sexta-feira, 20 de outubro de 2017

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Henrique Monteiro
HENRIQUE MONTEIRO
REDATOR PRINCIPAL
 
Madrid, capital da Catalunha
20 de Outubro de 2017
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Pode não parecer, mas amanhã dar-se-á um passo decisivo na Espanha, na Península e na EuropaO Governo catalão ameaça declarar o território independente porque o Governo de Espanha vai pôr em marcha o artigo 155 da Constituição que passa todos os muitos poderes da autonomia para um organismo central. Este artigo, que nunca foi aplicado, tem maioria assegurada no Senado, cuja mesa tem de desencadear a ação, depois de aprovada pelo Executivo. A União Europeia apoia firmemente Madrid e recusou mesmo atuar como mediadora no caso. Também quase todas as diplomacias do mundo estão contra a separação (incluindo a portuguesa), ao passo que as empresas mais importantes da Catalunha, e são já mais de 900, retiraram as sedes da região. A concretizar-se a secessão, cujo apoio maioritário da população não é claro, o ‘novo país’ seria obrigado a abandonar a União Europeia (a que os britânicos já chamam Catalexit) e o Euro, aspeto que mais assusta os empresários.
A hipótese de eleições na Catalunha promovidas por Madrid (como reclama o PSOE) esbarra com a esmagadora maioria de presidentes de Câmara a favor da independência. Ainda assim, em votos contados, o PP, o PSC (PSOE da região) e o Ciudadanos têm, em conjunto, mais apoio do que os partidos independentistas, dois dos quais são da esquerda radical – CUP (anarquistas) e ERC (Esquerda Republicana Catalã). Embora algumas vozes digam que a questão é política, e cheguem a afirmar que a política está acima da lei Constitucional – uma posição bizarra sobre o Estado de Direito – o certo é que a Lei Fundamental de Espanha (aprovada na Catalunha com quase 90% de votos favoráveis) considera o país indivisível.
Uma solução negociada parece estar longe e muita gente teme que a violência se espalhe nas ruas da região. (Em inglês, da BBC, aqui tem o problema em 300 palavras, posições a favor e contra a independência e a pergunta fundamental – seria a Catalunha um país viável?).

FOGOS
Ainda haverá algo a dizer sobre os fogos florestais? Parece quase tudo dito, salvo que jamais esqueceremos este verão e os seus mais de 100 mortos (ontem mais um falecido foi encontrado), como nunca esquecemos as terríveis cheias de Lisboa em 1967, a derrocada da ponte de Entre-os-Rios, em 2001, a queda de um avião na Madeira (1977) ou de outro em Faro (1992). Amanhã o Governo reúne para aprovar medidas para o setor, incluindo as que vêm no relatório da Comissão Independente sobre Pedrógão; o comissário dos Assuntos Económicos da UE, Pierre Moscovici, já veio dizer que as despesas relacionadas com os fogos florestais serão consideradas como excecionais, de modo a não contarem para o défice. Jean-Claude Junckerapelou, na sequência de idêntico apelo do Presidente Francês Emmanuel Macron, a um sistema europeu de Proteção Civil. Já António Costa revelou que os fogos florestais ocuparam parte da reunião do Conselho Europeu e aproveitou para agradecer a solidariedade e criticar a falta de meios ao nível da Europa. Mas ainda ficaram histórias para contar, tirando as politiquices, as análises e a moção de censura que o CDS apresenta na próxima semana e que só terá o apoio do PSD.
São muitos os portugueses com raízes nas zonas ardidas, uma vez que estas, entre junho e o fim de semana passado, se estenderam por todo o Norte do país. Nessas raízes estão sentimentos, família, amigos, recordações, paisagens, cheiros, cores. Se não fosse Marcelo, dir-se-ia que o Governo não percebera este aspeto fundamental: Quase todos temos um pedaço da nossa terra que ardeu.
Enquanto o presidente da Autoridade da Proteção Civil apresentou a demissão, o responsável da Agricultura veio, desde já, alertar para a urgência de atuar sobre os animais mortos ou feridos pelo fogo. Capoulas Santos conta com o apoio da Ordem dos Médicos Veterinários e com outros especialistas para atacar, de imediato, este problema sanitário.
Presidente da República continua o seu périplo pelas zonas afetadas, ouvindo os autarcas. Já contabilizou, entre várias desgraças, a perda de mais de mil empregos diretos nas zonas mais afetadas.
Má notícia é que o Instituto de Meteorologia alerta que, embora possa chover sábado, de domingo a quarta estarão temperaturas altas em que fogos florestais são possíveis acontecer.

