quinta-feira, 26 de julho de 2018

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Miguel Cadete
MIGUEL CADETE
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O que têm em comum algumas feministas portuguesas e o incêndio na Grécia
26 de Julho de 2018
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O incêndio em Attica, a este de Atenas, provocou 81 mortes, segundo a última contagem das autoridades gregas. Neste momento, as forças de segurança preocupam-se em encontrar os desaparecidos. Ignora-se, porém, o real número de pessoas sem paradeiro conhecido, pois muitos podem estar entre as vítimas mortais do incêndio ou tão só terem recolhido às suas casas sem avisar as autoridades. O jornal grego “Ekathimerini” diz apenas que se tratam de dezenas de pessoas.

Há mais dados factuais que confirmam as semelhanças entre este incêndio e os dois que sucederam, o ano passado, em Portugal. O número de mortes pode, por isso, chegar aos três dígitos, disse o presidente da Câmara de Rafina-Pikermi, que acrescentou que a cidade de Matti se encontra destruída em 98% da sua totalidade; existindo uma segunda localidade, Kokkino Limanaki, que foi devastada pela metade. Dos187 feridos, há 11 que se encontram hospitalizados em estado grave. Uma tragédia para a qual foram anunciadas ajudas decinco mil euros a todas as famílias transtornadas, seis mil euros para as que têm três ou mais crianças no agregado familiar e oito mil euros para cada negócio afetado. Foram igualmente anunciadas isenções fiscais para os proprietários de habitações seriamente danificadas. O ministro dos Transportes e Infraestruturas identificou 200 casas completamente destruídas mas as equipas que estão no terrenos contaram 211 habitações sem qualquer utilidade além de247 que estarão seriamente danificadas. Em Mati, encontraram ainda 125 carros carbonizados.

São inúmeros os exemplos publicados na imprensa portuguesa que comparam os fogos que sucederam em Pedrógão e este que nos últimos dias tomou conta de várias povoações na Grécia, como se pode ler no “Observador”. À distância de um ano vale mais a pena retirar lições do que apontar culpados nestas parecenças. Foi o que fez Daniel Oliveira, ontem, no Expresso Diário“Somos a Grécia porque vivemos no mesmo planeta que irremediavelmente destruímos, porque a Europa mediterrânea está na linha da frente dos efeitos do aquecimento global e porque chegámos historicamente atrasados ao desenvolvimento”.

Ao falhanço do Estado e, portanto, à política há que assacar responsabilidades. Mas leva o bom senso a crer que a naturezanão deve ser totalmente colocada de parte, como também sublinhou Filipe Duarte Santos em entrevista ao “Público”, citada por DO no Expresso. Segundo este professor universitário licenciado em Geofísica e doutorado em Física Nuclear, o futuro, por essas mesmas razões, não será brilhante: “O que se está a observar é uma maior frequência de ondas de calor em todo o mundo. Nos países do Sul da Europa, da região do Mediterrâneo, também observamos um clima mais seco. A combinação dessa secura com temperaturas mais elevadas é que conduz a um maior risco de incêndios florestais. O que podemos esperar para o futuro é um agravamento dessas tendências, porque as alterações climáticas estão a progredir.”

É obrigatório pois prevenir, planear e produzir mais e melhor mas nem tudo está ao alcance de um decreto.
 
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OUTRAS NOTÍCIAS

Termina hoje o prazo que o Ministério da Educação impôs aos professores para ser concluído o processo das avaliações – que foi mais demorado devido a greves. Os diretores das escolas já fizeram saber que a maioria das reuniões para finalizar a atribuição de notasterminou ontem. Para hoje sobram casos pontuais.

Macron estará amanhã em Lisboa. De manhã o Presidente francês irá à Gulbenkian para uma “consulta cidadã” (segundo nota ainda provisória do Eliseu), almoça com o primeiro-ministro e, da parte da tarde, participa num encontro sobre interconexões energéticas onde também estará presente, além de António Costa, o primeiro-ministro de Espanha, Pedro Sánchez,além do comissário europeu responsável pela pasta da Ação Climática e Energia, Miguel Cañete. Desta cimeira resultará uma conferência de imprensa.

