usarmos velas verdes durante o tempo Comum, ou vermelhas no Domingo de Ramos. As velas, como nos orientam os documentos da Igreja, devem ser de cera amarela ou de parafina branca, independente da cor litúrgica do dia. Somente o sacerdote manifesta a cor litúrgica do dia. Outra razão para não serem usadas as velas coloridas é que todos os símbolos da liturgia devem ser naturais, assim como a água, o vinho e etc.

Referências

  1.  «Advento – Liturgia e espiritualidade». Franciscanos. Consultado em 22 de outubro de 2012. Arquivado do original em 3 de março de 2016
  2.  G1 (23 de novembro de 2008). «Dia certo para montar a árvore de Natal é 30 de novembro». Consultado em 14 de novembro de 2013
  3.  SuaPesquisa.com (12 de abril de 2012). «Árvore de Natal». Consultado em 14 de novembro de 2013
  4.  Velhos Amigos. «Quando Montar o Presépio e a Árvore?». Consultado em 14 de novembro de 2013. Arquivado do original em 10 de junho de 2012
  5.  «Tempo do Advento». Consultado em 22 de outubro de 2012. Arquivado do original em 17 de julho de 2012

Coroa do Advento

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A tradicional Coroa do Advento.

Coroa do Advento (ou guirlanda do Advento), é um objeto muitas vezes de forma circular coberta de ramos verdes (ou o chamado ''festão'') na qual se colocam quatro velas (verde no 1º domingo do advento, roxa no 2º domingo, vermelha no 3º domingo e branca no 4º domingo).

Exposta nas igrejas nas quatro semanas que precedem o santo Natal de Jesus, geralmente é posta próxima ao presépio ou do ambão, enfim, num lugar de destaque no templo. Simboliza a alegria da espera do Senhor que está para vir, o Advento de Jesus.

Descrição

A coroa de advento é feita com ramos verdes, geralmente envolvida por uma fita vermelha e nela 4 velas são afixadas. Ela simboliza a preparação das pessoas para receber o Natal.

O círculo da coroa: simboliza a nova aliança de Deus com a humanidade.

Os ramos verdes, da coroa do advento significam a esperança, essa mesma esperança que leva a perseverança, uma entrega total da vida a Deus.

A fita vermelha: representa o testemunho e o amor de Deus que nos envolve por completo, um amor forte e infinito.

As 4 velas: uma vela para cada domingo que antecede ao dia 25 de dezembro. As velas da coroa são acesas (a cada domingo mais uma), para iluminar a vigília do Advento, a preparação para vinda da Luz do Mundo, Jesus Cristo.

[1]

também

sábado, 28 de novembro de 2020

INIMIGO PÚBLICO - 27 DE NOVEMBRO DE 2020

 2020 13:13

  •  Você

Inimigo Público


OE: deputados do PCP abstêm-se porque estão ocupados a montar centenas de cadeiras para o congresso

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O PCP anunciou antecipadamente que vai abster-se na votação final do Orçamento de Estado para os deputados poderem faltar e ir aos magotes para o Pavilhão Paz e Amizade em Loures montar todas as centenas de cadeiras e dezenas de mesas com comes-e-bebes para receber os participantes do congresso do partido que começa já amanhã. […]

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Parlamento anula transferência de 476 milhões e sugere ao Novo Banco que os peça emprestados a Ricardo Salgado

Posted: 26 Nov 2020 02:27 PM PST

Não há cá pão para malucos: uma proposta do Bloco de Esquerda, na discussão do Orçamento do Estado, foi aprovada e anulou a transferência de 476 milhões de euros do Fundo de Resolução para o Novo Banco. “A nossa sugestão”, explicou Catarina Martins ao correspondente IP para o parlamentarismo, “é que o Sr. Ramalho que […]

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OBSERVADOR - DESPORTO - 28 DE NOVEMBRO DE 2020

 

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Observador

Desporto

Fotografia de Bruno Roseiro
Bruno Roseiro
Editor de Desporto
Sexta,27 Nov 2020
Foto da Newsletter

Olá Diego,

Nunca nos chegámos a conhecer pessoalmente. Vi-te jogar em Portugal, também estive naquele Mundial de 2010 na África do Sul em que já eras selecionador, mas nunca chegámos a falar. Tu, como poucos, és daqueles com quem todos gostávamos de falar – mas ninguém sabia ao certo o que dizer quando essa oportunidade divina chegasse. Pessoas como tu são assim, têm 1,65m e são enormes. Gigantes. Intimidam. Metem até medo. Depois, fintava-se a tímida vergonha de quem está perante um ser superior e percebia-se que eras um de nós. Nasceste com uma única missão de seres tu e foste tu em todas as missões durante 60 anos. Foi isso que fez de ti o mais imperfeito entre os perfeitos. O mais humano entre todos os não humanos. O maior entre todos os maiores. Essa coisa do quem é o melhor de sempre não é a tua praia – sempre soubeste isso, porque foste, és e serás único.