Orçamento de Estado, apesar de entregue há uma semana, deverá ser acrescido com mais dotações para a prevenção dos fogos (o que significa que o incêndio de Pedrógão estava bastante esquecido). O défice deve aumentar, mas não parece haver outra alternativa. De qualquer modo, tudo será tratado em sede de discussão na especialidade. Ou seja, há tempo, até ao fim de novembro para se fazerem as engenharias que pareçam melhor. Apenas um dado para pensar: a Autoridade Nacional de Proteção Civil tem como dotação o mesmo que o Governo prometeu de acréscimo aos enfermeiros perante uma ameaça de greve. A informação foi dada à RR e ao ´Público’ pelo líder parlamentar do CDSNuno Magalhães.
 
OUTRAS NOTÍCIAS
A poluição 
parece estar na origem de um sexto das mortes verificadas no mundo. Ou seja.nove milhões de mortes em 2015, das quais o maior número de vítimas está no Bangladesh, Somália e Chad. 'O Público' noticia hoje que o novo vírus da gripe das aves (H7N9), que como sempre vem do Leste, está mais perigoso e resistente.

Xi Jinping deve ser. hoje em dia, o mais poderoso homem do mundo, nestes tempos. O líder do Partido Comunista e Presidente da China fez um discurso no 19º Congresso do PCCh que dissipa quaisquer dúvidas sobre a sua predominância no país e o papel que quer desempenhar no mundo. Os norte-americanos acham que depois disto ele será mais duro com Kim Jong-Un.

O diretor da CIA, Mike Pompeo, veio alertar esta madrugada que a Coreia do Norte pode estar apenas a meses de concretizar a possibilidade de atingir os EUA com um missil nuclear.

Portugal está fora deste clube nuclear, mas ainda assim tem um caso com armas. No nosso retângulo elas desaparecem para depois aparecerem perto de casa, como um filho pródigo que regressa a penates. Toda a história é tão estranha que é melhor vê-la do que contá-la. Eis aquiaqui e aqui o que a SIC Notícias apurou. Ressalta-se que as 1500 munições de 9mm (que servem as armas roubadas à PSP há mais tempo) não voltaram… Os partidos mais à esquerda e mais à direita acham estranho.

TAP anunciou que a partir de Novembro de 2018 vai começar a pagar a dívida em fatias de 10 milhões por mês. A dívida assumida é de 600 milhões.

BPI, agora detido pelo catalão CaixaBank (que mudou a sua sede de Barcelona para Valência), apresentou lucros de 23 milhões em nove meses.

Santana Lopes abandona hoje a Santa Casa da Misericórdia, a que presidia. Domingo apresenta formalmente a sua candidatura a líder do PSD.

A remuneração dos trabalhadores portugueses aumentou
 na última década, mas permanece abaixo da média europeia. Já o número de trabalhadores temporários é o terceiro mais elevado da UE.

A nova primeira-ministra da Nova ZelândiaJacinda Ardern, do Partido Trabalhista, tem 37 anos e é a mulher mais jovem de sempre a liderar um país. Formou um Governo em coligação com os Verdes e com o pequeno NZF, populista de direita. Isto apesar de não ter ganho as eleições. Mais uma 'geringonça'.

