Ana França - Expresso - segunda-feira, 30 de março de 2020
A médica que denunciou a existência do novo coronavírus foi impedida de falar na altura - e agora desapareceu
Ai Fen viu o vírus a chegar antes de toda a gente. As radiografias aos pulmões dos pacientes eram demasiado parecidas com aquelas que já tinha visto em outras pandemias. No fim de dezembro a médica fotografou um relatório médico e escreveu nas redes sociais CORONAVÍRUS SARS. Os seus superiores exigiram-lhe silêncio e agora ninguém sabe onde ela está...
Ai Fen também quis alertar as autoridades chinesas, e depois o mundo, para o novo vírus de propagação acelerada que hoje conhecemos como SARS-CoV-2. Mas também esta médica de Wuhan, tal como o seu colega, Li Wenliang, em quem o regime não acreditou e que acabou por morrer vítima da covid-19, foi silenciada. E agora desapareceu, denuncia o programa da CBS de jornalismo de investigação “60 minutos”.
Os jornalistas da CBS, para o mais recente episódio do programa, foram investigar a resposta lenta das autoridades chinesas a esta crise - e o que tem acontecido a quem tentou denunciar a propagação deste vírus. Ai Fen é uma das personagens principais mas só aparece a sua fotografia: é diretora do Departamento de Emergência do Hospital Central de Wuhan, a cidade da província de Hubei onde os primeiros casos de covid-19 foram registados, mas não se sabe onde está agora.
No fim de dezembro, esta médica colocou na rede social WeChat, a mais popular na China, uma fotografia de um relatório médico de um doente que já estava infetado com este novo coronavírus e, ao lado, a sua explicação sobre a ligação destes sintomas à já conhecida SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave, em português), que também teve o seu epicentro na China.
Como os pacientes não estavam a responder aos tratamentos normais, a médica começou a desconfiar que o seu país podia estar às portas de uma nova pandemia e resolveu ir falar com os seus
superiores. Apenas recebeu ordens para não espalhar a notícia - e uma reprimenda por ter sequer começado a alertar os outros colegas do hospital para o problema. Por sua vez, todo o pessoal médico recebeu também ordens para “não espalhar o pânico”. Mas a doutora Ai recorreu a outros meios para alertar a população: deu uma entrevista à revista chinesa “Renwu”, onde denunciou o silêncio que as autoridades de saúde locais tinham imposto sobre as suas denúncias. “Se eu tivesse tido a noção do que ainda aí vinha não tinha ligado nenhuma à reprimenda e tinha falado com ainda mais gente, com qualquer pessoa, em qualquer lado”, disse Ai Fen.
Dia 10 de março, o Presidente da China, Xi Jinping, visitou Wuhan e foi nesse dia que a entrevista saiu. Xi ordenou que a entrevista fosse retirada da internet mas por essa altura já estava em todo o lado. "De acordo com as regras, é claro que isso deveria ter sido relatado", disse ao “New York Times” Yang Gonghuan, médico chinês aposentado que esteve envolvido no estabelecimento do sistema onde se inserem as novas doenças à medida que vão sendo encontradas. "É claro que eles deveriam ter ido explorar, deviam ter dito o que se passava, ir tentar entender a doença”.
Os primeiros casos que Ai Fen associou a esta nova pandemia datam de 16 de dezembro, segundo a investigação da CBS. O hospital porém, mudou os diagnósticos para “pneumonia viral” ou simplesmente “infeção genérica” nas fichas dos primeiros doentes.
A médica que denunciou a existência do novo coronavírus foi impedida de falar na altura - e agora desapareceu
Ai Fen viu o vírus a chegar antes de toda a gente. As radiografias aos pulmões dos pacientes eram demasiado parecidas com aquelas que já tinha visto em outras pandemias. No fim de dezembro a médica fotografou um relatório médico e escreveu nas redes sociais CORONAVÍRUS SARS. Os seus superiores exigiram-lhe silêncio e agora ninguém sabe onde ela está...
Ai Fen também quis alertar as autoridades chinesas, e depois o mundo, para o novo vírus de propagação acelerada que hoje conhecemos como SARS-CoV-2. Mas também esta médica de Wuhan, tal como o seu colega, Li Wenliang, em quem o regime não acreditou e que acabou por morrer vítima da covid-19, foi silenciada. E agora desapareceu, denuncia o programa da CBS de jornalismo de investigação “60 minutos”.
Os jornalistas da CBS, para o mais recente episódio do programa, foram investigar a resposta lenta das autoridades chinesas a esta crise - e o que tem acontecido a quem tentou denunciar a propagação deste vírus. Ai Fen é uma das personagens principais mas só aparece a sua fotografia: é diretora do Departamento de Emergência do Hospital Central de Wuhan, a cidade da província de Hubei onde os primeiros casos de covid-19 foram registados, mas não se sabe onde está agora.
No fim de dezembro, esta médica colocou na rede social WeChat, a mais popular na China, uma fotografia de um relatório médico de um doente que já estava infetado com este novo coronavírus e, ao lado, a sua explicação sobre a ligação destes sintomas à já conhecida SARS (Síndrome Respiratória Aguda Grave, em português), que também teve o seu epicentro na China.
Como os pacientes não estavam a responder aos tratamentos normais, a médica começou a desconfiar que o seu país podia estar às portas de uma nova pandemia e resolveu ir falar com os seus
superiores. Apenas recebeu ordens para não espalhar a notícia - e uma reprimenda por ter sequer começado a alertar os outros colegas do hospital para o problema. Por sua vez, todo o pessoal médico recebeu também ordens para “não espalhar o pânico”. Mas a doutora Ai recorreu a outros meios para alertar a população: deu uma entrevista à revista chinesa “Renwu”, onde denunciou o silêncio que as autoridades de saúde locais tinham imposto sobre as suas denúncias. “Se eu tivesse tido a noção do que ainda aí vinha não tinha ligado nenhuma à reprimenda e tinha falado com ainda mais gente, com qualquer pessoa, em qualquer lado”, disse Ai Fen.
Dia 10 de março, o Presidente da China, Xi Jinping, visitou Wuhan e foi nesse dia que a entrevista saiu. Xi ordenou que a entrevista fosse retirada da internet mas por essa altura já estava em todo o lado. "De acordo com as regras, é claro que isso deveria ter sido relatado", disse ao “New York Times” Yang Gonghuan, médico chinês aposentado que esteve envolvido no estabelecimento do sistema onde se inserem as novas doenças à medida que vão sendo encontradas. "É claro que eles deveriam ter ido explorar, deviam ter dito o que se passava, ir tentar entender a doença”.
Os primeiros casos que Ai Fen associou a esta nova pandemia datam de 16 de dezembro, segundo a investigação da CBS. O hospital porém, mudou os diagnósticos para “pneumonia viral” ou simplesmente “infeção genérica” nas fichas dos primeiros doentes.
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