Decapitação de João Batista
Decapitação de João Batista (alternativamente Decapitação de São João Batista ou Decapitação do Anunciador) é um dia santo observado por várias denominações cristãs. Este dia comemora o martírio de João Batista.
Em 29 de agosto de 2012, durante uma audiência pública televisionada no palácio de verão de Castel Gandolfo, papa Bento XVI defendeu que a descoberta da cabeça fragmentada de São João Batista pela segunda vez atesta a veneração milenar da santidade da relíquia, que data da era apostólica.[1] Além disso, o pontífice também lembrou da festa que comemora o translado desta relíquia para o novo santuário na Basílica de San Silvestro in Capite, em Roma.
Relatos
O relato bíblico representa a decapitação de João Batista por Herodes Antipas (em Mateus 14:1–12. Marcos 6:14–29 e Lucas 9:7–9). De acordo com os evangelhos sinóticos, Herodes mandou prender João por ele o ter admoestado por se divorciar de sua esposa (Fasélia - Phasaelis) e, ilegitimamente, tomar como amante Herodias, a esposa de seu irmão Herodes Filipe I. No aniversário de Herodes, a filha de Herodias (tradicionalmente chamada de Salomé) dançou perante o rei e seus convidados. Sua dança agradou tanto Herodes que, bêbado, ele prometeu a ela qualquer coisa que desejasse, limitando a promessa em metade de seu reino. Quando a filha perguntou à mãe o que deveria pedir, Herodias pediu que ela pedisse a cabeça de João Batista numa bandeja. Mesmo chocado com o pedido, Herodes relutantemente concordou e mandou executar João na prisão.
O historiador judeu Flávio Josefo também relata, em suas "Antiguidades Judaicas", que Herodes mandou matar João, afirmando que ele o fez "pois a grande influência que João tinha sobre o povo poderia colocar em suas [de João] mãos o poder e a vontade de levantar uma rebelião, (pois o povo parecia pronto para fazer o que quer ele pedisse), [assim Herodes] pensou que o melhor seria eliminá-lo". Ele afirma ainda que muitos dos judeus acreditavam que o desastre militar que sobreveio a Herodes pelas mãos de Aretas, seu sogro (pai de Fasélia), fora uma punição por seu comportamento no caso de João.[2]
Festividades
A comemoração litúrgica da Decapitação de São João Batista é quase tão antiga quanto as comemorações de seu nascimento, que é uma das festas mais antigas, se não a mais antiga, a serem introduzidas nas liturgias do oriente e do ocidente para homenagear um santo.
A Igreja Católica Romana celebra a festa em 29 de agosto, assim como a Igreja Luterana e a Igreja Anglicana, incluindo aí diversas províncias nacionais da Comunhão Anglicana.
A Igreja Ortodoxa e as Igrejas Católicas Orientais também celebram em 29 de agosto, só que no calendário juliano, utilizado entre outras pelas Igrejas Ortodoxas Russa, Macedônica e Sérvia, e que corresponde ao dia 11 de setembro no calendário gregoriano. O dia é sempre observado como um dia de jejum rigoroso. Em algumas culturas ortodoxas mais piedosas, o povo se recusa a comer num prato, usar facas ou comer alimentos de formato redondo neste dia.
A Igreja Apostólica Armênia celebra a Decapitação de São João Batista no sábado da Semana de Páscoa.
A Igreja Ortodoxa Síria, a Igreja Ortodoxa Malancara e a Igreja Católica Siro-Malancar comemoram o martírio de João em 7 de janeiro.
Festas relacionadas
Há duas outras festas relacionadas observadas pelos cristãos orientais:
- Primeira e Segunda descoberta da Cabeça de São João Batista (em 24 de fevereiro). De acordo com a tradição, após a execução de João Batista, seus discípulos enterraram seu corpo em Sebaste, mas Herodias enterrou a sua cabeça num monte de esterco. Posteriormente, Santa Joana, que era casada com um servo de Herodes (vide Lucas 8:3), recuperou secretamente a cabeça e a enterrou no Monte das Oliveiras, onde ela permaneceu escondida por séculos[3]:
- A "Primeira descoberta" ocorreu no século IV. A posse do local no Monte das Oliveiras onde a cabeça foi enterrada eventualmente passou para as mãos de um oficial do governo que se tornara um monge de nome Inocente. Ele construiu uma igreja e uma cela monástica ali. Quando ele começou a cavar para fazer a fundação, o recipiente com a cabeça de João foi encontrada. Mas, temeroso de que a relíquia pudesse ser dessecrada por infiéis, ele a escondeu novamente no mesmo lugar onde a encontrara. Após a sua morte, a igreja se arruinou e acabou sendo destruída.
