Ana de Gonta Colaço
Ana de Gonta Colaço | |
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Nome completo | Ana Raymunda de Gonta Colaço |
Outros nomes | Aninhas |
Nascimento | 7 de novembro de 1903 Lisboa, Portugal |
Morte | 25 de dezembro de 1954 (51 anos) Lisboa, Portugal |
Nacionalidade | Portuguesa |
Ana de Gonta Colaço (Lisboa, 7 de novembro de 1903 - Lisboa, 25 de dezembro de 1954) foi uma escultora e artista plástica portuguesa. Era filha da poetisa e recitalista Branca de Gonta Colaço e do pintor e ceramista Jorge Rey Colaço, prima da actriz e encenadora Amélia Rey Colaço e da pintora e ilustradora Alice Rey Colaço, e neta pelo lado materno da poetisa inglesa Ann Charlotte Syder e do político e escritor português Tomás Ribeiro.
Biografia
Registada e baptizada como Ana Raymunda de Gonta Colaço, Ana de Gonta Colaço nasceu na manhã de 7 de novembro de 1903, em casa, na Rua de Santo António dos Capuchos, n°84, 2° andar, Lisboa, filha da poetisa Branca Gonta Colaço e do artista plástico Jorge Rey Colaço. Conhecida como Aninhas, era a terceira filha do casal, tendo nascido apenas um ano após o falecimento da sua irmã, ainda recém nascida. Este facto, levou a que a sua mãe registasse vigorosamente todos os feitos e proezas da sua tão desejada e amada filha, durante os seus primeiros anos de vida, no livro em forma de diário que escreveu, de 1904 até 1924, com o título "Aninhas".[1]
Criada no seio de uma das famílias mais ligadas à actividade intelectual da época em Portugal, a sua infância foi bastante privilegiada e enriquecida, sobretudo no que toca à sua educação, sendo ensinada e acompanhada em casa por diferentes tutores, especialistas em diversas matérias e disciplinas, desde línguas, literatura, música e até equitação, chegando mesmo a competir com a sua irmã mais nova, Maria Christina, em torneios nacionais. A sua infância ficou ainda marcada por várias mudanças de residência na zona de Lisboa e de Oeiras, e pela constante presença de figuras proeminentes da alta sociedade e do mundo artístico e cultural, assim como de elementos da família real portuguesa que visitavam a sua habitação, nomeadamente a Rainha D. Amélia, sendo conhecidos e relatados pelos vários periódicos de então os inúmeros saraus e jantares que Branca de Gonta Colaço organizava todos os Domingos em sua casa.[1]
Apenas em 1920, com 17 anos de idade, Ana de Gonta Colaço começou a desenvolver o seu talento nas artes visuais, nomeadamente no ramo da escultura, após ter experimentado e criado umas pequenas obras em casa, sendo fortemente inspirada pelo seu pai que lhe comprava barro da Fábrica de Sacavém. Visto que à época, a escultura no feminino raramente proporcionava independência financeira ou era considerada uma boa ocupação para uma mulher, foi graças ao apoio dos seus pais que Ana começou a ter aulas com os escultores Costa Motta, sobrinho, e José Isidoro Neto, e iniciou a sua carreira.[2] Durante esse mesmo período, Ana abraçou o feminismo, passando a usar o cabelo curto, à la garçonne, e a vestir-se com fatos de corte masculino e gravata, assumindo-se ainda publicamente como lésbica numa sociedade ainda muito conservadora.
No dia 5 de abril de 1923, Ana de Gonta Colaço exibiu a sua primeira obra de nome "Onda", uma estátua de dimensões pequenas, em gesso, que ilustra um nu feminino deitado sobre a espuma duma onda, em estilo naturalista, com influências de Rodin e Camille Claudel, na XX Exposição da Sociedade Nacional das Belas Artes, em Lisboa, recebendo uma Menção Honrosa. A imprensa registou o momento, divergindo drasticamente na sua opinião, ora elogiando o potencial da jovem artista, ora atacando a sua condição de mulher e artista.
