sexta-feira, 5 de agosto de 2016

OBSERVADOR - 5 DE AGOSTO DE 2016

Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!


Numa das mais conhecidas novelas de Gabriel Garcia Márquez, um velho veterano de guerra espera na sua ilha que chegue a carta coma notícia que lhe foi atribuída a pensão que lhe permitiria escapar à vida de miséria que leva. Mas a carta não chega, nunca mais chega, e por isso, se Ninguém Escreve ao Coronel, este acaba... Bem, leiam Garcia Márquez, que ele merece, pois o me fez lembrar este romance não foi o seu enredo, mas o seu título: é que, percorrendo a imprensa deste últimos dias, ninguém escreve em defesa de Rocha Andrade, o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais que aceitou ir ver dois jogos da selecção a convite (com tudo pago) da Galp, uma empresa que está em litígio com o Estado por causa, exactamente, de uma questão fiscal.

Senão, vejam este apanhado do que foi publicado nos dois últimos dias na imprensa portuguesa:
  • O problema de não se dar ao respeito, que eu mesmo escrevi para o Observador, onde analiso em detalhe a conferência de imprensa e os argumentos do ministro dos Negócios Estrangeiros (que representa o primeiro-ministro em férias) e onde contesto a ideia de que o pagamento das despesas pelos secretários de Estado permitam considerar o caso encerrado: “Se não houve violação da lei, porquê o pagamento? Então não foi este mesmo Governo que acabou de decidir devolver ao Presidente da República o cheque com que este quis pagar um voo de Falcon para ir assistir a um dos jogos da selecção? Nesse caso não havia qualquer dúvida, não era para pagar, e agora é necessário “dissipar dúvidas”? A leitura é clara: se, por um lado, o ministro tentou proteger os secretários de Estado com a leitura que fez do Código Penal, ao elogiar o pagamento e ao anunciar o código de conduta está a dizer-nos que, eticamente, o que eles fizeram levanta “dúvidas”. E que daqui por umas semanas até vai deixar de ser “ético”. Ou seja, enterrou-os ainda mais.”
  • Rocha Andrade e as prendas da Galp, de João Miguel Tavares no Público, onde este lembra o código de comportamento que os deputados do PS assinaram e contrasta esse gesto politico com aquilo que sabemos: “Ups, lá se vai o código de António Costa. É óbvio que tal conflito existe, por muito apetecível que seja ir à borla à final de um Europeu. Aceitar tais convites pode ser banal, e acredito que se tivéssemos acesso à lista integral de convidados da Galp passaríamos 15 dias a indignar-nos. Mas por alguma razão o convite foi endereçado a Rocha Andrade e não a mim, nem a si, caro leitor. Um secretário de Estado dos Assuntos Fiscais ir à bola patrocinado por um contribuinte da dimensão da Galp não é natural, não é adequado socialmente, e muito menos é adequado politicamente.”
  • "O pagamento dissipa as dúvidas?" Não. Agrava-as!, de Camilo Azevedo no Jornal de Negócios: “A comunicação de que o secretário de Estado dos Impostos pagará a viagem do seu bolso resolve o problema (como disse o ministro dos Negócios Estrangeiros na conferência de imprensa)? Não. Agrava-o. Ao pagar, o governante reconhece que não devia ter aceitado o convite da Galp. E, pior ainda, que só o fez depois de a história divulgada pela revista Sábado ter ganho dimensão de escândalo.”
  • O 'hit' de Verão da Galp, de Tiago Freire no mesmo Jornal de Negócios, que dando o benefício da dúvida a Rocha Andrade, não deixa de criticar o seu comportamento: “Até prova em contrário, parece ser uma pessoa séria e de convicções, e não é isto que o muda. Mas sendo titular de uma pasta política com natural contacto com um dos maiores contribuintes portugueses, o Secretário de Estado devia ter tido o bom senso de declinar o convite institucional que lhe foi feito. Por uma simples razão: uma viagem ou um jantar não está associado directamente a um favor, mas temos sempre de nos perguntar o que a leva a empresa a fazer determinado convite.”
  • Regras e transparência, o editorial de Leonídio Paulo Ferreira no Diário de Notícias: “É importante que haja bom senso da parte de quem aceita um convite. Não é o mesmo aceitar um convite da federação e aceitar um convite de uma empresa, mesmo que patrocinadora. E não é o mesmo aceitar um convite de uma empresa e aceitar o convite de uma empresa com a qual se está de alguma forma em conflito.”
  • Silly mas não demasiado, por favor, de Martim Silva no Expresso Diário (paywall), que analisa a polémica do IMI e o Galpgate, notando que “quando o mesmo Rocha Andrade, perante a delicada polémica envolvendo a Galp, decide, encurralado, que afinal vai pagar uma viagem num avião fretado e o dinheiro do bilhete. Como se isso resolvesse o problema político entretanto colocado – do género, 'tomem lá e não se fala mais nisto!'” Aproveita também para tecer criticas aos partidos da direita que “vêm, ufanos, pedir a cabeça do secretário de Estado que viaja para ver um jogo da bola, sabendo, como sabem que a prática é generalizada e tem anos. Ou os governantes do PSD e do CDS nunca foram ver jogos a convite? Por amor de Deus, quem querem enganar? Já sabemos, estamos em Agosto. A season é silly. Mas convém não abusar...”
  • Subir a pulso ou viver de favores, de Raquel Abecasis na Rádio Renascença, onde se chama a atenção para algo que devia ser claro: “Alguém acredita que os convites foram feitos por acaso? Não, mas o Governo diz que isso já lá vai, os senhores vão pagar as despesas e o assunto está encerrado. Esperemos que não esteja encerrado, porque os dossiers estão na mesa do governo à espera de decisões que os responsáveis políticos não podem tomar, sob pena de verem impugnadas as suas decisões.”
  • Quem não quer ser lobo..., de António Esteves no site da RTP, onde recorda que a prática deste tipo de convites é bastante generalizada, mas que isso não iliba o governante: “Acredito que Rocha Andrade tenha pensado duas coisas quando recebeu o convite, ambas erradas: que várias pessoas recebem e aceitam, mesmo quando exercem funções governativas, e que sabe bem aproveitar estas borlas enquanto dura o cargo que as justifica. Poderá até ter acreditado que não se deixaria condicionar no futuro. Rocha Andrade não percebeu o que estava em causa e por isso entendeu que pagando o valor das viagens à GALP o caso estaria resolvido. Não está.”
  • Rocha Andrade, o sol e as sombras da matéria, de Ana Sá Lopes no jornal i, um dos primeiros textos a serem publicados e que reflecte sobre os danos políticos que este caso, associado à polémica do IMI, pode causar: “Mais problemática do que a taxação do sol, para o secretário de Estado Rocha Andrade, foi a aceitação de isenção de taxa para ver o futebol, à conta da Galp, que está em guerra com o Estado por causa do pagamento de impostos. O que passou pela cabeça do secretário de Estado quando aceitou um convite destes? Ingenuidade política elevada ao cubo? Ignorância de que o sol já era taxado, mas a Galp não? A aceitação deste convite fez mais pelo descrédito do governo do que o aumento do IMI.”