- A "Segunda descoberta" ocorreu no ano de 452. Durante os dias de Constantino, dois monges em peregrinação a Jerusalém teriam tido visões de João Batista, que lhes revelou a localização de sua cabeça. Eles descobriram a relíquia, a colocaram num saco e voltaram para casa. No caminho, encontraram um ceramista de nome desconhecido e lhe deram o saco para carregar, sem contar-lhe o que ele continha. João então apareceu para ele e ordenou que ele fugisse dos preguiçosos e descuidados monges, levando consigo o que tinha em mãos. Ele o fez e levou a cabeça para casa consigo. Antes de morrer, ele a colocou num vasilhame e o entregou para sua irmã. Após algum tempo, um hieromonge de nome Eustácio, um ariano, tomou posse da cabeça e a utilizou para atrair fiéis para sua crença. Ele então enterrou a cabeça perto de Emesa, onde, eventualmente, um mosteiro foi construído. No ano de 452, São João apareceu para o arquimandrita deste mosteiro, Marcelo, e lhe indicou onde a cabeça estava escondida, enterrada num jarro de água. A relíquia foi então levada à cidade de Emesa e foi posteriormente transferida para Constantinopla.
- A Terceira descoberta da Cabeça de São João Batista é comemorada no dia 25 de maio. A cabeça foi transferida para Comana, na Capadócia, durante um período de ataques muçulmanos (por volta de 820) e foi enterrada novamente durante o iconoclasmo. Quando as veneração dos ícones foi restaurada, por volta de 850, o patriarca Inácio de Constantinopla (r. 847–857) viu, numa visão, o local onde ela fora enterrada. O patriarca comunicou o fato ao imperador bizantino Miguel III, o Ébrio (r. 842–867), que enviou uma delegação para Comana, onde a cabeça foi encontrada.[4]
Relíquias
De acordo com antigas tradições, o local onde o corpo de João Batista foi enterrado foi Sebaste, perto da moderna Nablus na Cisjordânia, em já no século IV se mencionam relíquias suas sendo homenageadas ali. Os historiadores Rufino e Teodoreto relatam que um templo a João foi dessecrado ali em 362 por ordem de Juliano, o Apóstata, que queimou parte dos ossos. Uma parte das relíquias foi salva e levada a Jerusalém, depois para Alexandria, onde, em 27 de maio de 395, elas foram depositadas na basílica recém-dedicada ao Precursor, justamente no local onde antes estava o Serapeu (Serapeum). O túmulo em Sebaste continuou, ainda assim, a ser visitado por peregrinos e São Jerônimo foi testemunha de milagres sendo realizados ali. Atualmente, o túmulo está preservado no interior da Mesquita de Nabi Yahya ("Mesquita de João Batista"), que é considerado um profeta pelo Islã.
O destino final da cabeça de João é difícil de determinar. Nicéforo[5] e Simeão Metafrástes dizem que Herodias a enterrou a na fortaleza de Maquero (em concordância com Josefo). Outros escritores dizem que ela foi enterrada no Palácio de Herodes em Jerusalém. Ali ela foi descoberta durante a época de Constantino e foi, secretamente, levada para Emesa, na Fenícia, onde ela foi novamente escondida em um lugar que permaneceu secreto até que a localização foi novamente revelada milagrosamente em 452/3.
Cabeça de São João Batista
Com o passar dos séculos, houve muitas discrepâncias nas várias lendas e nas histórias de diversas supostas relíquias no mundo cristão. Diversos locais diferentes reivindicam a posse da cabeça de João Batista. Entre os vários, estão[6]:
- A tradição muçulmana mantém que a cabeça de João foi enterrada na Mesquita dos Omíadas, em Damasco. O papa João Paulo II visitou a tumba de João Batista ali em sua visita à Síria em abril de 2001.
