quarta-feira, 18 de julho de 2018

PADRE ANTÓNIO VIEIRA - Falecimento em 1697 (Há 321 anos) - 18 de Julho de 2018

António Vieira

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Padre António Vieira
Retrato do Padre António Vieira, de autor desconhecido do início do século XVIII.
Nascimento6 de fevereiro de 1608
LisboaReino de Portugal Reino de Portugal
Morte18 de julho de 1697 (89 anos)
SalvadorFlag of Portugal (1750).svg Estado do BrasilUltramar Português
NacionalidadeReino de Portugal Português
OcupaçãoReligiosoescritor e orador
Assinatura
Assinatura de António Vieira
António Vieira (português europeu) ou Antônio Vieira (português brasileiro) (Lisboa6 de fevereiro de 1608 — Salvador18 de julho de 1697), mais conhecido como Padre António Vieira ou Padre Antônio Vieira, foi um religiosofilósofoescritor e oradorportuguês da Companhia de Jesus.
Uma das mais influentes personagens do século XVII em termos de política e oratória, destacou-se como missionário em terras brasileiras. Nesta qualidade, defendeu incansavelmente os direitos dos povos indígenas combatendo a sua exploração e escravização e fazendo a sua evangelização. Era por eles chamado "Paiaçu" (Grande Padre/Pai, em tupi).
António Vieira defendeu também os judeus, a abolição da distinção entre cristãos-novos (judeus convertidos, perseguidos à época pela Inquisição) e cristãos-velhos (os católicos tradicionais), e a abolição da escravatura. Criticou ainda severamente os sacerdotes da sua época e a própria Inquisição.
Na literatura, seus sermões possuem considerável importância no barroco brasileiroportuguês. As universidades frequentemente exigem a sua leitura.

Biografia[editar | editar código-fonte]


Seis volumes dos Sermões, expostos numa Biblioteca Municipal, no Brasil.
Nascido em lar humilde, na Rua do Cónego, freguesia da , em Lisboa, foi o primogénito de quatro filhos de Cristóvão Vieira Ravasco, de origem alentejana cuja mãe era filha de uma mulata ou africana, e de Maria de Azevedo, lisboeta.[1][2] [3]
Cristóvão serviu na Marinha Portuguesa e foi, por dois anos, escrivão da Inquisição. Mudou-se para o Brasil em 1614, para assumir cargo de escrivão em Salvador, na Bahia, mandando vir a família em 1618.

No Brasil[editar | editar código-fonte]

António Vieira chegou à Bahia, onde em 1619 seu pai passou a trabalhar como escrivão no Tribunal da Relação da Bahia, o que motivou a vinda de toda a família. Em 1614, iniciou os primeiros estudos no Colégio dos Jesuítas de Salvador,[4] onde, principiando com dificuldades, veio a tornar-se um brilhante aluno. Segundo o próprio, foi a partir de um "estalo" na cabeça que, de súbito, tudo clareou: passou a entender com facilidade e a guardar tudo o que lia na memória. Até hoje muitos se referem a fenômeno semelhante a esse como "o estalo de Vieira".[5]
Ingressou na Companhia de Jesus como noviço em 5 de maio de 1623[6].
Em 1624, quando na invasão holandesa de Salvador, refugiou-se no interior da capitania, onde se iniciou a sua vocação missionária.
Um ano depois tomou os votos de castidade, pobreza e obediência, abandonando o noviciado.
Em 1626, seus talentos como escritor já eram reconhecidos e ficou encarregado de escrever e traduzir para o latim a "Carta Ânua", que era um relatório anual dos trabalhos da Província da Companhia de Jesus, que era encaminhada ao Superior-Geral da Companhia em Roma[6].
Prosseguiu os seus estudos em Teologia, tendo estudado ainda LógicaMetafísica e Matemática, obtendo o mestrado em Artes. A partir do final de 1626 ou do início 1627, começou a atuar como professor de Retórica em Olinda. Retornou a Salvador para completar seus estudos, onde em 10 de dezembro de 1634, foi ordenando sacerdote[6]. Nesta época já era conhecido pelos seus primeiros sermões, tendo fama de notável pregador. Em 1638, foi nomeado como professor de teologia do Colégio Jesuíta de Salvador[7].
Quando a segunda invasão holandesa ao Nordeste do Brasil (1630-1654), defendeu que Portugal entregasse a região aos Países Baixos, pois gastava dez vezes mais com sua manutenção e defesa do que o que obtinha em contrapartida, além do fato de que os Países Baixos eram um inimigo militarmente muito superior à época. Quando eclodiu uma disputa entre Dominicanos (membros da Inquisição) e Jesuítas (catequistas), Vieira, defensor dos judeus[8], caiu em desgraça, enfraquecido pela derrota de sua posição quanto à questão da guerra.

Em Portugal[editar | editar código-fonte]

Após a Restauração da Independência (1640), em 1641 regressou a Lisboa iniciando uma carreira diplomática, pois integrava a missão que ia ao Reino prestar obediência ao novo monarca.
Em 1º de janeiro de 1642, pregou o "Sermão dos Bons Anos" na Capela Real, que teve um forte teor político, no qual criticou os tempos nos quais Portugal foi controlado por castelhanos e no qual associou o sebastianismo a João IV e à restauração da independência de Portugal[6] [7].
Sobressaindo pela vivacidade de espírito e como orador, conquistou a amizade e a confiança de João IV de Portugal, sendo por ele nomeado embaixador e posteriormente pregador régio. Ainda como diplomata, foi enviado em 1646 aos Países Baixos para negociar a devolução do Nordeste do Brasil, e, no ano seguinte, à França. Caloroso adepto de obter para a Coroa a ajuda financeira dos cristãos-novos, entrou em conflito com o Santo Ofício, mas viu fundada a Companhia Geral do Comércio do Brasil.