Antes de sairmos de Portugal para abrir um pouco os horizontes, deixem-me ainda referir um daqueles textos de opinião que é, ao mesmo tempo, um texto onde aprendemos história e economia. Refiro-me a O imposto sobre janelas, à portuguesa, de Helena Garrido aqui no Observador, onde a colunista recorda a experiência – famosa por maus motivos – dos impostos sobre janelas no Reino Unido para criticar a ideia de um IMI que penalize as habitações com melhor exposição solar. Pequena passagem: “No Reino Unido o efeito do imposto sobre as janelas foi tirar a luz aos mais pobres e alterar a arquitectura. No novo IMI vamos tirar a luz e as vistas aos remediados. Só os ricos passam a conseguir ter sem problemas casas viradas a Sul, com bons terraços e boas vistas. Para os outros que queiram poupar no IMI, ficam as casas viradas para o frio e escuro Norte e as vistas de cemitérios, lixeiras ou ETAR.”

(Leitura complementar: o texto de João César das Neves no Diário de Notícias, A pergunta decisiva, onde o professor de Economia discute a falta de investimento em Portugal: “A questão decisiva da economia portuguesa é saber por que não cresce o investimento, qual a razão dessa terrível situação? A resposta está precisamente no enviesamento dos debates e temas que ocupam as autoridades. Quem é que, português ou sobretudo estrangeiro, quererá investir num país com esta governação? Os empresários não são estúpidos e sentem bem o clima político. Num mundo globalizado é difícil um país atrair empreendimentos de valor, mesmo quando se empenha nesse sentido. Quando se ignora a questão, dedicando-se a distribuir benesses que ainda não foram produzidas, os investimentos não só não vêm, mas até se perdem os que se tinham.”)