Quentin Tarantino, o mítico realizador, veio dizer que sabia o suficiente do assédio do produtor de Hollywood Harvey Weinstein para ter feito mais do que fez.Outro ator, Tom Hanks, diz o que é preciso mudar e uma parada de estrelas fala da suafalta de coragem ou das relações estranhas que teve com Weinsten

No Benfica uma enorme brigada da PJ, MP e magistrados judiciais fez buscas relacionadas com os mails mostrados pelo porta-voz do FC do Porto na televisão Porto Canal. A PGR diz que prossegue as investigações pelo crime de corrupção, tendo estado na SAD, no clube, em casa do presidente, do comentador Pedro Guerra e de outros notáveis benfiquistas. O clube diz que aguarda pacientemente o resultado das buscas, que espera virem a desmentir o que tem dito o porta-voz do FC Porto e esclareçam aviolação do sistema informático do SLB.

Futebol - Depois de Porto (em Leipzig), Benfica(em casa com o Manchester United) e Sporting (em Turim com a Juventus) na Liga dos Campeões, também o Braga (em casa com o Ludorgets) e o Guimarães (em Marselha) perderam na Liga Europa. Na Taça de Portugal a sorte dos três grandes não foi, apesar de tudo, madrasta; todos jogam em casa: O Porto recebe o Portimonense; o Sporting o Famalicão; o Benfica o Vitória de Setúbal. Entretanto o Tondela cortou relações com o Belenenses por este clube não querer adiar o jogo, sendo que o primeiro não conseguiu treinar em condições devido aos fogos. (todas estas notícias aqui, na Tribuna Expresso)


FRASES (especial fogos)
“O povo, o fogo e água não podem nunca ser domados”, Focílides, poeta grego de Mileto (séc. VI a.C.).

“Acreditar que um inimigo débil não nos pode magoar é acreditar que uma faísca não pode incendiar uma floresta”Muslih-Ud-Din Saad (séc. XIII) poeta iraniano.

“Há quem cruze um bosque e só veja lenha para o fogo”, Leon Tolstoi, (1828-1910) romancista russo

“A única vantagem de se brincar com o fogo é aprendermos a não nos queimarmos”Oscar Wilde(1854-1900) dramaturgo e romancista britânico (irlandês)

“A ira é como o fogo, não se pode apagar senão na primeira chispa. Depois é tarde”Giovanni Papini(1881-1956) escritor italiano


O QUE EU ANDO A LER
Preferem a verdade, certo? Então ando a ler um livro que uns três ou quatro autores do Curto já recomendaram antes de mim. Não tenho culpa! Como fui a São Petersburgo, cidade construída por Pedro o Grande, achei boa ideia ler os Romanov de Simon Sebag Montefiore. O que se pode dizer sobre um livro excecional, milimétrico na verdade histórica, horroroso pelos factos narrados (esquartejamentos seguidos de empalações e coisas do género)? Tudo e nada. É melhor lerem e perceberem por que motivo o Governo russo é assim e por que motivo os russos que se cruzam connosco continuam com ar sério a olhar o chão ou o nada. A dinastia que fez a Rússia tal como a conhecemos, através de um esguio e esconso descendente de Ivan o Terrível, no séc. XVII, e que morreu – os czares, os descendentes e os colaterais - há quase 100 anos (1918) perante um pelotão de fuzilamento dos bolcheviques, é-nos desvendada em absoluto. É fantástico!

E por hoje é tudo. Logo há o Expresso Diário, às 18 horas e amanhã sai o Expresso semanal – em papel e em digital – com as mais apuradas histórias, além de um especial digital com as melhores histórias da semana. Na segunda-feira, por esta hora, cá estará o Curto.

Um excelente fim de semana para todos!
 
