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POR RICARDO MARQUES
Jornalista
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5 de Janeiro de 2017 |
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Ontem foi Domingues. E amanhã é cesta
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Consegue sentir o odor a dinheiro que paira no ar? Excelente.
Então, desfrute. Aproveite o suave embalo dos dias que correm sem surpresas e dê graças pelo fim das semanas de balanços deprimentes do ano que foi e de antevisões catastróficas para o que falta do ano em curso. A rotina de sempre voltou e a melhor prova disso é que, de hoje em diante e até ao fim dos tempos, tudo andará à volta da banca e da economia e das finanças e dos défices e dos juros e da dívida. Todas as conversas, todos os pesadelos. É uma sina. Um elefante em forma de cifrão e tão grande que consegue tapar o resto da paisagem. Não fará grande diferença, porque atrás dele há apenas mais números.
Vejamos. Ontem, quarta-feira, foi Domingues. Dia de António Domingues, dia do ex-ex-presidente da Caixa Geral de Depósitos ir falar ao Parlamento. Dito de outra forma, dia de os deputados eleitos pela Nação ouvirem o que tinha para dizer o homem que esteve no centro da polémica que envolveu a o grande banco público (GBP, também conhecido por Caixa Geral de Depósitos, ou CGD).
Não deixa de ser curioso que, ao fim de várias horas, tenha sido tão importante a forma como o conteúdo. Dito de outra forma, mas sem alterar o conteúdo, vale tanto o que disse António Domingues como as regras estipuladas pelos deputados para Domingues o dizer.
Mas o que disse, então? Falou de quase tudo. De como foi convidado, das condições em que foi convidado, dos problemas que surgiram com as declarações no Constitucional, da saída, da permanência e da segunda saída. Falou do SMS, de Centeno. António Domingues revelou ainda que o plano de recapitalização da CGD prevê o encerramento de 150 a 200 balcões e a a saída de 2200 trabalhadores até 2020.
Foram quatro horas de perguntas e respostas e, no fim, ficou algo por dizer. A Anabela Campos enumera as seis dúvidas que permanecem depois de todas as explicações de António Domingues - e não é preciso ser analista financeiro para saber que este será um dos assuntos do dia.
Até porque, ao final da noite, como se alguém se tivesse queixado de falta de novidades após um dia inteiro a ouvir falar da Caixa Geral de Depósitos, o Governo anunciou a conclusão da primeira fase da recapitalização da CGD - 1.445 milhões de euros.
E logo a seguir - ainda ecoavam as palavras de Mário Centeno, a admitir a possibilidade de nacionalizar o Novo Banco , e o artigo de opinião de Francisco Louçã, a sugerir isso mesmo - veio o anúncio da recomendação do Banco de Portugal para a venda do Novo Banco. Segundo a generalidade da imprensa o fundo americano Lone Star é o favorito, mas a Isabel Vicente conta o que está em causa.
Quando a noite começa assim, ao mesmo ritmo do dia que acaba, o que podemos esperar na manhã seguinte?
Resta-nos o consolo de amanhã ser Dia de Reis e a certeza de que os grupos folclóricos, afinados e vestidos a rigor, irão cantar belas Janeiras nos palácios da capital. Há um ensaio já hoje, no Parlamento, nos Passos Perdidos. Às seis da tarde, o Grupo de Cavaquinhos da Associação Cultural e Recreativa Passilgueirense, de Passos de Silgueiros, Viseu, toca para Ferro Rodrigues.
Aqui está uma foto do grupo de Cavaquinhos de Passos, de Silgueiros, com Cavaco, Silva, e mais uma cestinha mesmo à frente.
Sim, porque se ontem foi Domingues e hoje até pode haver cestinha, amanhã não é só sexta. Será mesmo cesta. |
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OUTRAS NOTÍCIAS
Segue-se um breve guia de assuntos variados que deverão ocupar os tempos livres entre duas boas conversas sobre a banca e a economia e as finanças e os défices e os juros e a dívida.