No Brasil, outra vez[editar | editar código-fonte]

Em Portugal, havia quem não gostasse de suas pregações em favor dos judeus. Após tempos conturbados acabou voltando ao Brasil, onde, entre 16 de janeiro de 1653[7] e setembro de 1661[9], esteve na liderança da Missão no Maranhão e no Grão-Pará, sempre defendendo a liberdade dos índios.[10]
Em 1653, proferiu o "Sermão da Primeira Dominga de Quaresma" em São Luís do Maranhão, no qual tentou convencer os senhores de engenho a libertarem os seus escravos indígenas. Sua luta contra a escravidão dos povos nativos da América estava associada à sua crença de que a colonização portuguesa teria como missão converter aqueles povos para a  católica[6].
Entre 1658 e 1660, escreveu o "Regulamento das Aldeias[11]", mais conhecido como a "Visita de Vieira", por meio do qual estabeleceu as diretrizes das missões religiosas na Amazônia, que, com pouquíssimas mudanças, vigoraram por mais de um século. Esse documento tratou do cotidiano da ação missionária, envolvendo desde os métodos de doutrinação até a disposição do espaço de moradia dos missionários e índios. Essas regras não eram de aplicação restrita aos jesuítas, pois tiveram que ser seguidas também pelas outras congregações[12].
Diz o Padre Serafim Leite em Novas Cartas Jesuíticas, Companhia Editora Nacional, São Paulo, 1940, página 12, que Vieira tem "para o norte do Brasil, de formação tardia, só no século XVII, papel idêntico ao dos primeiros jesuítas no centro e no sul», na «defesa dos índios e crítica de costumes". "Manuel da Nóbrega e António Vieira são, efectivamente, os mais altos representantes, no Brasil, do criticismo colonial. Viam justo - e clamavam!"
Sobre esse período da vida de Vieira, ver também: O papel de Antônio Vieira nas Missões religiosas na Amazônia Portuguesa

Naufrágio nos Açores[editar | editar código-fonte]

Em 1654, pouco depois de proferir o célebre "Sermão de Santo António aos Peixes" em São Luís,[10] no estado do Maranhão, o padre António Vieira partiu para Lisboa, junto com dois companheiros, a bordo de um navio carregado de açúcar. Tinha como missão defender junto ao monarca os direitos dos indígenas escravizados, contra a cobiça dos colonos portugueses. Após cerca de dois meses de viagem, já à vista da ilha do Corvo, a Oeste dos Açores, abateu-se sobre a embarcação uma violenta tempestade. Mesmo recolhidas as velas, à exceção do traquete, correndo o navio à capa, uma rajada mais forte arrancou esta vela, fazendo a embarcação adernar a estibordo. Em pleno mar revolto, na iminência do naufrágio, o padre concedeu a todos absolvição geral, bradando aos ventos:
"Anjos da guarda das almas do Maranhão, lembrai-vos que vai este navio buscar o remédio e salvação delas. Fazei agora o que podeis e deveis, não a nós, que o não merecemos, mas àquelas tão desamparadas almas, que tendes a vosso cargo; olhai que aqui se perdem connosco."[carece de fontes]
Após essa exortação, obteve de todos a bordo um voto a Nossa Senhora de que lhe rezariam um terço todos os dias, caso escapassem à morte iminente. Ainda por um quarto de hora o navio permaneceu adernado até que os mastros se partiram. Com o peso da carga, estivada até às escotilhas, o navio voltou à posição normal, permanecendo à deriva, ao sabor dos elementos.
Nesse transe uma outra embarcação foi avistada, mas sem que prestasse qualquer auxílio. Ao cair da noite a mesma retornou, mas tratava-se de um corsário neerlandês que recolheu os náufragos a bordo e pilhou a embarcação à deriva, que acabou por ser afundada. Nove dias mais tarde, quarenta e um portugueses, despojados de seus pertences pessoais, foram desembarcados na Graciosa, onde o padre António Vieira, com o auxílio dos religiosos da Companhia de Jesus, procurou providenciar-lhes roupascalçado e dinheiro durante os dois meses que permaneceram na ilha. Dali, também, creditou Jerónimo Nunes da Costa para que este fosse a Amesterdão resgatar os papéis e livros que lhe haviam sido tomados pelos corsários, o que se acredita tenha sido cumprido uma vez que dispomos hoje de cerca de duzentos sermões (este naufrágio é relatado no vigésimo-sexto) e cerca de 500 cartas do religioso, muitas das quais anteriores ao naufrágio.
O grupo passou em seguida à Ilha Terceira, onde Vieira obteve o aprestamento de uma embarcação para que os seus companheiros de infortúnio pudessem seguir para Lisboa. Instalado no Colégio dos Jesuítas em Angra, ele aqui permaneceu mais algum tempo, tendo instituído a devoção do terço, que pela primeira vez foi cantado na Ermida da Boa Nova. Entre os sermões que pregou em diversos locais da ilha, destacou-se o que proferiu na Igreja da Sé, na Festa do Rosário, celebrada anualmente a 7 de outubro, com aquele templo repleto.
Uma semana mais tarde, Vieira passou à Ilha de São Miguel, onde proferiu o sermão de Santa Teresa, um dos mais destacados de sua autoria. Dali partiu para Lisboa, a bordo de um navio inglês, a 24 de outubro. Após atravessar nova tempestade, o religioso chegou finalmente ao destino, em novembro de 1654.

Em Portugal, outra vez[editar | editar código-fonte]

Em setembro de 1661, teve que deixar o Estado do Maranhão e Grão-Pará por reações contrárias às suas ações contra a escravidão dos povos nativos[13].
Em Portugal, António Vieira tornou-se confessor da “regente”, D. Luísa de Gusmão que foi a primeira rainha de Portugal da quarta dinastia, no entanto essa foi deposta em junho de 1662[7], por D. Afonso VI, que não era favorável ao jesuíta.
Abraçou a profecia Sebastiana e por isso entrou em novo conflito com a Inquisição que o acusou de heresia, inicialmente, com base numa carta de 1659 ao bispo do Japão na qual expunha sua teoria do quinto império segundo a qual Portugal estaria predestinado a ser cabeça de um grande império do futuro.
Foi condenado por um conjunto de manuscritos sebastianistas: "Quinto Império"; "História do Futuro" e "Chave dos Profetas" e ficou recluso em um Colégio dos jesuítas Coimbra, entre 1º de outubro de 1665 e 23 de dezembro de 1667, quando sua reclusão foi transferida para a Casa do Noviciado dos jesuítas em Lisboa. Em 30 de junho de 1668, recebeu o perdão das penas[13] [14].