Esta última referência proporciona-me uma boa passagem para um texto que permite ao Macroscópio regressar a um tema que tem sido recorrente nestas newsletters: a da falta de crescimento, ou de ritmos de crescimento muito débeis, em todo o mundo desenvolvido. Faço-o agora para referir um texto de Martin Wolf no Financial Times que tem como ponto de partida um livro que está a ter grande impacto nos Estados Unidos e nos meios académicos: The Rise and Fall of American Growth: The US Standard of Living Since the Civil War, de Robert Gordon. Em An end to facile optimism about the future o influente colunista do Financial Times nota que “The story told by Prof Gordon demolishes both facile optimism about prospects for economic growth and facile pessimism about the end of employment. We are neither in the middle of an era of unprecedented economic advance nor on the brink of an era of exceptional job destruction. This is partly because technological progress is so limited. It is also because so much of our economy is immune to rapid productivity rises.” Ou seja, não estamos perante boas notícias. Daqui que acrescente: “The view that steady and rapid rises in the standard of living must endure is a pious hope. The tendency to believe that some “structural reforms” will fix this is, similarly, an act of faith. It is essential for policy to promote invention and innovation, so far as it can. But we must not assume an easy return to the long-lost era of dynamism. Meanwhile, the maldistribution of the gains from what growth we have is a growing challenge. These are harsh times.”

Esta falta de crescimento, a quebra das expectativas relativas à evolução do nível de vida e a percepção de que as vantagens da globalização estão mal distribuídas tem contribuído, e muito, para o crescimento de diferentes populismos dos dois lados do Atlântico. No El Español, o politólogo Christian Demuth escreve precisamente sobre este tema em Receta para aprender del éxito del populismo en Europa. Há uma passagem, relativamente à forma como hoje se faz política, aparentemente sem qualquer emoção e com demasiados “esquemas”, passagem essa que me pareceu especialmente interessante: “Leonard Novy, profesor del Instituto para los Medios de Comunicación y la Comunicación Política de Berlín, constata que el día a día de los políticos tradicionales les ha hecho olvidarse de la emoción. “Los partidos tradicionales son víctimas de usar márquetin político, centrándose en crear argumentos buenos para determinados sectores de la población, usando demasiado poco la emoción en política”, apunta Novy a este periódico. Con él coincide Demuth, quien está convencido de que los partidos “han de ofrecer ofertas emocionales y no sólo elaborar documentos con propuestas políticas inteligentes”. Según Novy, los populistas están prácticamente “monopolizando” las emociones en política.”

Termino este bloco de recomendações internacionais como uma chamada de atenção para um magnífico texto do escritor marroquino Tahar Ben Jelloun, Lettre aux Musulmans, a que tive acesso através do Le Site Info. Não é possível sintetizá-lo neste espaço, vale a pena conhecê-lo na íntegra, como verificarão lendo esta passagem: “Si l’Europe nous a accueillis, c’est parce qu’elle avait besoin de notre force de travail. Si la France a décidé le regroupement familial en 1975, c’est pour donner à l’immigration un visage humain. Alors, il faudra nous adapter aux lois et droits de la république. Nous devons renoncer à tous les signes provocants d’appartenance à la religion de Mahomet. Nous n’avons pas besoin de couvrir nos femmes comme des fantômes noirs qui font peur aux enfants dans la rue. Nous n’avons pas le droit d’empêcher un médecin homme d’ausculter une musulmane. Nous n’avons pas le droit de réclamer des piscines rien que pour des femmes. Nous n’avons pas le droit de laisser faire des criminels qui ont décidé que leur vie n’a plus d’importance et qu’ils l’offrent à Daech.”

Palavras importantes e palavras raras. Com elas vos deixo à entrada deste primeiro fim-de-semana de Agosto, com votos de bom descanso, sobretudo se estiverem de férias. Onde, espero, também tenham mais tempo para boas leituras. Até para a semana.

 
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Expresso
Bom dia, já leu o Expresso Curto Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Ricardo Marques
Por Ricardo Marques
Jornalista
 
5 de Agosto de 2016
 
A música que Amália não cantou
 
Prezado,
Espero que esta o encontre bem, de preferência estendido na toalha ou com os pés na água, e a ler estas singelas linhas numa manhã de férias. Nós por cá vamos andando e amolecendo à conta deste calor que vai esmagando a capital da nação. Isto mói o corpo e cansa a mente, já de si fatigada pela monotonia deste arranque de silly season – algo pouco recomendável na véspera de alinhavar este madrugador Expresso Curto.