Também na sexta-feira deverá ser conhecido o novo proprietário da Herdade da ComportaUm dos concorrentes, o consórcio que junta os donos da Portugália ao inglês Michael Holyoake acusou outro, aquele que junta o Grupo Amorim ao francês Claude Berda, de “deturpações e falsidades”. Paula Amorim e Berda são acusados de “falsidades” por terem declarado que a oferta de Holyoake e a Portugália seria pior por considerar a aquisição de créditos da empresa DCR&HDC. Porém há um empate técnico. Ao “Jornal de Negócios”, Francisco Carvalho Martins, da Portugália, acrescentou a sua proposta é “totalmente independente do BES”, repudiando assim qualquer ligação ao grupo de Ricardo Salgado, antigo proprietário dos terrenos.

Na capa da revista “Visão” que chega hoje às bancas, pode ler-se que já há dez arguidos entre os proprietários de habitações por terem feito obras sem as devidas autorizações. Beirão da Veiga, o aristocrata Louis-Albert de Broglie (que é outros dos concorrentes à compra da Comporta) ou Albina du Boisrouvray, madrinha da filha da princesa Carolina do Mónaco, são alguns dos nomes sonantes que fazem parte do rol de arguidos.

Toupeira do Benfica acedeu 385 vezes a dez processos que se encontram em segredo de justiça. Segundo o Expresso Diário, os juízes deram razão, neste caso, ao Ministério Público mantendo José Silva – a toupeira – em prisão preventiva. O suspeito é acusado dos crimes de corrupção, violação do segredo de Justiça, favorecimento pessoal, peculato e acesso ilegítimo.

Trump e Juncker acabam com a guerra das tarifas. O Presidente da Comissão Europeia e o Presidente dos EUA divulgaram medidas que visam atenuar a batalha comercial recentemente aberta. Ainda que vagas, essas medidas têm impacto na agricultura, indústria e energia. Donald Trump chegou a falar em zero tarifas alfandegárias para as trocas entre a União Europeia e os EUA, com excepção do ramo automóvel.



FRASES

“Sim, somos a Grécia: estamos no mesmo planeta que destruímos, no mesmo sul da Europa cada vez mais seco e entramos nesta guerra com o mesmo atraso político, administrativo e económico. Sim, somos a Grécia: temos de nos preparar para isto num tempo em que se impôs a ideia de que as sociedades são mais eficazes se tiverem um Estado mais minguado e fraco. Sim, somos a Grécia com Costa ou Passos, Tsipras ou Samarás”. Daniel Oliveira no Expresso Diáriode ontem

“Temos deixado o primeiro-ministro à solta. Cometeríamos um erro político enorme se formos percecionados como uma muleta do PS”. Luís Montenegro, do PSD mas opositor de Rui Rio, em entrevista à TVI

“Não devemos ser capatazes do Governo”Rui Moreira, Presidente da Câmara Municipal do Porto, ao “Observador”

“Com décadas de atraso na cronologia do politicamente correcto, a esquerda portuguesa lá descobriu que os portugueses foram grandes esclavagistas. Ainda há uns anos, o tema era a ‘lusofonia’, ideia nascida de uma falácia: o caráter especial do nosso colonialismo. E aqui convém frisar que o moderno nacionalismo português (e a sua associação ao colonialismo) é uma invenção da esquerda. Já leram o Eduardo Lourenço dos anos 50, 60 ou mesmo 70?” Henrique Raposo no Expresso Diário

“Um casal de homossexuais que se beijava num local público foi agredido por um conjunto de ciganos que por ali passava. Dúvida tribalista: Defendemos os homossexuais? Condenamos os ciganos? A resposta mais comum dos adeptos, propagandistas e sicários destas causas foi um eloquente silêncio”. Henrique Monteiro no Expresso Diário de ontem



O QUE ANDO A LER

Em fevereiro de 2016,a Revista do Expresso fez capa com Camille Paglia, incluindo no seu interior uma extensa entrevista com a controversa feminista norte-americana. A conversa com Alexandra Carita terminava com Paglia a falar de si própria. Disse que era perita a sintetizar o seu pensamento em frases bombásticas: “o que digo torna-se uma máxima. É o que faz de mim perigosa”. Descontando alguma sobranceria, ela é na verdade um perigo, pois as suas ideias radicam na liberdade de pensamento e na liberdade de expressão. A sua obra “Mulheres Livres, Homens Livres”, que a Quetzal acaba de publicar com tradução de Helder Moura Pereira está carregado de petardos quase todos dirigidos à atual geração de feministas.

