terça-feira, 17 de julho de 2018

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Filipe Santos Costa
FILIPE SANTOS COSTA
JORNALISTA DA SECÇÃO POLÍTICA
 
A pergunta simples que desmascarou Trump: "Em quem acredita?"
17 de Julho de 2018
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Bom dia.

Má notícia.

Mesmo antes de enviar este Expresso Curto, chegou a notícia da morte de João Semedo. Tornou-se conhecido do país como coordenador do Bloco de Esquerda, numa estranha liderança bicéfala com Catarina Martins - a dupla desfez-se porque não resultava, mas pouco tempo depois soube-se também que Semedo estava doente. O cancro que, depois de anos de luta, lhe ditou a morte aos 67 anos.

Médico, Semedo sabia bem da gravidade da doença que combatia e da fragilidade das vitórias que ia tendo. Acreditou sempre no Serviço Nacional de Saúde onde escolheu ser tratado. O SNS que foi criado por António Arnaut, que, não por coincidência, foi o parceiro de Semedo numa das suas últimas lutas políticas: uma proposta de nova lei de bases do SNS, totalmente privado. O ex-líder do BE ainda teve tempo de deixar a sua marca noutra luta política: a despenalização da eutanásia, causa em que reuniu gente de variados quadrantes políticos.

Ele tinha essa capacidade de passar por cima das fronteiras partidárias onde militou - primeiro, no PCP, depois no Movimento da Renovação Comunista, por fim no BE. Dos muitos (e merecidos) elogios que hoje lhe farão, o maior talvez seja esse: será elogiado - no seu empenho, na sua generosidade, na sua humanidade - por gente que em muita coisa pensava radicalmente diferente dele.

A "traição" de Trump

“Traição”, escreve o Guardian, com as letras todas, citando as reações que chegam de Washington. "Nada menos do que traição", escreveu John O. Brennan, antigo diretor da CIA. "Uma oportunidade perdida" e "um sinal de fraqueza", nas palavras de Lindsey Graham, senador republicano pela Carolina do Sul. "Vergonhoso"; "bizarro e simplesmente errado", escreveram outros congressistas do partido de Donald Trump. "Um dos desempenhos mais vergonhosos de que há memória por um presidente americano", considerou o senador John McCain, ex-candidato presidencial republicano.

Em causa está a conferência de imprensa de Trump, esta segunda-feira, ao lado de Vladimir Putin, depois da cimeira conjunta em Helsínquia. Um encontro histórico do qual pode resultar uma tempestade política de dimensão e consequências igualmente históricas. Colocado entre as informações recolhidas pelos serviços secretos norte-americanos e as juras feitas pelo homem do Kremlin, Trump escolheu um ladoDeu força ao histórico inimigo dos EUA e deixou cair as secretas norte-americanas, um dos bastiões do poderio de Washington. Se Philip Roth pudesse escrever outra vez "A Conspiração contra a América", não precisava de colocar a sua distopia no passado: bastava-lhe coligir factos do presente. O Trump real é mais perturbador do que o Lindbergh ficcional de Roth.

A questão continua a ser a interferência (ou não) de Moscovo na campanha presidencial de 2016, favorecendo a eleição de Trump. Para os serviços de intelligence dos EUA, já não há dúvidas sobre isso. Houve mesmo interferência russa para tramar Hilary Clinton. O procurador especial que investiga o caso, Robert Muller, também já está para além dessa dúvida. Na sexta-feira passada, doze russos foram acusados de piratear os servidores de altos responsáveis do Partido Democrata; esta segunda-feira, o Departamento de Justiça acusou mais uma russa de ter trabalhado com apoiantes de Trump (incluindo a National Rifle Association) em favor das posições de Moscovo - Mariia Butina funcionaria como um 'canal secreto' de ligação e chegou a propor antes das eleições um encontro entre Trump e Putin.

No ponto a que já chegaram as investigações, a questão não é se houve interferência. Até Paul Ryan, o republicano que ocupa o lugar de speaker da Câmara dos Representantes, já disse que, sobre isso, "não há dúvida". A questão é se, mais do que uma ação unilateral, houve conluio entre russos e a equipa de Trump. Mas não para Trump, que não perde a oportunidade de chamar fake news a qualquer facto comprovado e demonstrado que não lhe convenha. Ontem, com Putin ao seu lado na conferência de imprensa de Helsínquia, foi o momento da verdade.

"Em quem acredita?", perguntou o jornalista da Associated Press Jonathan Lemire. Perante a conversa redonda de Trump sobre as garantias dadas por Putin, nada como uma pergunta simples e direta. "Em quem acredita?" - e nem precisou de acrescentar: em Putin ou nas autoridades do seu país? A resposta de Trump foi, "inesquecível", como adjetiva o Washington Post. "A minha gente falou comigo, o Dan Coats [diretor dos serviços secretos] e outros, dizem que acham que foi a Rússia. Eu tenho o Presidente Putin a dizer que não foi a Rússia. Eu digo isto: não vejo por que razão seria... Eu confio nos dois lados." Foi o momento em que um presidente dos EUA deu tanto crédito à palavra de um ex-espião do KGB como à de todos os serviços secretos norte-americanos.