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Sexta-feira 20 Outubro 2017

MICHAEL RENNIER

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O limão é uma fruta maravilhosa para sua saúde e até para sua aparência

RÁDIO VATICANO

Papa: hoje também existem muitos fariseus

"Por isso é necessário rezar por nós pastores", pediu …
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AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Pedra despenca e mata turista em basílica de Florença

ZELDA CALDWELL

Freiras medievais faziam reciclagem beeeeem antes que ela virasse moda

Tecidos achados num convento cisterciense foram feitos de pergaminho

SEMPRE FAMÍLIA

Como anos de pílula anticoncepcional me trouxeram depressão e ataques de pânico

Para Vicky Spratt, o uso de contracepção hormonal foi uma espécie de roleta-russa que a jogou no fundo do poço

ACI DIGITAL

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Sim: temos mais um especial intercessor além de Nossa Senhora Aparecida

REDAÇÃO DA ALETEIA

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REDAÇÃO DA ALETEIA

Círio de Nazaré ganha museu virtual em 360 graus

De acordo com idealizadores, este é o primeiro museu deste tipo no Brasil

REDAÇÃO DA ALETEIA

Fotografia desmente boatos de que Bento XVI estaria agonizando

Imagem foi publicada pelo diretor de imprensa do Vaticano

PELA POSITIVA


Posted: 19 Oct 2017 04:50 PM PDT

Ainda com os diálogos do Papa Francisco e de Dominique Wolton: Politique et Société. Concluo.

1. Um tema que atravessa todo o livro é a política. Francisco pronuncia-se sob múltiplos ângulos. Trump "terá dito de mim que sou um homem político... Agradeci--lhe, porque Aristóteles define a pessoa humana como um animal político, e é uma honra para mim. Portanto, sou, pelo menos, uma pessoa! Quanto aos muros..." "A Igreja deve servir em política, lançando pontes: é esse o seu papel diplomático. "O trabalho dos núncios é lançar pontes"." Mas há "a grande política e a pequena política. A Igreja não deve meter-se na política partidária. A política, a grande política, é uma das formas mais elevadas de amor. Porquê? Porque está orientada para o bem comum de todos". "Há sempre uma relação com a política. Porque a pastoral não pode não ser política", para indicar caminhos e valores do Evangelho. Mas concorda com Wolton na denúncia do fundamentalismo e "do risco de fusão da religião e da política".

2. Sobre as desigualdades. Os números: "Hoje, no mundo, 62 ricos possuem a mesma riqueza que 3,5 mil milhões de pobres. Há hoje 871 milhões de pessoas com fome, 250 milhões de migrantes que não têm para onde ir, que não têm nada. Mas o tráfico de droga envolve mais ou menos 300 mil milhões de dólares e pensa-se que, nos paraísos fiscais, 2,4 milhões de milhões de dólares circulam de um lugar para outro."
Na base, está "o ídolo dinheiro". "Caímos na idolatria do dinheiro." Segundo o Evangelho, há incompatibilidade entre Deus e o dinheiro, quando este é divinizado. "Os dois pilares da fé cristã, das nossas riquezas, são: as Bem-aventuranças e o capítulo 25 de São Mateus, que estabelece o critério pelo qual seremos julgados": tive fome, tive sede, e destes-me de comer, de beber...; "é aqui que está a nossa riqueza. Mas irá dizer que sou um Papa demasiado simplista! [risos]. Graças a Deus..."
Wolton: "Diz que é necessário o Estado e que se comprometa..." Francisco: "A economia liberal de mercado é uma loucura. Temos necessidade de que o Estado regule um pouco. E é o que falta: o papel do Estado regulador. Por isso, peço que se abandone a "liquidez" da economia para voltar a qualquer coisa de concreto, isto é, à economia social de mercado: mantenho o mercado, mas "social" de mercado." O problema é "uma economia líquida. A finança". Wolton concorda: "A finança é um modelo de liberalismo demasiado desigual. A finança comeu a economia, que comeu a política..." E Francisco: "É o virtual contra o real." Para meditação, avisa: "Na morte, não levaremos dinheiro connosco. Nunca vi atrás de um carro funerário um camião com os haveres da residência anterior..."