Ando dois anos para trás para voltar à capa da Revista do Expresso onde estavam reproduzidas algumas das suas respostas. “O feminismo não tem o direito de se intrometer na vida privada”, “Estas mulheres querem que o mundo seja tão seguro como a sala de estar dos seus pais” ou “O género tem uma base biológica incontornável”. O seu feminismo, nascido na contracultura norte-americana, está no polo exatamente oposto daquele que hoje tem maior divulgação. As frases citadas e muitas outras pareciam, à partida, achas para fogueira das redes sociais. Porque mais do que controversas, são polémicas e têm impacto em todos nós de uma forma – diria – quase primária.

O que se seguiu foi o silêncio. Das redes sociais e de tudo o mais. Talvez hoje, passados dois anos, com a publicação de “Mulheres Livres, Homens Livres”, as ideias de Paglia tenham mais ressonância. Até porque as circunstâncias radicalizaram-se como demonstrou a resposta de um conjunto de associações contra a violência doméstica e agremiações ditas feministas a uma petição que pretende alterar a lei para que a guarda partilhada e a residência alternada sejam aceites realmente como a norma no caso de pais divorciados.

A esse respeito foram notáveis os dois textos entretanto publicados por Luís Aguiar-Conraria (She for he? e Críticas razoáveis, mentirosas e inacreditáveis), além de um terceiro de Daniel Oliveira na edição de sábado do Expresso (Não me divorciei da minha filha). A sua importância está no facto de desmascarar a ideia de que algumas das correntes vigentes do feminismo pretendem a equidade. A assunção, à partida, de que todos os homens são culpados de violência doméstica, de forma a manter a lei tal como está, é facilmente desmontada para quem tem horror ao totalitarismo.

Exatamente na mesma linha do que escreve Camille Paglia no capítulo “A Guerra dos Sexos”: “a teoria feminista”, diz na página 183, “tem sido grotescamente injusta para com os homens ao recusar reconhecer a forma extraordinária como a grande maioria deles tem cuidado das mulheres e das crianças. As lamentáveis exceções têm sido usadas pelas teóricas feministas para culpabilizar todos os homens, quando a verdade é que ao longo da história da humanidade eles contribuíram heroicamente, com a sua energia, o seu trabalho e até com a própria vida, para beneficiar e proteger as mulheres e as crianças”.

É sobretudo nas mulheres de classe média e classe média alta que esta guerra dos sexos existe – Camille Paglia frisa que os estados mais pobres dos EUA, em que homens e mulheres trabalhavam em tarefas físicas de sol a sol, foram os que mais cedo aceitaram o voto universal. Depois de uma digressão pelo feminismo que censurava primeiro o alcoolismo (e que ajudou à consagração Da Lei Seca) e mais tarde a pornografia, conclui que já “no final do século XX, a confusão no que diz respeito à sexualidade é enorme, em parte devido à homogeneização dos papéis profissionais no âmbito da classe média, que podem ser desempenhados por ambos os sexos em plano de igualdade.”

Granada atrás de bombinha, Paglia destrói o neo-feminismo que descartou completamente o factor biológico e a relação coma natureza. E ela, lésbica, mãe de um filho de 14 anos gerado biologicamente pela sua mulher, não podemos considerar uma fanática do conservadorismo.

Por hoje é tudo. Toda a informação será atualizada no Expresso online. Às 18 horas chega o Expresso Diário. Amanhã, pela mesma hora, estará por cá a Paula Santos, para em estreia absoluta servir uma bica escaldada.
 

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