Genial ou megalómano? Ninguém sabe ainda responder. Nem tudo o que a Apple criou ao longo da sua história foram produtos de sucesso – mas algumas das suas criações “impossíveis” mudaram a forma como nos relacionamos com a tecnologia e, através dela, com o mundo.
Ontem seguimos aqui no Observador, em directo, o evento de lançamento da nova criação do sucessor de Steve Jobs, Tim Cook -
Apple Watch será lançado a 24 de abril. E vai fazer isto tudo. Isto tudo é muita coisa, pelo que aconselho a leitura do artigo, que está bastante completo.
Mas se ficámos a conhecer melhor o produto da Apple – e os preços que custarão as principais versões – é ainda muito difícil antecipar o seu futuro. Mas uma coisa é certa: lendo a Fortune ficamos a saber que
The most powerful people in watchmaking think Apple Watch is a huge threat. O texto é directo:
“The co-founder of the famous Swatch watch says the Apple Watch could result in big losses for Swiss watchmakers. “Apple will succeed quickly,” Elmar Mock told Bloomberg. “It will put a lot of pressure on the traditional watch industry and jobs in Switzerland.” Isto apesar de os analistas ainda se dividirem sobre o que pensar, como se mostra neste outro artigo da mesma Fortune:
The Apple Watch event: What the analysts are saying. Um deles, por exemplo, defendeu que “
Competing smartwatch makers have to be breathing a sigh of relief. “Apple will outsell all the rest of them combined in 2015. But in so doing, Apple will bring very valuable attention to the market, essentially releasing a rising tide that will float all their boats.” Mas também há quem tenha mais dúvidas: “
The question comes after the first two or three quarters once the Apple fans have bought. Will there be a market for the Apple Watch among the general consumer segment? That remains to be seen.”
Algo, no entanto, mostrou mais uma vez – como se isso ainda fosse necessário – que a Apple é capaz de propor produtos que mais ninguém seria capaz de vender e por preços às vezes inacreditáveis. De certa forma é sobre isso que reflecte John Gapper no Financial Times, em
Luxury is a sideline for the Apple Watch. De facto, “
No other company that I know of offers an upmarket model that is 49 times the basic price”.É algo fantástico e que mostra o poder da marca. Partindo de um preço base de 349 dólares, o modelo mais caro pode chegar aos 17 mil dólares, algo que coloca essa versão mais sofisticada quase ao nível de um Patek Philippe. Só que…
Products such as Patek Philippe watches sell on the basis that they are unique items that will retain their value. Patek’s advertising emphasises that its watches can be handed from generation to generation. In contrast, Apple steadily upgrades most of its products, with older versions falling in value.Mais:
That does not mean Apple will fail to sell the luxury version of its Watch. There are enough people who will want to display the most expensive one on their wrist, just as they carry a Louis Vuitton bag, to make it a nice sideline to the main business of selling millions of Watches. Deixemos a questão dos preços de lado, pois o mercado de produtos de luxo tem uma lógica que a própria lógica desconhece – pelo menos a lógica do comum dos mortais – e passemos a uma análise mais crítica, feita na Quartz:
The potential Apple Watch side effects Tim Cook doesn’t want you to know. Nele, Andre Spicer, um professor of Organisational Behavior da City University de Londres, defende a ideia de que aparelhos como estes criam uma dependência excessiva, uma dependência que já se nota na utilização de smartphones:
We also noticed a worrying side to these new devices as heavy users of the watches incorporate them into their daily routines—we call it the “phantom device effect.” They would compulsive check their watch not just for the time, but for a wide range of information. In some cases their new gizmo would become such an instinctive part of their life that even when not wearing one they would check their bare wrist. Some would feel a phantom buzz, notifying them of an imaginary incoming email. The phantom device effect leads us to ask about just how ingrained in our daily habits these devices might become. Recent research has suggested that average smartphone users check their phone 150 times a day, starting just minutes after waking up. Julgo que já chega sobre este novo gadget, pelo que aproveitarei as últimas notas do Macroscópio para regressar ao tema que mais nos tem preocupado nos últimos dias, o destino da Grécia e, com ele, o destino da Europa. Hoje foi um dia que nos trouxe notícias de tensões acrescidas e ultimatos cruzados, como a ameaça do ministro da Defesa grego, que vem do partido da direita radical, e que resolveu lançar um alerta: "
Se eles [os líderes europeus] nos atacarem, iremos atacá-los também a eles". Como? "Uma onda humana vai migrar para Berlim”. Ou seja, a Grécia abriria as suas fronteiras aos imigrantes vindos do Sul, sugerindo mesmo que entre eles viriam muitos jihadistas.
Sugiro-vos hoje mais dois textos de análise e reflexão. O primeiro saiu no Financial Times, é do seu principal analista internacional, Gideon Rachman, e chama-se
Greece, Russia and the politics of humiliation. A ideia é que alguma habilidade e sensibilidade política podem produzir excelentes efeitos na boa conclusão de negociações internacionais:
But sometimes the gestures required to restore a sense of national pride may be relatively minor. Greece does not seem to have extracted significant concessions from its creditors. Nonetheless, a display of national defiance, combined with some linguistic and technical changes, appears to have mollified the Greeks for now. As the west contemplates a dangerous conflict with Russia and the ambitions of China, it might remember that symbols can sometimes matter almost as much as substance. Não sei se as novidades semânticas das últimas semanas serão suficientes para fazer sarar feridas há muito tempo abertas, mas é quase certo que mesmo que isso aconteça a Grécia continuará a enfrentar muitos problemas pois dificilmente o governo do Syriza realizará as reformas de que o país precisa para voltar a ser competitivo e solvente. É isso mesmo que se deduz do texto de dois economistas alemães publicado no Wall Street Journal, texto onde se propõe
A New Deal for Greece. Isto apesar de, na sua opinião, “
Europe has a chance to renegotiate a program that works, focusing less on debt and more on supply-side reforms”. O problema, contudo, é que “
A new deal that focuses on competitiveness and the supply side will not be easy. Prime Minister Alexis Tsipras faces pressure at home to deliver on election promises that were clearly at odds with economic logic and Greece’s membership in the EU and the euro. But the alternative touted by some—a Greek exit from the euro followed by a competitive devaluation—would be a disaster for the country. Ordinary Greeks would suffer far deeper cuts in real wages than they have experienced under the bailouts.” Por hoje é tudo. Amanhã há debate quente na Assembleia da República, veremos se com novidades suficientes para regressarmos aos temas domésticos. Até lá, bom descanso. E aproveitem algumas destas leituras.
Voltamos a ver-nos amanhã.