3. Sobre as migrações e a Europa. Francisco é o primeiro Papa jesuíta da história e também o primeiro latino-americano. Argentino, filho de pais italianos, imigrados. "A identidade do povo argentino provém da mestiçagem, porque as vagas de imigrações misturaram-se, misturaram-se... E eu senti-me sempre um pouco assim. Para nós, era absolutamente normal ter na escola várias religiões em conjunto."
Esta sua experiência contribuirá para a sua sensibilidade para com os migrantes. Considera aliás que a teologia cristã é "uma teologia de migrantes", "o próprio Jesus foi um refugiado, um emigrante".
"O problema começa nos países donde vêm os emigrantes. Porque deixam a sua terra? Por falta de trabalho ou por causa da guerra. São as razões principais... Pode-se investir, as pessoas terão uma fonte de trabalho e não terão necessidade de partir. Mas, se há guerra, de qualquer modo, têm de fugir. Ora, quem faz a guerra? Quem dá as armas? Nós."
"A Europa é uma história de integração cultural, multicultural, muito forte. Neste momento, a Europa tem medo. Ela fecha, fecha, fecha..." A questão é que "creio que a Europa se tornou uma "avó". Ora, eu quereria ver uma Europa mãe. A Europa pode perder o sentido da sua cultura, da sua tradição. Pensemos que é o único continente a ter-nos dado uma tão grande riqueza cultural, quero sublinhá-lo. A Europa é o berço do humanismo. A Europa deve reencontrar as suas raízes, também cristãs. E não ter medo. Não ter medo de tornar-se a Europa mãe". E atira de modo mordaz: "Se os europeus querem ficar só com europeus, façam filhos!" Inquietação maior: "Já não vejo estadistas como Schuman, como Adenauer..."

4. Wolton lança desafios a Francisco.

4. 1. Seja como for, "a Europa representa o maior "estaleiro" pacífico democrático da história do mundo". Porque é que as Igrejas não convocam, com todas as religiões e famílias de pensamento, um "acontecimento solene, para dizer que é fundamental" que a união da Europa resulte? Trata-se da "maior utopia democrática da história da humanidade: nunca 27 a 30 países, isto é, 500 milhões de habitantes com 25 línguas, tentaram pacificamente coabitar". Francisco: "Desejo fazer um encontro sobre a Europa com os intelectuais europeus", do Atlântico aos Urais...

4. 2. Há tensão à volta da diversidade cultural. Francisco reafirma que a Igreja não pode ser "imperialista" e que a globalização "em forma de esfera é má" enquanto a Igreja fala da globalização em "poliedro".

4. 3. É urgente uma reflexão crítica sobre a comunicação: por todo lado há comunicação técnica e, no entanto, "nunca houve tanta incomunicação"; está-se perante o perigo de "uma forma de esquizofrenia da comunicação": uma mundialização das técnicas e cada vez menos comunicação humana; não há "o toque, falta o corpo". E pense-se no poder inaudito, quanto a dinheiro e controlo, dos GAFA (Google, Apple, Facebook, Amazon)...

5. Wolton confessa que foi um privilégio dialogar com "uma das personalidades intelectuais e religiosas mais excecionais do mundo". Duas frases o marcaram: "Não tenho medo de nada" e "Não é fácil, não é fácil..."

Anselmo Borges no Diário de Notícias

*padre e professor de filosofia
Posted: 19 Oct 2017 04:30 PM PDT

A figura e a inscrição na moeda que os fariseus mostram a Jesus constituem o ponto de partida para o ensinamento que o Evangelho de hoje nos transmite. (Mt 22, 15-22). As autoridades queriam desforra pelos desafios que as atitudes de Jesus lhes lançavam. Haviam tentado apanhá-lo já em alguma questão acusatória. Agora colocam-lhe a pergunta envenenada: “É lícito pagar o imposto a César ou não?”. São seus porta-vozes alguns fariseus e outros partidários de Herodes, aliados de circunstância para a armadilha dar resultado.

