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Morreu Helena Almeida. Também expôs em Serralves, mas sem alarido e com ganho para todos. Os seus pares consideravam-na a artista portuguesa com maior reputação no estrangeiro, o que aliás era comprovado pelo valor a que as suas peças eram transacionadas no mercado. Celso Martins escreveu sobre uma das figuras mais notáveis do século XX português, filha de um escultor associado ao Estado Novo, Leopoldo de Almeida, cuja obra deixou uma lição:
“elegância, leveza e visceralidade nunca foram inimigas entre si”.
O leitor que já está farto de assuntos que roçam a arte – e com alguma razão – deve dirigir-se de imediato para a narração e comentário do
debate quinzenal que ontem aconteceu na Assembleia da República. A controvérsia em torno da deslocalização do
Infarmed permitiu ao editor de política do Expresso
escrever o seguinte após momentos de crispação do primeiro-ministro com o título “Costa não é um autocrata – repita cinco vezes”:
““Se isto fosse uma autocracia do António Costa, o Infarmed já estava no Porto.” Esta é de altíssima qualidade, para comprovar a humildade democrática de um líder que tem a certeza de ter razão, mas admite as limitações do seu poder. Gostávamos, assim, de fazer o seguinte exercício: se isto fosse uma autocracia do António Costa, que decisões tinham sido tomadas nestes últimos três anos? Era só para percebermos o que estamos a perder, quais são os constrangimentos que lhe coloca a “geringonça”, as leis e etc., porque o Porto sabe que a democracia lhe fez perder o Infarmed.”(O Expresso Diário e o site do Expresso – bem como outros do grupo Impresa – sofreram ontem graves anomalias técnicas que se encontram sanadas. As nossas desculpas ainda que o problema seja de todo alheio à redação)Caso de Tancos pode estar há beira de ser deslindado. O principal suspeito do armamento militar é um
ex-fuzileiro, como
conta Micael Pereira no Expresso Diário.
No entanto estão também envolvidas
chefias da Polícia Judiciária Militar e da GNR. Um intricado enredo é agora resolvido e marca sem sombra de dúvida o final do mandato de
Joana Marques Vidal à frente da Procuradoria Geral da República. Contou com a colaboração (leia-se pressão) do
Presidente, do
Ministro da Defesa (leia-se confusão) e do
líder da oposição (leia-se Rui Rio) que nos últimos dias disse que já sabia disto tudo.
A tramóia está prestes a ser solucionada pouco mais de um ano depois de se ter descoberto o
desaparecimento do equipamento bélico e um ano depois do seu ainda mais misterioso
reaparecimento.
João Vieira Pereiraconsidera, provavelmente com justiça, que este é
um filme rodado na Chamusca que cruza o talento de gente como os irmãos Coen e os Monthy Python.Morte de triatleta conduziu a duas detenções. O desaparecimento de Luís Grilo, quando teria saído de bicicleta para um treino, que viria a reaparecer já cadáver a 130 km de casa, no distrito de Portalegre,
já tem suspeitos.Segundo o “Correio da Manhã”,
Rosa Grilo, a viúva, terá sido a mandante do crime, tendo contado alegadamente com a cumplicidade de um homem. Ambos foram detidos.
O último episódio do 2:59 é sobre
violência sexual.
Carolina Reis apresenta os tenebrosos números deste mundo, em vídeo:
O único crime violento que aumentou em Portugal foi a violação. Em mais de metade das queixas de violação existe um relacionamento entre a vítima e agressor. O “Público”, a propósito, escreve hoje na manchete
“Só 37% dos condenados por crimes sexuais cumprem pena de prisão”.
Quase metade dos candidatos ao ensino superior não conseguiram vaga. Em rigor, 9452 alunos foram colocados na segunda fase,
foi há pouco divulgado pela Direção Geral do Ensino Superior. O total de estudantes que entraram nas universidades e institutos politécnicos é inferior em mil, face a 2017.