Em Roma[editar | editar código-fonte]

Em agosto de 1669, mudou-se para Roma[14], onde ficou 6 anos.
Oficialmente, o motivo de sua viagem era o de defender a canonização dos "Quarenta Mártires Jesuítas" (1570), mas também procurou ser reabilitado e combater a Inquisição Portuguesa[6].
Encontrou o Papa a beira da morte, mas deslumbrou a Cúria com seus discursos e sermões. Com apoios poderosos, renovou a luta contra a Inquisição, cuja actuação considerava nefasta para o equilíbrio da sociedade portuguesa. Obteve um breve pontifício que o tornava apenas dependente do Tribunal romano. A mesma extraordinária capacidade oratória que seduzira, primeiro, o governo geral do Brasil, a corte de Dom João IV, e que depois, iria convencer o Papa e garantir assim a anulação das suas penas e condenações.
Entre 1675 e 1681, a actividade da Inquisição esteve suspensa por determinação papal em Portugal e no império, uma determinação que encontrou o seu maior fundamento nos relatórios sobre os múltiplos abusos de poder que o jesuíta deixou em Roma, nas mãos do Sumo Pontífice. Desta forma conseguia dois feitos raros e históricos, por um lado conseguia parar pela primeira vez durante sete anos a actividade do Santo Oficio em Portugal e, feito não menor, lograva escapulir da perigosa malha que inquisidores derramavam sobre si.

Em Portugal[editar | editar código-fonte]

Regressou a Lisboa seguro de não ser mais importunado. Quando, em 1671, uma nova expulsão dos judeus foi promovida, novamente os defendeu. Mas o Príncipe Regente passara a protector do Santo Ofício e recebeu-o friamente. Em 1675, absolvido pela Inquisição, voltou para Lisboa por ordem de D. Pedro, mas afastou-se dos negócios públicos.

No Brasil, pela última vez[editar | editar código-fonte]

Em 1681, retornou à Bahia, alegando questões de saúde. Em 1688, exerceu a função de visitador-geral das missões do Brasil e dedicou o resto de seus anos à edição dos Sermões, cartas e de Clavis Prophetarum, uma obra de interpretação profética das Escrituras que iniciara em Roma[6].
A coleção completa dos seus Sermões, iniciada em 1679, exigiu 16 volumes. Cerca de 500 de suas Cartas foram publicadas em 3 volumes. As suas obras começaram a ser publicadas na Europa, onde foram elogiadas até pela Inquisição.
Já velho e doente, teve que espalhar circulares sobre a sua saúde para poder manter em dia a sua vasta correspondência. Em 1694, já não conseguia escrever pelo seu próprio punho. Em 10 de junho começou a agonia, perdeu a voz, silenciaram-se seus discursos. Morre na Bahia a 18 de julho de 1697, com 89 anos.[10]

Obra[editar | editar código-fonte]

Deixou uma obra complexa que exprime as suas opiniões políticas, não sendo propriamente um escritor, mas sim um orador. Além dos Sermões redigiu o Clavis Prophetarum, livro de profecias que nunca concluiu. Entre os seus sermões, alguns dos mais célebres são: o "Sermão da Quinta Dominga da Quaresma", o "Sermão da Sexagésima", o "Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda", o "Sermão do Bom Ladrão","Sermão de Santo António aos Peixes" entre outros. Vieira deixou cerca de 700 cartas e 200 sermões.
A Obra Completa do Padre António Vieira[15], anotada e atualizada, começou a ser publicada em 2013, quase quatro séculos após o seu nascimento. Esta publicação em 30 volumes inclui a totalidade das suas cartas, sermões, obras proféticas, escritos políticos, sobre os judeus e sobre os índios, bem como a sua poesia e teatro, e é a primeira edição completa e cuidada de toda a sua vasta produção escrita. Um dos maiores projetos editoriais do seu género, foi o resultado de uma cooperação internacional entre várias instituições de investigação e academias científicas, culturais e literárias Luso-Brasileiras, sob a égide da Reitoria da Universidade de Lisboa. Mais de 20 mil fólios e páginas[16] de manuscritos e impressos atribuídos a Vieira foram analisados e comparados, em dezenas de bibliotecas e arquivos em Portugal, no Brasil, em Espanha, França, Itália, Inglaterra, Holanda, México e Estados Unidos da América. Cerca de um quarto da Obra Completa consiste em textos inéditos. Este projeto, sob a direção de José Eduardo Franco e Pedro Calafate, foi desenvolvido pelo CLEPUL em parceria com a Santa Casa da Misericórdia, e publicado pelo Círculo de Leitores, com o último volume a ser lançado em 2014. Embora esta seja uma edição portuguesa, uma seleção de textos será publicada em 12 línguas como parte do projeto.