E têm tudo bem pensado. Procuram captar a benevolência de Jesus, elogiando-o com menções honrosas verificáveis: Sabemos que és verdadeiro, ensinas o caminho de Deus, não fazes acepção de pessoas porque vais para além das aparências. Dir-se-ia que para começar não havia melhor entrada. Mas palavras são palavras que podem esconder a realidade. E esta era a intenção dos “inocentes louvaminhas”, intenção que Mateus, o narrador do relato, apresenta de modo claro: Os fariseus fizeram um plano para apanhar Jesus.

Plano bem urdido, temos de reconhecer. Logicamente qualquer resposta seria comprometedora. Se Jesus dissesse: Não se deve pagar o imposto, seria acusado de subversivo; pelo contrário; se concordasse com o pagamento, não sintonizava com os gemidos do povo subjugado pelas forças do Império Romano. De qualquer modo, ficava sempre mal visto e com provas condenatórias. Que momento delicado vive Jesus. E tem de tomar uma decisão urgente. Que terá sentido no seu coração apertado? Que critérios se podem descortinar na sua atitude? Ela vai ser desconcertante e os seus adversários ficam espantados. De admiradores “louvaminhas”, passam a cúmplices acusados, de homens verdadeiros a hipócritas denunciados, de tentadores disfarçados a gente desmascarada. E para cúmulo, diríamos com humor, a sua reacção a este “tratamento de excelência” é de admiração e não de confusão, como seria normal.

“Mostrai-me a moeda do imposto. De quem é a figuira e a inscrição?”. “De César”, dizem. E Jesus olhando a efigie do imperador, responde: “Dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. E eles ficam admirados. E nem era para menos. Como podiam fazer-lhe qualquer acusação? A sabedoria triunfa sobre a artimanha e a verdade ilumina não apenas a relação entre o poder civil e a autoridade religiosa, como alguns chegam a pensar, mas o rosto de Deus que deixa a sua imagem e semelhança no ser humano, homem e mulher, o reflexo da sua beleza no santuário da consciência pessoal, os vestígios da sua impressão digital nas criaturas e na criação. O cunhar moeda, o pagar impostos, o regime fiscal e tudo o que se liga com esta rede deve estar em consonância com aquela verdade primeira, e, sendo justos, isto é servindo o bem comum ou, pelo menos da maioria necessitada, tornam-se obrigatórios moralmente, e os prevaricadores, incluindo a própria autoridade que os estabeleceu, são passíveis de penalização legal.

Em comentário a este episódio, afirma Frei Raimundo de Oliveira, op: “O imposto era o sinal da dominação romana; os fariseus rejeitavam-na, mas os partidários de Herodes aceitavam-na. Se Jesus responde «sim», os fariseus desacreditá-Lo-iam diante do povo; se diz «não», os partidários de Herodes poderão acusá-lo de subversão. Mas Jesus não discute a questão do imposto. Ele só se preocupa com o povo: A moeda é «de César», mas o povo é «de Deus». O imposto só é justo quando reverte em benefício do bem comum. Jesus condena a transformação do povo em mercadoria que enriquece e fortalece tanto a dominação interna como a estrangeira”. (Bíblia Pastoral, Ed. São Paulo Lisboa 1993, p. 1380, em nota de roda-pé). 

“Dar a Deus o que é de Deus” é consigna para todo o sempre porque o homem realizar-se-á no seu melhor: ama sem acepção de pessoas nem fronteiras de tempo; vive e convive amigavelmente com todos os humanos e com respeito pela criação inteira; situa-se na história como agente responsável na escuta dos gemidos das criaturas oprimidas e na sua libertação integral; aspira a que os direitos básicos sejam assegurados a todos, designadamente o da dignidade, da alimentação, do vestuário, da saúde e de tantos outros. O contrário será o drama da humanidade, sempre possível!