Como sempre, depois de dizer uma coisa, Trump veio fazer controlo de danos dizendo o seu exato contrário. E escolheu, claro, o Twitter, para jurar que tem "GRANDE confiança" (com letras maiúsculas, para que não fiquem dúvidas) nos seus serviços secretos. De acordo com o Washington Post, até os conselheiros de Trump ficaram siderados com as palavras do seu presidente em Helsínquia. "Completamente contra o planeado", disse um deles ao jornal da capital norte-americana. Pelo que conta o Vox, até já há na Casa Branca quem tente passar a ideia de que Trump tem uma qualquer limitação cognitiva ou psicológica que o impede de perceber a questão russa. Ao que isto chegou.

O conselho editorial do Washington Post publicou poucas horas depois da conferência de imprensa um texto de opinião em que considera que ficou ali provado o conluio de Trump com os russos. Um colaborador do jornal escreveu que "o momento pedia que Trump defendesse a América. Em vez disso, ele curvou-se". No New York Times lê-se que "talvez o presidente esteja exatamente tão comprometido [com os russos] como parece". Se tivermos em conta que tudo isto acontece depois de Trump ter desancado os seus parceiros do G7, depois de ter ameaçado por em causa o futuro da NATO, e depois de ter considerado que a União Europeia é "um inimigo" dos EUA, fica claro que o único elemento de política externa em que esta Casa Branca é estável e previsível é o alinhamento com o Kremlin. Nos Estados Unidos há quem fale num "suicídio geopolítico". No Público, a Teresa de Sousa aponta no mesmo sentido: "Putin só tem a ganhar. Trump tem bastante a perder".
 
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Hoje vai ser um dia animado na Assembleia da República. O ex-ministro da Economia Manuel Pinho vai ser ouvido na comissão parlamentar de inquérito (CPI) que investiga as rendas excessivas da energia, e o ainda ministro Azeredo Lopes vai à Comissão Parlamentar de Defesa num momento em que voltam a colocar-se dúvidas sobre o roubo de armamento em Tancos. O que quer de Azeredo Lopes diga aos deputados, não se irá ouvir - a audição será à porta fechada. Já a inquirição a Pinho será à porta aberta, mas é improvável que se lhe oiça alguma coisa de útil, tendo em conta a pouca vontade de dar explicações que o ex-ministro já demonstrou.

A audição com o ministro da Defesa já estava programada, para abordar questões da NATO, mas acaba por acontecer num timing perfeito tendo em conta a manchete de sábado passadodo Expresso. A rocambolesca novela do roubo de armas em Tancos não acabou, e Azeredo Lopes continua a fazer lembrar o Mr. Magoo, que não só não viu nada nem sabe de nada, como garante que, a haver problema, não é dele. A julgar pelo comunicado do Ministério da Defesa, o ónus das explicações recai sobre o Ministério Público, que denunciou o facto de continuar a haver armamento desaparecido.

Quanto a Manuel Pinho, vai de manhã dar explicações no Departamento Central de Investigação e Ação Penal, e à tarde aos deputados. Em ambos os casos, o pano de fundo são as decisões que Pinho tomou, quando era ministro da Economia de José Sócrates, aparentemente beneficiando a EDP. O novelo é complexo, como se espera de um caso que envolve o império Espírito Santo, o as rendas de energia Governo Sócrates e os Panamá Papers. Eis as cinco questões a que Pinho terá de responder... se quiser e tiver boas respostas para dar.

Por falar em rendas excessivas da energia: segundo o DN, o último estudo da entidade reguladora da energia propunha que a EDP pagasse 176 milhões de euros ao Estado... em vez de receber.

Ainda na Assembleia da República, hoje deverá ser aprovado em comissão parlamentar o novo regime do alojamento local. A Conceição Antunes explica aqui o que cada partido propõe.

Ufff!... Cristiano Ronaldo passou nos testes médicos da Juventus e já é oficialmente jogador da “Velha Senhora”. A apresentação foi ontem ao fim da tarde, e Cristiano não deixou para os outros os elogios que sabe fazer a si próprio. Tudo verdade: é diferente dos outros, não gosta de descansar à sombra da bananeira, faz questão de deixar a sua marca por onde quer que passe. A Tribunaacompanhou a par e passo o que se passou na sala repleta de jornalistas, mas longe da euforia dos tifosi, que desde a manhã se concentraram no estádio à espera de ver o trintão que conseguiu uma transferência de valores galáticos.

Qual o segredo da longevidade do sucesso de Ronaldo? Segundo uma entrevista do treinador holandês René Meulensteen, que trabalhou com o madeirense no Manchester United, o segredo está na sua capacidade de se reinventar como jogador ao longo da carreira.

O negócio, esse, vai de vento em popa. Em três dias a 'Juve' já vendeu mais de meio milhão de camisolas com o nome de Ronaldo, o que corresponde a uma receita 54 milhões de euros (quase metade do valor da contratação). E, conta o Jornal de Negócios, desde que a transferência começou a ser noticiada, as ações do clube subiram mais de 23% - aumentando o valor dem bolsa da 'Vechia Signora' em mais de 150 milhões de euros.