Se te pudesse oferecer alguma coisa, a primeira ideia que me passa pela cabeça é uma laranja. O mais fácil podia ser agarrar num papel e numa caneta e colocar-te à frente mas sei que se fosse tema livre desenhavas uma bola. Percebo, é a tua melhor amiga. E também ela vai ter uma relação contigo como com mais ninguém, onde quer que estejas. Com uma laranja, podias fazer tudo o que sempre fizeste. Podias começar a dar toques sem parar como naquele dia em 2015, na Coreia do Sul, em que ficaste tão espantado por só teres dado dois toques sem a deixar cair que a seguir foram mais de 20 consecutivos. Mas também podias espremer o sumo que quisesses como fizeste das defesas sempre que te faziam chegar a bola mesmo que estivesses de costas para a baliza. Ou podias apenas descascar e distribuir um bocado por todos os que estivessem à tua volta, como fizeste vezes sem conta. Se calhar eram histórias que não vendiam mas também foi por esses momentos que se fizeram jornais.

Vou contar aqui dois entre muitos exemplos. Em 1984, quando os napolitanos começavam a perceber os poderes divinos daquela camisola com o número 10 nas costas, um pai que tinha o filho doente e que não tinha dinheiro para pagar uma operação que era indispensável deslocou-se ao clube para ver a possibilidade de haver um jogo particular que arrecadasse fundos para a intervenção. O Nápoles, solidário com a situação, não aceitou essa possibilidade de organizar um encontro. Tu, quando soubeste o que se passava, vestiste o equipamento, calçaste as chuteiras e foste para um campo sem condições que se encheu por ti (e pela criança). Nesse dia, a lama foi o maior adversário mas mesmo assim voltaste a fazer um daqueles golos em que fintavas quatro ou cinco. Acabou, foste cumprimentar o pai e promotor da iniciativa e foste à tua vida. Nunca ligaste muito ao que diziam alíneas de contratos ou patrocinadores, como naquele dia em 1993 em que foste ao maior programa da TV argentina no regresso via Newell’s Old Boys com uma camisola comprada pela tua mulher numa pequena loja de roupa. Sem teres noção disso, tinhas feito a maior publicidade possível a um espaço que se transformou em 15 com mais de 40 funcionários por esse momento, mas quando quiseram oferecer-te roupa gratuita para retribuir não aceitaste por achares que não fazia sentido poderes pagar e levares de borla o que a ti pouco ou nada custava.

Sempre foste fiel ao que descreveste como um bairro privado de Buenos Aires, Villa Fiorito. “Um bairro privado de água, de luz e de telefone”. Porque até mesmo quando tinhas tudo sabias que cada momento, cada finta, cada assistência ou cada golo era quase o pão na mesa de quem não tinha nada. Foi isso que fizeste pela Argentina, foi isso que fizeste em Nápoles. Parecia o casamento mais improvável do futebol mundial, ficou como casamento de maior sucesso do futebol mundial. E, confessa, gostavas desses desafios. Ganhar com os melhores nunca foi para ti. Preferias ganhar como os melhores, a bater o pé aos melhores. Também isso fez de ti melhor, até porque em Itália houve um contexto social a servir de fundo para uma das mais encantadoras histórias no desporto.

Os excessos privaram-te de mais. “Se não fosse a cocaína, imaginem o jogador que tinha sido”. Eras tu próprio que o dizia. Que admitias. E esse esteve longe de ser o único excesso, ficou só como o pior de todos os excessos. Sabias que não o devias ter feito, assumiste culpa em algumas entrevistas, mas foste tu. Tu e sempre tu. Mesmo não gostando dessa parte, aceitaram-te na mesma porque eras assim e foi por isso que, depois das duas maiores suspensões por doping, fizeram de ti literalmente um Deus com a criação de uma Igreja com o teu nome. Até aqui foste único porque dentro da religião que é o futebol houve uma só para ti. Lá está, porque foste sempre tu.

Ganhaste o Mundial de 86 sozinho como nunca mais ninguém vai conseguir fazer numa prova destas contra o então provável domínio das formações europeias. Ganhaste dois Campeonatos e uma Taça UEFA inéditas na história do Nápoles contra o domínio dos clubes do norte. Ganhaste mais alguns troféus contra rivais regionais. Mas, no final, não ganhaste contra ninguém; ganhaste a favor de todos. Por todos. Para todos. E o maior título de todos foi seres capaz de, na hora em que todos procuravam um ombro para chorar o amigo que só conheciam da TV e dos jornais, juntares adeptos do Boca Juniores e do River Plate. Ou aqueles barras bravas tantas vezes ligados ao pior do futebol que pareciam miúdos perdidos em lágrimas na primeira das últimas homenagens que terás a partir deste 25 de novembro de 2020. Ganhaste tudo quando só pediste uma coisa: a bola.