Partiu o caro amigo para longe, e invejo-lhe a sorte porque na praia é que se está bem e o trabalhinho até sabe melhor depois de umas férias bem passadas. Lição antiga, que todos conhecem. Não há empresário, lente ou magistrado à vista. Deputados, nem vê-los, embora os ouçamos de vez em quando (mas lá chegaremos). Os mestres-escola foram com eles e levaram a estudantada atrás. Sindicatos? O que é isso? Sim, é agosto e escasseiam assuntos.


Ontem de manhã, rumei ao Chiado em busca de algo que me ajudasse a contar-lhe como vai este nosso mundo que deixou para trás. Foi lá, subindo e descendo a Rua do Carmo, que tudo se tornou mais claro. A Amália canta todo o dia naquela roulotte de fados, e dizia-me a dado momento: “Eu sei meu amor / que nem chegaste a partir…” Parei por instantes e dei por mim a pensar: “Pois não, Amália. Alguns de nós ficaram”. Para contar.


Segui para Brasileira e ainda tentei sentar-me ao lado do nosso Pessoa, mas as pessoas eram tantas que nem uma cadeira sobrava. Ao balcão, onde toda gente pede “équesseprésso plize”, arrisquei, mandei vir uma bica e fugi rapidamente para me encostar lá fora, à sombra, a fumar um cigarro e a escutar as conversas de quem passava. Ouvi tratados curtos em francês, alemão, japonês e inglês. Mas nada sobre os quentes assuntos que nos vão entretendo por cá, nós os que caminhamos pelo mar de turistas.


Mas perco-me em divagações, que pouco interessarão ao estimado leitor. Não me quero alongar, apenas garantir-lhe que foi proveitoso o passeio. Tão rico que o utilizarei, deste parágrafo em diante, como guia para esta carta.


Deixe-me apenas dizer que, cansado de calor e de turistas, tomei um carro de praça, modelo antigo, um daqueles Mercedes 190 cada vez mais raros, e pus-me a caminho de Belém para ir dar com os dentes num pastel quentinho. A fila não era tão grande como as dos Jerónimos ou da Torre de Belém, mas era suficientemente desencorajadora para não me apanharem lá. Nem coberto de canela e açúcar. O Padrão dos Descobrimentos, ali perto, esse está coberto de andaimes. Parece um prédio em obras na Baixa ou uma rua das Avenidas Novas ou do tal Eixo Central.

Como eles escrevem nos cartazes, embora se tenham esquecido de um '' que aqui resgato ao fundo da memória, “obra a obra, Lisboa melhobra.


Bom, por este andar nem pastelinho nem novidades.


Vamos a elas?
 
OUTRAS NOTÍCIAS
Pois saiba o meu amigo que o homem do momento é o Exmo. Senhor Rocha Andrade, que foi a Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais pela mão do nosso Primeiro, o Exmo. Senhor Costa, António. Ora, soube-se há dias pela revista Sábado, em duas ocasiões o senhor Rocha Andrade, por ocasião daquele torneio de foot-ball que os nossos spostman tão valorosamente venceram em Paris, tomou um aeroplano rumo a França, para ver o match, a custas de uma empresa de produtos petrolíferos, patocinadora do team lusitano, que tem um litígio em tribunal contra o Estado devido a 100 milhões de euros em impostos. Que bronca que isto tem dado, estimado leitor, e mais ainda depois de se saber por Lisboa inteira que outros dois Exmos. Membros do Governo fizeram o mesmo.

Os chalaceadores do costume não se entendem sobre o nome – Galpgate? Eurogate? - mas o caso, o gate, é de tal modo grave que ontem à tarde o Senhor Santos Silva, Augusto - ministro dos Negócios Estrangeiros e chefe do Governo na ausência do Senhor Costa, António, que está a banhos – chamou a rapaziada da imprensa. Anunciou um Código de Conduta para reger a solicitada agenda de ministros e secretários de Estado, garantiu que os três senhores vão pagar à petrolífera o valor das viagens (tornando-a, quiçá, uma petro-agência de turismo) e sugeriu que, assim sendo, o assunto está encerrado.

Só que, ao contrário do convite feito pela tal petrolífera que os três secretários de Estado aceitaram, a explicação do Exmo. Ministro dos Negócios Estrangeiros não teve tão unânime acolhimento.

PCP e Bloco de Esquerda, os dois partidos que apoiam no Parlamento o Governo, optaram por uma espécie de contido “meus caros senhores, isso não se faz, mas o que se faz por causa disso é lá com os estimados senhores”.

