Dificilmente
um governo atravessaria tantas tempestades seguidas sem danos de maior.
Este passa por entre os pingos da chuva em tempestades perfeitas, de
que é caso paradigmático a falta de pudor de um adjunto do
primeiro-ministro que de doutor só tem na realidade licenciatura
incompleta, num eufemismo de quatro disciplinas efetivamente feitas
(Relvas foi caso nacional por coisa muito parecida e enxovalhado porque
não soube sair a tempo).
Nada disto
fica por aqui. Ao acima nomeado adjunto, de seu nome Rui Roque, junta-se
Nuno Félix, chefe de gabinete do secretário de Estado da Juventude e
Desporto, que tinha no currículo duas licenciaturas, sem ter completado
nenhuma delas. Pior, o ministro da Educação, de quem ele dependia, terá
sido avisado por João Wengorovius, secretário de Estado que se demitiu,
sem que até hoje se conhecessem as razões. Tiago Brandão Rodrigues não
só não relevou, como terá preferido deixar cair o seu governante em prol
do duplo falso doutor.
Sim. Tiago Brandão Rodrigues é ministro da Educação.
Mas
se brincar aos canudos já é um desporto nacional aparentemente inócuo, a
não ser para a desgastada moral social, o que se passa na Caixa deveria
ser levado um bocadinho mais a sério. Por uma única razão: o banco
público é de todos nós e é o garante da estabilidade do sistema
financeiro.
Aquilo a que não podemos
assistir impávidos e serenos é ao discorrer de trapalhadas cujo efeito
presente e futuro nos escapa, mas que será sempre grave. Desde o
processo de substituição da administração, passando pelo rocambolesco
totoloto dos milhões necessários à recapitalização e acabando (ainda não
acabou) na polémica dos salários da administração e na exceção criada,
numa lei à medida, para evitar a entrega da declaração de rendimentos de
António Domingues, o presidente, ao Tribunal Constitucional. Tudo
demasiado mau para ser verdade.
Acontece
que à sucessão de erros políticos cometidos por António Costa, a
oposição social-democrata (Assunção Cristas não conta, mas serve bem
para fazer de conta que conta) anda entretida em reuniões de conspiração
para desfazer o líder.
Pedro Passos
Coelho é hoje um homem sozinho e em autojustificação permanente. As
distritais, a cujos líderes reiterou que não mudaria de discurso em
função do sabor do tempo, fazem fila a Norte para preparar a sucessão a
Sul. A Sul preparam-se movimentos de reflexão para opções semelhantes às
que as distritais preconizam, mas todos fazendo de conta que não estão a
falar do mesmo. E os putativos futuros líderes atrapalham-se assumindo
tabus ou silêncios cúmplices.
É por
isso, também, que o país navega amorfo entre as tempestades. E porque
não há coisa de sorte alguma de que possam acusar o Governo, como o que
se passa com a Caixa, que já não lhes tenha passado pelas mãos, em
sortes diferentes. São os doutores a tratar da coisa pública. Não há
nada melhor para abrir portas ao populismo.
DIRETOR-EXECUTIVO