- Na Idade Média, acreditava-se que os cavaleiros templários estavam com a cabeça e diversos registros de sua perseguição pela Inquisição, após a queda da ordem no início do século XIV, fazem referência a variadas formas de veneração à cabeça.[7]
- Alguns cristãos acreditam que a cabeça que está exposta na igreja de San Silvestro in Capite, em Roma, é a cabeça de São João.[1]
- A Catedral de Amiens alega ter a cabeça na forma de uma relíquia trazida de Constantinopla por Wallon de Sarton após o saque da cidade pela Quarta Cruzada (1204).
- Alguns acreditam que ela foi enterrada na cidade turca de Antioquia (Antáquia) ou no sul da França.[6]
- Em 1881, o The New York Times alegou que os internos de dois mosteiros franceses rivais costumavam exibir cabeças de São João, o primeiro a de "quando ele era um garoto" e outro o seu crânio após "ele ter se tornado um homem".[8]
- Alguns cristãos ortodoxos acreditam que um pedaço da cabeça está preservado no mosteiro romeno de Prodromo, em Monte Atos.
- Um relicário na Residenz, em Munique, está marcado como contendo o crânio de São João Batista.[9]
Outras relíquias
Acredita-se que diversas outras relíquias de João Batista existam, inclusive as seguintes:
- De acordo com a tradição, São Lucas foi até a cidade de Sebaste e lá se apoderou da mão direita do Precursor (a mão que batizou Jesus) e a levou para Antioquia, sua cidade natal, onde ela realizou milagres. Reporta-se que a relíquia era exposta aos fiéis durante a Festa da Exaltação da Santa Cruz (14 de setembro). Se os dedos da mão estivessem abertos, interpretava-se como um sinal de um ano de abundância, se fechados, como de colheitas pobres (1 de setembro era o início do ano litúrgico e da estação das colheitas).
- Em 7 de janeiro, a Igreja Ortodoxa celebra a "Festa da Transferência da Mão Direita do Santo Precursor" de Antioquia para Constantinopla, em 956, e o "Milagre de São João, o Precursor, contra os muçulmanos em Quios".
- Em 1263, durante o domínio latino de Constantinopla pelos cruzados, o imperador franco Balduíno I deu um osso do pulso de São João Batista para Otono de Chichon que, por sua vez, o doou para uma abadia cisterciense na França.
- Acredita-se que o braço direito e um pedaço de seu crânio estejam expostos no Palácio Topkapı, em Istambul, na Turquia.
- No ano de 1484, a mão direita do Precursor foi dada pelo filho do sultão Bajazeto II para os cavaleiros hospitalares da Ilha de Rodes para conseguir sua boa vontade. Os cavaleiros posteriormente levaram a relíquia consigo quando eles mudaram a sede da ordem para Malta. Quando Napoleão conquistou a ilha em 1798, a mão foi um dos poucos tesouros que o grão-mestre Ferdinand von Hompesch recebeu permissão para levar embora da ilha.[10] Em 12 de outubro de 1799, após Hompesch ter renunciado, ela foi presenteada, juntamente com os demais tesouros da ordem - o ícone da Teótoco de Filermo e uma lasca da Vera Cruz - para o imperador Paulo I, da Rússia, que acabara de ser eleito como novo Grande Mestre da Ordem Maltesa e foi levada para a capela do Palácio do Priorado[11] em Gatchina, na Rússia. Após a morte de Paulo, em 1801, a relíquia foi transferida para o Palácio de Inverno, em São Petersburgo, e sobreviveu ao saque do local durante a Revolução Bolchevique em 1917 por estar na Igreja da cidade de Gatchina, junto com as outras relíquias, para uma celebração em sua honra no dia 12 de outubro.[10] A relíquia eventualmente foi depositada no Mosteiro de Ostrog, em Montenegro, e de lá para a sua localização atual, no Mosteiro de Cetinje, também em Montenegro.[12]
- Também acredita-se que a mão direita esteja preservada no Mosteiro Dionysiou, em Monte Atos.