Ainda te lembras daqueles aquecimentos no San Paolo (ou futuro Diego Armando Maradona) em que estavas na tua, sozinho, só a fazer malabarices com a bola perante pessoas que pagavam bilhete para essa parte antes do jogo? Foste a diferença entre ir ao estádio ver um espetáculo ou ir ao estádio fazer selfies do espetáculo. Ainda te lembras daquela jogada em que fintaste cinco ingleses no lance do século? Foste a diferença entre aquele futebol selvagem e este futebol mecanizado. Ainda te lembras daquelas conferências em que dizias o que tinhas a dizer seja contra quem fosse? Foste a diferença entre ser popular e ser populista. Ainda te lembras daqueles golos no Barcelona em que fazias chapéus aos guarda-redes ou punhas no chão mais um defesa quando podias apenas ter encostado para a baliza? Foste a diferença entre irreverência e insolência. Foste e és. E serás. Porque o futebol mudou, nunca mais será igual, mas está assente na tua figura, inspirado no que eras, a inspirares pelo que foste.

Sabes, lá em cima quando escolhi a laranja não foi por acaso. Faz-me lembrar Holanda, faz-me lembrar Cruyff. Olhando para toda a história do jogo, pensando na forma como soube interpretar o Futebol Total como jogador e criar o Dream Team como treinador, o 14 ficará para sempre como a figura que mais se destacou na evolução do futebol. Esse é e será também para sempre o seu espaço. Tu eras o futebol. Aquele futebol puro, de rua, daqueles a quem o Pai Natal podia trazer uma bola de trapos, de meias ou de papel com fita-cola que era a melhor prenda. Do nada, conseguiste tudo. Com o tempo, ganhaste espaço. Entre os defeitos, só se viam virtudes. Foste um génio sem querer e um ícone para todos os que te queriam. E querem. E quererão, porque génios como tu são eternos.

Diego Armando Maradona morreu esta quarta-feira, por volta das 12h na Argentina (mais três em Portugal), numa informação avançada pelo Clarín que rapidamente se alastrou ao mundotal como as reações à morte do astro aos 60 anos. O velório e o funeral realizaram-se esta quinta-feira, entre alguns excessos num dia de comoção onde até os maiores rivais se juntaram para chorar um ícone planetárioEl Pibe estava ansioso, angustiado e com um estado de saúde a fragilizar-se nos últimos dias. “Obrigado por ter jogado futebol. É o desporto que me deus mais alegria, mais liberdade, é como tocar o céu com as mãos. Obrigado à bola. Colocaria isso na minha lápide”, disse numa entrevista feita a ele próprio conhecida após a sua morte. “Se morrer quero voltar a nascer e voltar a ser futebolista. E quero voltar a ser Diego Armando Maradona. Sou um jogador que deu alegrias às pessoas e isso já me chega e sobra”, recordara numa outra conversa. E cá estaremos à espera, com a fé que o Deus mais imperfeito espalhou.

EU, A TV E UM COMANDO

29 de novembro

19h45Serie A: Nápoles-Roma
22h20Copa Maradona (Zona 4): Boca Juniors-Newell's Old Boys

30 de novembro

20h10Copa Maradona (Zona 5): Aldosivi-Argentinos Juniors

O JOGO EM PALAVRAS

PÓDIO

1

O velório de amor, lágrimas e excessos. Como Diego

Camisolas, bandeiras, tarjas, bonecos, pins. Tudo serviu para homenagear Diego num velório que acabou em confrontos no final. E até rivais de morte celebraram a vida de Maradona agarrados em lágrimas.

2

Crónica. Finta de Maradona, uma bola menos redonda

Há o fã que lamenta a morte; a alegria de quem viu os golos; ou a inveja de quem nunca pisou o mesmo estádio. Mas também há sempre a certeza de termos ficado todos sem compreender o homem.

3

O gesto humilde de Diego Maradona

Em 1984, Diego Maradona desrespeitou o Napóles e decidiu jogar numa partida de beneficência para ajudar uma criança doente nos subúrbios de Napóles. El Pibe marcou dois golos na partida.

O ESPECIAL

Fotografia
DIEGO MARADONA

A última morte de Diego Armando Maradona /premium

Como o deus-demónio absoluto (1960-2020) nos ensinou a respeitar e a admirar mais os imperfeitos do que os imaculados. A dobrar-nos com mais reverência perante o pecador do que o santo.

TERCEIRO TEMPO

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