terça-feira, 18 de setembro de 2018

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OBSERVADOR

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Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!

Inicialmente esta newsletter esteve para ser sobre algumas extraordinárias reações ao que se passou entre Serena Williams e o árbitro português Carlos Ramos na final do Open de Ténis dos Estados Unidos. Mas depois de o Observador ter procurado responder num especial à questão sobre se a Polémica com Serena poderá minar a luta feminista?, Luís Aguiar-Conraria tocou no nervo mais sensível dos debates em Culpado por ser português. Como ele escreveu chegou-se a um ponto em que “Não interessa o que se passou no court de ténis. Para saber que Carlos Ramos é culpado basta ter dois dados em conta: 1º, Serena Williams é uma mulher negra; 2º, Carlos Ramos é um português branco.”

Há na verdade todo um debate interessante sobre o sexismo no desporto e Martina Navratilova no New York Times – em What Serena Got Wrong – escreveu provavelmente o melhor artigo sobre o tema sem deixar de condenar o comportamento de Serena. O extraordinário foi o que se passou a seguir, como conta Conraria: “Sendo Navratilova uma das melhores tenistas de sempre, sendo mulher e tendo sido também vítima de sexismo, seria de esperar que tivesse uma grande autoridade para falar do assunto. Mas, como alguém lembrou na secção de comentários ao seu artigo, ela tem um problema. É branca. Como é branca não pode perceber as queixas de Serena. Mas logo alguém deu uma resposta à altura. É verdade que é branca, mas, em compensação, é homossexual.”

Ou seja: o que se defende não vale pela inteligência do argumento, mas pela cor da pela, pelo sexo ou mesmo pela nacionalidade de quem o defende – e isso condenou inexoravelmente Carlos Ramos aos olhos de colunistas/académicas/activistas citadas nesse artigo, como Crystal Fleming que, no Twitter, defendeu, por exemplo, que a explicação para o que acontecera à tenista norte-americana não tivera a ver com o seu comportamento em campo mas com o facto de “Carlos Ramos was born in 1971, in Lisbon — under a dictatorship where “ultra orthodox patriarchy” reigned supreme. His sexism in the women’s final must be understood not only in the context of global misogyny but also the extreme sexism that still ravages Portugal”- today.Ou como  Rebecca Traister que, na The New York York Magazine, em Serena Williams and the Game That Can’t Be Won (Yet). What rage costs a woman, misturou tudo: “Ramos’s censure of Williams on Saturday night cannot be disentangled from her gender and race any more than the other recent obstacles she’s faced, from the physical toll of pregnancy, to her profession’s status-tax on it, to her higher risk of maternal mortality and postpartum complication.



Este texto de Luís Aguiar-Conraria e as formas caricaturais de debate que critica permitem-me no entanto levá-los para um outro debate que mostra como dois órgãos de informações tidos como referências podem lidar de formas radicalmente diferentes com um mesmo dilema. Refiro-me em concreto à americana New Yorker e à britânica The Economist. Ambas as revistas tiveram a mesma ideia: convidar Steve Bannon, o génio da propaganda por trás da eleição de Trump, para eventos em que desafiariam as suas ideias. Sem surpresa as tribos anti-Bannon invadiram as redes sociais e, nessa altura, a New Yorker resolveu desconvidar quem já tinha convidado enquanto a The Economist manteve a sua posição. Vejamos como se justificaram os directores dessas publicações: 
  • David Remnick da New Yorker (num memorando enviado ao staff da revista) começa por recordar que a entrevista a Bannon, que ele própria faria num Festival organizado pela revista, fora preparada durante meses, mas que o seu anúncio provocara uma forte reacção nas redes sociais. Sendo assim, “I’ve thought this through and talked to colleagues — and I’ve re-considered. I’ve changed my mind. There is a better way to do this. Our writers have interviewed Steve Bannon for The New Yorker before, and if the opportunity presents itself I’ll interview him in a more traditionally journalistic setting as we first discussed, and not on stage.
  • Zanny Minton Beddoes, directora da The Economist, optou por escrever directamente aos leitores, The Open Future Festival and Steve Bannon. Nesse texto recorda o objectivo do festival – “The Open Future festival is the culmination of an initiative to mark this newspaper’s 175th anniversary. Our goal is to remake the case for liberal values in the 21st century by engaging in a global conversation about our world view with our supporters and, crucially, our critics.” – e defende de forma vigorosa a ideia de que só confrontando em terreno aberto as ideias de que se discorda elas podem ser derrotadas: “The future of open societies will not be secured by like-minded people speaking to each other in an echo chamber, but by subjecting ideas and individuals from all sides to rigorous questioning and debate. This will expose bigotry and prejudice, just as it will reaffirm and refresh liberalism. That is the premise The Economist was founded on. When James Wilson launched this newspaper in 1843, he said its mission was to take part in “a severe contest between intelligence, which presses forward, and an unworthy, timid ignorance obstructing our progress.” Those words have guided us for 175 years. They will guide our debates at the Open Future festival on September 15th. That is why our invitation to Mr Bannon will stand.”
    (Sem surpresa a The Economist abre as suas colunas a quem apoia e a quem critica a sua opção, dando voz em On refusing and agreeing to speak at an event with Steve Bannon, a duas opiniões contrastantes.)

