1.É impressionante: nós julgávamos que já tínhamos visto tudo. Achávamos que era uma impossibilidade lógica a política portuguesa descer ainda mais o nível. Afinal, foi possível: foi ontem, na FIL, em Lisboa. José Sócrates organizou um almoço, com apoiantes (como?!) seus, que pagaram vinte e cinco euros para ouvir as barbaridades do senhor que levou Portugal à bancarrota, que hipotecou a vida da grande maioria das pessoas que gastaram vinte e cinco euros para almoçar e financiar o senhor da bancarrota. Que poderia ter estragado a vida a gerações e gerações de portugueses, caso tivesse permanecido mais tempo no poder.
2.Como compreender que haja portugueses e portuguesas disponíveis para desperdiçar um início de tarde de domingo, desembolsando uma quantia muito razoável do seu orçamento familiar (ninguém gasta vinte e cinco euros irrefletidamente) – para ouvir José Sócrates? Sabendo nós que os portugueses têm uma visão péssima da política e dos portugueses, porque desconfiam que são desprovidos de valores éticos e que servem da política para fins pessoais e não para a defesa intransigente do interesse público, como justificar que haja portugueses que defendam o caso mais exemplar de falta de qualidade, de falta de limites, de falta de padrões éticas de atuação como é José Sócrates? E que, ainda por cima, está a ser efetivamente investigado, sendo as suspeitas que sobre ele recaem gravíssimas.
3.E os factos são concludentes: independentemente do juízo jurídico-criminal que venha a ser efetuado em sede própria, e nos órgãos constitucional e legalmente competentes para o fazer – o único juízo político e ético que podemos fazer é o de condenação veemente do estilo de vida sumptuoso, do estilo caudilhista e autoritário de Sócrates e seus muchachos, da promiscuidade entre o interesse público e interesse dos seus amigos, entre política e negócios pessoais. As pessoas que se deslocaram ao almoço, ontem, cometeram um ato ridículo: foram apoiar José Sócrates porquê? O que fez José Sócrates para os convivas de repasto dominical o abraçarem e aplaudirem tanto? Destruir um banco para favorecer os seus amigos? Arruinar as finanças públicas portuguesas – para beneficiar as finanças de alguns (note-se que não estamos a insinuar a prática de ilícitos criminais: mas, sem dúvida, que Sócrates praticou muitos e muitos ilícitos políticos…)? Aplaudir José Sócrates porque, devido à sua gestão displicente e sem tino, à sua megalomania e egocentrismo patológico – teve de chamar a troika, prejudicando todos os portugueses? Apoiar José Sócrates porque conseguiu a proeza de…ser investigado e levantar suspeitas fundadas aos órgãos policiais e judiciários? A sério?
4.Bom, façamos a interpretação benévola: as pessoas que se deslocaram à FIL para almoçar com José Sócrates ficaram entusiasmadas pelo menu servido na refeição, sobretudo pela sobremesa. E, não tendo plano alternativo, deram um “pulinho” à FIL. É a única explicação plausível: outra explicação seria admitir que há pessoas que aplaudem políticos que servem os interesses das suas agendas pessoais – e não o interesse público. Ora, isto seria demasiado ridículo para ser verdade. Não pode ser verdade.
5.O que é verdadeiramente extraordinário – um genuíno tesourinho deprimente da nossa política – é o facto de um cidadão, que já exerceu as funções de Primeiro-Ministro e sobre o qual recaem dúvidas fundadas sobre a legalidade da sua atuação, organizar um almoço para…comentar a atualidade política, ignorando completamente a sua circunstância pessoal. Caro leitor, se fosse acusado da prática de crimes de gravidade igual ou equivalente aos imputados a José Sócrates, basearia a sua defesa…nas críticas ao Presidente da República? Na crítica da decisão de Cavaco Silva de não segurar mais tempo o pior Primeiro-Ministro (José Sócrates) da história democrática portuguesa? Nós imaginamos a razão pela qual José Sócrates se queria agarrar ao poder…
6.Se José Sócrates se sente tão incomodado com as suspeitas do Ministério Público, por que razão não explica as suas condutas? Porque não explica, de uma vez por todas, como conseguiu durante tanto tempo, manter o seu estilo de vida sumptuoso? Como conseguiu viver em Paris, com um estilo de vida só ao alcance da alta sociedade francesa, pagar as despesas da mulher, pagar as despesas da amante, pagar as despesas da namorada, dos filhos, férias milionárias…? Explique-nos! Aproveite as jantaradas e as almoçaradas, vá lá, José Sócrates! Porque senão, reconhecerá que é legítimo para todos nós pensar que aí há gato…e que grande gato! Já é um tigre, Sócrates! Tem aí um animal feroz, não, meu caro Sócrates?
7.José Sócrates já percebeu que, do ponto de vista jurídico, a sua defesa revela-se muito complexa. Logo, Sócrates joga tudo na defesa política: para tal, Sócrates precisa de força política e protagonismo mediático. É, pois, muito provável que esta personagem política (o pior que aconteceu a Portugal em décadas) prepare a sua candidatura a Belém ou mesmo à liderança do PS. Para quê? Para usar contra Justiça o argumento das urnas, do peso eleitoral. Sócrates saiu, finalmente, do armário: é um populista nato, com conceções (perigosas!) autoritárias da sociedade. Nós já vimos este filme várias vezes na História – e todos tiveram um final terrível…
8.No que respeita às críticas de José Sócrates a Cavaco Silva e à sua conceção dos poderes presidenciais – poupem-nos! Poupem-nos! Obviamente, não comentamos: recusamo-nos a comentar insignificâncias de políticos insignificantes. Que José Sócrates use a sua energia para prestar contas à Justiça – eis o nosso voto.