Festa litúrgica[editar | editar código-fonte]

Embora não seja considerado santo na Igreja Católica, Padre Antônio Vieira consta no calendário de santos da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil como sacerdote e testemunha profética, sendo sua festa litúrgica celebrada em 18 de julho.[17]

Obras[editar | editar código-fonte]


Primeira página de "Historia do Futuro", de uma edição de 1718.
Antônio Vieira escreveu mais de 200 sermões, 700 cartas, além de tratados proféticos, relações etc. Seguem abaixo alguns de seus sermões:[10]

Cronologia[18][editar | editar código-fonte]

  • 1608 – Nasce a 6 de fevereiro em Lisboa, na freguesia da , António Vieira, filho primogénito de Cristóvão Vieira Ravasco e de Maria de Azevedo.
  • 1614 – Desembarca com a família em Salvador da Bahia, onde frequentará as aulas do Colégio dos Jesuítas.
  • 1624 - Em Maio, as forças holandesas ocupam a cidade do Salvador.
  • 1626 – Com 18 anos de idade, o noviço António Vieira é encarregue de redigir a Carta Annua ao Geral dos Jesuítas, relatório anual da Companhia de Jesus no Brasil. Constitui o seu primeiro escrito.
  • 1627 – Transfere-se para o Colégio dos Jesuítas de Olinda, onde passa a ministrar aulas de Retórica.
  • 1633 – Prega o primeiro sermão público, na Igreja de Nossa Senhora da Conceição da Praia, em Salvador.
  • 1634 – É ordenado sacerdote, a 10 de dezembro, celebrando a 13 do mesmo mês a sua primeira missa.
  • 1638 – É nomeado Lente em Teologia.
  • 1640 – Prega o "Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal Contra as de Holanda", na Igreja de Nossa Senhora da Ajuda, em Salvador.
  • 1641 – Vieira viaja para Lisboa, onde residirá até 1646.
  • 1642–1644 – Prega pela primeira vez na Capela Real, em Lisboa, o "Sermão dos Bons Anos". Em atenção ao brilhantismo das suas prédicas recebe, em 1644, o título de Pregador de Sua Majestade e alguns dos seus sermões são publicados separadamente. É, igualmente, nomeado Tribuno da Restauração.
  • 1645 – Prega o "Sermão do Mandato", na Capela Real, em Lisboa.
  • 1646–1652 – Profissão solene na Igreja de São Roque, em Lisboa. Pregador e conselheiro de D. João IV, é por este enviado como embaixador em diversas missões diplomáticas aos Países Baixos e à França, negociando Pernambuco, a paz europeia, o financiamento da guerra contra Castela e a futura Companhia Geral do Comércio do Brasil. É o período de grande actividade diplomática e política de Vieira, que se desloca por grande parte da Europa, representando e defendendo os interesses portugueses. Faz, ainda, parte da embaixada portuguesa nas negociações da Paz de Münster, cujo objectivo era pôr fim à Guerra dos Trinta Anos. Em Ruão e Amesterdão encontra-se e negoceia com representantes da comunidade judaica portuguesa aí refugiada, o que lhe valeria, desde então, a hostilidade do Santo Ofício.
  • 1652 – Em novembro parte de volta para a América Portuguesa, a fim de se dedicar às missões junto dos indígenas do estado do Maranhão, dos quais assumirá corajosamente a defesa, contra os interesses esclavagistas dos colonos.
  • 1654 – Prega o "Sermão de Santo António aos Peixes", na véspera de embarcar para Lisboa, onde, em breve visita, pedirá providências favoráveis aos índios e às missões jesuítas no estado do Maranhão.
  • 1655 – Antes de retornar às missões do Estado do Maranhão, em Abril, prega na Capela Real, em Lisboa, durante a Quaresma: abre com o "Sermão da Sexagésima" e fecha com o "Sermão do Bom Ladrão".
  • 1657 – Prega o "Sermão do Espírito Santo", no Maranhão.
  • 1659 – Visita cinco aldeias da etnia Nheengaíba. No regresso a Belém do Pará, encontrando-se doente em Cametá, redige o seu primeiro tratado futurológico "Esperanças de Portugal, V Império do Mundo".
  • 1661 – Em resultado do seu combate à escravidão dos índios, Vieira e os seus companheiros jesuítas são expulsos do Estado do Maranhão e embarcados para Lisboa.
  • 1662 – Prega o importante "Sermão da Epifania" diante da rainha-regente.
  • 1663–1667 – É desterrado para Coimbra e começam os interrogatórios da Inquisição, que o persegue devido às suas ideias milenaristas e messiânicas inspiradas no profetismo de António Gonçalves Annes Bandarra ("Quinto Império") e, também, por causa das suas alegadas simpatias pela "gente da nação", os judeus. Em 1666, a Inquisição ordena que seja retirado da cela de religioso, a que estava confinado, e colocado em cárcere de custódia. Apesar de praticamente desprovido de livros para consultas, redige duas Representações da Defesa e, em segredo, parte do livro "História do Futuro" e da "Apologia". Em 1667 é proferida a sentença: "… seja privado para sempre da voz activa e passiva e do poder de pregar…"
  • 1668 – É amnistiado a 12 de junho.
  • 1669 – Prega o "Sermão do Cego", na Capela Real, em Lisboa. Parte para Roma em busca de revisão da sua sentença, onde permanece seis anos, pregando, em italiano, aos cardeais da Cúria romana e à exilada rainha Cristina da Suécia.
  • 1675 – Regressa a Lisboa munido de um Breve do Papa Clemente X, isentando-o "por toda a vida de qualquer jurisdição, poder e autoridade dos inquisidores presentes e futuros de Portugal", mas permanecendo sujeito à autoridade da Cúria romana.
  • 1679 – Declina o convite da rainha Cristina da Suécia para ser seu confessor.
  • 1681 – Regressa à América Portuguesa, a Salvador, na Bahia, em Janeiro, e passa a residir na Quinta do Tanque, casa de campo do Colégio dos Jesuítas, onde prepara a publicação dos seus Sermões e redige a "Clavis Prophetarum".
  • 1686 – Vieira é um dos poucos a não ser afectado pela epidemia de "mal da bicha" (febre amarela). Devido a essa calamidade, a Câmara de Salvador faz votos a São Francisco Xavier, proclamando-o Padroeiro da Cidade do Salvador, em 10 de maio.
  • 1688 – É nomeado Visitador-Geral da Província do Brasil (até 1691).
  • 1690 – Promove a Missão entre os índios Cariri da Bahia, financiando-a com o lucro da venda dos seus livros.
  • 1694 – Emite parecer a favor da liberdade dos índios, contra as administrações particulares na Capitania de São Paulo.
  • 1695 – Envia carta-circular de despedida à nobreza de Portugal e amigos, por não poder escrever a todos.
  • 1696 – É transferido da Quinta do Tanque para o Colégio dos Jesuítas, no Terreiro de Jesus.
  • 1697 – Termina a revisão do tomo XII dos Sermões; dita a sua última carta ao Geral da Companhia de Jesus, Tirso Gonzalez, a 12 de julho. Falece a 18 de julho, no Colégio, aos 89 anos. Os ofícios fúnebres realizam-se na Igreja da Sé, oficiados pelos Cónegos. É sepultado na Igreja do Colégio.

