segunda-feira, 23 de novembro de 2015

OBSERVADOR - 23 DE NOVEMBRO DE 2015

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Para: antoniofonseca1940@hotmail.com

Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!

 
Quando é que voltas a Paris? Apeteceu-me fazer esta pergunta a mim mesmo depois de ler dois textos que sairam na imprensa deste fim-de-semana. Não porque sinta por Paris o mesmo fascínio das suas autoras, mas porque, depois dos atentados de 13 de Novembro, sinto que ir a Paris, regressar a Paris, se tornou mais urgente – e mais importante.
 
O primeiro desses textos foi o de Maria Filomena Mónica, no Expresso, Paris e Saint-Denis, 2015. Não por a autora confessar que “foi em Paris que, pela primeira vez, me senti na Europa”, mas pelo que conta de uma ida, bem mais recente que a sua viagem inaugural ainda nos anos de 1960, até Saint-Denis. Como conta, “A ideia surgiu na sequência de uma conversa com o historiador Antony Beevor, que me afirmara que, se viesse a acontecer uma revolta contra a União Europeia, ela teria início nos subúrbios de Paris.” Foi essa a curiosidade que a moveu, foi este o testemunho que deixou sábado passado dessa experiência:
A primeira coisa que notei em Saint-Denis ao sair do Metropolitano foi a desolação. Os prédios eram gaiolas sujas. Nas ruas, deambulavam jovens com cagoules na cabeça. As paredes haviam sido alvo do impulso ‘artístico’ dos adolescentes, estando quase todas decoradas com graffiti. Contrastando com o resto, o edifício da Câmara Municipal era imponente. Por cima da porta de entrada, podia ler-se: “Liberté, Egalité, Fraternité”. Ao lado, erguia-se a basílica do século XII onde repousam os corpos dos reis franceses, o mais belo conjunto escultório fúnebre que jamais vi. Que diriam aqueles ideais e este património a quem por mim passava?
 
Deixo o resto das reflexões para quem tiver a curiosidade de ler o artigo e salto para Teresa de Sousa, que no Público escreveu simplesmente sobre Paris. Faço-o sobretudo por causa de uma só frase: “Se a França perder as esplanadas de Paris, a Europa perde parte da sua alma.” Mesmo se hoje, como também nota, a esplanada do Flore já não seja mesma coisa: “Os filósofos estão a dar lugar aos turistas.”
 
Na verdade a frase de que a autora parte para a sua reflexão – “O que seria Paris sem as suas esplanadas” – nem sequer é sua, pertence a François Hollande. E não foi a única a notar a importância das esplanadas – e dos cafés. "Europa -dijo Steiner -está compuesta de cafés". Especialmente París. Mientras haya cafés, habrá Europa. Pero ahora los han asaltado.”, escreveu Raúl del Pozo no El Mundo, em Atacan los cafés. E acrescentava: “Las trincheras son invisibles y están cerca y lejos de las alfombras, de los turbantes, de las mezquitas."
 
Num continente com tanta História como a Europa, as referências por vezes cruzam-se e as coincidências baralham. Saint-Denis, o subúrbio que deixou Maria Filomena Mónica sem saber o que pensar, a cidade satélite de Paris onde 56% dos menores tem origem estrangeira, a maioria magrebina, esse lugar desolado onde, a semana passada, as forças anti-terriristas francesas conseguiram isolar e capturar um dos jihadistas que planeou os atentados, é também a antiquíssima urbe onde, há mais de mil anos, se construiu a basílica para sepultar os reis de França. A suacatedral, que dista apenas 400 metros, cinco minutos a pé, da Rue du Corbillon, onde estava alojado o terrorista, tem entre os seus muitos túmulos reais o de Carlos Martel, fundador da dinastia carolíngia e, sobretudo, o chefe militar que, em Poitiers, derrotou os exércitos árabes que, vindos da Península Ibéria, do Al-Andalus, marchavam Europa adentro. Extraordinária coincidência esta proximidade, singular sinal do que é a Europa de hoje.
 
(Desconhecia onde repousava Carlos Martel, mas pude descobri-lo a semana passada num texto, que também recomendo, do espanhol ABC, Carlos Martel, el «martillo de acero» que salvó a la cristiandad francesa en la batalla de Poitiers. Os leitores do Macroscópio porventura recordam-se que já referenciei por mais de uma vez os textos de reconstituição histórica publicados pelo ABC, muitos deles centrados em grandes batalhas, e volto a fazê-lo hoje, e bastará citar o primeiro parágrafo para compreenderem por que o faço:
A principios del siglo VIII, la Europa cristiana vivió uno de sus momentos más comprometidos: la supervivencia de la fe dominante en el continente estuvo en liza frente al imparable avance musulmán. Desde la caída de la Hispania visigoda, las incursiones contra el reino Franco y Burgundia no dejaron de aumentar en su ensañamiento, hasta el punto de que el «mayordomo de palacio» Carlos Martel, abuelo del Emperador Carlomagno, fue designado para conducir un ejército contra la amenaza que brotaba desde Al-Andalus.)
 