O PSD, conta o Observador, está a digerir as viagens dos seus senhores deputados aos matchs da seleção. Uns não justificaram as faltas, outros apresentaram justificação para não terem falta.

Já o Exmo. Senhor Magalhães, Nuno, do CDS, ao saber que os senhores secretários de Estado iam pagar as viagens do próprio, saiu-se com a tirada do dia dizendo que “os pagamentos dissipam dívidas, mas não dúvidas”. Gostou tanto dela que a repetiu na rádio e na televisão.

O CDS, recorde-se, tinha já pedido a demissão do Senhor Rocha Andrade, algo que a julgar pelas palavras do Senhor Santos Silva não irá acontecer.

Tudo isto faz lembrar aquela canção que Amália não cantou, e que foi celebrizada (carregue em play) por uns artistas americanos, no idos de 80. Falava de rochas e ia mais ou menos assim:

And now it's solid /Solid as a rock /That's what this love is /That's what we've got, oh, mmm” (fim de citação).

Soube-se que a Procuradoria Geral da República está a analisar o caso. E não deverá faltar muito que para alguém se lembre deste outro senhor Secretário de Estado (Senhor Martins, Carlos) que, como não fazia sequer sentido pagar, deu o problema por resolvido deixando de receber. E no fim, claro, acabou por devolver.


Falou por fim sobre o assunto o senhor Presidente da República, Senhor Professor Marcelo Rebelo de Sousa, e mandou dizer que em Belém, onde os turistas fazem fila para comer um pastel e onde fica o já famoso Palácio das Condecorações, não há confusões.


Mas não era este o Europeu do nosso contentamento? Não era esta a vitória que nos ia unir e a ajudar a construir um futuro melhor? Como é que conseguimos estragar tudo em menos de um mês?


Quer ver o caríssimo leitor como isto anda tudo ligado? Sabe onde está o nosso estimado Presidente? No Rio de Janeiro. Sabe o que aconteceu ontem no Rio de Janeiro? A seleção portuguesa jogou contra a Argentina no primeiro jogo do torneio olímpico e ganhou por 2-0, com um golo de um moço chamado Paciência e outro de um jovem a quem chamam Pite. Uma maravilha. (Só de pensar que no último grande torneio começámos com um empate…)


Por falar em foot-ball, o Arouca deu um passo em frente na Liga Europa e o Rio Ave deu o passo atrás. O Sporting perdeu com o Betis de Seviha e houve pancadaria entre os adeptos antes do encontro.


Sabe o que acontece hoje no Rio de Janeiro? Sim, começam os Jogos Olímpicos. Até à meia-noite tem tempo suficiente para ler este artigo da Christiana Martins e mais este do Plínio de Fraga. Dificilmente encontrará melhor.


Claro que houve percalços. O JN contava ontem que alguém se esqueceu de uma chave. E como esquecer a atribulada viagem do fogo olímpico por terras brasileiras? O que importa é que ele ainda arde.

Falemos de fogo, então. E permita-me começar por dizer que, ao contrário das viagens do senhor Rocha Andrade e companhia a França, ainda ninguém sabe quem vai pagar os 422 carros que arderam em Castelo de Vide no estacionamento do Andanças. A investigação das autoridades prossegue, as imagens impressionam, mas a música não para. Nem a dança.


Vai por aí também uma guerra sobre um imposto (isso mesmo, de volta ao senhor secretário de Estado dos Assuntos Fiscais) chamado IMI. As autarquias estão divididas entre os que recusam as novas regras e aqueles que as aceitam - ainda que, a fazer fé no que vai nas redes sociais (os cafés e tabernas de hoje) ninguém tenha conseguido explicar lá muito bem que regras são essas. Pelo menos até agora, porque a Raquel Albuquerque preparou uma espécie de IMI para tolos. Não é para si, claro, é para os outros.


Mantenha a calma, estimado amigo. Nisso temos muito que aprender com os estrangeiros que esperam horas para entrar nos Jerónimos. Contemple o mar sereno à sua frente e, se estiver na costa ocidental, pense em tudo o que vai acontecendo para lá da linha do horizonte. Os americanos - que ora adoramos odiar, ora odiamos adorar - já estão em eleições.