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ANTÓNIO FONSECA

terça-feira, 17 de julho de 2018

OBSERVADOR

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360º

Por Filomena Martins, Diretora Adjunta
Bom dia!
Enquanto dormia... 
... morreu João Semedo, o antigo coordenador do Bloco de EsquerdaUm cancro nas cordas vocais afastou-o da vida política, mas chegou a regressar e a concorrer à câmara do Porto. Acabaria por desistir, por razões de saúde. Nessa altura, deu uma entrevista de vida ao Miguel Santos Carrapatoso que vale a pena ler agora de novo: “Nunca desejei morrer, mas sempre achei que a morte me apanharia feliz.

Manuel Pinho deve ter estado a preparar-se toda a noite para quebrar um silêncio que dura há 98 dias e dar pela primeira vez explicações sobre as muitas suspeitas que o envolvem. O Luís Rosa resume os 10 pontos essenciais sobre os quais o ex-ministro da Economia vai ter de falar no DCIAP de manhã e no Parlamento à tarde. Vai ser uma terça-feira muito preenchida.
Mas o dia não vai ser só difícil para Pinho. O ministro Azeredo Lopes também vai estar no Parlamento e ainda que o tema seja a NATO vai ser metralhado com a polémica de Tancos (desculpem o trocadilho fácil). Continuam por explicar três grandes dúvidas sobre o maior assalto da história militar, como recorda o Pedro Raínho, há uma enorme pressão de Belém, e Rui Rio não exclui juntar-se ao CDS (perante o silêncio da esquerda) na intenção de pedir uma comissão de inquérito.

De ontem à noite veio também a notícia de que o gabinete do PSD na Assembleia Municipal de Lisboa foi atingida por disparos. Luís Newton, líder da bancada, garante que os deputados municipais do PSD, envolvidos em polémicas no interior do partido e na operação Tutti Frutti, “não se deixarão intimidar".


 
    Outra informação relevante 
    Ronaldo chegou com tudo à Juventus:
     "A idade não importa"; "não vim passar férias"; e "vou tentar surpreender-vos mais uma vez"
    , foram algumas das afirmações do jogador aos mais de 200 jornalistas que o quiseram ouvir na apresentação em Turim. Com um bicada ao Real (dizendo que a decisão de se mudar "foi fácil" e ninguém ficou "a chorar" por ele em Madrid), CR7 prometeu lutar pela conquista da Liga dos Campeões e por mais uma Bola de Ouro.

    A nova etapa da carreira do jogador português e melhor do mundo (que está nas capas de todos os jornais) quase ofuscou o outro acontecimento do dia (já lá vamos). Daí termos preparados vários trabalhos para ler com tempo:
    E agora sim, o que ficou das duas horas em que Putin e Trump estiveram juntos em Helsínquia, o grande acontecimento internacional do dia de ontem? Na conferência de imprensa após a cimeira, Putin admitiu que preferia Trump a Hillary, mas rejeitou qualquer interferência nas eleições norte-americanas. E Trump não responsabilizou Putin por nada e guardou ataques para dentro de portas.

    Depois de uma condutora de 17 anos ter atropelado 9 pessoas em Famalicão, a Filipa Teixeira foi até lá e descobriu que as corridas ilegais atraem dezenas de pessoas quase todas as semanas: “Até mães com bebés ao colo".

    A lei do alojamento local será discutida esta terça-feira no Parlamento. E há grandes alterações a caminho: o PS quer multas até 35 mil euros para quem tiver mais de sete alojamentos parar arrendar a turistas, diz o Negócios.

    Ora a Comissão Europeia diz que os preços praticados pela Airbnb violam as leis europeias e exige esclarecimentos até final de agosto.

    Do lado da Justiça veio uma vitória para a SIC sobre a exibição do polémico programa SuperNanny. O Tribunal Judicial de Oeiras decidiu que o terceiro episódio não representa uma "ameaça ilícita à personalidade dos menores".

    Não sei se a decisão seguiu por escrito ou por via eletrónica, porque o Campus de Justiça de Lisboa e outros tribunais estão com falta de papelOs funcionários foram avisados que só devem usar as reservas em casos urgentes, noticia hoje o JN.

    E também não sei se há uma boa razão, mas o Tribunal Constitucional deixou passar o prazo para aplicar multas aos partidos. Que se livram assim de pagar mais de 400 mil euros de irregularidades nas contas de 2009, avança a TSF.

    Pode também parecer difícil de acreditar, mas a empresa pública que gere os activos tóxicos do ex-BPN paga a dois ex-gestores do banco mais do que ganha o Presidente da República ou o primeiro-ministro. As contas são do Público.

    A petição para definir a residência alternada dos filhos em caso de divórcio vai ser hoje apresentada no ParlamentoMas há cada vez mais associações contra.

    Para terem manuais escolares gratuitosos pais vão ter de se inscrever numa plataforma online.

    Em Espanha, cresce o escândalo que envolve o rei Juan Carlos e a sua ex-amante. O ex-líder dos serviços secretos testemunhou à porta fechada e revelou conversas e esquemas de corrupção que põem em causa o rei emérito e toda a coroa espanhola.

    No futebol caseiro, a Comissão de Fiscalização do Sporting suspendeu os sócios envolvidos no ataque à Academia e adiou a decisão sobre a suspensão de Bruno de Carvalho e Carlos Vieira que os pode impedir de se candidatarem à presidência; isto quando se confirma mais um novo candidato: João Benedito vai apresentar-se quinta-feita.

    Já o Benfica viu revelados num blogue os contratos dos reforços Nicolás Castillo e Facundo Ferreyra.