Um ano depois, em 1924, Ana de Gonta Colaço realizou a sua primeira exposição a solo no Salão Bobone, em Lisboa, e apesar das duras críticas que recebeu em vários artigos escritos, tais como do jornalista Norberto de Araújo, do Diário de Lisboa, que referiu que "A escultura não pode ser nunca a arte de uma mulher.", a inauguração da exposição esteve repleta de várias personalidades do mundo das artes, cultura, política e até do activismo feminista português, como os pintores Jorge Barradas, Eduarda Lapa, Roque Gameiro, a artista plástica Milly Possoz e o escultor António Teixeira Lopes, as escritoras e poetisas Virgínia Vitorino, Olga Morais Sarmento e Oliva Guerra, ou ainda a actriz e sua prima Amélia Rey Colaço.
Em 1929, tal como o seu pai fizera, Aninhas, nome pelo qual também assinava os seus trabalhos, partiu para Paris e ingressou na Academia Julian, após visitar várias escolas de artes, tornando-se pupila de Paul Landowski e de Alfred-Alphonse Bottiau.
Sete meses depois, foi admitida a exibir no Salon d'Automne, com a sua obra "Pele Vermelha", a qual marcava uma nova estética no seu trabalho, deixando para trás o Naturalismo e rumando em direcção ao Modernismo.
Durante a década de 30, Ana permaneceu intermitentemente entre Paris, Lisboa e Tânger, onde também tinha família, até 1938.
Durante uma das suas estadias em Portugal, em 1930, foi convidada a exibir na Exposição da Obra Feminina Antiga e Moderna, realizada nas instalações do jornal O Século, em Lisboa, pelo Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, e em 1932, criou o Salão dos Artistas Criadores, juntamente com a escultora Maria José Dias da Câmara e a pintora Maria Adelaide de Lima Cruz, com a qual mantinha uma relação amorosa e partilhava um atelier em Lisboa.[3]
Em 1939, de regresso a Lisboa, e após alguma polémica, por ter vindo a público a sua relação com a cantora Corina Freire, uma das suas obras, "Ouvindo o Sermão", foi recusada pelo júri da XXXVI Exposição de Pintura, Escultura, Arquitetura, Desenho e Gravura da Sociedade Nacional de Belas Artes. Quando entrevistada sobre o acontecimento, Ana respondeu "Em arte, o modernismo não existe em Portugal. Ninguém sabe o que isso é.". Mesmo assim, nesse mesmo ano, foi convidada por Cottinelli Telmo a participar na Exposição do Mundo Português, apresentando a sua obra "D. Jaime", um baixo relevo baseado numa personagem literária de Thomaz Ribeiro, seu avô, exposta no Jardim dos Poetas, em Belém, Lisboa.
Após a morte de sua mãe, em 1945, Ana de Gonta Colaço começou a apresentar sinais de saúde debil e fixou-se na Casa das Matinas em Parada de Gonta, Tondela, na Beira Alta, onde realizou as suas últimas obras e escreveu textos interventivos sobre a condição da mulher na sociedade portuguesa. A sua última obra, uma monumental escultura de Nossa Senhora da Assunção, foi uma encomenda pela paróquia de Aguiar da Beira, e apresentava uma notória influência do estilo do seu antigo professor Paul Landowski, inserido no movimento artístico do Modernismo.[4]
No total, Ana de Gonta Colaço realizou 36 obras, 13 retratos escultóricos (8 homens e 5 mulheres) e 23 esculturas de diferentes estilos e temáticas. Somente quando o seu reconhecimento no estrangeiro se tornou conhecido em Portugal, a imprensa mudou o seu discurso sobre a mulher artista, passando a elogiar o seu trabalho.[5]
Ana de Gonta Colaço faleceu no dia 25 de dezembro de 1954, em casa da sua irmã mais nova Maria Christina de Gonta Colaço de Aguiar, na Rua da Esperança, n°53, em Lisboa, com 51 anos de idade.
Lista de Referências
- ↑ Ana de Gonta Colaço: (1903-1954)
- ↑ «ANA DE GONTA COLAÇO». FABULÁSTICAS. 7 de janeiro de 2016
- ↑ Ferreira, Emília. «Maria Adelaide Lima Cruz». Unive