Língua gestual portuguesa
Língua Gestual Portuguesa | ||
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Utilizado em: | Portugal | |
Total de usuários: | 100 000[1] | |
Família: | ||
Códigos de língua | ||
ISO 639-1: | - | |
ISO 639-2: | sgn | |
ISO 639-3: | psr | |
Lista de Língua de Sinais |
Língua Gestual Portuguesa (LGP) é a língua gestual (no Brasil: língua de sinais) através da qual grande parte da comunidade surda, em Portugal, comunica entre si. É processada através de gestos sistematizados e a sua captação é visual. É usada pela comunidade surda, de cerca de 30 000 indivíduos[2], e também por toda a comunidade envolvente, como familiares de surdos, educadores, professores, técnicos, entre outros.[1]
Porque é uma língua[editar | editar código-fonte]
A expressão "língua gestual", ao invés de "linguagem gestual", refere-se à língua materna de uma comunidade de surdos. As línguas gestuais são línguas naturais, que surgem e se desenvolvem naturalmente, como as línguas orais. Esta língua é produzida por movimentos das mãos, do corpo e por expressões faciais e a sua recepção é visual. Tem um vocabulário e gramática próprios.
Uma língua é um sistema de comunicação específico e exclusivo do ser humano, sendo gerido por regras particulares. Assim como as línguas orais, a LGP possui as características das línguas naturais:
- é composta, maioritariamente por símbolos arbitrários;
- é um sistema linguístico;
- é partilhada por uma comunidade de pessoas que a utilizam como sua forma de expressão mais natural;
- possui propriedades como a criatividade e a recursividade;
- possui aspectos contrastivos;
- é um sistema em constante renovação e evolução: apresenta o fenómeno da dinâmica linguística.
Existe a crença de que língua gestual, é universal. Essa ideia é incorreta. Assim como as línguas orais, as línguas gestuais desenvolveram-se naturalmente, e assim sendo, cada comunidade possui a sua. Existem países com diversas línguas gestuais e em todo o mundo existem dezenas de línguas gestuais diferentes. Além disso, os surdos sentem as mesmas dificuldades que os ouvintes quando necessitam comunicar com outros que utilizam uma língua gestual diferente.[3] Assim sendo, cada país (e, por vezes, região dentro de um país, como acontece no Québec onde é usada a Língua Gestual Quebequiana ao invés da Língua Gestual Americana como no resto do país) terá a sua própria língua gestual. Por exemplo, no Brasil existe a Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS).
Para acrescentar, como qualquer língua oral, a LGP possui variantes dentro do seu próprio órgão (idioma), alterando, relativamente, de região para região e dependendo do grau de instrução e das profissões dos surdos, em cada uma das regiões. Existem, por isso, dialetos e regionalismos.[4]
História[editar | editar código-fonte]
No século XIX, o rei D. João VI chamou a Portugal Per Aron Borg, um sueco que tinha fundado no seu país um instituto para educação de surdos e logo em 1823 é criada a primeira escola portuguesa com essa valência. Assim embora o vocabulário da LGPortuguesa e da LGSueca seja diferente, o alfabeto das duas línguas revela a sua origem comum[5].
Nos termos da alínea h) do n.º 2 do artigo 74.º da Constituição da República Portuguesa, «na realização da política de ensino incumbe ao Estado (...) proteger e valorizar a língua gestual portuguesa, enquanto expressão cultural e instrumento de acesso à educação e da igualdade de oportunidades». Deste modo, desde 1997, a Língua Gestual Portuguesa passou a ser uma das línguas oficiais de Portugal, junto com a Língua Portuguesa e o Mirandês.
O Dia Nacional da Língua Gestual Portuguesa comemora-se a 15 de Novembro.[6] A comemoração deste dia foi originou-se dos esforços da Comissão Para o Reconhecimento e Protecção da Língua Gestual Portuguesa e Defesa dos Direitos Das Pessoas Surdas.
Aspetos linguísticos[editar | editar código-fonte]
Ao realizar a LGP, o gestuante terá uma 'mão dominante', cujo desempenho poderá diferir da 'mão não dominante'. Ao realizar o gesto, este deverá atender aos 5 parâmetros da LGP:
- Configuração das mãos;
- Local de articulação;
- Movimento das mãos;
- Orientação das mãos;
- Componente não manual (expressão e movimento corporal).
Ao ser alterado um destes parâmetros, usualmente, o gesto ou perde o sentido.
Na LGP, a marcação do género ocorre unicamente no caso dos seres animados e geralmente o mesmo só é marcado quando ocorre no feminino, recorrendo-se ao gesto MULHER, como prefixo.
A fim de se marcar o número, na LGP existem vários métodos: por repetição, por redobro (realização do gesto por ambas as mãos) ou por incorporação (recurso a um numeral ou determinativo).
Relativamente à ordem dos elementos na frase em LGP, esta usa uma estrutura específica, não acompanhando a mesma ordem das frases da língua portuguesa. Não existe consenso quanto a qual a ordem predominante: alguns linguistas afirmam que pode ser 'sujeito-objeto-verbo' (S-O-V),[1] outros que é 'objeto-sujeito-verbo' (O-S-V).[7] Nas frases interrogativas, recorre-se à expressão facial, combinada com o recurso a pronomes interrogativos, que ocorrem no final da frase. As frases negativas pode ser elaboradas de diversas maneiras, por exemplo, recorre-se à expressão corporal, especialmente o movimento da cabeça, ou executa-se o gesto NÃO ou ainda utilizando uma forma específica de verbo na forma negativa, como por exemplo NÃO QUERER.[1]
Na LGP não existe discurso indireto. As mudanças do discurso indireto para o direto fazem-se através da expressão corporal, mais especificamente, à deslocação do gestuante no espaço, transferindo para cada uma das posições, papeis diferentes.[4]
Referências
- ↑ ab c d BALTAZAR, Ana Bela - Dicionário de Língua Gestual Portuguesa. Porto Editora. 2010
- ↑ Associação Portuguesa de Surdos. «Comunidade surda em Portugal». Consultado em 11 de novembro de 2014.
- ↑ Para uma Gramática de Língua Gestual Portuguesa, pág. 54.
- ↑ ab MESQUITA e SILVA, Guia Prático de Língua Gestual Portuguesa, Editora Nova Educação, 2007, Braga - Portugal.
- ↑ O que todos devíamos saber sobre língua gestual (em dez pontos), Mariana Correia Pinto, Público, 14/11/2017, Fonte: Escola Virtual de Língua Gestual Portuguesa
- ↑ Educamais.com. «Dia Nacional da LGP». Consultado em 11 de novembro de 2014.
- ↑ AMARAL, Maria Augusta et al. Para uma Gramática de Língua Gestual Portuguesa (Colecção Universitária, série Linguística). Portugal, 1994. Editora Caminho. ISBN 972-21-0981-2.