    Do Mundial sobra ainda a eleição dos golos de Ronaldo e Quaresma entre os 18 melhores da competição, por isso o melhor é vê-los todos. E foi conhecido um outro lado menos consensual da agora famosa presidente croata.




    Os nossos Especiais 
    Os impérios foram mesmo todos maus para a evolução do mundo? O José Carlos Fernandes leu o "Visões imperiais", de Krishan Kumar, e descobriu que não. Contrariando a tendência geral para realçar a brutalidade e a opressão dos impérios que dominaram o mundo, o livro põe em relevo o seu “espantoso registo de sucessos".




    A nossa opinião
    • Rui Ramos escreve sobre "Uma decisão para os outros": "A lição política que todos tiraram do ajustamento de 2011-2014 foi esta: quem afrontar os interesses instalados, estará apenas a dar aos seus rivais a possibilidade de representar esses interesses".
    • Laurinda Alves escreve sobre "Viver no campus": "Este novo campus da Nova SBE é um marco no país. Portugal e a marca portuguesa são mais ricos porque esta e outras boas universidades existem, mas a construção deste campus é uma aula cheia de lições".
    • Paulo de Almeida Sande escreve sobre "A fábula da 'croissanterie' dos ovos de ouro": "Somos de extremos. E acreditamos nos que nos dizem sermos os melhores, como acreditamos quando afirmam sermos os piores, sobretudo se for dito por estrangeiros. Somos estrangeirófilos com orgulho".
    • Diana Soller escreve sobre  "A NATO, a Rússia e o fim de uma era": "A trave-mestra da estratégia norte-americana consiste em privilegiar a relação com a Rússia. Uma parceria para contrabalançar a China. Neste contexto os aliados europeus tornaram-se quase dispensáveis".



    Notícias surpreendentes 
    Antes de morrer, Anthony  Bourdain deu uma longa entrevista que agora só agora foi revelada. Na conversa com Maria Bustillos, editora da revista Popula, o chef fala de tudo, até sobre a forma como imaginava a morte de Harvey Weinstein: de robe, num hotel...

    É uma história impressionante de sobrevivência: uma jovem resistiu 7 dias depois de cair de um penhasco na Califórnia, bebendo água do radiador do carro.

    Lady Gaga já é dona da sua própria startup e os investidores são de topo. A cantora vai lançar uma marca de beleza e Silicon Valley apoiou a ideia.

    Isabel II não foi ao batizado do neto mais novo, o príncipe Louis, mas aparece no retrato oficial. O fotógrafo arranjou forma de não se esquecer da Rainha. Veja lá se descobre como.


    Como deve ter percebido, o dia vai ser agitado, mas no Observador estaremos atentos a tudo o que se vai passar
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    EXPRESSO DIÁRIO

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    Filipe Santos Costa
    FILIPE SANTOS COSTA
    JORNALISTA DA SECÇÃO POLÍTICA
     
    A pergunta simples que desmascarou Trump: "Em quem acredita?"
    17 de Julho de 2018
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    Bom dia.

    Má notícia.

    Mesmo antes de enviar este Expresso Curto, chegou a notícia da morte de João Semedo. Tornou-se conhecido do país como coordenador do Bloco de Esquerda, numa estranha liderança bicéfala com Catarina Martins - a dupla desfez-se porque não resultava, mas pouco tempo depois soube-se também que Semedo estava doente. O cancro que, depois de anos de luta, lhe ditou a morte aos 67 anos.

    Médico, Semedo sabia bem da gravidade da doença que combatia e da fragilidade das vitórias que ia tendo. Acreditou sempre no Serviço Nacional de Saúde onde escolheu ser tratado. O SNS que foi criado por António Arnaut, que, não por coincidência, foi o parceiro de Semedo numa das suas últimas lutas políticas: uma proposta de nova lei de bases do SNS, totalmente privado. O ex-líder do BE ainda teve tempo de deixar a sua marca noutra luta política: a despenalização da eutanásia, causa em que reuniu gente de variados quadrantes políticos.

    Ele tinha essa capacidade de passar por cima das fronteiras partidárias onde militou - primeiro, no PCP, depois no Movimento da Renovação Comunista, por fim no BE. Dos muitos (e merecidos) elogios que hoje lhe farão, o maior talvez seja esse: será elogiado - no seu empenho, na sua generosidade, na sua humanidade - por gente que em muita coisa pensava radicalmente diferente dele.

    A "traição" de Trump

    “Traição”, escreve o Guardian, com as letras todas, citando as reações que chegam de Washington. "Nada menos do que traição", escreveu John O. Brennan, antigo diretor da CIA. "Uma oportunidade perdida" e "um sinal de fraqueza", nas palavras de Lindsey Graham, senador republicano pela Carolina do Sul. "Vergonhoso"; "bizarro e simplesmente errado", escreveram outros congressistas do partido de Donald Trump. "Um dos desempenhos mais vergonhosos de que há memória por um presidente americano", considerou o senador John McCain, ex-candidato presidencial republicano.

    Em causa está a conferência de imprensa de Trump, esta segunda-feira, ao lado de Vladimir Putin, depois da cimeira conjunta em Helsínquia. Um encontro histórico do qual pode resultar uma tempestade política de dimensão e consequências igualmente históricas. Colocado entre as informações recolhidas pelos serviços secretos norte-americanos e as juras feitas pelo homem do Kremlin, Trump escolheu um ladoDeu força ao histórico inimigo dos EUA e deixou cair as secretas norte-americanas, um dos bastiões do poderio de Washington. Se Philip Roth pudesse escrever outra vez "A Conspiração contra a América", não precisava de colocar a sua distopia no passado: bastava-lhe coligir factos do presente. O Trump real é mais perturbador do que o Lindbergh ficcional de Roth.