A posição diferente das duas revistas suscitou também ela bastantes comentários, como o de Bret Stephens no New York Times, que em Now Twitter Edits The New Yorker, considera que a cedência da revista à pressão das redes sociais coloca uma questão perturbante: “The next time we journalists demand “courage” of the politicians, let’s first take care to prove that we know what the word means, and to exhibit some courage ourselves.



Sejá lá como for, tivesse ou não ocorrido esta controvérsia, o Macroscópio de hoje não poderia passar sem chamar a atenção para a importância do texto que faz a capa da The Economist, precisamente na edição em que a revista comemora o seu 175º aniversário: A manifesto for renewing liberalismSuccess turned liberals into a complacent elite. They need to rekindle their desire for radicalism. Não tenho a pretensão de resumir o conteúdo deste documento cuja leitura considero fundamental, indispensável mesmo. Mas deixo-vos uma passagem, entre muitas outras possíveis: “True liberals contend that societies can change gradually for the better and from the bottom up. They differ from revolutionaries because they reject the idea that individuals should be coerced into accepting someone else’s beliefs. They differ from conservatives because they assert that aristocracy and hierarchy, indeed all concentrations of power, tend to become sources of oppression. Liberalism thus began as a restless, agitating world view. Yet over the past few decades liberals have become too comfortable with power. As a result, they have lost their hunger for reform. The ruling liberal elite tell themselves that they preside over a healthy meritocracy and that they have earned their privileges. The reality is not so clear-cut.”

Há neste manifesto tudo o que não há nas lutas tribais das redes sociais de que são reflexos tanto as polémicas sobre Serena Williams como os convites e desconvites a Steve Bannon. Para haver tribalismo não pode haver tribos só de um lado. As “bolhas” em que só se fala com os que concordam connosco podem ser confortáveis, mas cegam-nos para as realidades do mundo. E as apostas nas identidades como explicações que se sobrepõem aos argumentos e à inteligência podem começar por ser apenas formas de recusa de pensar para acabarem a cavar divisões que nos fazem recuar ao tempo dos extremos e das guerras civis. Por isso, e também porque hoje é sexta-feira e ao fim-de-semana podem ter mais tempo para ler, a minha última sugestão vai precisamente para uma crítica de Francis Fukuyama às políticas identitárias publicada na Foreign Affairs, Against Identity Politics – The New Tribalism and the Crisis of Democracy. Trata-se, de novo, de um longo e interessante ensaio a merecer leitura atenta, no qual se defende, em síntese, que “People will never stop thinking about themselves and their societies in identity terms. But people’s identities are neither fixed nor necessarily given by birth. Identity can be used to divide, but it can also be used to unify. That, in the end, will be the remedy for the populist politics of the present.

E é tudo por hoje e por esta semana. Tenham bom descanso e melhores leituras, se possível com pontos de vista contrastantes que ajudem a abrir a cabeça, não a fecharmo-nos na nossa concha.

