Doença do Suor - uma Epidemia Esquecida
Houve algumas ondas mortais da Doença do Suor entre 1485 e 1551. Estavam localizadas principalmente na Inglaterra, mas uma onda severa em 1528 viajou para a Alemanha e depois se espalhou pela costa do Báltico, Escandinávia e Rússia. O último surto documentado aconteceu em 1551, e parece que a doença desapareceu tão misteriosamente quanto surgiu. Se até hoje, historiadores e especialistas em saúde não sabem ao certo o que causou essa epidemia, você pode imaginar o nível de perplexidade e preocupação dos pobres médicos renascentistas.
Embora não fosse tão mortal quanto a Peste Negra, que matou 60% da população européia no século 14, a Doença do Suor era temida pela velocidade com que atacava suas vítimas. Muitos pacientes morriam dentro de 18 horas após o aparecimento dos primeiros sintomas. Somente aqueles que sobreviviam às primeiras 24 horas chegavam à recuperação total.
O grande temor da elite
A doença começava abruptamente com febre, dores extremas no pescoço e ombros, dor abdominal e vômitos. Esse estágio durava de meia hora a três horas. Seguia-se então uma febre intensa. Esse estágio incluía sede e sudorese tão profusos que deram o nome à doença. Os estágios finais eram caracterizados por delírio, falta de ar, culminando com dor no peito e pulso rápido. Finalmente, as vítimas, agonizantes, desmaiavam e adormeciam para nunca mais acordar.
O aspecto interessante da Doença do Suor é que ela era mais comum entre os ricos e a classe alta. Duques, bispos, prefeitos e até a família real foram suas vítimas. Dizem que Ana Bolena, então amante e depois esposa do rei Henrique VIII, contraiu a doença e sobreviveu, e a curiosa morte de Arthur Tudor, filho do rei Henrique VII, também foi atribuída ao Suor. As taxas de mortalidade também foram altas entre os clérigos, pois a doença se espalhou como fogo nos mosteiros.
Essa epidemia deixou um homem particularmente alarmado. Uma das características menos conhecidas do rei Henrique VIII é que ele foi um dos maiores hipocondríacos a sentar-se no trono britânico. Ele ordenou que os médicos da realeza o examinassem minuciosamente diariamente, e quaisquer sinais de doença na corte o deixavam em pânico. Durante o surto de 1528, o rei fugiu de Londres e pulou de um esconderijo para outro, nunca passando mais do que duas noites em cada cama. Quando soube que sua amada Ana estava doente com o suor, o rei em quarentena enviou seu segundo melhor médico, William Butts, com uma carta de amor.
Especulações modernas sobre as origens da doença do suor
Pesquisadores médicos têm comparado os relatórios daquela época sobre a Doença do Suor com a epidemiologia moderna, na tentativa de entender as origens da doença. Em 2013, pesquisadores do Hospital Militar Queen Astrid, em Bruxelas, publicaram sua revisão na revista Viruses.
Uma de suas teorias é que a doença do suor foi causada por um hantavírus desconhecido, um tipo de vírus transmitido por ratos, camundongos e outros roedores. Não apresenta nenhum sinal de doença nos animais, mas pode causar infecção pulmonar fatal em humanos. A manifestação clínica do Suor possui semelhanças significativas com a síndrome pulmonar do hantavírus (HPS), uma doença moderna, cujo último surto foi visto em 2019 no Panamá. No entanto, nem todos os detalhes coincidem. As variedades de hantavírus que causam HPS são das Américas, não da Europa. É tentador imaginar que o Suor era uma doença importada do Novo Mundo, mas a primeira onda ocorreu sete anos antes de Colombo fazer sua descoberta.
Outros culpados podem ter sido a inalação de antraz através da lã ou das mudanças climáticas. Os surtos de doença do suor coincidiram com o início de um período de 300 anos de tendências de resfriamento na Europa, desencadeadas por uma série de erupções vulcânicas na Indonésia.
"É difícil dizer se a Doença do Suor inglesa ocorrerá novamente ou não", disse o Dr. Paul Heyman, um dos pesquisadores. Esperamos, com certeza, que permaneça apenas como mais um capítulo interessante nos livros de história.
Sem comentários:
Enviar um comentário