    A questão continua a ser a interferência (ou não) de Moscovo na campanha presidencial de 2016, favorecendo a eleição de Trump. Para os serviços de intelligence dos EUA, já não há dúvidas sobre isso. Houve mesmo interferência russa para tramar Hilary Clinton. O procurador especial que investiga o caso, Robert Muller, também já está para além dessa dúvida. Na sexta-feira passada, doze russos foram acusados de piratear os servidores de altos responsáveis do Partido Democrata; esta segunda-feira, o Departamento de Justiça acusou mais uma russa de ter trabalhado com apoiantes de Trump (incluindo a National Rifle Association) em favor das posições de Moscovo - Mariia Butina funcionaria como um 'canal secreto' de ligação e chegou a propor antes das eleições um encontro entre Trump e Putin.

    No ponto a que já chegaram as investigações, a questão não é se houve interferência. Até Paul Ryan, o republicano que ocupa o lugar de speaker da Câmara dos Representantes, já disse que, sobre isso, "não há dúvida". A questão é se, mais do que uma ação unilateral, houve conluio entre russos e a equipa de Trump. Mas não para Trump, que não perde a oportunidade de chamar fake news a qualquer facto comprovado e demonstrado que não lhe convenha. Ontem, com Putin ao seu lado na conferência de imprensa de Helsínquia, foi o momento da verdade.

    "Em quem acredita?", perguntou o jornalista da Associated Press Jonathan Lemire. Perante a conversa redonda de Trump sobre as garantias dadas por Putin, nada como uma pergunta simples e direta. "Em quem acredita?" - e nem precisou de acrescentar: em Putin ou nas autoridades do seu país? A resposta de Trump foi, "inesquecível", como adjetiva o Washington Post. "A minha gente falou comigo, o Dan Coats [diretor dos serviços secretos] e outros, dizem que acham que foi a Rússia. Eu tenho o Presidente Putin a dizer que não foi a Rússia. Eu digo isto: não vejo por que razão seria... Eu confio nos dois lados." Foi o momento em que um presidente dos EUA deu tanto crédito à palavra de um ex-espião do KGB como à de todos os serviços secretos norte-americanos.

    Como sempre, depois de dizer uma coisa, Trump veio fazer controlo de danos dizendo o seu exato contrário. E escolheu, claro, o Twitter, para jurar que tem "GRANDE confiança" (com letras maiúsculas, para que não fiquem dúvidas) nos seus serviços secretos. De acordo com o Washington Post, até os conselheiros de Trump ficaram siderados com as palavras do seu presidente em Helsínquia. "Completamente contra o planeado", disse um deles ao jornal da capital norte-americana. Pelo que conta o Vox, até já há na Casa Branca quem tente passar a ideia de que Trump tem uma qualquer limitação cognitiva ou psicológica que o impede de perceber a questão russa. Ao que isto chegou.

    O conselho editorial do Washington Post publicou poucas horas depois da conferência de imprensa um texto de opinião em que considera que ficou ali provado o conluio de Trump com os russos. Um colaborador do jornal escreveu que "o momento pedia que Trump defendesse a América. Em vez disso, ele curvou-se". No New York Times lê-se que "talvez o presidente esteja exatamente tão comprometido [com os russos] como parece". Se tivermos em conta que tudo isto acontece depois de Trump ter desancado os seus parceiros do G7, depois de ter ameaçado por em causa o futuro da NATO, e depois de ter considerado que a União Europeia é "um inimigo" dos EUA, fica claro que o único elemento de política externa em que esta Casa Branca é estável e previsível é o alinhamento com o Kremlin. Nos Estados Unidos há quem fale num "suicídio geopolítico". No Público, a Teresa de Sousa aponta no mesmo sentido: "Putin só tem a ganhar. Trump tem bastante a perder".
     
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    OUTRAS NOTÍCIAS

    Hoje vai ser um dia animado na Assembleia da República. O ex-ministro da Economia Manuel Pinho vai ser ouvido na comissão parlamentar de inquérito (CPI) que investiga as rendas excessivas da energia, e o ainda ministro Azeredo Lopes vai à Comissão Parlamentar de Defesa num momento em que voltam a colocar-se dúvidas sobre o roubo de armamento em Tancos. O que quer de Azeredo Lopes diga aos deputados, não se irá ouvir - a audição será à porta fechada. Já a inquirição a Pinho será à porta aberta, mas é improvável que se lhe oiça alguma coisa de útil, tendo em conta a pouca vontade de dar explicações que o ex-ministro já demonstrou.

    A audição com o ministro da Defesa já estava programada, para abordar questões da NATO, mas acaba por acontecer num timing perfeito tendo em conta a manchete de sábado passadodo Expresso. A rocambolesca novela do roubo de armas em Tancos não acabou, e Azeredo Lopes continua a fazer lembrar o Mr. Magoo, que não só não viu nada nem sabe de nada, como garante que, a haver problema, não é dele. A julgar pelo comunicado do Ministério da Defesa, o ónus das explicações recai sobre o Ministério Público, que denunciou o facto de continuar a haver armamento desaparecido.

    Quanto a Manuel Pinho, vai de manhã dar explicações no Departamento Central de Investigação e Ação Penal, e à tarde aos deputados. Em ambos os casos, o pano de fundo são as decisões que Pinho tomou, quando era ministro da Economia de José Sócrates, aparentemente beneficiando a EDP. O novelo é complexo, como se espera de um caso que envolve o império Espírito Santo, o as rendas de energia Governo Sócrates e os Panamá Papers. Eis as cinco questões a que Pinho terá de responder... se quiser e tiver boas respostas para dar.

    Por falar em rendas excessivas da energia: segundo o DN, o último estudo da entidade reguladora da energia propunha que a EDP pagasse 176 milhões de euros ao Estado... em vez de receber.

    Ainda na Assembleia da República, hoje deverá ser aprovado em comissão parlamentar o novo regime do alojamento local. A Conceição Antunes explica aqui o que cada partido propõe.

