Não é por acaso que o Sporting não ganhou qualquer jogo na Liga ao Porto, Benfica e Braga - é por causa disto (a análise tática ao dérbi)
Quase 24 horas depois, ainda há muitas explicações por dar relativamente à estratégia e às táticas de cada um dos treinadores no Sporting-Benfica (0-0) que resultou no título para o Porto. Este texto oferece algumas
06.05.2018 ÀS 17H29
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No último derby da época houve mais Benfica do que Sporting, principalmente durante a primeira parte, onde a equipa de Rui Vitória foi muito superior ofensivamente. Foi um Benfica com mais qualidade a ligar o seu processo ofensivo em ataque posicional porque o fez de maneira apoiada através de combinações curtas, ao contrário do Sporting que procurou sempre um futebol menos elaborado.
As dificuldades do Sporting em ataque posicional não são nenhuma novidade, mas nos jogos contra equipas cuja a organização defensiva é mais competente do que o habitual o Sporting é praticamente inexistente nesse momento do jogo.
Foi um Benfica posicionado num bloco muito compacto, com a linha defensiva alta e sempre com Fejsa a oferecer cobertura defensiva aos dois médios interiores (Samaris e Zivkovic), não permitindo muito espaço para que Bruno Fernandes pudesse receber a bola entre linhas.
No sábado, bem como em vários jogos contra equipas com esta competência no posicionamento defensivo, o que se viu foi um Sporting sempre com pouco critério a sair desde trás, preferindo muitas vezes um passe longo pelo ar do que uma circulação apoiada. Um Sporting sempre à espera de um rasgo individual de Gelson ou Bruno Fernandes para conseguir progredir em campo. Um Sporting sem qualquer criatividade ofensiva a nível coletivo (tudo demasiado previsível), e incapaz de chegar à área do Benfica de forma apoiada para garantir melhores condições para finalizar.
Não é por acaso que o Sporting não ganhou qualquer jogo para o campeonato ao Porto, Benfica e Braga, e não sendo apenas pelas dificuldades em criar situações de golo em ataque posicional, obviamente que isto teve uma grande influência.
A já referida capacidade do Benfica em construir e criar de forma apoiada, e não querendo retirar nenhum mérito à maneira como o fizeram, teve muito demérito do Sporting em organização defensiva. Em muitos momentos do jogo as distâncias entre as linhas defensivas e mesmo entre os elementos da mesma linha foram enormes, e isso permitiu aos jogadores do Benfica progredir de forma curta e apoiada e chegar várias vezes ao espaço entre a linha defensiva e a linha média do Sporting.
Repare-se no lance que se segue a quantidade de espaço existente entre a linha defensiva do Sporting e os dois médios, William e Battaglia. Em nenhum momento do lance conseguiram posicionar-se entre a bola e a baliza de Rui Patrício de modo a dar cobertura defensiva a
Gelson e proteger o espaço à frente de Coates e Mathieu. Bastou uma simples tabela entre Grimaldo e Jimenez e o Benfica chegou ao espaço de criação, apenas com a linha defensiva do Sporting pela frente.
Já sem William em campo, o Sporting continuava a permitir demasiado espaço entre a sua linha defensiva e a linha média. Neste lance que se segue, muito bem os jogadores do Benfica a combinar no corredor lateral de modo a fazer a bola chegar ao espaço entre os defesas e os médios do Sporting; mas repare-se na distância de Battaglia para a zona da bola, que nunca ofereceu cobertura defensiva a Coentrão e Acuña - e nunca protegeu o espaço à frente de Coates e Mathieu.
O Sporting voltou a ser inferior taticamente num jogo entre grandes, não conseguindo criar praticamente nenhuma situação de golo (a excepção foi o lance de Dost a terminar a primeira parte). Além disso, como já tinha acontecido noutros jogos contra Benfica e Porto, a equipa de Jorge Jesus voltou a conceder muitas oportunidades de golo e bem pode agradecer a Rui Patrício e aos dois centrais (Coates e Mathieu fizeram um grande jogo) não ter saído derrotado no último dérbi da época.