"A Rússia quer guerra, mas não será capaz de parar o curso da história", afirma Zelensky
O Presidente da Ucrânia discursou na Assembleia Geral da ONU, no mesmo dia em que Vladimir Putin anunciou a mobilização parcial de russos para a guerra.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenski, afirmou esta quarta-feira que a decisão russa de mobilizar reservistas demonstra que Moscovo está longe de pensar em negociações para pôr fim aos quase sete meses de guerra.
Num discurso feito por videoconferência durante os trabalhos da 77.ª Assembleia Geral da ONU, que decorre desde terça-feira na sede das Nações Unidas, em Nova Iorque, Zelensky insistiu que a Ucrânia irá sair vencedora na guerra contra a Rússia e que vai obrigar os soldados russos a deixar o país.
"Podemos voltar a hastear a bandeira ucraniana em todo o nosso território. Podemos fazer isso com a força das armas. Mas precisamos de tempo", afirmou o Presidente ucraniano.
O decreto aprovado esta quarta-feira de manhã por Putin sobre a mobilização foi escasso em pormenores. As autoridades russas, através do Ministério da Defesa, disseram que podem ser mobilizados cerca de 300.000 reservistas.
No discurso à nação, esta quarta-feira, Vladimir Putin ameaçou os países ocidentais de que poderá utilizar armamento nuclear se “a integridade do território" russo for comprometido. Zelensky alertou a ONU que esta “chantagem da radiação da Rússia é algo que deve preocupar todos porque nenhum de vocês vai descobrir uma vacina contra as doenças por radiação”.
Um dia antes, as partes controladas pelos russos no leste e sul da Ucrânia anunciaram planos para a realização de referendos sobre a integração na Rússia. Os líderes ucranianos e os aliados ocidentais consideram que os referendos serão ilegais.
O Presidente ucraniano aproveitou o discurso para, mais uma vez, pedir ajuda militar aos países ocidentais. “Não podemos concordar com uma guerra adiada, porque será ainda mais dura do que a guerra atual. Para nós, é uma guerra pela vida.”
Zelensky não discutiu os desenvolvimentos ao pormenor, mas sugeriu que qualquer conversa russa sobre negociações é apenas uma "tática de adiamento", em que as ações de Moscovo "falam mais alto do que as palavras".
"Eles [russos] falam sobre negociações, mas anunciam uma mobilização militar. Eles falam sobre as negociações, mas anunciam pseudo-referendos nos territórios ocupados da Ucrânia", sustentou.
A Rússia ainda não falou na Assembleia Geral da ONU, estando previsto que o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, discurse no próximo sábado.
O discurso de Zelensky foi marcante não apenas pelo conteúdo, mas também pelo contexto. Aconteceu após o anúncio da mobilização anunciada por Putin.
"A Rússia quer guerra. É verdade. Mas a Rússia não será capaz de parar o curso da história", disse Zelensky, acrescentando que "a humanidade e a lei internacional são mais fortes" do que o que considerou ser um "Estado terrorista".
Estabelecendo várias "pré-condições para a paz" na Ucrânia, que às vezes chegam a prescrições mais amplas para melhorar a ordem global, o Presidente ucraniano pediu aos líderes mundiais que retirem à Rússia o voto nas instituições internacionais, bem como o poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, argumentando com o facto de os "agressores precisam ser punidos e isolados". A luta já provocou alguma movimentação contra a Rússia em vários órgãos das Nações Unidas.
Em março, a assembleia votou esmagadoramente pela condenação da agressão russa à Ucrânia, exigiu um cessar-fogo imediato e a retirada de todas as forças russas, pedindo ainda proteção para milhões de civis. No mês seguinte, em abril, membros de um número menor, mas ainda dominante, votaram pela suspensão da Rússia do Conselho de Direitos Humanos da ONU.
Mas, como membro permanente do principal órgão da organização, o Conselho de Segurança da ONU, a Rússia tem vetado qualquer exigência para que ponha termo ao ataque à Ucrânia.
Discurso de Zelensky aplaudido de pé
O discurso do Presidente ucraniano foi aplaudido de pé na quarta-feira por dezenas de delegações internacionais que assistiam ao pronunciamento, numa nova manifestação coletiva de apoio ao país.
A maioria das missões diplomáticas, juntamente com chefes de Governo e de Estado de todo o mundo, não ficaram indiferentes às palavras do líder ucraniano e aplaudiram as suas palavras. Quem não se levantou, nem aplaudiu o discurso do Presidente da Ucrânia foi, sem surpresa, a delegação russa, que assistiu ao momento de semblante fechado.
O discurso de Zelensky foi marcante não apenas pelo conteúdo, mas também pelo contexto. Aconteceu após o anúncio da mobilização anunciada por Putin. Apesar do Presidente ucraniano não ter comparecido presencialmente a este importante evento das Nações Unidas em Nova Iorque, a primeira-dama ucraniana, Olena Zelenska, assistiu à transmissão do discurso na Assembleia-Geral, o qual também recebeu com aplausos.
Olena Zelenska, juntamente com o primeiro-ministro da Ucrânia, Denys Shmygal, foram recebidos na terça-feira pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, com quem abordaram o impacto da guerra na situação humanitária, direitos humanos e a segurança nuclear no país.
A semana de alto nível da Assembleia Geral das Nações Unidas começou na terça-feira, na sede da ONU em Nova Iorque, e irá prolongar-se até à próxima segunda-feira, com a presença de dezenas de chefes de Estado e de Governo, entre eles o primeiro-ministro português, António Costa.
Esta é a primeira Assembleia Geral desde o início da guerra na Ucrânia e a primeira em formato presencial desde o início da pandemia.
O evento decorre sob o tema "Um momento divisor de águas: soluções transformadoras para desafios interligados", e terá como foco a guerra na Ucrânia e as crises globais a nível alimentar, climático e energético.
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