    Ufff!... Cristiano Ronaldo passou nos testes médicos da Juventus e já é oficialmente jogador da “Velha Senhora”. A apresentação foi ontem ao fim da tarde, e Cristiano não deixou para os outros os elogios que sabe fazer a si próprio. Tudo verdade: é diferente dos outros, não gosta de descansar à sombra da bananeira, faz questão de deixar a sua marca por onde quer que passe. A Tribunaacompanhou a par e passo o que se passou na sala repleta de jornalistas, mas longe da euforia dos tifosi, que desde a manhã se concentraram no estádio à espera de ver o trintão que conseguiu uma transferência de valores galáticos.

    Qual o segredo da longevidade do sucesso de Ronaldo? Segundo uma entrevista do treinador holandês René Meulensteen, que trabalhou com o madeirense no Manchester United, o segredo está na sua capacidade de se reinventar como jogador ao longo da carreira.

    O negócio, esse, vai de vento em popa. Em três dias a 'Juve' já vendeu mais de meio milhão de camisolas com o nome de Ronaldo, o que corresponde a uma receita 54 milhões de euros (quase metade do valor da contratação). E, conta o Jornal de Negócios, desde que a transferência começou a ser noticiada, as ações do clube subiram mais de 23% - aumentando o valor dem bolsa da 'Vechia Signora' em mais de 150 milhões de euros.

    Na ressaca do Mundial da Rússia, ontem foi o dia da recepção triunfal de Paris à equipa francesae a euforia de Zagreb com a equipa croata. Por falar nisso: Luka Modric, o médio croata que foi eleito melhor jogador do Mundial, joga em Madrid desde 2012, ano em que o Real o contratou ao Tottenham por 30 milhões de euros. Foi a décima transferência mais cara desse ano. O jornal espanhol Marca recorda quem foram os nove jogadores que, há seis anos, ficaram à frente de Modric na bolsa de transferências. Como verá, alguns valem uma boa gargalhada.

    O FMI reviu em baixo a previsão de crescimento da zona euro para 2018 e 2019. Como pode ler aqui, são más notícias para Portugal, que tem seis economias do euro entre os dez principais destinos de exportação de bens.

    Com o seu governo a desfazer-se aos poucos em protesto contra a negociação de um Brexit suave, e em risco de cair da liderança dos conservadores e do executivo londrino, Theresa May deu ontem sinais de cedência à linha dura do seu partido. Porém, as primeiras consequências foram a queda da libra e uma nova fratura no Governo britânico.

    Não há nada que não aconteça ao PSD na Assembleia Municipal de Lisboa. Ontem, foram tiros.

    O i conta que ainda estão hospitalizadas três vítimas dos incêndios de outubro. E o Jornal de Notícias dá conta de que a madeira dos fogos florestais do ano passado está a apodrecer sem compradores.

    AS MANCHETES DE HOJE

    Público: "Estado paga mais a ex-gestores do BPN que a Costa ou Marcelo"
    Negócios: "Supervisores financeiros com regime mais exigente"
    Jornal de Notícias: "600 créditos por dia para comprar carro"
    i: "Ainda há três vítimas dos fogos de outubro hospitalizadas"
    Correio da Manhã: "Reformas de 2018 com novo aumento"

    O QUE ANDO A VER (E A OUVIR)
    Festivais de verão.
    Estamos na época deles, e também neste campeonato Portugal há muito que deixou de ser um país periférico. No sábado passado, no palco do NOS Alive, Alex Kapranos, o vocalista dos Franz Ferdinand, partilhava com o público a sua admiração pela qualidade do cartaz do festival. “Amazing line up”, dizia ele, notando que, ainda nesse dia, lhe iam suceder no mesmo palco Jack White e os Pearl Jam (e os MGMT). Nos dias anteriores, tinham por ali passado The National, Arctic Monkeys, Nine Inch Nails e Queens of the Stone Age - só para citar alguns dos nomes do palco principal. E o palco secundário foi todo um outro luxo, incluindo, entre outros, Eels, CHVRCHES e Perfume Genius. (A Lia Pereira refere, neste belo texto, a quantidade de "homens carismáticos" que atuaram neste festival - e, de facto, foram quase só homens...)

    Há umas semanas foi o Rock in Rio, no próximo fim de semana é o Super Bock Super Rock. E a fartura não é exclusiva de Lisboa.

    Em junho, o Porto recebeu o magnífico Primavera Sound. Em agosto, vou mudar-me por uns dias para o Vodafone Paredes de Coura. Poder ver ao vivo, no mesmo festival, e naquele cenário, Big Thief, Fleet Foxes, Kevin Morby, Marlon Williams e Arcade Fire, para nomear só alguns dos meus favoritos?... Como diria o Kapranos, “what an amazing line up!”

    Da mesma forma que me vou mudar por uns dias para o Norte para assistir a um festival, há cada vez mais estrangeiros a descobrir que Portugal se tornou um ponto de observação privilegiado sobre algum do melhor pop e rock que se faz por aí. O número de turistas que programam férias por cá para assistir a festivais de música não para de aumentar. Vêm atraídos pelo cartaz, pela competência da organização dos festivais e, suponho, por um país que sabe ser anfitrião. O mesmo se aplica aos músicos, que já não olham de lado os convites para atuar no extremo sudoeste da Europa.

    Ainda no sábado, os Portugal. The Man, um dos grupos que atuaram no Alive, puserem um post nas suas redes sociais sobre o seu espetáculo. (Parêntesis: Portugal. The Man são uns rapazes do Alasca que há uns anos decidiram fazer música por detrás de um alter-ego de nome exótico - aqui eles explicam como chegaram a este nome. Andaram anos no rock psicadélico e arredores, até explodirem com um sucessofunk/R&B que não tem nada a ver com o que faziam antes, como explica o meu colega Luís Guerra no Blitz). Voltando ao post dos Portugal. The Man, entre coisas bastante elogiosas e mais ou menos banais, agradecia ao país por ser “the most beautiful and accepting place we have ever been”. Há nesta frase uma palavra que vale a pena reter: “accepting”.

    Fico por aqui.
    Não se esqueça que hoje é dia de Comissão Política - pode ouvir o podcast de política do Expresso no nosso site ou nas plataformas habituais.
    Tenha uma boa terça-feira.
     
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