A derrota do Sporting em Setúbal, para a Taça da Liga, tem os ingredientes certos para ser um dos temas mais quentes desta quinta-feira. Voltaremos ao futebol mais à frente, mas entretanto nada como espreitar a análise do jogo. O título é este: "Sporting e a Lei de Murphy: se algo pode correr mal, vai correr mal e da pior maneira possível". Leia aqui.
No Parlamento (onde às seis da tarde, recorde-se, haverá cavaquinhos as Janeiras), um dos temas do dia será a Uber. Os deputados vão analisar duas petições sobre a empresa que todos os taxistas odeiam. Uma é da Antral e pede a proibição de instalação e funcionamento da Uber em Portugal. A outra apresenta-se com o título "Queremos a Uber em Portugal". Isto depois de o Governo, no final de dezembro, ter aprovado em Conselho de Ministros o regime jurídico das plataformas de transporte individual. O que, por sua vez, veio resolver o problema da ilegalidade da Uber, explicado, em março, pelo ministro do Ambiente. Os taxistas queixam-se de que a polícia nada faz para fiscalizar a legalidade e já admitem em novos protestos. É um daqueles assuntos que não pára. Felizmente, a viagem é de borla.
Em viagem por Lisboa estarão Jean Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia, e Carlos Moedas, Comissário Europeu para a Investigação, Ciência e Inovação. Marcelo Rebelo de Sousa recebe-os durante o dia e é provável que ambos sejam assunto de conversa. Juncker almoça com António Costa e, tal como Moedas, participa no seminário diplomático organizado pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros.
De volta à Assembleia da República (onde às seis da tarde...), dificilmente será dada hoje a resposta a uma questão que vem do ano passado. Até por isso é importante lembrar que a bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, ouvida ontem em audição parlamentar, recusou identificar a unidade hospitalar onde os doentes estiveram dois dias sem comida e sem medicamentos.
Marcelo Rebelo de Sousa diz que prefere "descrispação", mas o Presidente da República pouco pode contra a vontade dos internautas, a versão 2.0 do velho povo. E, de acordo com a Porto Editora, o povo ligado escolheu como palavra de 2016 ... "geringonça". Nada de novo, diria o Henrique Monteiro. E diz mesmo, neste mergulho a quase meio século de profundidade.
Consegue sentir o cheiro a napalm? Pois.
Faltam quinze dias para o primeiro dia. Duas semanas para o presidente eleito Donald Trump passar a ser o presidente Donald Trump. Os mais atentos acusar-me-ão de estar obcecado com animais, de os trazer para o meio dos textos por tudo e por nada, mas o que posso fazer? Há um passarinho nesta história. É azul.
A conta de Donald Trump no Twitter arrisca-se a ser a figura de Estado mais importante no início do mandato. Serve para tudo e para nada, e também para o que está no meio. A polémica sobre os ataques informáticos russos está ao rubro e Trump está imparável. Os chineses já estão zangados, os serviços secretos americanos, diz a CNN, para lá caminham e já há gente ocupada em teorizar acerca do fenómeno, como se pode ver neste artigo da National Review.
Amanhã acaba o prazo para informar o seu patrão se quer continuar a receber os subsídios de natal e férias em duodécimos. Sim, tem a ver com dinheiro, mas é informação útil.
Nos EUA uma das histórias do momento é a transferência de Megyn Kelly, a jornalista que se pegou com Donald Trump, da FOX para a NBC.
O embaixador britânico na União Europeia, um adepto da solução contrária ao Brexit e, acima de tudo, um negociador experiente, saiu de cena e, claro, enviou um email aos funcionários do Reino Unido em Bruxelas. Já em substituto - conheça Tim Barrow. Os britânicos oscilam entre a euforia e a depressão quando se fala das consequências da saída da União Europeia. E aos poucos começam a perceber que se pode ir de um estado ou outro e de volta muito rapidamente. Como se escreve neste artigo, quando se sentem bem e otimistas em relação ao futuro, vão ao centro comercial e gastam tudo o que têm. O pior vem sempre a seguir.
O mais importante é acreditar que há sempre uma oportunidade, mesmo quando tudo parece difícil. Numa altura em que se gastam milhões de euros a aperfeiçoar sistemas de videovigilância e de reconhecimento facial, há quem não perca tempo e desenvolva roupa capaz de iludir os sistemas.
