Aqui há muitos anos, o meu pai bebia vinho da malga. Calma, está tudo bem com ele, sempre esteve. Lá porque bebia da malga não quer dizer que bebia à bruta (e se bebesse era lá com ele). Era um hábito trazido das aldeias do Minho para o aborrecimento urbano de Lisboa. Na terra do homem, a malga era um veículo comum para chegar à satisfação. Mais a sul, era considerado mais como o caminho da perdição. Mas o que nós perdemos, ao atirar julgamentos destes para o ar, foi o prazer de beber quase da mão, como quem vai à fonte. Ficámos presos ao copo de pé alto, que não permite um brinde avantajado nem uma sopa de cavalo cansado (a rima não vem ébria, juro).
Esta coisa da malga surge aqui só para vos lembrar que o vinho é uma tradição por si só e que traz umas quantas outras agregadas. Não há vinho sem uva e entre uma coisa e outra, seja na malga, no copo ou no boxed bag que faz sucesso no super mercado, há uma corrente de acontecimentos que também eles são tradicionais, uns mais alterados, outros menos adaptados.
A Ana Cristina Marques (acho que já vos tinha dito que esta jornalista sabe da pinga, mas nunca é de mais lembrar) foi atrás de uma outra tradição: a da vindima, da uva no lugar e dos pés em marcha até chegar ao mosto. Talvez seja a principal, a clássica, a derradeira. A malga vem depois. E é sobre esta tradição que
este artigo reúne 16 propostas para quem não é dados às coisas da uva no dia a dia mas que em setembro sente o chamamento da videira. São ideias para participar nas vindimas — no trabalho e no prazer que a tarefa dá.
Tenho quase a certeza que o meu pai terá participado numa vindima ou outra; e que se assim foi não faltaram malgas partidas no fim. Hoje já mal toca no vinho e malgas só para a sopa. Mas se lhe mostrar estas ideias de fins de semana no meio da vinha, talvez o homem decida participar e beber uma à moda antiga. Agora que escrevo isto apercebo-me que isto até dava uma boa prenda. Vou só ali pensar no assunto. Depois falamos.
Até para a semana.