O voto é só em novembro, mas abriu a caça ao Trump. Espreite o New York Times e o Washigton Post e as gordas são todas sobre o Donald - ele também ajuda... Entretanto, o cowboy supremo, Clint Eastwood, lançou mais gasolina para a fogueira (bem sei, bem sei, estamos sempre a voltar ao mesmo) ao defender o candidato Republicano. Numa entrevista à Esquire, magazine americano que entre nós se pode encontrar em alguns ardinas bem estabelecidos e de loja aberta, o ator admitiu que vai votar Trump e deixou algumas palavras sobre as acusações de racismo que são dirigidas ao Donald: “ Just fucking get over it. It's a sad time in history


Mais triste, e capaz e colocar tudo em perspectiva, é a notícia de ontem à tarde. Uma criança de quatro anos morreu ao cair de um oitavo andar, em Loures. O caso está a ser investigado.


MANCHETES

Correio da Manhã: "Costa tira a filha da noite"

Jornal de Notícias: "Presos montam negócio ilegal de aguardente na cadeia"

Diário de Notícias: "Quedas do BES e do Banif podiam ter sido evitadas"

Público: "Governo segura secretários de Estado e promete código de conduta"

I: "Finanças já têm código de conduta que impede aceitar ofertas"

FRASE:

“Insto todos os londrinos a manter a calma e permanecer alerta”, Sadiq Khan, mayor de Londres, após o ataque com faca de quarta-feira à noite, que fez um morto e cinco feridos.

O QUE ANDO A LER

Chega de livros, que os há de ter já, e não poucos, aí mesmo ao lado, cheios de areia. Para longe os tomos pesados, aborrecidos. Falo-lhe de magazines, dessas que, como a Esquire, só encontramos na mão de bons ardinas. Sei de um, ali para os lados da Avenida da Liberdade, que tem tudo e mais algumas páginas. Uma pessoa perde-se naquele corredor estreito. Entre outras preciosidades, encontrei lá a 1843, a versão ligeira da seríssima The Economist, que pode espreitar aqui (https://www.1843magazine.com). Tem histórias sobre lobos, banda desenhada, um colégio de elites e - como não? - o Donald.

Os nossos estimados camaradas da Visão, a newsmagazine portuguesa, encontraram uma forma engenhosa de nos ir contando como vai o planeta. Sendo certo que há sempre um português em todo o lado, nada melhor do que convidá-los a escrever sobre os respetivos lados, ou locais. Graças a eles e à Visão temos o Nós Lá Fora. Faça a mala e meta-se ao caminho.

E é este o país que temos, é esta a vida que deixou para trás. Tudo por uns chinelos e uns banhos de mar. Um país que Camilo Castelo Branco resumiu em duas linhas, no livro distribuído com o Expresso há uma semana (há mais um amanhã, "A queda de um anjo" - bem sei, bem sei). Estão elas no fim de um capítulo que acaba com dois homens ajoelhados diante do impostor que finge ser D. Miguel para deixar o Minho em alvoroço com a perspetiva de uma revolta.

“Foi assim que se inaugurou a corte de D. Miguel I em São Gens de Calvos, segunda-feira de Entrudo de 1845, às 3 horas da tarde”, escreveu Camilo sobre esse futuro que nunca chegou a ter passado.

Há novidades às seis da tarde, com o Expresso Diário, e notícias frescas amanhã, com a edição semanal do Expresso. Na Internet é o dia todo. (Psst: aqui tem tudo e é mais barato)

Se já andar perdido nos dias, provavelmente está de férias. Hoje é sexta-feira, 5 de agosto e prepare-se porque o tempo vai aquecer. Tenha um bom dia e um excelente fim de semana
 
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OBSERVADOR - 5 DE AGOSTO DE 2016


360º

Por Filomena Martins, Diretora Adjunta
Bom dia!
Enquanto dormia
Os dados dos portugueses registados nos consulados estão disponíveis para toda a gente. Desde o dia 1 de agosto que o acesso aos registos sobre qualquer emigrante inscrito num consulado é livre. A menos que este tenha dado indicação expressa do contrário.

António Guterres conhece hoje os resultados da segunda votação como candidato a secretário-geral da ONU. É a segunda ronda de votação informal dos nove candidatos que ainda estão na corrida. Na primeira, Guterres partiu na frente: teve 12 dos 15 votos, nenhum contra.
A segurança pessoal da PSP e o SIS aconselharam a filha de António Costa a não trabalhar num bar. Os últimos atentados na Europa e as notícias em redor do primeiro-ministro aumentaram o nível de risco. A família Costa tem 12 elementos do Corpo de Segurança Pessoal a acompanhar os seus membros.