 
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EXPRESSO

1275
14 SET 2018
Paulo Luís de Castro
POR PAULO LUÍS DE CASTRO
Jornalista
 
Sondagem: PSD aguenta desgaste. Arménio vai regressar à Carris como operário chefe. E o regresso, sereno, do árbitro Carlos Ramos aos courts
Boa tarde.
O Expresso Diário publica esta sexta-feira uma sondagem que mostra PS e PSD se mantêm na mesma: nem os sociais-democratas descem nem os socialistas sobem. Nem Rui Rio aparece desgastado com as polémicas de verão, nem António Costa descola em direção à maioria absoluta. Os resultados do estudo da Eurosondagem Expresso/SIC registam que não há variações assinaláveis nas intenções de voto em relação ao inquérito realizado há dois meses (PS com uma subida de um ponto percentual e PSD a cair 0,7%). Estes e outros dados sobre a atualidade podem ser lidos na edição impressa deste sábado.
Em entrevista ao Expresso, Arménio Carlosfala do seu futuro quando dentro de pouco mais de um ano terminar o seu segundo e último mandato à frente da CGTP. Nesse início de 2020, o secretário-geral da maior central sindical do país estará de volta para a Carris, empresa onde há mais de 30 anos foi chefe operário eletricista: “Quando chegar a altura, apresento-me ao serviço”. Com a mesma categoria profissional. Pode ler a entrevista na íntegra na edição deste sábado do semanário.
A banda rock irlandesa U2, que atua este domingo e esta segunda-feira em Lisboa, é conhecida pelo seu ativismo. O vocalista, Bono, de que publicamos uma entrevista na revista E que está este sábado nas bancas, faz todas as noites discursos políticos entre as canções. O professor de História Alan McPherson, autor de um livro sobre o grupo, explica como os U2 aumentam a consciência das suas causas favoritas – fazendo até lóbi junto de deputados – e angariam dinheiro para elas.
árbitro de ténis português Carlos Ramos voltou a sentar-se na cadeira mais alta de um court de ténis, depois da polémica em que se viu envolvido com as acusações de Serena Williams. Aconteceu esta tarde em Zadar, na Croácia, onde dirigiu o segundo encontro de singulares da meia-final da Taça Davis que opõe a Croácia aos Estados Unidos. Apesar de uma longa e laureada carreira internacional, Ramos nunca iniciou um encontro sabendo que as atenções estariam mais centradas sobre si do que propriamente nos jogadores. Mas esteve sereno como sempre e depressa as atenções se viraram para a competição.
A administração do Centro Hospitalar de Lisboa Norte quer transformar o Hospital de Santa Maria no “mais verde” de Portugal e, assim, entrar para a lista dos 45 “Green Hospitals” certificados a nível mundial. Para lá chegar tem 10 objetivos para cumprir nos próximos três anos e um investimento inicial de 15 milhões de euros, quase todos garantidos com fundos comunitários. Porém, o projeto ainda aguarda que o Ministério das Finanças dê “ok” aos 5% de comparticipação nacional para avançar.
Foi uma das notícias da semana que passou: a morte de uma professora de 59 anos, no Montijo, supostamente assassinada e queimada pela filha adotiva, de 23 anos, com o apoio do marido desta, de 27. Quem são as pessoas que matam e têm o sangue frio de tentar mostrar que nada se passa? São doentes mentais? São psicopatas? Todos os homicidas são psicopatas? O psicólogo clínico e forense Mauro Paulino dá as explicações (im)possíveis
Destaque ainda para duas crónicas: o bastonário das Ordem dos Médicos faz um alerta e lança um apelo ao primeiro-ministro em defesa da manutenção do Serviço Nacional de Saúde; e em tempo de regresso às aulas o neuropediatra Nuno Lobo Antunes recorda as mudanças sociais das últimas décadas e pergunta se o tempo da educação, a velocidade com que se mudam prioridades e programas, reflete as alterações na forma de viver e pensar das comunidades.
Nas colunas de OpiniãoBernardo Ferrãoescreve sobre o novo significado das letras PSD, Daniel Oliveira aborda a aprovação pelo Parlamento Europeu do relatório sobre as violações ao Estado de Direito na Hungria, e Henrique Raposo diz que é Lisboa, e não o país, que vive acima das suas possibilidades.
Boas leituras e bom fim de semana.
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