sábado, 25 de agosto de 2018

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Pedro Candeias
PEDRO CANDEIAS
EDITOR
 
Se parece esturro, cheira a esturro e sabe a esturro, então é bem provável que seja ele
23 de Agosto de 2018
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Há uma lei universal não escrita que diz o seguinte: se parece esturro, se cheira a esturro e se, em última análise, sabe a esturro, então é bem provável que o esturricado seja de Donald Trump. É por isso que aqui estamos. Outra vez.

Recapitulando as últimas: na terça-feira, Michael Cohen, o fixer e cão de ataque (e também antigo advogado) de Trump, confessou sob juramento ter recebido dinheiro do “candidato a presidente” para pagar o silêncio de uma porn star e de uma modelo da Playboy com quem o presidente-eleito tivera relações extra-conjugais para “influenciar as eleições”. Isto são suspeitas particularmente perigosas. Imagine o que seria se as histórias de Stormy Daniels e Karen McDougal tivessem chegado aos jornais a meio da campanha.

Mas há mais: a dada altura, Cohen foi o fazedor de pontes transcontinentais quando o indiscreto líder do mundo livre quis uma Trump Tower em Moscovo – obviamente, o negócio correu mal, mas ficou um odor estranho no ar. Segundo o multicitado Steele Dossier, da autoria do ex-MI6 Christopher Steele, Cohen encontrou-se em 2017 com russos que tinham informações e/ou se imiscuíram nas eleições de 2016.

A propósito deste dossiê, Trump chamou-lhe “lixo” e os três oligarcas russos implicados tentaram processar o autor por difamação. Christopher Steele ganhou-lhes ontem em tribunal.

Bom, na mesma terça-feira Paul Manafort, antigo diretor de campanha de Trump – amigado de gente, digamos, duvidosa, como Mobutu Sese Seko, Ferdinando Marcos ou Viktor Yanukovich – foi condenado por oito de 18 crimes, de evasão fiscal a falsificação de declarações de impostos. [Manafort será julgado em setembro por supostas ligações promíscuas com a Ucrânia].

Logicamente, Donald Trump foi ao Twitter e elogiou Manafort, “um bom homem” por “não quebrar” sob pressão (está, inclusivamente, a considerar um perdão ao tipo) e criticou Cohen pelas razões opostas. “Só inventou histórias para conseguir um acordo judicial”. E depois, numa suave e caseira entrevista ao programa “Fox And Friends”, o presidente defendeu-se com a habitual descoordenação: “Tem de perceber, Ainsley, o que ele fez… não foram tirados das finanças da campanha e isso é que interessa. Vieram [os pagamentos] da campanha? Não vieram da campanha, mas de mim. E eu tuitei sobre isso. Você sabe, eu pus - não sei se você sabe que eu tuitei sobre isto.” Usar dinheiro da campanha para tapar um escândalo sexual é simplesmente criminoso.

O confronto da Administração com a imprensa aconteceu quando a porta-voz Sarah Huckabee Sanders entrou na sala de conferências. Sanders tentou amolecer a audiência e animar o espírito republicano ao citar a Bíblia enquanto deu as condolências à família de Mollie Tibbetts, uma estudante de 20 anos cujo corpo foi encontrado sem vida; um emigrante ilegal de 24 anos foi acusado de homicídio, o que só “justifica as nossas políticas de emigração”, disse ela antes de ser repetidamente questionada sobre o tema: o presidente cometeu alguma ilegalidade? A “Politico” contou as onze vezes que Sanders respondeu “o presidente não fez nada de mal, não há acusações contra ele, não houve conluio”.

Fact check: em abril, Donald Trump garantiu em pleno voo não saber que Michael Cohen pagara 130 mil dólares a Stormy Daniels.

Reality check: mentir às autoridades é crime, mentir ao público em geral é só moralmente questionável; Trump, que é estruturalmente mentiroso, não será apanhado por isto.

Além disso, Trump está historicamente protegido, apesar de o advogado de Cohen garantir que o seu cliente mudou definitivamente de lado e irá contar tudo o que possa comprometer o POTUS – e a relação entre ambos vem de muito longe, com casos de violação escondidas por ameaças veladas e muita bravata.

Por outro lado, a destituição parece improvável, ainda que possível, porque os republicanos controlam a Câmara dos Representantes: o GOP tem 236 lugares e os democratas têm 193. Só uma reviravolta nas eleições intercalares de novembro próximo dá esperança ao “impeachment” que teria de passar, ainda, pelo Senado.

Até lá, Trump, o homem das mil e uma más companhias, irá desviar-se das balas, mesmo as que atingem a sua Fundação de caridade, como melhor sabe: expondo-se mediaticamente onde lhe interessa e insistindo patologicamente na teoria da caça às bruxas. O “New York Times” diz que Donald já usou a expressão “witch hunt” 110 vezes desde maio.
 