Informação relevante
No Galpgate, o Governo segurou os três secretários de Estado (conta final?) que foram a França ver jogos de Portugal pagos pela Galp. O caso foi dado por "encerrado" por existir intenção dos três governantes de reembolsar a empresa pelos custos das viagens e bilhetes (pacote avaliado em 2.190 euros, praticamente um ordenado mensal de um secretário de Estado). Mas, como tal podia parecer insuficiente para justificar o comportamento dos membros do Governo, Augusto Santos Silva (o MNE que substitui António Costa nas férias) sacou ainda do anúncio da criação, até final do verão, de mais um código de conduta para a administração pública saber como agir em casos semelhantes.

Mas, afinal, já existe um código de conduta no Fisco. E Rocha Andrade, o principal secretário de Estado na berlinda (tutela os assuntos fiscais e a Galp tem um diferendo em tribunal por impostos em dívida de mais de 100 milhões) está vinculado a ele. As regras para quem trabalha para a Autoridade Tributária dizem que não devem ser aceites “presentes, hospitalidade ou quaisquer benefícios que, de forma real, potencial ou meramente aparente, possam influenciar o exercício das suas funções ou colocá-los em obrigação perante o doador”. A
notícia é do i e do Negócios.

Outro código já existente deixa interdições para o futuro. O Código do Procedimento Administrativo impede que estes três secretários de Estado possam a partir de agora intervir em qualquer processo que envolva a Galp.

Mas além de códigos e regras, há a lei. E a PGR já está a investigar o caso. No Brasil, Marcelo preferiu não comentar, mas sempre disse que defende a separação dos poderes económico e político (e já agora, judicial).

Do lado do PSD, três dos cinco deputados que foram ao Europeu justificaram as suas faltas no Parlamento. Luís Montenegro, líder parlamentar (que valida as justificações) e Luís Campos Ferreira alegaram “trabalho político”. Hugo Soares justificou-se com “motivo de força maior”. Os três garantiram contudo que pagaram todas as despesas e não viajaram por convite.

O José Manuel Fernandes acha que é uma questão de não se darem ao respeito.

Uma notícia sempre terrível. Uma criança de quatro anos morreu depois de cair de um oitavo andar em Loures.

A Fitch não podia ser mais pessimista sobre Portugal. A agência de rating diz que a meta do défice este ano e no próximo deve voltar a ser violada e revê em baixa a previsão de crescimento da economia portuguesa de 1,6% para 1,2%. Também acrescenta que se a Comissão Europeia exigir mais medidas, o acordo parlamentar entre o PS e o PCP e Bloco de Esquerda pode quebrar.

No Reino Unido, os efeitos do Brexit levaram o Banco de Inglaterra a agir para tentar evitar que a economia britânica caia em recessão. Cortou a taxa de juro para um novo mínimo histórico e alargou os estímulos.

Ainda em Inglaterra, já se sabe quem foi o atacante de 17 anos que esfaqueou mortalmente uma mulher (uma cidadã americana) e fez mais cinco feridos no centro de Londres. Trata-se de um norueguês de origem somali, mas não há ainda confirmação de que se trate de um extremista.

No Japão, morre-se por excesso de trabalho. Foram 189 as vítimas desta exaustão laboral no ano passado. Os japoneses chamam-lhe karoshi.

Por cá, ainda o incêndio de 422 carros no Festival Andanças. O seguro, afinal, pode não chegar para cobrir todos os danos.

No futebol, o Arouca fez história ao conseguir o apuramento para o playoff da Liga Europa. O Rio Ave não conseguiu o mesmo feito.

Rio 2016, que comecem os Jogos
Portugal estreou-se nos Jogos Olímpicos a vencer. No torneio de futebol olímpico, a equipa de Rui Jorge bateu a Argentina por 2-0. Um bom augúrio? Então que comecem os Jogos.

A cerimónia de abertura é esta noite. Se quer ver (o espectáculo vale bem a pena, garanto-lhe, e falo felizmente por experiência própria), terá de ficar acordado até tarde, já que a previsão é que demore mais de três horas. No Observador, vamos seguir tudo em direto. Uma das estrelas da cerimónia será Elza Soares, a histórica voz do samba já com 80 anos.

O momento alto é o acender da chama no Estado Olímpico. E olhe que a tocha viveu pelo menos 10 episódios imprevisíveis na sua viagem pelo Brasil antes de chegar ao Rio.

A Aldeia Olímpica também tem estado sob polémica. O Hugo Tavares da Silva, enviado do Observador, visitou-a e conta o que viu: mais estrelas olímpicas do que problemas.