Mas adiante, que quero regressar a Paris, primeiro para vos recomendar três grandes reportagens do enviado do Observador, João Almeida Dias, que editámos sob a forma de Especiais:  
Há contudo, em toda a imprensa internacional, um texto especialmente notável pela forma como reconstitui o que se passou nessa noite de 13 de Novembro e tudo o que veio a seguir:The Long Night: Terrorist attacks and a city changed. É um texto da New Yorker, a revista que se celebrizou pelas grandes reportagens que se tornaram a sua imagem de marca. Um dos seus interlocutores, que se mudou de Paris para Bordéus por sentir que “a decadência” é mais lenta na província, acaba a explicar-lhe o que entende realmente por decadência:
“To me, ‘decadence’ is objective,” he said. “It’s not a value judgment. It’s the fact that France, bit by bit, doesn’t believe in anything in common anymore. Anyone could tell you that.”
 
Quando falamos de decadência é inevitável falarmos de civilização – da nossa civilização. Por isso julgo indispensável passar o Canal da Mancha e ler o que Charles Moore, do Telegraph, escreveu este fim-de-semana em The real clash of civilisation is in the West’s attitude to terror: A great deal was revealed by the different reactions to Paris of our PM and the US Secretary of State. Deixo-vos só um parágrafo, mas é um daqueles textos que merece ser lido na íntegra:
In our Western politics, there is plenty of common ground about what our civilisation consists in – freedom of speech and religion, the rule of law, parliamentary democracy, accountable institutions, independent universities, habits of tolerance. No one could win a general election in most Western countries who did not, more or less, think along these lines. The Left would put more emphasis on equality and the Right on opportunity, but there is not a massive difference between the mainstream on either side about what, day to day, our civilisation should look like.
 
Mas este é apenas o ponto de partida – aquele que une esquerda e direita. Depois Moore trata daquilo que as divide. O seu texto porém é bem menos virulento contra uma certa parte da esquerda do que aquele que um colunista de esquerda, John Carlin, escreve no El País a propósito das posições de figuras como Jeremy Corbin, o líder do Partido Trabalhista inglês, ou Bernie Sanders, um dos candidatos à nomeação pelos democratas nos Estados Unidos. Em “¿Por qué no podemos llevarnos todos bien?”, defende que “El idealista de izquierdas yerra al culpar a Occidente del yihadismo. Hay que tomar partido”. Depois de desenvolver o seu argumento, que abre com uma citação de George Orwell, conclui com uma simples constatação: “Porque cuando aparezca el yihadista con un Kaláshnikov en un bar o un teatro o un supermercado y empiece a liquidar a gente uno por uno, no preguntará si su siguiente víctima es de izquierdas o de derechas, progresista o neoliberal, imperialista o antiimperialista. Matará, como una peste, sin prejuicio y sin piedad.”
 
Talvez um exemplo extremo deste tipo de idealismo seja o reflectido num artigo do Público, de Miguel Arriaga, com o títuloO terrorismo salva muitas vidas, onde se defende que “O terrorismo não importa. Porquê? Porque estatisticamente o terrorismo mal existe: na Europa, e por muito que insistam em dizer-nos que vivemos em tempos “excepcionalmente perigosos”, por ano morrem, no máximo, uns pares de centenas de pessoas em atentados.”
 
É uma posição que não terá muito seguidores, sobretudo em França, sobretudo em Paris, onde a reacção aos atentados foi tão poderosa que um espanhol – um espanhol! – expressou no El Mundo a sua Envidia de los franceses. Nesse texto Vocente Lozano destaca não só a unidade de todos os deputados franceses a cantarem em uníssono A Marselhesa, mas vai bem mais longe: “Como he sentido una cierta envidia porque en un Estado radicalmente aconfesional como Francia, el primer gran acto masivo tras la desgraciada noche fuera una misa en Notre Dame, a la que acudieron representantes de todas las formaciones políticas de cualquier tendencia -participaron la alcaldesa de París, miembros del Gobierno y los presidentes de la Asamblea y del Senado-, junto con muchos parisinos. Y nadie levantó la voz quejándose porque hubiera representación oficial en ese funeral católico, porque no se discute que católica es la secular tradición francesa.”
 
Por isso vale a pena abrir um pouco mais os horizontes e, neste dia em que Bruxelas continua praticamente em estado de sítio, citar Robert Kagan, um politólogo norte-americano, senior fellow no Brookings Institution, que vive precisamente em Bruxelas, e que publicou no Wall Street Journal um ensaio sob o título The Crisis of World Order. Deixo-vos este extracto muito significativo:
In 2002, a British statesman-scholar issued a quiet warning. “The challenge to the postmodern world,” the diplomat Robert Cooper argued, was that while Europeans might operate within their borders as if power no longer mattered, in the world outside Europe, they needed to be prepared to use force just as in earlier eras. “Among ourselves, we keep the law, but when we are operating in the jungle, we must also use the laws of the jungle,” he wrote. Europeans didn’t heed this warning, or at least didn’t heed it sufficiently. They failed to arm themselves for the jungle, materially and spiritually, and now that the jungle has entered the European garden, they are at a loss.
 