OUTRAS NOTÍCIAS
Ainda do outro lado do Atlântico, e ainda sobre originalidades políticas, o preso político ou político preso – depende de quem analisa isto fora dos tribunais – Lula da Silva lidera confortavelmente as sondagens às presidenciais brasileiras. De acordo com a sondagem da “Data Folha”, Lula tem 39% das intenções de voto a seu favor numa corrida em que está a correr, porque, bem, está na lei, como escreve a “Forbes”. O PT inscreveu-o como candidato porque o podia fazer, e assim o manterá até que todos os apelos dos advogados do ex-presidente se esgotem – e o nome de Lula seja trocado pelo de Fernando Haddad, na esperança de que a colagem mediática deste último ao primeiro seja suficiente para travar a subida de Jair Bolsonaro (18,9% na sondagem), o candidato da extrema-direita. É arriscado, mas tudo parece possível neste mundo.

Como, por exemplo, um presidente destituído esmagadoramente numa AG de um clube continuar a enviar mensagens aos seus antigos jogadores na véspera de um jogo depois de irromper nas instalações, dizendo-se de novo presidente, assinando comunicados como presidente, pedindo a bancos coisas que só os presidentes alegadamente podem fazer – quando não é certo, sequer, que esteja legalmente garantida a sua corrida às eleições, apesar das suas providências. Ontem, soube-se da resposta da Comissão de Gestão à medida cautelar de Bruno de Carvalhosão 225 pontos nos quais se referem a relação tóxica com o plantel, a perda de investidores e patrocinadores, a paralisação da gestão do clube e as rescisões de contrato.

E por falar em contratos, a SIC foi à TVI e de lá trouxe a apresentadora Cristina Ferreira; e esta é a contratação do mercado de verão que inundou naturalmente a internet com piadas futebolísticas (é fazer scroll por aqui). O assunto foi à primeira página do “Correio da Manhã”, que fala em “1 milhão por ano”, “Jornal de Notícias” e do “Público”.

NÚMEROS
24,4
A desvalorização da moeda venezuelana nos últimos cinco dias. Os analistas dizem que isto se deve a novas medidas de Nicolas Maduro. Enquanto isso, a crise agrava-se e o país afunda-se

37
Milhões de euros, o simpático buraco que Filipe Soares Franco deixou no Novo Banco e na Haitong.

1,2 
Milhões de euros, a dívida que uma empresa angolana tem por saldar com 43 trabalhadores portugueses.

30%
A percentagem de agravamento na quota do condomínio segundo as novas regras do alojamento local que entram em vigor em novembro

MANCHETES
Arranco, precisamente, com o tema anterior: “Em dois anos e meio ASAE fechou apenas dez alojamentos locais”, escreve o “Público”.
“Jornal I”: “Revolta no Exército - não esquecemos aqueles que estão para trás”.
“Jornal de Notícias”: “Governo cria exceção para pagar menos IMI às Câmaras”.
“Correio da Manhã”: “1 milhão por ano - SIC rouba Cristina à TVI”.

Nos jornais desportivos, destaque para a sondagem de “A Bola”: “Varandas (35,4%) e Benedito (28,4%) na frente” na corrida às presidenciais do Sporting.
O “Record” aponta a renovação de “Rúben Dias [com o Benfica] até 2023” e o novo reforço do Sporting: “Gudelj hoje em Lisboa”.
O Jogo" titula: “Ai está Marega”, regressado após castigo interno no FC Porto.
E a “Marca” põe a foto dos capitães das equipas de Espanha para ilustrar um anúncio de greve contra a ideia peregrina de disputar jogos da La Liga nos Estados Unidos: “É o momento de dizer basta”.

O QUE ANDO A LER
Quase todas elas começam com a palavra “amigos” após o que somos levados irremediavelmente pela imaginação: Nelson Rodrigues de suspensórios, charuto e sobrancelhas peludas a contar-nos mais uma história de futebol num jeitinho muito próprio.

Em “Brasil Em Campo”, da Tinta da China, estão reunidas muitas das crónicas desportivas que o extraordinário e fértil autor brasileiro escreveu ao longo da sua carreira. Pensando bem, “crónicas desportivas” é uma formulação redutora, porque o que aqui lemos é o Brasil e a forma como Nelson olha para ele no momento em que o país calçava as chuteiras.

Fala-se no “complexo do vira-lata”, nascido no Maracanazo de 1950, que Nelson Rodrigues quis combater com previsões extemporâneas que ele garantia estarem justificadas pela sua visão superior – na verdade, Nelson era míope e não distinguia um jogador do outro, pelo que todos os seus relatos de jogo estão carregados de imagens e metáforas, e ligações ao seu quotidiano. Mas não faz mal, porque há frases inesquecíveis e estilisticamente exageradas, sobretudo contra os “idiotas da subjetividade”. “O brasileiro é ainda maior quando solitário. Ponham o brasileiro numa ilha deserta. Ele sozinho como um Robinson Crusoé, ou apenas com uma arara no ombro. E o brasileiro [...] será um rei shakesperiano, terá um peito de césar proclamado”.

É sobre o genial Garrincha. E é incrível.

O único problema do livro, porém, não está no que está escrito, mas no que faltou escrever: são muitas referências históricas e genuinamente brasileiras que a Tinta da China não contextualizou nem explicou, pelo que muitas das ironias e parábolas de Nelson Rodrigues se perdem na viagem.

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