E quanto vão os Jogos ajudar a economia brasileira? Pouco. Não darão mais do que um impulso de 0,05 pontos percentuais do PIB, segundo prevê a companhia de seguros de crédito Cosec.

Outras contas. As que terá de fazer no final de responder a este teste olímpico. Sairá com ouro, prata, bronze ou lata?


Notícias surpreendentes
Vem aí o fim de semana. Já sabe que temos para si as melhores sugestões, de norte a sul do país. E dizemos-lhe também os melhores locais de Lisboa e Porto para beber vinho a copo.

Por falar em vinho, é dos que acredita que quanto mais velho melhor? Pois talvez não seja bem assim. Este e outros mitos sobre o precioso líquido.

Da bebida para a comida. Há um restaurante com uma estrela Michelin onde é possível comer por dois dólares. Fica em Singapura e o seu dono e chef trabalha 17 horas por dia.

E acha mesmo que os mapas que conhece mostram as dimensões reais do mundo? Olhe que não, olhe que não! Na verdade, na verdade, os países são deste tamanho.


Chegámos ao fim de semana marcado pelo arranque dos Jogos Olímpicos. Pode seguir tudo o que vai passar no Rio nos nossos liveblogs diários, com informação ao minuto, e ler as reportagens e histórias da competição que preparámos para si. Além, claro, de toda a restante atualidade. Já sabe, basta clicar no Observador

E como muito estão de férias, seleccionámos os nossos melhores Especiais para Ler no Verão e reunimos ainda vários passatempos para se entreter.

Tenha um bom fim de semana (já sabe que vem aí muito calor)
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OBVIOUS MAGAZINE - 5 DE AGOSTO DE 2016


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steve cutts: verdades inconvenientes da sociedade high-tech consumista

por Eduardo Silva Ruano em 05/08/16  


O ilustrador e animador britânico Steve Cutts baseia sua arte na criação de peças que criticam severamente a sociedade high-tech consumista, abordando a destrutividade da natureza humana através de temáticas como poluição, desmatamento, escravidão tecnológica, exploração trabalhista, gula, industrialização e devastação ambiental.

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um colete à prova de ignorância, por favor!

por Pamela Camocardi em 05/08/16  


Ninguém nasce ignorante. O problema está nas falsas ideologias, na formação intelectual e na sociedade hipócrita que cega o homem.

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o pálido ponto azul: entre o santo e o profano a distância é "coisa pouca"

por Giovanna Pinheiro em 05/08/16  


Uma reflexão de fim de tarde sobre a obra de Carl Sagan, aplicada aos termos da geração do instantâneo e o encontro de extremos através do ego.

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a penitência pela nossa juventude?  a juventude de nossos filhos!

por Carolina Vila Nova em 05/08/16  


...Num ciclo que nunca se finda, os novos seres sempre acreditam que serão melhores que os anteriores. E felizmente o são em vários aspectos. Num mundo em evolução, o que muda de uma geração para outra, certamente, é o que melhor se adapta a um mundo em constante transformação....

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somos filhos do mundo e senhores de nossas vontades

por Thiana Furtado em 05/08/16  


Vá rumo ao desconhecido, desbrave terras, mas não permaneça estacionado. Existe vida esperando para ser vivida.

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entre e, por favor, repare a bagunça

por Tico Menezes em 05/08/16  


Pai, mãe, fiquem tranquilos que amanhã eu arrumo.

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um brinde aos românticos

por Estêvão Reis em 05/08/16  


Levantem suas taças ao amor. Um brinde ao amor. 

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yngwie malmsteen: minha relação de paixão e afastamento com a guitarra do sueco (aparentemente) egolátrico

por Contreraman em 05/08/16  


Muitos o conhecem. Quase todos os que gostam de guitarra já o ouviram ou viram tocar. Muitos gostam do estilo que ele usa. Outros torcem o nariz para seu jeito egomaníaco, sua insistência em aparecer, seus mal-afamados hábitos de se exibir, e até mesmo para seu jeito de abordar algumas emoções.

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o dom de se importar com alguém

por Claudia Queiroz em 05/08/16  


Fomos feitos para dar e receber amor. Mas é na demonstração de carinho que nos sentimos bem. A verdade, é que não importa a quem!!! Infelizmente muitas pessoas só conseguem se importar com aquilo que diz respeito à própria vida. Muitas delas acham chato ouvir os problemas alheios e dedicar alguns minutos do seu dia a quem sofre. Imagine quem sofre de depressão... E as que vivem abaixo da linha

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