- Acredita-se que relíquias de João Batista estão nas mãos do Mosteiro de São Macário, o Grande, copta-ortodoxo, em Escetes, no Egito.[13]
- Em julho de 2010, um pequeno relicário foi descoberto sob a basílica do mosteiro do século V na Ilha de Santo Ivã, na Bulgária. Arqueólogos locais o abriram em agosto e encontraram fragmentos de um crânio, uma mão e um dente, que eles acreditam ser de João Batista com base na interpretação da inscrição em grego no relicário.[14]
Referências
- ↑ ab «Benedict XVI, General Audience, August 29, 2012». Vatican.va. 29 de agosto de 2012. Consultado em 25 de dezembro de 2014
- ↑ Flávio Josefo. Antiguidades Judaicas Arquivado em 19 de abril de 2007, no Wayback Machine. XVIII, v, 2.
- ↑ «Primeira e Segunda Descoberta da Cabeça do Precursor» (em inglês). Orthodox Church of America. Consultado em 21 de fevereiro de 2012
- ↑ «Terceira Descoberta da Cabeça do Precursor» (em inglês). Orthodox Church of America. Consultado em 21 de fevereiro de 2012
- ↑ Nicéforo, "História Eclesiástica" I, ix. Veja Patrologia Grega, cxlv.-cxlvii.
- ↑ ab Lost Worlds: Knights Templar, July 10, 2006 video documentary on The History Channel, directed and written by Stuart Elliott
- ↑ Sean Martin, The Knights Templar: The History & Myths of the Legendary Military Order, 2005. ISBN 1-56025-645-1
- ↑ «Silly relic-worship». The New York Times: 10. 16 de janeiro de 1881. Consultado em 12 de julho de 2009
- ↑ Hooper, Simon (30 de agosto de 2010). «Are these the bones of John the Baptist?». Cable News Network. Turner Broadcasting System, Inc. Consultado em 31 de agosto de 2011
- ↑ ab Grima, Noel (25 de julho de 2010). «Re-establishing a long-lost connection». Malta Independent. Consultado em 24 de junho de 2011
- ↑ Priory Palace
- ↑ «Cetinje - The Old Royal Capital of Montenegro | Relics». The City of Cetinje. Consultado em 24 de junho de 2011. Arquivado do original em 9 de outubro de 2011
- ↑ St. Macarius Monastery
- ↑ Remains of John the Baptist Found, Archaeologists Claim Arquivado em 6 de agosto de 2010, no Wayback Machine., 3 August 2010
Ver também
Notas
[1] A nova reforma ortográfica alterou a grafia de Batista. Antes era grafado Baptista. Agora a consoante P desapareceu de algumas palavras com PT, batismo, batizado, batista, batismal e batistério e as formas conjugadas do verbo batizar. Apenas as consoantes que são pronunciadas foram mantidas, como em eucalipto, adepto, apto, rapto.
João Batista é um prenome composto, que significa aquele que batiza com a graça de Deus.
Não confunda prenome (que significa nome de batismo ou nome próprio em linguagem informal) com sua parônima pronome escrita com O, que é usada na gramática, para indicar uma palavra variável em gênero, número e pessoa que substitui, retoma ou acompanha o substantivo indicando-o como pessoa do discurso ou situando-o no espaço, no tempo e no texto, podendo ser classificado em pessoal, possessivo, demonstrativo, indefinido, interrogativo, relativo, reflexivo, recíproco, caso reto, caso oblíquo e de tratamento
Ligações externas
- Decapitação do Precursor Ícone e Sinaxário da festa (Igreja Ortodoxa) (em inglês)
- A Degola de São João Batista, na Legenda Áurea (1275) (em inglês)
- A Decapitação de São João Batista do Prológo de Ochrid (em inglês)
- Janeiro 7 Synaxis de João, o Precursor - relato de várias relíquias (em inglês)
- ↑ Ciberdúvidas/ISCTE-IUL (1 de janeiro de 2009). «Baptista e Batista - Gramática e Ortografia - Qual a forma correta? Segundo a Nova Reforma Ortográfica, a forma correta é batista, sem o P. No grupo consonantal PT, somente se escreve a consoante quando é pronunciada: adepto, eucalipto, apto, rapto. No caso, a consoante é muda assim como os derivados batismo, batizado, batismal e batistério e as formas conjugadas do verbo batizar no presente, pretérito, futuro, indicativo, subjuntivo, imperativo, e formas nominais.». ciberduvidas.iscte-iul.pt. Consultado em 18 d
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