Esperemos que não, que seja possível reverter esta evolução e salvemos o nosso direito a passar tranquilamente uma tarde ou uma noite numa esplanada de Paris. Com a distância q.b. da nossa desordem doméstica, que hoje evitei deliberadamente.
 
Até amanhã, aproveitem para descansar e, se puderem, ler um pouco. 

 
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OBSERVADOR - 23 DE NOVEMBRO DE 2015

Hora de Fecho: PR dispensa mais rúbricas. Basta a de Costa

Para: antoniofonseca1940@hotmail.com

Hora de fecho

As principais notícias do dia
Boa tarde!
NOVO GOVERNO 
O Presidente quer que Costa se responsabilize pelo que não ficou escrito com Bloco, PCP e Verdes. E dispensa assinaturas de Catarina e Jerónimo. Indigitação está muito próxima.
NOVO GOVERNO 
Cavaco Silva não indigitou António Costa. O Presidente da República disse ter "dúvidas" em relação "à estabilidade e à durabilidade" do Governo PS. Pediu seis esclarecimentos.
NOVO GOVERNO 
A esquerda vai começar a responder a Cavaco Silva. O primeiro vai ser Jerónimo de Sousa. Há quem defenda que a opção seja um programa conjunto de Governo. Os desenvolvimentos em direto.
NOVO GOVERNO 
O Presidente chamou António Costa a Belém mas não foi para o indigitar. Cavaco Silva tem dúvidas quanto à estabilidade e durabilidade da solução e quer esclarecimentos do líder do PS em seis áreas.
NOVO GOVERNO 
Acordos "distintos e assimétricos", "clarificação formal", "esforços", solução "estável, duradoura e credível". Pequeno dicionário sobre o pensamento de Cavaco Silva.
NOVO GOVERNO 
"Se o Presidente quer uma carta, terá uma carta". Costa vai responder a Cavaco Silva, por escrito e ainda hoje. Mas sem voltar a falar com Jerónimo ou Catarina Martins.
NOVO GOVERNO 
Cinco anos de austeridade. Cortes de salários, pensões e subsídios, aumentos de impostos, de taxas moderadoras, muito mais. A esquerda quase sempre contra. Mas nem tudo cai no novo programa do PS.
ATENTADOS DE PARIS 
Depois de uma noite agitada em Bruxelas, ainda em alerta máximo, Hollande e Cameron reuniram-se em Paris. A França e o Reino Unido vão intensificar ataques ao EI. São já 21 as detenções desde ontem.
ATENTADOS DE PARIS 
Fingiu-se de morto. Conseguiu rastejar até à rua e foi recolhido por um "anjo". Sorte? Sim. Duplamente. É que Matthew já tinha sobrevivido aos atentados de 2001, em Manhattan.
ATENTADOS DE PARIS 
As vítimas ou familiares afetados pelos atentados em Paris vão ser indemnizadas pelo Fundo de Garantia para as vítimas de atos terroristas (FGTI). Os pagamentos já começaram na sexta-feira.
ATENTADOS DE PARIS 
Depois de as autoridades belgas terem pedido aos cidadãos que não divulgassem dados sobre a operação de segurança em Bruxelas, as redes sociais inundaram-se de gatos... como resposta ao terrorismo. 
Opinião

Maria João Avillez
Que há-de o Presidente vir a fazer senão o que fará amanhã ou depois? Igual si próprio, inalterável e previsível, fará tão somente o que deve. Não contarão os íntimos desgostos do cidadão Cavaco Silva

Guilherme Valente
A Síria é a vítima mais revoltante da invenção que foram as primaveras "árabes", na verdade as novas cruzadas do Ocidente. Dos EUA, mas também da nossa Europa. Quem duvidava do que iria acontecer?

Manuel Villaverde Cabral
Uma coisa é certa: se o PR não investir o PS como governo, a resposta da «frente popular» será violenta, só comparável ao que sucedeu durante o PREC e julgávamos terminado há 40 anos no 25 de Novembro

José Milhazes
Não se vai assinalar o 40º aniversário do 25 de Novembro da mesma forma que se celebrou o do 25 de Abril. Cabe perguntar: porque quer o PS fazer-nos acreditar que o PCP é hoje diferente do de então?

Helena Matos
Há um momento algures no futuro em que o PS vai querer voltar ao centro. Não apenas para poder governar, mas também para se salvar a si mesmo.
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COMO ARRANJAM DINHEIRO OS TERRORISTAS - 23 DE NOVEMBRO DE 2015

¿Cómo cortar la financiación del Estado Islámico?
INSIDER.PRO
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Comments
Idalino Santos Aqui está o porquê em manter a luta por essas terras. Basta escavar 1 metro ou menos e o petróleo aparece a custo zero, enche uns bidons e ganhou o dia para a compra de armas. Se a guerra não acaba é porque há interesses.
GostoResponder1 h
Sérgio Castro vi uma reportagem com um especialista em guerras no oriente mÉdio, o EI conseguiu conquistar uma cidade importante no norte do Iraque e so no Banco Central fora as pilhagens, eles arrecadaram 500 milhoes de dólares
António Fonseca
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