Em Timor, não há ilusões. Há uma guerra de petróleo e outra de fronteiras, ambas resumidas neste artigo da Forbes.
Na Venezuela, a história do dia é um negócio de cinco mil milhões de dólares entre o Governo e o Banco da Venezuela.
Na China, rola a bola. Em fevereiro do ano passado, a E publicou um artigo sobre o mesmo assunto de que fala o The New York Times. O presidente Xi Jinping quer transformar a China numa potência mundial do futebol e não tem olhado a meios para o conseguir. As investidas nos campeonatos europeus são apenas parte da solução - e não passam só por contratações milionários de super-estrelas. Centenas de anónimos preparadores físicos e treinadores rumam ao Oriente, onde os esperam verdadeiras academias de futebolistas. A história é boa, as fotos são melhores, mas a melhor de todas é a de um pequenito a dobrar roupa em cima da cama. Os pais pagam 8700 dólares por ano para o ter na escola.
É anunciada hoje a Equipa do Ano 2016 UEFA.com . Ronaldo, Pepe, Rui Patrício e Raphael Guerreiro estão entre os 40 nomeados.
Para fim, mais um assunto de que vai mesmo ouvir falar. A Comporta - "O anti-Algarve, a uma hora de Lisboa" - é um dos 52 locais a visitar este ano, de acordo com o The New York Times. Está em 25.º, meio da tabela, numa lista que começa no Canadá e acaba no Japão.
MANCHETES:
Visão: "Vítimas esquecidas de erros médicos"
Sábado: "O que entrou e saiu da dieta ideal"
Correio da Manhã: "Comando chileno ataca casas milionárias"
Público: "CCB vai ter novas lojas e um hotel de cinco estrelas"
Diário de Notícias: "Mulheres adiaram 3,7 anos o nascimento do primeiro filho"
Jornal de Notícias: "60 ladrões no gangue que assaltou milionários"
i: "PSD vai apoiar António Capucho três anos depois de o ter expulso"
O QUE ANDO A LER
Dois livros. Um em curso, outro prestes a começar.
"Ensaios escolhidos" de George Orwell. Comecei há dois dias e nem sequer tento respeitar a ordem dos ensaios. Mas arranquei no primeiro texto, cujo título é "Matar um elefante". Orwell lembra os tempos na Birmânia, quando era oficial da polícia, e em particular o dia em que teve de pegar na espingarda para travar um elefante que andava à solta.
"Foi nesse momento, quando estava ali de espingarda na mão, que compreendi pela primeira vez a vacuidade, a absurdidade do domínio do homem branco no Oriente. Ali estava eu, o homem branco com a sua arma, diante da multidão de nativos desarmados - aparentemente o ator principal da peça; mas na realidade não passava de uma absurda marioneta, manipulado pela vontade daqueles rostos pardos atrás de mim. Percebi nesse momento que quando o homem branco se converte num tirano, aquilo que ele destrói é a sua própria liberdade. Transforma-se numa espécie de boneco oco, mera pose, a figura convencional do saíbe."
Têm oitenta anos estas frases. E a última também, embora pareça, lida assim e sem mais nada, tão atual: "A condição do seu domínio é que passe a vida a tentar impressionar os nativos, e daí que nos momentos de crise tenha de fazer aquilo que estes esperam dele."
Agora o livro que vai chegar. Uma biografia de Estaline em seis volumes e grátis. Perdi alguns minutos à procura de uma frase do ditador soviético para fechar este Expresso Curto. Encontrei-a, por acaso, numa referência retirada de "Young Stalin", um outro trabalho de Simon Sebag Montefiore - o autor da enorme biografia que o Expresso começa a distribuir este sábado.
"Deus não é injusto, na verdade ele não existe. Fomos enganados. Se Deus existisse, teria feito o mundo mais justo... Vou emprestar-te um livro e vais ver", disse Estaline a um colega, depois de ter lido a Origem das Espécies, de Charles Darwin.
Não há nada mais esclarecedor do que um bom livro.
Há Expresso Diário às seis da tarde e informação atualizada no site do Expresso a qualquer hora.
Tenha um excelente dia.
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