Na ressaca do Mundial da Rússia, ontem foi o dia da recepção triunfal de Paris à equipa francesae a euforia de Zagreb com a equipa croata. Por falar nisso: Luka Modric, o médio croata que foi eleito melhor jogador do Mundial, joga em Madrid desde 2012, ano em que o Real o contratou ao Tottenham por 30 milhões de euros. Foi a décima transferência mais cara desse ano. O jornal espanhol Marca recorda quem foram os nove jogadores que, há seis anos, ficaram à frente de Modric na bolsa de transferências. Como verá, alguns valem uma boa gargalhada.

O FMI reviu em baixo a previsão de crescimento da zona euro para 2018 e 2019. Como pode ler aqui, são más notícias para Portugal, que tem seis economias do euro entre os dez principais destinos de exportação de bens.

Com o seu governo a desfazer-se aos poucos em protesto contra a negociação de um Brexit suave, e em risco de cair da liderança dos conservadores e do executivo londrino, Theresa May deu ontem sinais de cedência à linha dura do seu partido. Porém, as primeiras consequências foram a queda da libra e uma nova fratura no Governo britânico.

Não há nada que não aconteça ao PSD na Assembleia Municipal de Lisboa. Ontem, foram tiros.

O i conta que ainda estão hospitalizadas três vítimas dos incêndios de outubro. E o Jornal de Notícias dá conta de que a madeira dos fogos florestais do ano passado está a apodrecer sem compradores.

AS MANCHETES DE HOJE

Público: "Estado paga mais a ex-gestores do BPN que a Costa ou Marcelo"
Negócios: "Supervisores financeiros com regime mais exigente"
Jornal de Notícias: "600 créditos por dia para comprar carro"
i: "Ainda há três vítimas dos fogos de outubro hospitalizadas"
Correio da Manhã: "Reformas de 2018 com novo aumento"

O QUE ANDO A VER (E A OUVIR)
Festivais de verão.
Estamos na época deles, e também neste campeonato Portugal há muito que deixou de ser um país periférico. No sábado passado, no palco do NOS Alive, Alex Kapranos, o vocalista dos Franz Ferdinand, partilhava com o público a sua admiração pela qualidade do cartaz do festival. “Amazing line up”, dizia ele, notando que, ainda nesse dia, lhe iam suceder no mesmo palco Jack White e os Pearl Jam (e os MGMT). Nos dias anteriores, tinham por ali passado The National, Arctic Monkeys, Nine Inch Nails e Queens of the Stone Age - só para citar alguns dos nomes do palco principal. E o palco secundário foi todo um outro luxo, incluindo, entre outros, Eels, CHVRCHES e Perfume Genius. (A Lia Pereira refere, neste belo texto, a quantidade de "homens carismáticos" que atuaram neste festival - e, de facto, foram quase só homens...)

Há umas semanas foi o Rock in Rio, no próximo fim de semana é o Super Bock Super Rock. E a fartura não é exclusiva de Lisboa.

Em junho, o Porto recebeu o magnífico Primavera Sound. Em agosto, vou mudar-me por uns dias para o Vodafone Paredes de Coura. Poder ver ao vivo, no mesmo festival, e naquele cenário, Big Thief, Fleet Foxes, Kevin Morby, Marlon Williams e Arcade Fire, para nomear só alguns dos meus favoritos?... Como diria o Kapranos, “what an amazing line up!”

Da mesma forma que me vou mudar por uns dias para o Norte para assistir a um festival, há cada vez mais estrangeiros a descobrir que Portugal se tornou um ponto de observação privilegiado sobre algum do melhor pop e rock que se faz por aí. O número de turistas que programam férias por cá para assistir a festivais de música não para de aumentar. Vêm atraídos pelo cartaz, pela competência da organização dos festivais e, suponho, por um país que sabe ser anfitrião. O mesmo se aplica aos músicos, que já não olham de lado os convites para atuar no extremo sudoeste da Europa.

Ainda no sábado, os Portugal. The Man, um dos grupos que atuaram no Alive, puserem um post nas suas redes sociais sobre o seu espetáculo. (Parêntesis: Portugal. The Man são uns rapazes do Alasca que há uns anos decidiram fazer música por detrás de um alter-ego de nome exótico - aqui eles explicam como chegaram a este nome. Andaram anos no rock psicadélico e arredores, até explodirem com um sucessofunk/R&B que não tem nada a ver com o que faziam antes, como explica o meu colega Luís Guerra no Blitz). Voltando ao post dos Portugal. The Man, entre coisas bastante elogiosas e mais ou menos banais, agradecia ao país por ser “the most beautiful and accepting place we have ever been”. Há nesta frase uma palavra que vale a pena reter: “accepting”.

Fico por aqui.
Não se esqueça que hoje é dia de Comissão Política - pode ouvir o podcast de política do Expresso no nosso site ou nas plataformas habituais.
Tenha uma boa terça-feira.
 
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