No Brasil, as eleições são quase tão animadas quanto as noites da Chamusca. A ex-mulher de
Jair Bolsonaro, o candidato ultrarreacionário que lidera as sondagens da primeira volta, acusa-o de violência.
É a manchete de ontem da insuspeita “Folha de São Paulo”: Ana Cristina Valle afirmou que temia ser morta e que a sua cabeça valia 50 mil reais.
Pensões a subir em Espanha. A maioria dos deputados aprovou uma lei que
indexa as pensões à inflação real. A nova maioria revoga assim a lei aprovada pelo PP, em 2013 quando era maioritário, que permitia apenas uma subida de 0,25%. No “El País” confessa-se porém a
incapacidade de fixar já uma fórmula concreta.FRASES“A não recondução da PGR é a decisão mais estranha do mandato da geringonça”.
Cavaco Silva, ex-Presidente da República, em declarações aos jornalistas
“Temos 120 milhões para requalificar o Turismo”.
Manuel Caldeira Cabral, ministro da Economia, ao “Diário de Notícias”
“Benfica – FC Porto à porta fechada? Não acredito no Pai Natal”.
Pinto da Costa ao “Jornal de Notícias”
“Não fui mercenário”. Rúben Ribeiro, um dos futebolistas que rescindiu o contrato com o Sporting unilateralmente, em entrevista ao “Record”
O QUE ANDO A LERJá aqui falei de um livro intitulado
“Bread Is Gold” (Phaidon), assinado por
Massimo Bottura e amigos. Massimo Bottura é um dos mais consagrados cozinheiros da atualidade. Ainda há poucas semanas a sua
Osteria Francescana, em Modena, no norte de Itália recebeu o prémio de
melhor restaurante do mundo na lista dos “50 Melhores”. Mas não é da Osteria de Massimo (a que nunca fui) nem das receitas que fazem parte do livro (mas não só) que agora vale a pena falar. “Bread Is Gold” é apenas mais uma peça de um projeto maior de Bottura dedicado à solidariedade. A ideia é simples: Massimo recorre à sua rede de contactos – os amigos - para colocar
os mais conceituados chefes do mundo a cozinhar para os sem abrigo. Respeitando essa intenção, abriu um
Refeitório em
Milão e, mais recentemente, outro em
Paris. Outros se seguirão, espera-se que em Lisboa.
Sei que nem toda a gente concorda comigo, mas alimentar o estômago pode ser um mester tão nobre quanto o de alimentar a alma. Não sou dedicado a
chefs de
fine dining (nem posso) mas acredito que as grandes civilizações se constroem assim, com
arte e gastronomia.
“Bread is Gold” fala disso mesmo mas sem esta arrogância, associando “leveza, elegância e visceralidade” para provar que não podem – não devem? – ser inimigas entre si.
Também já falei aqui de
Nick Cave. E algures escrevi que os seus espectáculos não são momentos de
comunicação mas sim de
comunhão com a plateia. Sinto-me por isso na obrigação de divulgar os
Red Hand Files. Estes
Red Hand Files são o desenvolvimento, por ventura natural, de debates que Nick Cave encetou durante a digressão deste ano que o trouxe ao Porto e que o colocavam a responder, ao vivo e a cores, às perguntas colocadas pelos presentes. Agora passou a fazê-lo por escrito.
Não admira por isso que
neste segundo episódio, ilustrado com uma fotografia sua captada na Invicta, dê notícias (está presentemente num estúdio da Califórnia a gravar um novo disco com Warren Ellis), faça humor (“we have two family dogs. A gentle moony dog with sad eyes and cancer called Otis and a psychotic little dachshund called Nosferatu, whose one great enterprise in life is to bite me”) e mergulhe, como de costume nas profundezas da alma (“the natural world in my songs is less about the destruction of the environment and more concerned with the biblical notion of paradise, within which I can set my human dramas of suffering and transcendence”).
Seja como for, parece-me um sinal de sinceridade e solidariedade que é importante reter.
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