“Dar a Deus o que é de Deus” é ver respeitada a liberdade de consciência e poder expressá-la pessoalmente e de forma associada, na rua e nos templos, dentro de um quadro legal que facilite a harmonia de cidadãos que vivem numa sociedade plural. É sentir-se reconhecido nesta relação com a fonte original de todos os bens e ver facilitada, mediante a criação de condições favoráveis, a transmissão dos valores correspondentes a educação nas famílias, nas escolas de serviço público, na comunicação social.

“Dar a Deus o que é de Deus” é dar largas ao coração que exulta de alegria e convida a terra inteira a associar-se a este louvor, é publicar entre as nações as suas maravilhas, é anunciar a todos os povos a novidade do amor revigorante que o Senhor nos tem. O salmista da liturgia de hoje convida-nos a alargar horizontes.

Hoje é o Dia Mundial das Missões. O Papa Francisco dirige-nos uma mensagem e um veemente apelo: “A missão da Igreja, destinada a todos os homens de boa vontade, funda-se sobre o poder transformador do Evangelho. Este é uma Boa Nova portadora duma alegria contagiante, porque contém e oferece uma vida nova: a vida de Cristo ressuscitado, o qual, comunicando o seu Espírito vivificador, torna-Se para nós Caminho, Verdade e Vida (cf. Jo 14, 6)… Promovido pela Obra da Propagação da Fé, o Dia Mundial das Missões é a ocasião propícia para o coração missionário das comunidades cristãs participar, com a oração, com o testemunho da vida e com a comunhão dos bens, na resposta às graves e vastas necessidades da evangelização… Que a Virgem nos ajude a dizer o nosso «sim» à urgência de fazer ressoar a Boa Nova de Jesus no nosso tempo; nos obtenha um novo ardor de ressuscitados para levar, a todos, o Evangelho da vida que vence a morte; interceda por nós, a fim de podermos ter uma santa ousadia de procurar novos caminhos para que chegue a todos o dom da salvação”.
Posted: 19 Oct 2017 09:25 AM PDT





Uma exposição que merece uma visita. Não faltam motivos para nos inspirarmos. Lamento não ter levado uma máquina para conseguir melhores registos.
Posted: 19 Oct 2017 03:43 AM PDT


