Há uns tempos comecei a compilar a seguinte lista de atentados perpetrados pelos Estado Islâmico:
- 11 de Maio de 2013, dois carros bomba explodem na cidade de Reyhanli, Turquia, causando 51 mortos e 140 feridos;
- 2 de Janeiro de 2014, um carro bomba explode em Beirute, causando 4 mortes e ferindo dezenas de pessoas;
- 23 de Fevereiro de 2014, um bombista suicida vitima 7 pessoas em Aleppo, Síria;
- 28 de Fevereiro de 2014, um bombista suicida vitima 7 pessoas em Haditha, Iraque;
- 15 de Março de 2014, o número total de vítimas do Estado Islâmico,
por força da guerra e atentados, ascende a 336, às quais se juntam 1563
feridos;
- 20 de Março de 2014, um ataque levado a cabo por membros do Estado Islâmico provoca 2 mortes e 5 feridos;
- 16 de Abril de 2014, o Estado Islâmico assassina o Emir de Idlib, os seus irmãos, a mulher e os dois filhos;
- 1 de Maio de 2014, enquanto o mundo celebra o Dia do Trabalhador, o
Estado Islâmico executa sete pessoas em público, algumas delas
crucificadas;
- 7 de Junho de 2014, o Estado Islâmico faz reféns mais de 1300
alunos em Ramadi; - Uma bomba em Jalula provoca a morte a 18 elementos
das forças curdas;
- 10 de Junho de 2014, o Estado Islâmico executa 600 prisioneiros em Mosul;
- 11 de Junho de 2014, o Estado Islâmico faz refém o Embaixador Turco juntamente com vários elementos da sua equipa;
- 12 de Junho de 2014, entre 1095 e 1700 soldados e 12 Imãs morrem às
mãos das forças do Estado Islâmico entre Saladin e Mosul, Iraque;
- 13 de Junho de 2014, duas cidades na província de Diyala são
capturadas pelo Estado Islâmico. Relatos falam da morte indiscriminada
de soldados, polícias e civis; -
16 de Junho de 2014, o Estado Islâmico executa 28 voluntários perto de Samarra;
- 17 de Junho de 2014, 17 soldados iraquianos são mortos perto de Samarra;
- 18 de Junho de 2014, 20 civis são mortos na província de Saladin;
- 22 de Junho de 2014, o Estado Islâmico toma posse de 4 cidades na
fronteira entre o Iraque e a Síria, dizimando um batalhão de soldados
iraquianos e 21 líderes locais;
- 30 de Junho de 2014, 215 soldados iraquianos morrem numa tentativa
de recaptura de Tikrit, caída às mãos do Estado Islâmico. De acordo com
as Nações Unidas, durante o mês de Junho morreram 1531 civis e 886
soldados no Iraque, tendo sido feridas 524 pessoas;
- 7 de Julho de 2014, o Estado Islâmico rapta 11 civis da aldeia de Samra, Iraque;
- 8 de Julho de 2014, um candidato político e um juiz são raptados em Ninewa, Iraque;
- 9 de Julho de 2014, o Estado Islâmico rapta 60 soldados Iraquianos em Mosul;
- 11/12 de Julho de 2014, o Estado Islâmico executa 700 civis turcos em Beshir;
- 13 de Julho de 2014, os corpos de 12 homens executados pelo Estado Islâmico são descobertos em Baquba, Iraque;
- 16 de Julho de 2014, 42 soldados iraquianos são executados pelo Estado Islâmico a sul de Tikrit;
- 15 de Julho de 2014, nova tentativa de recaptura de Tikrit provoca a morte a 52 soldados iraquianos;
- 17 de Julho, os campos de gás de Homs, Síria, são capturados pelo Estado Islâmico. 270 soldados sírios são mortos;
- 19 de Julho de 2014, um bombista suicida em Bagdad provoca 33 mortos e 50 feridos;
- 22 de Julho de 2014, um Imã é assassinado pelo Estado Islâmico em Baquba, Iraque;
- 25 de Julho de 2014, o Estado Islâmico captura a 17a Divisão do
Exército Sírio, decapitando vários soldados, cujas cabeças são expostas
em Raqqa. Os corpos de 18 polícias iraquianos são descobertos a sul de
Tikrit...
E parei por aqui, nauseado, como se ainda agora estivesse a meio da
“Lista de Schindler“ e a menina de vermelho fosse a caminho da pira
funerária.
Tantas mortes... e faltam-me as palavras para poder continuar, seja a
ver o Holocausto, seja a ver o massacre mais o êxodo diário de milhões
de pessoas cuja única culpa é a de viverem lá longe, no médio oriente, e
não em Paris, ou Nice, cidades de tal modo perto de nós que nos é
impossível não reconhecer os seus corpos mais as pessoas que um dia
foram.
Não sei quem foram as (
pelo menos)
84 pessoas cujas vidas pereceram ontem em Nice às mãos do Estado
Islâmico. Mas enquanto não soubermos quem são todas as pessoas
executadas, crucificadas, esquartejadas, violadas, raptadas,
guilhotinadas, fuziladas, querem que continue, emparedadas, imoladas,
apedrejadas, sufocadas, afogadas, eu sei lá, são tantos os modos e a as
maneiras para nos matarem entre a Síria e o Iraque que de outro modo não
nos é possível explicar o porquê da fuga de 14 milhões de pessoas mais a
ignorância que todo o Ocidente lhes dedica, lá está, como se toda esta
gente não fosse gente, não fossemos nós, não fosses tu e não fosse eu.
Porque enquanto não soubermos todos os seus nomes vos garanto como se
ontem tivemos Paris, hoje temos Nice, o qual não é senão o reflexo de um
ódio que se permite, ainda hoje e desde 2013, andar à solta para que no
fim tenhamos petróleo barato. Por isso não posso ser Nice. Hoje não.
Porque antes de sermos Nice, temos de ser Reyhanli, Haditha, Idlib,
Mosul, Beshir, Jalula, Baquba, Tikrit, Homs, Bagdad, Aleppo, Raqqa,
Samra, Ninewa, Diyala, Saladin, entre tantos outros, entre tantas outras
pessoas de cujas vidas nunca vamos tomar conhecimento, pelo menos até
que um dia os meus amigos se lembrem de colorir os seus perfis no
Facebook com as cores da bandeira da Síria ou do Iraque. Quando esse dia
chegar, talvez eu acredite, talvez haja esperança. Até lá,
continuaremos, hoje e sempre, a contar corpos.
Eu acho que