«Estamos tão cansados, mas não podemos estar. Os mortos não se calam e não nos deixam cansar. Gritam por Justiça! Exigem Mudança!
A Associação das Vítimas do Incêndio de Pedrógão Grande, o grande, brutal e devastador incêndio que lavrou do dia 17 a 24 de Junho de 2017, nos concelhos de Pedrógão Grande, Figueiró dos Vinhos e Castanheira de Pêra, é um movimento cívico que partiu dos familiares e amigos das vítimas mortais desta tragédia. Uma associação cujo mote é apurar responsabilidades e ajudar a construir um futuro em que tal tragédia e crueldade não volte a acontecer!
Esta é a descrição do que pretendemos ser, com a ajuda de todos e a lembrança de todos aqueles que partiram. Porque hoje somos uma comunidade traumatizada. Uma comunidade sujeita a uma tal brutalidade que não se nos apaga da memória... O cheiro a terra ardida é algo que nos envolve, que nos macilenta e que se entranhou em cada um de nós.
A perda de dezenas de vidas e de forma tão trágica que roça a loucura deixou uma sociedade e todo o seu contexto à volta num luto imposto. A vida acabou ali, naquela estrada para muitas pessoas. Inocentes. E acabou também parte de uma vida para os que ficaram. Os que ficámos, ficámos mais pobres, mais sós, apenas com o alento das memórias, mas com a revolta de toda esta situação. São filhos sem pais. São pais sem filhos... são casas sem gente, é gente sem gente, não é natural!
Olho à volta e as pessoas não se riem, choram sozinhas, acanhadas, não se olham nos olhos, com vergonha pela sua impotência, com medo; o cenário é deprimente e não nos ajuda a superar com dignidade a tragédia. O Inverno não tarda e com ele as ruas despidas de vida. Despidas de ainda mais vida.
Há rancor, ressentimento com o território e com as entidades públicas. O Estado falhou. A Nação não existiu.
Mas não falhou apenas nesta tragédia. O Estado vem falhando ao longo de décadas. O Estado padece de uma cegueira crónica, está enfermo de um tal sentimento de negação de si próprio. Nega o seu estado de país rural, um país orgulhosamente rural e por isso mesmo rico.
Enquanto Estado é um conceito frio, masculinizado, distante, de um ente que impõe tributos e leis aos seus súbditos, um amontoado de entidades supostamente hierarquizadas, com dirigentes supostamente competentes, e que supostamente deveriam cumprir e fazer cumprir um conjunto de leis e regras que se vão aprovando (ou não!) conforme as vontades políticas da estação. Assim se vai governando Portugal. Sem pactos de regime e visão a longo prazo. Vão-se puxando o tapete uns aos outros, não se apercebendo que, por fim, só restam cacos, dor e tristeza para governar.
Nação, por sua vez, é um conceito acolhedor, integrador, feminino, belo, quase maternal, que agrega o seu Povo e o seu Território. É o que dá sentido à reunião das pessoas num determinado território a que chamamos “a nossa terrinha”, “o nosso cantinho a beira-mar plantado”, a proa desta “jangada de pedra”. Portugal.
O Estado falhou nesta tragédia levando consigo o sentimento de pertença de Nação que tínhamos. O Estado não protegeu a sua Nação. Não assegurou o seu Território e com ele o seu Povo...
Fomos vítimas desta ausência insuportável de Estado. Ontem e hoje. Mas não amanhã. Porque já chega de incêndios que ceifam vidas. Incêndios como os de 2003, 2005 e Junho de 2017, e que contabilizam, até a data, 100 vítimas mortais em solo português, não podem voltar a acontecer. É hora de todos dizermos “Basta!”. Este Estado que não quer ver secou uma parte importante da sua Nação, aquela que moveu este país por séculos, o Interior.
A primeira muralha e frente de defesa do País no passado contra as invasões estrangeiras, o celeiro do País em tempo de vacas magras, o emissor de soldados nas guerras ultramarinas, o mercado de mão-de-obra barata em tempos de construção europeia... Quando o Interior e os seus recursos já não eram precisos, substituídos pela oferta de bens e serviços mais baratos, o Povo e o Território do Interior foram abandonados À sua sorte. Emigrem! E assim o fizeram, abandonados à sua sorte.
Não houve solidariedade em tempos de vacas gordas, não houve estratégia para o Território quando os dinheiros dos Fundos Estruturais Europeus chegavam a rodos. Foram anos de esquecimento, de esvaziamento progressivo e consistente das instituições regionais e locais, depois seguiram-se as empresas e, por fim, as pessoas. Sobreviver é preciso.
Foram sucessivas décadas de descaso com o Interior, de negligência com o Território, com a Floresta e a Agricultura. Tendo como consequência a emigração das pessoas em idade ativa, restando uma população envelhecida e empobrecida a exigir cuidados redobrados do pouco Estado que restou e que nos foi esventrado e sobretudo das autarquias locais e misericórdias.
Parecia propositado... o Interior tornou-se terra de ninguém, envergonhado de o ser, abandonado e, assim, por fim, vergado.
Deveríamos dar graças por nos termos tornado a maior região eucaliptizada da Europa... Fomos “agraciados” pela falta de oportunidade! O Território estava a saldos e ninguém quis saber.
O Interior tornou-se um canteiro de ervas daninhas, sem jardineiros — as suas gentes. Um barril de pólvora em que se soma a indústria do fogo institucionalizada e um qualquer ano eleitoral. Os ingredientes ideais para a tempestade perfeita.
A tragédia de 17 a 24 de junho de 2017 estava mais que anunciada. Foi apenas uma questão de tempo... e o tempo não pára! E com ele foram muitas vidas abreviadas. Cedo demais... Cedo demais!

Por ti, meu filho...»

Nádia Piazza, mãe de uma criança de cinco anos que morreu a 17 de Junho de 2017 em Pedrógão Grande

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